sábado, 31 de dezembro de 2016

ADIEU, 2016!

Eis que 2016 finalmente chega ao fim. Não vou ficar dizendo que foi um ano difícil, ou mesmo um ano horrível como muitos estão dizendo, nem que ele levou muita gente bacana. Eu acho o seguinte: Cada pessoa tem a sua hora de morrer. E o ano não tem nada a ver com isso. Se elas resolveram morrer todas de uma vez, que deixem o ano fora dessa... A pior coisa de 2016, pra mim, foi não ter trabalhado. Não me lembro de nenhum outro ano, desde que estreei profissionalmente em 1985, em que eu não tenha feito nenhum trabalho. Mesmo em 2010 quando, ao deixar a Terça Insana depois de oito anos, resolvi tirar um ano sabático só para viajar e curtir, nem naquele ano fiquei completamente sem trabalhar. Acabei fazendo uma coisinha aqui e outra ali. Não fazer nada profissionalmente para quem, como eu, ama o que faz é osso duro de roer... Outra coisa que me faz gostar menos de 2016 do que dos outros anos é não ter ido a Paris. Tenho uma séria implicância com os anos em que não vou visitar minha cidade do coração... Minha grande amiga e irmã astral Lidoka, eterna Frenética também nos deixou. Triste perda. Assim como Elvis, meu filho gato, meu bebê pet. Que estará comigo para todo o sempre, enquanto eu estiver vivo, na memória do meu coração... Anteontem, dia 29, tomei um banho de chuva libertador. Corri, pulei com os braços abertos, olhando pro céu e deixando a chuva lavar os olhos. Chapinhando as poças d'água como as crianças do prédio ao lado. Lembrei da minha infância em Soledade. Fui feliz e lavei a alma... Hoje acordei cedo, cozinhei lentilhas, passei o dia preparando a ceia para receber amigos queridos que estarão comigo na virada do ano. Estar junto de quem se ama será sempre o melhor presente. Desejo a todos os leitores e amigos um excelente 2017. Ano ímpar! Que assim seja...
Na foto eu, como pinto no lixo, lembrando os banhos de chuva da infância.

domingo, 18 de dezembro de 2016

BODAS DE LÃ

Hoje meu blog completa sete anos de existência. São as nossas bodas de lã. Adorei saber que bodas de sete anos são de lã: Nada mais quentinho, fofinho e aconchegante para comemorar esse aniversário na primavera paulistana que vive alternando temperaturas... Dizem que toda relação passa por uma crise aos sete anos. Comigo e meu blog não foi diferente: Basta ver que nesse nosso sétimo ano o número de postagens foi bem menor em relação aos anteriores. Cheguei a pensar várias vezes em abandoná-lo, deixar de postar como vários blogueiros que conheço o fizeram. Mas não tive coragem. Sempre pensei nos leitores, por menor que fosse o número deles. Ou mesmo que ninguém leia o que eu posto, penso sempre no futuro, no pós-morte, afinal, um dia alguém há de ter acesso a esse conteúdo... Enfim, o importante é que estamos aqui, eu e meu blog, firmes e fortes. Esse nosso sétimo ano não foi fácil, mas felizmente já está quase acabando. Espero que com ele acabe também a moda das barbas e bigodes de época e dos coques masculinos... E que no próximo ano as pessoas parem de elogiar as coisas dizendo que elas são top ou, pior ainda, “diferenciadas”. Isso lá é elogio? E, para terminar, que a humanidade promova um definitivo enterro de todos os paus de selfie... Brincadeiras à parte, considero esse blog um terreno fértil onde lanço sementes que espero, um dia, irão germinar e me dar polpudos frutos. O material armazenado nesses sete anos já é bastante significativo e, modéstia à parte, bem legal. Sem mais para o momento, subscrevo-me cheio de esperanças para o ano vindouro e agradeço a cada um dos leitores e seguidores pela adorável companhia. Ah! Por último, mas não menos importante, agradeço à minha amiga Lúcia Nascimento pela revisão espontânea dos textos, sempre me alertando para os erros de digitação que escapam à minha rígida fiscalização... Beijos e até as nossas próximas bodas!
Na foto eu, bem pimpão, saindo do Takô com casaco de lã tricotado por minha irmã Raquél.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

LUXO SÓ

Hoje fui à Galeria de Arte do Sesi para a abertura da exposição Tesouros Paulistas - Coleções de Arte dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo. Foi a melhor coisa que eu poderia ter feito numa segunda-feira de verão chuvosa na Pauliceia... A exposição é um luxo. E quando digo um luxo não é maneira de falar: É literalmente um luxo. Sofisticação, bom gosto, riqueza e valor artístico. Que, na minha opinião, é o valor maior. Logo que entrei na exposição, fiquei um pouco perdido, deslumbrado. Aos poucos fui focando minha atenção primeiro nas telas, depois nas esculturas e assim sucessivamente até as louças, o mobiliário, a prataria, e etc... Para começar com as telas, temos de Tarsila do Amaral e Anita Malfatti a Volpi e Di Cavalcanti, passando por Tomie Ohtake e Wesley Duke Lee. Esculturas de Brecheret e Bruno Giorgi... Vou voltar várias vezes para admirar com calma - e sem o efeito etílico do champanhe - esse tesouro exposto na Avenida Paulista... Nesses dias que vivemos, de tantas pequenezas e lutas para que um mínimo de decência seja preservado num país que engatinha em direção à dignidade, uma iniciativa como esta é uma lufada de ar puro e inspiração. E o melhor: É de graça. Aberto ao público de segunda a domingo das 10 às 20 horas. Eu já fui funcionário do Sesi, contratado como ator de dois espetáculos do Grupo XPTO, que se estenderam de 1996 a 1998, logo que cheguei na Capital Paulista. E coisas como esta sempre me fizeram amar essa cidade. Não tem desculpa para não se acompanhar o que acontece em termos de arte e cultura na Pauliceia: Pelo menos no Sesi, a gente tem teatro, shows e exposições de graça... A exposição fica em cartaz até 28 de fevereiro de 2017. Se joga!
Na foto, o auto-retrato de Tarsila do Amaral. (Eu, que não curto fotografar obras de arte em exposições e acho cafona postá-las, não resisti).

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

CORES DE ALMODÓVAR

Quando cheguei em Paris em outubro de 1990, para morar por um ano na Capital Fracesa, só havia assistido a um filme de Pedro Almodóvar: Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos. Por indicação de minha amiga Martinha Biavaschi. Eu ainda morava em Porto Alegre, mas assisti aqui mesmo na Pauliceia esse filme que estava dando o que falar. Foi amor ao primeiro frame. Mas eu ainda não tinha noção de tudo o que esse incrível cineasta era capaz. Pois em Paris, pouco a pouco, fui descobrindo a sua singular filmografia... É que lá tinha um cinema (não vou lembrar o nome) que exibia todos os filmes de Almodóvar em uma espécie de ciclo. Mais do que um ciclo, pois pelo que me lembro, eles ficaram em cartaz durante todo o tempo que morei por lá. O fato é que a cada nova película a que assistia eu saía mais sacudido, aturdido, transformado. Foi assim com Matador, Entre Tinieblas, Ata-me! (cujo título em francês era Atache-moi! que adoro...), Pepi Luci Bom y Otras Chicas del Montón, Labirinto de Paixões, Que Fiz Para Merecer Isto?, e outros tantos que ele já havia filmado na ocasião. Mas especialmente A Lei do Desejo, La Loi du Désir em francês, foi para mim o mais perturbador. Tanto que desde então passou a ser meu cult movie. E até hoje o é. Desde a primeira cena, em que um jovem se despe e se masturba obedecendo a uma voz em off. Quase enfartei quando ouvi tocar Ne Me Quittes Pas na voz de Maysa... Carmen Maura como a irmã transsexual do protagonista, Bibi Andersen, Rossy de Palma, Miguel Molina, Trio Los Panchos na trilha sonora e ah! Antonio Banderas... O que era Antonio Banderas nos primeiros filmes de Almodóvar? Não por acaso, até Madonna se encantou... Mas a força maior de seus filmes são as mulheres. Victoria Abril, Marisa Paredes, Chus Lampreave, Penelope Cruz, as já citadas aqui e tantas outras chicas del montón... Quando voltei para o Brasil eu estava decidido a ser Pedro Almodóvar. Tudo para mim era bolero. Exagero. Cor. Drama & comédia. Cheguei a montar uma peça do meu professor Ivo Bender, um dos maiores dramaturgos vivos do Brasil, que se chamava Sexta-feira das Paixões, numa versão abolerada que chamei de Mala Noche, por sugestão do próprio Ivo inspirado em um dos boleros que escolhi para a trilha sonora... Continuei fã deste cineasta e até hoje vou assistir a cada novo filme seu que sai no dia da estreia. É claro que desisti de ser ele. Não tenho mais idade pra isso. Aliás, hoje em dia tenho achado cada vez mais difícil ser alguém. Ainda que esse alguém seja eu mesmo...

Nas fotos, Almodóvar y su elenco e eu tentando ser ele com as atrizes de Mala Noche: As maravilhosas Ida Celina, Ciça Reckziegel, Miriam Ribeiro e a saudosa Claudia Meneghetti em foto de Zeca Felippi.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

VILA BUTANTAN

Lá se vão vinte anos morando por aqui e São Paulo continua a me surpreender. Dia desses fui conhecer a Vila Butantan e fiquei muito bem impressionado. Eu sei que não é nenhuma novidade, já tem quase um ano ou mais, mas estive fora da cidade por um bom tempo (dez meses no Rio de Janeiro) então muitas coisas recentes ainda são novas para mim. Como o Cinesala, que citei no post anterior. E eu acho ótimo que sempre tenha coisas pra gente descobrir na cidade onde mora, assim ela nunca se torna entediante. Se bem que esse risco São Paulo não corre mesmo... Enfim, vamos à Vila: Uma espécie de shopping center ao ar livre, formado por contêiners, que resulta numa grande praça de alimentação, com muitas áreas abertas e terraços onde a gente pode se esparramar em gigantescos pufs enquanto saboreia drinks ou degusta toda sorte de fast food. A Vila tem restaurantes, food trucks, bares, loja de vinhos (o Los Mendozitos, que antes era carrinho itinerante), lojas de decoração, salão de beleza, de unhas, grafittis, espaço relax com massagens, shows ao ar livre, espaço para eventos e tudo o que você puder imaginar. Como o próprio nome diz, fica no Butantan, quase à beira do Rio Pinheiros, e é uma excelente alternativa para quem está passando por ali na hora do rush: Parar, apreciar o por do sol no terraço, ouvir boa música, ver as luzes da cidade se acendendo enquanto a noite abraça a cidade. Cada dia mais tarde, diga-se de passagem, com o horário de verão. Eu, como bom romântico, fiquei encantado. Depois de comer, subi ao terraço e pedi um drink. Fiquei jogado nos almofadões apreciando o fim de tarde ao som de um jazz que fez o momento pra lá de perfeito... Tudo nessa Vila é de extremo bom gosto e de uma modernidade cheia de frescor. Tive a agradável sensação de estar viajando, num país estrangeiro, numa cidade onde nunca havia estado antes. Isso, essa capacidade que São Paulo tem de ser muitas numa só, é uma das coisas que mais me encantam na cidade. Que bom que ela me acolheu quando aqui cheguei, há vinte anos, com minha mala e minha cuia de chimarrão... Quando, dias depois de ter estado lá, comentei com um amigo que trabalha no Ritz, ele me disse que a Vila é de um dos sócios do restaurante. Explicado, então o bom gosto! Você, que não mora por aqui, quando estiver de passagem pela capital paulista não deixe de visitar esse agradável endereço. E vá de uber ou de táxi, para poder experimentar os drinks!
Nas fotos, dois momentos da Vila que salvei do Google.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

FRIO DEZEMBRO

O mês de dezembro entrou tão cool, com temperaturas amenas e dias nublados. O céu plúmbeo, carregado de cúmulus nimbus, derrama vez por outra fina garoa sobre a Pauliceia. Que mais uma vez faz jus ao famoso codinome... Minha companhia mais constante tem sido as memórias de Antônio Bivar, relatadas aos quatro ventos em seu novo livro. Último mês de um ano difícil, pontuado por tristes perdas, entrou ainda marcado pela dor da morte de muitas pessoas em trágico acidente aéreo. Eu, que recentemente estive junto ao mar, mais precisamente na praia de Camburi, entro com energias revigoradas e uma tímida esperança. Que afinal, diz-se, é a última que morre... Fui com tanta expectativa assistir ao filme Elis que saí um pouco frustrado. Mais pelo que faltou do que pelo que foi mostrado. Ainda assim, muitas críticas ao que foi mostrado. Mas, como não gosto de falar mal, eu reflito e me calo... Bom mesmo foi ter ido conhecer o Cinesala (com muito atraso, eu sei), do eterno craque Raí, e conferir o quente, picante e intenso Elle, de Paul Verhoeven, mais um impecável desempenho de Isabelle Huppert. Eu adoro essa moça e já tive o prazer de apreciar seu talento sur la scène na peça Les Fausses Confidences, de Marivaux, a que assisti em Paris no ano passado. Que mais? Ah, sim! O Ritz fez trinta e cinco anos na Alameda Franca e brindamos à efeméride entre amigos com "bons drink"... No mais, retomo suavemente a academia e continuo fazendo fisioterapia para a bursite do ombro... E vamos em frente que dezembro está só começando e ainda teremos muito o que brindar até o fim do ano... Santé!
Na foto, eu e um cachorro amigo em Camburi.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

NOITE DE AUTÓGRAFOS

Aos Quatro Ventos é o título do novo livro autobiográfico de Antonio Bivar, que teve lançamento ontem, em noite de autógrafos na Livraria Cultura do Conjunto Nacional. Muito já falei aqui no blog da minha admiração por este escritor. Mais do que pelo escritor, pelo conjunto da obra, por Bivar em si como personagem, pelo que ele representa para a cultura pop deste país. E agora, aproveitando o lançamento, quero gritar "aos quatro ventos": Eu amo Bivar! É que ontem, pela primeira vez, tive o privilégio de estar com ele pessoalmente. Foi quando aproveitei para pedir-lhe que autografasse não apenas a obra que estava lançando, mas também meu antigo exemplar de As Três Primeiras Peças. Bivar foi um doce comigo, tiramos uma foto e eu o cumprimentei pelo trabalho, me declarando como fã que sou. Joyce Pascowitch abrilhantava o evento com sua presença, irradiando simpatia. Em seguida chegaram Mario mendes, Vânia Toledo, Edy Star e muitos outros que vieram na sequência, mas que só fiquei sabendo depois, pelas redes sociais. Eu havia comprado o livro pela manhã e já começara a saboreá-lo lentamente como sempre faço com seus livros, para que o prazer da leitura se prolongue ao máximo. E ele começa justamente contando de dois shows históricos que dirigiu: Drama, de Maria Bethânia, e Atrás do Porto Tem Uma Cidade, de Rita Lee & Tutti-Frutti, nome com o qual ele próprio batizou a banda da cantora. Pessoas como Bivar, que tem muitas histórias de vida interessantes para contar, conseguem torná-las ainda mais interessantes quando sabem escrever bem. E esse é totalmente o caso. O narrador-autor Bivar envolve o leitor com tal maestria que é impossível não devorar cada obra sua e ficar à espera da próxima... Já nos primeiros capítulos desse novo livro ele nos transporta para a São Paulo e o Rio de Janeiro do começo dos anos setenta e, através de suas aventuras, nos descortina duas cidades bem mais possíveis, viáveis e efervescentes do que são hoje. Talvez mais permeáveis a uma certa ingenuidade hoje extinta... A Livraria Cultura estava bastante tumultuada pela presença de um enorme número de adolescentes que compareceram a um outro lançamento, simultâneo ao de Bivar, de uma jovem atriz-cantora-youtuber-new-celebrity e entoavam seus hits em alto e bom som. O que fez com que eu me retirasse bem antes do que desejava. O bom é que fui, lépido & fagueiro, "mundo adentro vida afora", brindar ao sucesso de Bivar no Ritz. Com meus dois exemplares de sua obra autografados especialmente para mim...
Nas fotos, a capa do novo livro e Bivar et moi em momento de tietagem explícita.

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

PENSAMENTOS À BEIRA MAR

Tenho a vaga impressão de que não vinha para Camburi há mais de um ano. Dommage! Amo tanto esse lugar que, por mim, viria pelo menos quatro vezes por ano. Uma em cada estação... Me dou conta, aos poucos, de que nada mudou. Exceto os preços, evidentemente. Afinal de contas, estamos no Brasil... O mar me encanta e me chama. Junto dele me sinto maior, melhor, conectado com a criação. Deus, na minha opinião, está bem mais ligado ao mar do que ao céu. Seria uma espécie de Netuno ou Posseidon... Dessa vez serão cinco dias de frente para esse elemento que não é o meu, mas que admiro e respeito. Peço licença à Rainha do Mar, Iemanjá... O sorveteiro passa vendendo os incríveis picolés Rochinha. Peço um de milho verde, meu preferido ever. Nos fones de ouvido, ouço as mesmas musicas de sempre: Novos Baianos, Serge Gainsbourg, Ella Fitzgerald, Cole Porter, Corinne Bailey Ray. Olho em volta e vejo pessoas que se distraem com revistas, jogos e toda sorte de brincadeiras. Não necessito de nenhum tipo de passatempo. Pelo contrário, tudo o que menos desejo quando estou junto ao mar é que o tempo passe. Por mim, ele se eternizaria em contemplação... Cachorros simpáticos, vira-latas velhos amigos, se aproximam pedindo atenção. Sentam-se ao meu lado, me cuidam. Brincam uns com os outros... Para completar, claro, uma caipirinha de sakê com lima da Pérsia. E a melhor das sensações me invade: A de que a vida é como deveria ser... Namastê!

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

GATOS & HÁBITOS

Estive lendo um livro interessantíssimo chamado A Gata do Dalai Lama. Esta curiosa obra despertou minha atenção para algumas coisas extremamente relevantes, mas que para as quais normalmente não dou a devida importância. Por exemplo, o momento presente. Vivê-lo intensamente e com total concentração é o mínimo que deveríamos fazer, posto que o presente é tudo o que temos. Só que, invariavelmente, estamos com a cabeça em algum lugar distante, voltada para o dia de amanhã ou, ainda pior, para o passado... Outra coisa para qual me atentei com a leitura: A prioridade de nossa preocupação deveria ser o outro em lugar de nós mesmos. E o que normalmente acontece é ficarmos girando em torno do nosso insignificante umbigo. Ou pior ainda: Adulando o nosso ego. Quanto desperdício! O melhor do livro é que todas essas reflexões são apresentadas do ponto de vista de uma gatinha... Só que não é uma gata qualquer, trata-se da Gata de Sua Santidade, o Dalai Lama. O que só corrobora minha tese de que gatos são seres superiores... Um dos capítulos inicia com a GSS colocando algumas questões para o leitor: "Você é uma criatura de hábitos? Entre as canecas de café da sua cozinha, existe uma favorita, embora qualquer uma delas sirva ao seu propósito? Você desenvolveu rituais pessoais que lhe dão uma sensação tranquilizadora de que a vida é como deveria ser? Se sua resposta a qualquer uma desses perguntas é sim, então, querido leitor, você pode muito bem ter sido um gato em outra vida"... Eu, que sou um amante desses animais, e que desenvolvo hábitos e rotinas constantemente, me identifiquei muito com a leitura. Aprendi muito, também. Difícil está sendo manter essa elevação espiritual toda agora que estou lendo a biografia de Rogéria, que é recheada de passagens mundanas & apimentadas... O que não a faz menos adorável. Assim é a vida: Cheia de altos e baixos, luzes e sombras, alegrias e tristezas, elevações e baixarias. Que chato seria se fosse uma coisa só o tempo todo, não?
Na foto, a adorável gatinha na capa do livro.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA

Terminei a leitura de Rita Lee, Uma Autobiografia, e me sinto completamente abandonado em um deserto árido clamando por uma vida menos ordinária...Foram dois ou três dias de leitura no metrô, na sala de espera da fisioterapia, no ônibus, em casa, na rua, na chuva, na fazenda, aqui, ali, em qualquer lugar. Me apeguei à personagem Rita Lee num grau tão inexplicável que agora sofro de uma melancólica saudade somada a uma crise de abstinência que não tenho ideia de como tratar... Rita é dona de um estilo bastante original e particular e sua escrita envolve ao mesmo tempo que emociona e diverte. Seu senso de humor, já conhecido de todos pelas letras de suas canções, se expande e se multiplica sobre o papel. Ela é, para dizer o mínimo, caleidoscópica. Não se quer parar de ler e, ao mesmo tempo, quer-se poupar a leitura para que o prazer seja prolongado. E a pergunta que mais me faço desde o fim da última página é: Como vou viver sem? Ainda bem que tenho tudo, ou quase tudo dela: DVDs, CDs, LPs, livros. E a trilha sonora principal dos meus dias tem sido sua discografia. Que privilégio ter segredinhos de alcova revelados pela própria e poder conhecer finalmente sua versão de tudo o que já foi dito a seu respeito por aí... Seu amor pelos animais, já tão conhecido por todos, no livro é esmiuçado em detalhes encantadores... Sua infância e juventude, seu amor por São Paulo, pela família, por Hebe Camargo, suas inseguranças, teorias conspiratórias, altos & baixos, tudo adoravelmente descrito. Qual é a moral? Qual vai ser o final dessa história? São coisas da vida e a gente não sabe se vai ou se fica... Ainda por cima, de lambuja, Rita cita minha saudosa amiga Claudia Wonder! Nem luxo nem lixo: Imortal, meu amor... Eu sempre amei Rita Lee, amo e amarei até o fim dos meus dias. E tenho certeza de que ela, enquanto estiver viva e cheia de graça, ainda vai fazer um monte de gente feliz! Corre ler essa obra-prima: Rita Lee, Uma Autobiografia, da Editora Globo. Sua vidinha nunca mais será a mesma...
Na foto, Rita em si com sua flauta transversa.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

IZAKAYA

Dia desses fui ao Issa para comer takoyaki, o bolinho de polvo que tanto adoro. Eu havia descoberto esse simpático izakaya anos atrás quando fui ao teatro escola Celia Helena, no bairro da Liberdade, para assistir ao espetáculo de formatura de um amigo e, ao procurar um lugar para comer algo e tomar um drink enquanto esperava, encontrei essa maravilha escondida na Rua Barão de Iguape. Na ocasião eu nem sabia que o Issa era um izakaya, nem tampouco o que isso significava. Passaram-se os anos, os izakayas viraram uma tendência na cidade, e, no próprio Issa, acabo por comprar um livro interessantíssimo que me foi oferecido pela proprietária, Dona Margarida: Izakaya - Por Dentro dos Botecos Japoneses, de Jo Takahashi, com fotografias de Tatewaki Nio e ilustrações de Mika Takahashi. Agora estou me sentindo super por dentro do assunto e a cada semana descubro um izakaya ainda mais encantador do que o outro. Vamos à definição: Izakayas são uma mistura de boteco com pub, bar e bistrô. Originalmente eram locais que vendiam o sakê para ser levado para casa. Mas, evidentemente, as pessoas gostavam de experimentar o sakê antes de levá-lo e para isso os comerciantes passaram a servir pequenas porções de aperitivos para acompanhar a degustação da bebida. Dá para imaginar o que veio na sequência... Hoje eles são gastrobares de poucos lugares, cardápio pequeno e com uma variedade de bebidas. Os pratos estão mais para porções, espécie de tapas japoneses que a gente nunca se conforma em comer só um ou dois, acaba experimentando vários... E, consequentemente, bebendo vários sakês. Aí, quando vem a conta, já viu... Além do Issa, eu já conhecia o moderno Minato Izakaya, em Pinheiros. E agora estou experimentando aos poucos os outros locais que o livro apresenta. Essa semana estive no Kidoairaku, um dos mais antigos da Liberdade. Parece uma casa de vó, meio bagunçada, mas a comida é realmente maravilhosa. Bagunçada e acumuladora, tal a quantidade de objetos espalhados pelo local. Fui atendido pelo Erik, filho do dono, que me contou curiosidades e me deu dicas do que pedir. Sim, porque o cardápio, colado na parede, é todo escrito em japonês... Ainda tenho muito o que desbravar nesse setor dos izakayas. Mas o livro é realmente interessante, além de belíssimamente ilustrado e fotografado. Vale a pena.
Nas fotos, a capa do livro, Dona Margarida posa para mim e o cardápio na parede do Kidoairaku.

domingo, 23 de outubro de 2016

ANJO MALVADO

O que terá acontecido a Baby Jane? A resposta está no Teatro Porto Seguro, um dos mais bacanas e aconchegantes da cidade. A encenação, da dupla Charles Möeller & Claudio Botelho, retoma a já clássica história de Henry Farrell imortalizada no cinema por Bette Davis e Joan Crawford. Dramas familiares sempre são um bom combustível para a cena. Acrescentando-se à mistura elevadas doses de álcool & rancor, tendo como pano de fundo o mundo das celebridades de Holywood, a receita está completa: O velho e bom melodrama. Adoro. Sou muito suspeito para falar. É que cresci no interior, ouvindo novela de rádio e assistindo a espetáculos de teatros de lata itinerantes. E, claro, as novelas de Janete Clair... Essa montagem tem direito a cenário de telões pintados, trilha sonora de terror, efeitos cênicos e, sobretudo, a presença iluminada de duas Grandes Damas do teatro brasileiro: Eva Wilma e Nicette Bruno. Sem falar na luz de Paulo Cesar Medeiros que, com o uso de ribaltas, recria o clima dos antigos espetáculos de variedades onde a pequena Baby Jane se apresentava quando artista mirim. Curiosamente eu já havia escutado vários colegas de teatro falarem mal dessa montagem que estava louco para conferir. Talvez tenha estreado sem estar no ponto de ser apresentada, não sei. Sei que o que vi ontem à noite no palco do Porto Seguro me encheu os olhos de prazer estético e a alma de boas recordações. Quem gosta de teatro, do bom e velho teatro, do teatrão mesmo, e, sobretudo, do gênero melodrama como eu gosto, irá amar com certeza. As atrizes que interpretam Jane e Blanche quando pequenas e na juventude também são ótimas e nos fazem acompanhar a trajetória dessa conturbada relação desde a mais tenra idade. Crianças em cena são sempre um perigo. Mas essas foram escolhidas a dedo. Os demais atores que compõem o elenco, Licurgo, Teca Pereira e Nedira Campos também não deixam por menos. Poderia falar muito mais desse espetáculo encantador. Mas prefiro apenas sugerir aos leitores que corram para assisti-lo. Só assim poderão saber o que aconteceu com Baby Jane, pois eu aqui, evidentemente, não contarei. Para não estragar a surpresa. Ou, para usar uma palavra da moda, para não fazer "spoiler". Ah! Cheguem cedo, tipo uma hora antes de começar o espetáculo. O teatro tem um bar bem interessante para drinks e comidinhas, ver e ser visto, fazer hora no clima... Saí muito agradecido e louco para assistir novamente.
Na foto, parte do elenco recebe os merecidos aplausos.

sábado, 22 de outubro de 2016

BIOGRAFFITI

Eu sempre fui completamente apaixonado por Rita Lee. Pelo menos desde os meus doze anos de idade, que foi quando ela lançou o antológico álbum Fruto Proibido. Sou tão apaixonado que morria de ciúmes do Roberto de Carvalho logo que eles se casaram. E levou anos para que eu finalmente o aceitasse... Sou tão apaixonado que dia desses, semana passada para ser mais preciso, Camila Frender, que vem a ser a nora de Rita, postou no facebook o flyer de divulgação do lançamento do livro Rita Lee Uma Autobiografia. Esse lançamento vai acontecer no dia 16 de novembro próximo e eu, de tão ansioso que fiquei com a notícia, me mandei para a Livraria Cultura do Conjunto Nacional no domingo passado, dia 16 de outubro, portanto um mês antes do événement. Mó mico... Quando voltei para casa com minha expectativa totalmente frustrada, fiquei tentando imaginar como será essa autobiografia. Fiquei tão imbuído da ideia que resolvi rever os DVDs do box Biograffiti, que dá título ao post. Essa caixa com três DVDs é encantadora. Neles Rita conta grande parte da sua vida, de como foi expulsa dos Mutantes, como adora compor, como foi composto o grande hit Mania de Você, fala da sua infância, de seus pais, das drogas, enfim, traça um panorama bastante colorido e abrangente da sua vida e carreira. É também, diga-se de passagem, uma declaração de amor à cidade de São Paulo, onde nasceu e cresceu a menina loura da cidade industrial, para citar Gil. Amor esse que compartilho totalmente. Rita diz amar até mesmo o mau cheiro do Rio Tietê... É um deleite acompanhar a trajetória desse ícone da nossa música através de depoimentos e cenas de arquivo da televisão brasileira. Um dos extras de que mais gosto é Rita Fala. Nele Rita abre o verbo e, como ela mesma diz, se me deixarem eu vou falando, falando... Então é isso, enquanto aguardo ansioso pela autobiografia de Rita Lee fico me deleitando com esse pequeno tesouro chamado Biograffiti. Recomendo!

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

AH... O RITZ!

Quem digitar o nome Ritz no campo de pesquisa aqui do blog irá encontrar vários posts em que ele é no mínimo citado. Minha relação com esse bar/restaurante de São Paulo é antiga e está tudo contado no post O Ritz e eu, de dezembro de 2009. Mas são tantas as histórias que sempre tenho vontade de voltar a escrever sobre o tema. Pra quem ainda não sabe eu moro, desde 1996, na Alameda Franca, exatamente a uma quadra de distância do Ritz. E lá se vão vinte anos que me tornei frequentador habitual desse endereço. Ontem à noite eu estava mais uma vez bebendo no balcão do bar quando Jorge Takla, um dos ilustres habitués, me disse que gosta muito das fotografias que faço do Ritz e que ele acompanha há anos. E me sugeriu que lançasse um livro de fotos do restaurante. Achei a ideia tentadora e, conversando via whatsap com meu amigo Odilon, de Salvador, ele me sugeriu que eu acrescentasse histórias junto com as fotos. Fiquei muito tentado. Tanto que já estou aqui a escrever sobre o meu velho e bom amigo... Também ontem, tive o prazer de encontrar no Ritz uma das minhas "ídolas" de todos os tempos, Zezé Motta, que não pude deixar de tietar e, claro, fotografar. Quando encontro ídolos eu tieto mesmo. Recentemente foi a vez de Pedro Andrade. Fiquei tão nervoso que tremia abraçado a ele enquanto o barman Will nos fotografava. Depois que o Takla me sugeriu o livro fiquei lembrando de fotos e efemérides vividas nesse que é o meu bar favorito através de décadas... Teve a vez em que Edson Cordeiro e eu fomos ao Ritz com a Gretchen e sua filha Tammy. Na ocasião ela era filha ainda. Hoje é filho... Teve a vez que fui, depois de pular carnaval na Banda do Redondo, vestido de mulher. E lá pelas tantas, cansado da brincadeira, fui ao banheiro, me desmontei lá mesmo e saí com a fantasia na bolsa...Teve muitos porres e micos, evidentemente. E funcionários adoráveis que deixaram saudades. Como Ricardo Kanazawa, hoje proprietário do bar Igrejinha. O Ri fazia tudo o que eu pedia, desde mudar acompanhamentos e ingredientes de pratos até me dar dinheiro pro táxi. Que eu evidentemente pagava... Cheguei a ir uma vez com o Caio Fernando Abreu, quando ainda não morava em São Paulo. Eu estava no Rio, trabalhando com Luís Arthur Nunes e vim passar um fim de semana em São Paulo. Encontrei o Caio no Viena do Conjunto Nacional, depois fomos para apartamento dele na Hadock Lobo, depois a uma peça de teatro e, para fechar a noite, Ritz... Agora estou começando a lembrar de coisas que é melhor não contar, para não me queimar ou queimar o nome dos envolvidos... Mas adorei a ideia do Takla. Vou começar a anotar histórias e a selecionar fotos. Mesmo que não dê em nada, vai ser no mínimo divertido. Pois, como diz o Mario Mendes, outro ilustre habitué da casa, eu sou fútil e a vida é curta. Cheers!
Nas fotos, uma travessura que eu sei quem fez mas não posso revelar e a lousa do dia da festa de 30 anos.

domingo, 9 de outubro de 2016

JOIA DA BRIGADEIRO

Sempre que vou ao teatro, o que acontece com uma certa frequência, gosto de chegar mais cedo, geralmente uma hora antes, e ficar tomando um drink em algum boteco das redondezas. Descubro lugares, pessoas e atmosferas incríveis nessas ocasiões. Foi assim que conheci, nessa agradável e primaveril noite de sábado, a Joia da Brigadeiro. Trata-se de uma lanchonete que fica na esquina da Brigadeiro Luiz Antônio com a Condessa de São Joaquim. Pedi uma dose de uísque e uma schweppes citrus. Inacreditavelmente tinha Jack Daniel's, o que fez com que a Joia subisse imediatamente no meu conceito. Olhei em volta e percebi que a frequência também me era familiar, embora um pouco diferenciada de mim. Mais por uma questão estética, pois acredito que nossa essência era basicamente a mesma. E a nossa sede também, se é que vocês me entendem... Pois eu estava justamente fazendo hora para assistir ao espetáculo A. M. A. D. A. S., com direção do meu amigo/mestre/professor/diretor Luís Arthur Nunes e protagonizado por Elizabeth Savala, que cumpre curta temporada no Teatro Brigadeiro, que fica um pouco mais acima da Joia de mesmo nome. Terminado o drink, me dirigi ao teatro e, após o terceiro sinal, descubro a verdadeira Joia da Brigadeiro: La Savala. Livre, leve e solta, ela é puro talento & carisma sur la scène. Uma comediante no verdadeiro e amplo sentido da palavra. One-woman-show. A peça é um mero pretexto para Elizabeth deitar e rolar, conduzindo a plateia por quase duas horas de um verdadeiro tour de force. Eu acompanho a carreira televisiva dessa atriz desde Gabriela, quando ela encantou o país com sua inesquecível Malvina. Mas não tinha ideia do que ela é capaz quando está só sobre o palco. Uma grande artista, que precisa ser vista por todos. Seu monólogo é na verdade um grande stand-up comedy. E sua atuação é uma master class do estilo. E, para completar, a fina moldura que é a delicada direção de Luís Arthur. Imperdível. Melhor do que isso, só ter saído para jantar com eles depois do espetáculo. O que aconteceu e foi igualmente encantador. E as risadas se prolongaram noite a dentro...
Na foto, Elizabeth reinando absoluta sobre o palco.

domingo, 2 de outubro de 2016

SONHOS DE OUTUBRO

Que bom que o mês de outubro chegou. É que setembro trouxe uma primavera fria que mais parece um prolongamento do inverno e eu quero que comece logo a esquentar. Pelo menos que comece a fazer temperaturas mais amenas... E o novo mês também trouxe consigo a possibilidade do sonho. Não me canso de sonhar e acho que os sonhos, mesmo os que a gente sonha acordado, são das melhores coisas que se pode ter - ou não - na vida. Eu fui um jovem bastante sonhador. Felizmente consegui realizar muitos dos meus sonhos da juventude. Grande parte deles, posso dizer. Mas, como continuo um sonhador na meia idade, ainda tenho muito por realizar. Quando a gente é jovem e tem a vida inteira pela frente, parece que ela, a vida, vai demorar uma eternidade para passar. Depois que passamos dos cinquenta anos, por exemplo, essa noção de longevidade da vida é totalmente revertida. O que nos toma é a sensação da impermanência de tudo. Da vida, inclusive. Acho que não terei tempo para realizar todos os meus sonhos, mas já que sonhar, dizem, não custa nada, aí vai... Conhecer a Ásia! Pelo menos o Japão e a Tailândia.Esse acho que ainda dará tempo.Ficar um mês em Paris hospedado em um hotel de luxo, como o Ritz ou o Plaza Athéné, também não seria nada mau. Aí já não é nem sonho, é viagem mesmo! Tem também os sonhos dourados como, por exemplo, dirigir um show de Maria Bethânia. Se assistir a um show de Bethânia já é para mim algo tão transformador - e eu assisti a vários, graças a Deus - imagine vê-la executar sobre o palco coisas criadas por mim... Esse é na verdade um sonho sem preço. Já não sou mais jovem, ela, menos ainda. E nem sequer chegamos a nos conhecer, ou seja, nessa encarnação não vai dar tempo. Uma pena. Tempo: Quem tem sobrando, quer que passe logo. Quem tem pouco, quer prorrogar. E assim caminha a humanidade. Eis aí mais um sonho: Prolongar o tempo, quando fosse necessário. Esse é um sonho impossível. Quando se fala em sonhos é difícil ficar apenas no plano dos que podem ser realizados. Pois, como já dizia a canção: Sonhar, mas um sonho impossível... Bom outubro para todos! E que ele possa trazer, além de sonhos, realizações. Muito amor, amizade sincera, compreensão, compaixão, entendimento, entretenimento e, sobretudo, saúde e prosperidade. É, sonhar não custa nada mesmo...
Na foto, Bethânia realizando sonhos sobre o palco.

domingo, 25 de setembro de 2016

SEPTEMBER SONG

Ah, o mês de setembro, tão aguardado, chegou chegando e já está quase no fim! Oh my blog, esse é apenas o terceiro post do mês... A agenda social tem sido intensa, com jantares chez les copains, e a cultural não menos, com shows, leituras e peças de teatro. Ainda cheio de coisas para assistir, que a oferta aqui na Pauliceia é imensa, e fazendo uma seleção, já que os preços também são imensos. Fiquei encantado com o filme Chocolate, não o americano de 2000, com Juliette Binoche, e sim o francês, de 2015, com Omar Sy, o inesquecível Driss de Os Intocáveis. Filmes que retratam o mundo do circo geralmente me comovem. Não foi diferente com Sangue Azul, de Lírio Ferreira, nem com O Palhaço, de Selton Mello, e nem tampouco com La Strada, clássico de Federico Fellini. Mas esse tem o charme especial de se passar em Paris e mostrar bastante o Cirque d'Hiver, um dos meus lugares preferidos na capital francesa onde assisti pela primeira vez, no começo da década de noventa, a um espetáculo do hoje mundialmente famoso Cirque du Soleil. Omar Sy é puro carisma em cena, além de ser um ator talentosíssimo. Lembrei dos meus tempos na École du Cirque Fratellini que, por sinal, é citada no filme... Setembro trouxe também Gilberto Gavronski, Luís Arthur Nunes e Marcos Breda relendo Caio Fernando Abreu, e Cida Moreira fazendo homenagem a ele junto a Thiago Pethit. A primavera entrou parecendo mais uma extensão do inverno do que uma prévia do verão. E vamos vivendo aqui nessa selva de pedra, cada dia mais reveladora de mistérios e encantamentos. Mas atenção! É preciso estar atento e forte. E de olhos bem abertos, pois São Paulo não é nada óbvia e precisa ser decifrada a cada nova estação. Boa primavera para todos...
Na foto, Omar Sy esbanjando talento & simpatia no affiche de Chocolate. Ah! O título do post peguei emprestado da canção de Kurt Weill.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

CAIO MON AMOUR

Que bom que entrou setembro e a boa nova anda nos campos! Hoje o saudoso Caio Fernando Abreu completaria sessenta e oito anos de idade. Seu aniversário está sendo comemorado à altura, com intensa programação que começou ontem com a abertura da exposição Caio Mon Amour. A curadora, Paula Dip, me convidou para apresentar seu texto As Quatro Irmãs-Uma Psico-Antropologia Fake, mais conhecido como A Lenda das Jaciras. Foi emocionante ver vários amigos e admiradores de Caio reunidos comemorando seu aniversário e perpetuando a sua memória. Uma menina me abordou perguntando: O senhor é ator? Adorável. Quando disse a ela que conheci Caio em Paris no ano de 1991, ela me disse que nasceu em 1993... Outro garoto que me entrevistou para um site me perguntou qual era, na minha opinião, o maior legado de Caio. Respondi que, além de sua obra, essa possibilidade de se perpetuar através das novas gerações via internet. Caio virou uma espécie de ídolo virtual de toda uma nova geração que está conhecendo sua obra agora. Como a menina que me perguntou "o senhor é ator"... E as homenagens seguem. Hoje tem, simultaneamente, em Porto Alegre e aqui em São Paulo, dois espetáculos. No sul, Luis Arthur Nunes e Marcos Breda apresentam O Homem e a Mancha. Aqui, Gilberto Gavronski retoma a sua Dama da Noite. Como não posso estar nos dois lugares ao mesmo tempo, assistirei hoje à Dama de Gilberto e, no sábado, ao Homem e a Mancha que Luis Arthur e Breda trarão para a Pauliceia. Na quinta ainda teremos Cida Moreira e Thiago Pethit e muito mais... Caio está em festa. Comemorado dignamente. E lá se vão vinte e cinco anos desde que nos conhecemos em Paris, numa fria tarde de inverno... Outro dia, quando contava para alguém como nos conhecemos, essa pessoa me perguntou: Você não tem nenhuma foto com ele? Não, respondi frustrado, não tenho. Naquela época a gente não fotografava tudo o tempo todo como faz agora. Depois, puxando pela memória, lembrei: Tenho uma única foto com Caio. Na festa do meu aniversário de trinta anos em Porto Alegre. Vou procurar e escanear para postar aqui. Por enquanto, Viva Caio Fernando Abreu!
Na foto, roubei o lugar de Cazuza no abraço de Caio clicado por Vânia Toledo.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

RUA DOS CATAVENTOS

Que falta faz Mario Quintana. Descobri isso hoje pela manhã enquanto aguardava para ser atendido por minha dentista. Na verdade, minha amiga Anne que, por coincidência, é também quem cuida dos meus dentes há mais de trinta anos... Pois na sala de espera do consultório da minha amiga/dentista, ao invés de Caras ou Super Interessante, o cliente espera lendo Clarice Lispector ou Mario Quintana. Um luxo. De um requinte surpreendente nessa era de banalidades e superficialidades que vivemos. Me dei conta de que não lia Mario há muito tempo. Apesar de ter quase tudo dele em casa. É sempre bom folhear seus livros e, totalmente ao acaso, encontrar as coisas mais inacreditavelmente apropriadas. Como aconteceu comigo nessa manhã de inverno em Porto Alegre, quando folheava A Rua dos Cataventos e me deparei com os versos que transcrevo a seguir:
"Eu nada entendo da questão social. Eu faço parte dela, simplesmente... E sei apenas do meu próprio mal, que não é bem o mal de toda a gente.
Nem é deste planeta... Por sinal, que o mundo se lhe mostra indiferente! E o meu Anjo da Guarda, ele somente, é quem lê os meus versos afinal"...
Me deu uma enorme saudade de quando eu era jovem e vivia aqui na capital gaúcha. Não raro eu encontrava com o poeta pelas ruas do centro da cidade. Ou quando ia buscar minha irmã, que era jornalista e trabalhava no Correio do Povo, e o via pelas dependências do jornal. Ou na Feira do Livro, na Praça da Alfândega. Naquela época a gente não fotografava tudo obstinadamente como se faz hoje em dia, por isso não tenho foto com ele. Mas tenho seu autógrafo e dedicatória em livros e num caderno meu no qual ele me chama de colega, pois eu me dizia poeta na ocasião... Bons tempos! Fiquei lembrando do meu livro de leitura do curso primário, que trazia em uma das páginas o seu poema Dorme Ruazinha... É tudo escuro!... Não consigo imaginar sua delicadeza em meio à descortesia reinante nos dias atuais. E, para encerrar citando o próprio, "eles passarão; eu, passarinho"...
Na foto, Quintana em seu habitat natural: As ruas do centro de Porto Alegre.

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

O ANÃO

A convite do meu amigo Caetano Pimentel, que é diretor cênico residente do Teatro São Pedro, fui assistir à ópera O Anão, de Alexander Von Zemlinsky, com direção musical de André dos Santos e direção cênica de William Pereira. Um belo espetáculo. Uma direção de William é sempre a garantia de delicadeza em cena. E, além de extremamente prazeroso de se assistir, O Anão leva a uma interessante reflexão. Não é para menos, uma vez que o libreto foi inspirado em um conto de Oscar Wilde: O Aniversário da Infanta. Eu sempre fui fã de Wilde, desde a mais tenra idade, quando me caiu nas mãos O Retrato de Dorian Gray e, mais tarde, na escola de teatro, quando descobri sua intrigante dramaturgia. Dono de um olhar crítico sobre a sociedade que retrata, Wilde tem o típico humor ferino, por vezes negro, dos ingleses. Com O Anão não é diferente. A infanta recebe o anão como presente de aniversário e se diverte muito com ele. Sem saber de sua condição feia e disforme, o protagonista pensa agradar a todos que o cercam, quando, na verdade, apenas os faz rir com a sua diferença. Até que um espelho cruel lhe revela o inexorável... Soa atual? Não à toa, em tempos de imagens distorcidas por filtros em redes sociais onde todos são lindos & felizes... Fico pensando em Oscar Wilde nos dias de hoje. Seria massacrado. Como de fato o foi em sua época, por ousar praticar o "amor que não ousa dizer seu nome", para citar o próprio. Ele poderia viver plenamente sua sexualidade fora do armário mas, certamente, não sobreviveria ao politicamente correto. Nem às patrulhas ideológicas virtuais que a todos denunciam. Cultuador que era da beleza e dos prazeres, o dândi vitoriano sucumbiria sob a pecha de racista, preconceituoso, elitista e xenófobo. Para dizer o mínimo... De fato é muito cruel. Como cruel é a humanidade. E é justamente dela que nos fala Wilde. Ao ver que seu anão está morrendo, a infanta lamenta: Tão novo o meu brinquedo e já quebrou! Soa atual também? Então. Eu disse que levava à reflexão...
Na foto, a Infanta de Espanha lamenta a morte de seu "brinquedo".

terça-feira, 23 de agosto de 2016

PAUVRE FRIDA

Ando sentindo muita pena de Frida Kahlo. E não é pelas dores lancinantes que a artista mexicana sofreu ao longo da sua vida pós-acidente. Mas pela banalização eminente de sua figura. Explico: Frida tornou-se um ícone pop. Para o bem e para o mal. Para o bem porque quanto mais pop algo ou alguém se torna, mais alcance terá junto ao público médio, popular, pop enfim. E para o mal porque sua imagem se tornou uma estampa, algo que é infinitamente reproduzido até o degaste total. Andando pela Rua Augusta, por exemplo, a gente percebe que nove em cada dez vitrines de lojas "descoladas" exibem o rosto de Frida estampado em algum objeto de uso pessoal ou de decoração. Tem Frida em camisetas, almofadas, canecas, tecidos, porta-copos, quadrinhos, bolsas, cadernos, agendas e abajures. Frida virou tema de decoração. Nada que já não tenha sido feito com Marilyn, James Dean ou Che Guevara. Ou com o Seu Madruga. Só que no caso de Frida, não é apenas o seu rosto que se banaliza, mas a sua obra, posto que é basicamente composta por auto-retratos e são eles, os portraits, que são reproduzidos à la mort... Pra que transformar Frida Kahlo em Romero Britto? Sempre me incomodei com essa ideia da reprodução das coisas. Se uma coisa é bonita, bacana, original, interessante, se alguém teve uma ideia genial, de sucesso, pra que vou perder tempo e quebrar a cabeça para ter a minha própria? Basta copiar o que já deu certo... Sei que exagero, mas uma coisa leva à outra, leva à outra, leva etc. Eu sempre fui muito apaixonado por Frida Kahlo, sua obra e sua história pessoal. Li sua biografia, seu diário e tudo o que saía sobre ela muito antes de a terem transformado nessa xerox. Ante mesmo de Madonna sonhar vivê-la no cinema. E Salma Hayek tê-lo realizado. Mas, enfim, ninguém é dono de nada. Muito menos eu. Agora já estou pensando em Warhol e suas Ten Lizes, obra que reproduz dez vezes o rosto de Elizabeth Taylor e que tive a oportunidade de ver no Beaubourg alguns anos atrás... Paro por aqui. Senão, daqui a pouco, vou ficar como a Marta Suplicy no debate de ontem após a resposta do Haddad: Sem entender nada!
Na foto, a Coluna Partida de Frida.

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

SEREIA'S DRINKS

Dizem que a esperança é a última que morre. Tenho minhas dúvidas. Ninguém me tira da cabeça que o Sereia's Drinks ganha. Morre depois. Pelo menos, depois do amanhecer. Nas noites escaldantes do verão ou nas madrugadas do mais rigoroso inverno ele está lá, na Rua do Lavapés, com a porta aberta e o luminoso aceso. E sempre tem alguém entrando pra ver qual é que é. Morro de curiosidade. Circulo muito pelo Glicério, Cambuci e arredores, por isso passo com frequência em frente à porta cujo indefectível luminoso é um convite. Um convite a quê, exatamente, não sei. Mas como imagino! À luxúria, à lascívia, a toda sorte de perversidades, ao álcool, às drogas, a garotas de programa, a shows de sexo explícito... Desfilam em minha mente fantasiosa & pervertida cenas e mais cenas, que vão de Fellini à Boca do Lixo. De Almodóvar a Alexandre Frota. Fico fantasiando se, ao adentrar a pequena portinha da Rua do Lavapés, o cliente seria conduzido por um longo e estreito corredor que o levaria a uma ante-sala redonda e cheia de portas com letreiros sugestivos. Como no teatro mágico de Hesse. Se seria vendado ou despido. Se, conduzido por sacerdotizas profanas, seria encaminhado ao altar-mor do prazer ou à sala do trono do Rei ou Rainha da Noite. Se beberia absinto, champanhe ou cachaça. Se fumaria ópio, charuto ou maconha. Se inalaria rapé ou pó. Se faria sexo grupal ou solitário. Se usaria lingerie ou farda. Se um imenso globo de espelhos giraria refletindo luzes coloridas pelo salão. Se uma velha jukebox tocaria Roberto Carlos... E se, ao amanhecer, ele seria estrategicamente defenestrado por uma saída secreta de modo a não ser visto por nenhum dos matinais frequentadores da região. E se voltaria para a sua vidinha pacata com o ritmo da música ainda na cabeça e o perfume da aventura na memória olfativa da alma... Delírios de um senhor ligeiramente alcoolizado. Sonhar não custa nada. Se alguém tiver coragem de um dia me acompanhar, quem sabe eu não me anime?

terça-feira, 16 de agosto de 2016

APROVEITEM, CRIANÇAS!

De volta à Pauliceia depois de dez meses no Rio de Janeiro. Feliz como um chafariz, vou revendo, recomeçando, refazendo aos poucos tudo o que deixei temporariamente para trás. Maravilhas da natureza à parte, sou São Paulo de coração e para mim não tem no Brasil lugar melhor para viver. E por falar em maravilhas, uma das maiores delas nos deixou nessa manhã fria de inverno. Elke, a oitava maravilha do mundo. Dois meses atrás, eu andava de carro pela Avenida Atlântica, no Rio, e nosso carro parou no sinal lado a lado com um táxi que levava a maravilha em si: Elke. Abrimos o vidro, chamamos, acenamos, gritamos que a amávamos, e ela, sempre sorridente, acenou de volta e respondeu do alto de sua sabedoria: Aproveitem, crianças! E é isso o que pretendo dizer com o post de hoje: Aproveitem, crianças. Toda uma geração de pessoas maravilhosas como Elke está partindo, está nos deixando. Sem dramatizar, sem achar que uma onda de caretice irá tomar conta de tudo ou que iremos voltar à idade média, vamos aproveitar não apenas o legado dessas pessoas maravilhosas mas também o que nos resta para viver e, quem sabe, deixar também um legado maravilhoso para os que estão por vir. Muitos estão partindo, mas também muitos estão chegando. É a lei da vida. Por isso vamos aproveitar. Cada novo entardecer, cada novo amanhecer, cada beijo, cada abraço, cada sorriso, cada lembrança, cada saudade, cada nova amizade que começa, cada novo frisson, cada novo prazer, cada nova emoção e cada nova repetição de todas essas coisas. Estar vivo é muito bom e passa depressa. Aproveitem, crianças!
Na foto, Elke no clássico Xica da Silva, de Cacá Diegues, um dos meus filmes cult.

domingo, 24 de julho de 2016

BYE, BYE LIDOKA

Acabo de chegar da cerimônia de despedida da minha amiga Lidoka, que nos deixou nesse fim de semana. Às vezes tenho a sensação de que o mundo está ficando cada vez mais chato e sem graça, tal a quantidade de pessoas bacanas que tem partido dessa pra melhor. Mas, como já andei falando muito de tristezas por aqui recentemente, vou tentar me concentrar nas coisas boas e alegres. Até porque, e quem conheceu Lidoka sabe, ela era pura alegria... Sua despedida não poderia ter sido diferente e teve direito a coro, puxado pela frenética Duh Moraes e entoado por todos os presentes, para Dancing Days e A Felicidade Bate À Sua Porta, dois hits das Frenéticas que embalaram gerações. Amigos falaram coisas lindas, seu filho Igor agradeceu a todos que estiveram juntos dando força e ao som de Viva Lidoka um grande aplauso encerrou a despedida... Cheguei em casa e fiquei lembrando da minha amiga. Da sua alegria contagiante, seu otimismo, sua força, sua eterna batalha. Nascemos no mesmo dia, vinte e cinco de abril, e por isso ela dizia que éramos irmãos astrais. E acho que éramos mesmo, tal a nossa sintonia desde a primeira vez que nos vimos no camarim do Teatro do Leblon, no ano de 2004, quando eu estava em cartaz com a Terça Insana e ela apareceu para nos vender as suas adoráveis bandocas... Em duas ocasiões tivemos o prazer de comemorar juntos o nosso aniver: Em 2005, quando eu ainda estava em cartaz no Rio e fizemos uma festa na casa da nossa amiga em comum Beta Leporage, e em 2012, quando ela estava em São Paulo e reunimos as turmas, a minha e a dela, no restaurante Jardim de Napoli... Sempre que vinha ao Rio, eu a procurava e invariavelmente nos encontrávamos para assistir ao por do sol no Arpex, o ponto da praia em Ipanema que ela amava. Aliás, circular com a Lidoka pelas ruas de Ipanema era a certeza de encontrar sempre novas pessoas, pois ela conhecia todo mundo e apresentava todos os seus amigos uns para os outros... Através dela tive o prazer e a honra de conhecer Ezequiel Neves e juntos assistirmos ao show Inclassificáveis, de Ney Matogrosso, no Canecão... Para mim o Rio de Janeiro não será mais o mesmo sem ela. Acho também que já não existem mais muitas pessoas como ela, eu pelo menos não conheço nenhuma. Sempre tinha um poema ou uma canção na ponta da língua e, onde quer que a gente estivesse, ela fazia suas performances em alto e bom som. E as histórias... ah, quantas histórias! Era um arquivo vivo da MPB, da TV Globo e da vida cultural carioca e brasileira em geral. Adorova deixá-la falar sem parar das histórias das Frenéticas, das Dzi Croquetas, dos Dzi Croquetes e de tudo o mais que vinha junto no pacote... Ai, como vou sentir falta da Lidoka! As Frenéticas embalaram muitas festas da minha juventude. E o dia-a-dia também. Ainda bem que tenho quase tudo em vinil e em CDs. Mas as melhores lembranças da minha amiga eu tenho guardadas comigo na minha memória e no meu coração. Vai em paz, amada, e leve com você o seu sonho mais louco... Te amo forever!
Nas fotos, um dos nossos entardeceres no Arpex e comemorando nossos anos chez Beta.

terça-feira, 19 de julho de 2016

LIMITE BRANCO

Querida Paula,
Naquele dia do seu debate saí do Sesc e fiquei andando pelas ruas de Copacabana com uma pulga atrás da orelha: Como é que eu, um leitor tão apaixonado pela obra de Caio Fernando Abreu, que tanto admira os seus contos e crônicas, ainda não havia lido seu primeiro romance, Limite Branco, escrito quando ele tinha apenas dezenove anos? Fui tomado por uma enorme curiosidade de saber como escrevia na SUA adolescência aquele escritor que eu tanto admirava na MINHA adolescência. E foi com enorme satisfação que hoje concluí a leitura dessa pequena joia. Joia não apenas pelo conteúdo, mas também pelo formato, bastante moderno para a época em que foi escrito. Além da enorme satisfação estética que a leitura me proporcionou, por poder identificar já no seu primeiro livro grande parte das características de sua obra que sempre me cativaram, tive também a satisfação pessoal de descobrir o quanto o adolescente Caio se parecia com o adolescente que eu fui. Apesar dos quase vinte anos que os separaram. Revi minha solidão, meu isolamento, meus eternos questionamentos sobre o sentido de tudo. Minhas pequenas revoltas com o estabelecido, minha necessidade urgente de mudanças, as angústias resultantes da consciência que eu cria ter. Consciência essa que, apesar de me fazer insatisfeito, não me levava necessariamente a nenhuma espécie de ação transformadora. Como ele, eu também sou do interior do Rio Grande do Sul, de Soledade, e aos catorze anos fui para Porto Alegre, por vontade dos meus pais, para fazer meus estudos do segundo grau e da faculdade. Revi minhas andanças pelo centro da cidade, o Guaíba, a Rua da Praia. Meu pensamento que se expandia de frente para a imensidão do rio que eu já ambicionava mar. E principalmente algo que defino como um certo “gauchismo”, que é uma visão das coisas e das pessoas que nos cercam com uma superioridade ingênua, que vem com um quê de julgamento, como se observássemos tudo e todos de cima, nos dando conta do ridículo e da pequenez alheias. O próprio Caio afirma, no prefácio de 1992, quando fez a revisão da obra, ter sido quase insuportável reler o que escrevera. Sinto a mesma coisa quando releio meus escritos adolescentes que ainda guardo a sete chaves... Que bom que você, Paula Dip, vai lançar um livro com cartas que Caio escreveu para Hilda Hilst nesse período. Isso irá nos revelar ainda mais do menino escritor que já se anunciava. Espero que seja mais um grande sucesso, como foi o seu Para Sempre Teu, Caio F...
Aguardo ansiosamente pelo lançamento. Para sempre teu,
Roberto Camargo.

sexta-feira, 15 de julho de 2016

JULIETA SEM ROMEU

Dia desses, fã de Almodóvar que sou, fui correndo ao cinema para conferir Julieta, sua mais recente película. É um belo filme, sem dúvida. Uma boa história, contada, dirigida, roteirizada, fotografada e montada divinamente, como só Pedro sabe fazer. Mas fiquei com a sensação de que faltava alguma coisa. Depois que saí do cinema e fiquei pensando mais a respeito do filme (e bebendo, evidentemente) cheguei à conclusão de que não faltava alguma coisa: Faltavam muitas! Muitas das coisas que, para mim, caracterizam o cinema Almodovariano e o fazem tão encantador ao meu gosto pessoal. Sem sombra de dúvida, é muito autoral, muito Almodóvar. Desde o primeiro take, com o tecido vermelho do vestido de Julieta se movimentando lentamente em close. Mas é um Almodóvar light. Como diz a canção de Djavan, fica faltando um pedaço. Para começo de conversa, não tem travesti. Nenhumazinha. Nem ao menos uma bicha mais afetada. Aliás, bicha nenhuma. Tipo Benedito Ruy Barbosa. Ninguém bebe nem se droga. A protagonista, inacreditavelmente, nem ao menos fuma! E estou me referindo a cigarro mesmo, dos caretas. Um baseado, então, nem pensar. Não toca um só bolero na trilha! Nenhum!! Às vezes fica parecendo uma novela de televisão, tal a assepsia. Ninguém toma barbitúricos, ninguém sai na noite, ou seja: Não tem bas-fond. Fica parecendo, sei lá, avião sem asa, fogueira sem brasa, Buchecha sem Claudinho... Quero meu Almodóvar de volta! Com taras, fetiches, obsessões, perversões, marginais, excluídos, traficantes, dependentes químicos, toda a fauna, a flora & o mundo mineral. E, sobretudo, com seu humor cáustico, ferino, deliciosamente debochado...Minto! Tem, ao menos, Rossi de Palma, divina como a velha empregada obcecada pelo patrão. Que vai envelhecendo ainda mais durante o filme e está divina. Mas é só. E, claro, as cores e padronagens que vão de vestidos a papéis de parede. Mas falta. É como dieta sem carboidrato. Cerveja sem álcool. Café sem cafeína. Julieta sem Romeu. Eu, assim sem você... Justiça seja feita: Romeu tem. E que Romeu! Um bofe escândalo, digno do Banderas dos primeiros filmes... Brincadeiras à parte, é um filme lindo. Eu gostei. Mas, por motivos óbvios, não amei. E, como a esperança é a última que morre, fiquei esperando até o fim que a filha voltasse operada, como um homem trans. Mas nem isso...
Na foto, Adriana Ugarte sob o olhar atento do mestre espanhol. #julieta #almodovar

quarta-feira, 13 de julho de 2016

EPIFANIAS REAIS

Tenho passado agradáveis dias na companhia de Caio Fernando Abreu. Explico: O Sesc Copacabana está apresentando, desde o dia seis de junho, a ocupação Caio F Epifanias. Além da exposição Doces Memórias, que é permanente, a programação traz teatro, música, dança, cinema e debates até o dia sete de agosto. É muito tempo na companhia de alguém tão bacana como Caio e que já nos deixou há inacreditáveis vinte anos! Tem sido um deleite para mim, além de rever amigos, rever muito do escritor, sua obra e sua controversa persona. Quem me conhece e/ou segue o blog sabe da minha rápida convivência com ele nos seus cinco últimos anos de vida e o quanto isso foi belo e significativo para mim. Corre entre amigos e conhecidos em comum que Caio deixou muitas viúvas. Seriam os vários amigos e amigas que brigam pelo direito a perpetuar a sua memória. Como se isso fosse necessário, imaginem, logo agora que ele se transformou em fenômeno cult da internet... Assim sendo, já estive visitando a exposição na companhia de Grace Gianoukas, em pausa de gravações da novela Haja Coração, que aproveitou para dar uma entrevista a uma revista de celebridades enquanto nos revíamos e visitávamos juntos os recantos da memória de Caio. Estive também no debate Caio F Uma Vida Encenada, com os queridos Luís Arthur Nunes, Gilberto Gavronski e Renato Farias, no qual se falou sobre a dramaturgia de Caio e as adaptações de sua obra literária para o teatro. Outro debate que presenciei foi Caio F Vida & Ficção, com Paula Dip, João Silvério Trevisan e Luiz Fernando Emediato. Esse pegou fogo, com prós e contras surgindo o tempo todo e revelando a multifacetada personalidade do controverso personagem em questão e o quanto sua vida e obra estão entrelaçadas... Maravilhoso e aconchegante foi o show de Marina Lima e Cida Moreira no qual elas apresentaram músicas de que Caio gostava enquanto Candé Salles lia trechos da obra dele que se referiam às duas cantoras. Emocionante. Candé, aliás, em outra noite, apresentou e debateu seu filme Para Sempre Teu Caio F, do qual participo como ator interpretando A Lenda das Jaciras, texto em que Caio define e classifica de forma hilariante os tipos de gays existentes no mundo. E ainda tem muito mais. Amanhã, por exemplo, irei assistir ao espetáculo Como Era Bonito Lá, que a atriz Nara Keiserman concebeu a partir de cartas e entrevistas de Caio. E a coisa segue até agosto com extensa programação prevista. Fiquei muito feliz com essa iniciativa do Sesc. Fala-se que o Brasil é um país sem memória mas, felizmente, isso parece estar sendo aos poucos corrigido. Principalmente por propostas como esta. Através dela percebe-se o quanto a memória de Caio ainda está viva e o quanto ela perdurará... Viva Caio Fernando Abreu!
Nas fotos, visitando a exposição na companhia de Grace, o abraço de Cida & Marina e reencontro com Luisar e Gilberto.

quinta-feira, 30 de junho de 2016

O CHEIRO DO CAFÉ

É sempre bom a gente lembrar o papel que o teatro tem na sociedade. Ou melhor, o papel que ele pode ter. É sempre bom também que se faça teatro. De todos os tipos, afinal, como já falei aqui, o mundo com teatro é muito melhor. Ainda que com mau teatro. Que ele nos divirta, nos faça somente rir, nos faça pensar, nos faça rir e pensar, nos faça chorar, questionar valores, despertar a nossa consciência social, política ou pessoal. Que ele reflita a sociedade na qual está inserido. Que ele repense a história, o passado, lançando luz sobre o presente. Que ele forme plateias. Que vá até as periferias. Que dê recados. Mensagens. Que faça cócegas. Que imite a Broadway. Acho válido em todos os casos. É claro que em alguns casos o teatro ressurge com mais valor e mais pleno de potencialidades. De relevância. Vivemos tempos difíceis. Crise geral. De valores. Financeiros, morais e éticos. Um bom campo para que floresça a comédia, por exemplo. Todos querem rir. Não tá fácil pra ninguém. Muitos atores e comediantes de sucesso popular aproveitam esse nicho de mercado para montar seus solos de stand up, por exemplo. Não é preciso investir quase nada, cenário, equipe técnica, luz, trilha sonora, apenas um microfone e um palco vazio, iluminado por um único refletor e o retorno financeiro é muito maior, o dinheiro da casa lotada é todo do ator comediante e a plateia satisfeita vai comer pizza depois de “rachar o bico”. Tudo certo. Outros mudam o nome do espetáculo e apresentam uma versão requentada da mesma coisa que já faziam e continuam tendo o sucesso que conquistaram. Tudo certo também. Mas tem alguns atores e comediantes de sucesso popular – poucos, diga-se - que aproveitam o dinheiro e a popularidade que ganharam para dar um algo mais para seu público ávido de risadas. É o caso de Marcos Veras. Assim como Eduardo Sterblitch, de quem muito já falei aqui, ele reverte as expectativas do público que quer apenas “rachar o bico”. Esse tipo de ator ou comediante arrisca. Investe. São jovens que não se acomodam no glamour do sucesso fácil. Querem mais, tem algo a dizer. Revestem o teatro de comédia da sua real função. Vamos rir, sim. Mas do que é mesmo que estamos rindo? Da nossa miséria? Da nossa feiúra? Da nossa pequenez diante do universo? Da nossa estupidez, crueldade e violência? Ah, tá. Então vamos rir juntos. De nós mesmos. Rá rá rá... Dono de um talento e de um carisma imensuráveis, Veras dá a seu público não apenas risadas, mas teatro. O verdadeiro teatro. Eu já o havia visto em Atreva-se, com direção de Jô Soares, e tinha gostado muito. Apesar de ser uma comédia mais leve e despretensiosa, era de extremo bom gosto, uma impecável encenação toda em preto e branco, parodiando o cinema noir. Agora, nesse Acorda Pra Cuspir, ele vem seco. Direto e reto. Como uma flexa. Um soco. Uma sacudida forte. Adoro. O texto, de Eric Bogosian, foi traduzido por Maurício Guilherme, o autor de Atreva-se. No original chama-se Wake Up And Smell The Coffee. E é isso. Acorda! Levanta! Se liga! E vá ao teatro aplaudir de pé Marcos Veras...
Na foto, Veras agradece os merecidos aplausos.

domingo, 26 de junho de 2016

GALLAVIN

Sigo minhas buscas intermináveis por novos talentos musicais, que tanto me inspiram. Como já declarei aqui no blog, grande parte dos meus achados devo à Radio Swiss Jazz, que tenho no meu iPad. Pois é de lá que vem a minha mais recente descoberta do jazz vocal: Steven Gallavin. Ou apenas Gallavin, como prefere ser chamado esse suíço natural de Sierre. Quando escutei por acaso sua interpretação de You´re The Top, de Cole Porter, fui atrás e fiquei muito satisfeito com o que encontrei. Principalmente com seu primeiro álbum, Mad About The Boy. Acho que já deu pra entender, não? Gallavin retoma standards do jazz escritos por compositores gays ou bissexuais e que originalmente eram gravados por mulheres. Com suas interpretações masculinas ele imprime novos sentidos às canções, realçando sua essência e as intenções originais de seus autores. Hits como The Man I Love, Lover Man, Like Someone in Love e My Baby Just Cares for Me ganham novas cores e tons. Uma delícia de se ouvir. Para além de quaisquer estereótipos, Gallavin é um deleite só. Dia desses, em um bate-papo ao vivo no Facebook, meu amigo Edson Cordeiro declarou, diretamente de Berlin, que sou uma espécie de pesquisador musical, sempre a apresentar-lhe novidades. Fiquei tão envaidecido que resolvi dividir aqui, além da minha mais recente descoberta, as palavras de meu querido amigo. Diga-se de passagem, outro grande artista a quem devemos ouvir com a maior atenção. Tem algumas coisas de Gallavin disponíveis no Youtube, não muitas. Os álbuns estão à venda no iTunes. Eu, evidentemente, já comprei...
Na foto, Gallavin em si fazendo a bonita, toda trabalhada no pailleté.

terça-feira, 21 de junho de 2016

PARA UM DOMINGO QUE FINDA

Quem me conhece e/ou segue o blog sabe da minha paixão por piano e pianistas. É que estudei esse instrumento durante boa parte da minha infância e adolescência e, como abandonei os estudos, hoje sou uma espécie de pianista frustrado. O que foi sem nunca ter sido, como a Viúva Porcina de Roque Santeiro. Pois bem, isso tudo faz com que eu esteja sempre de olho nesses maravilhosos seres musicais e seu incrível talento para tirar música do instrumento que tanto amo. Para citar alguns, Cida Moreira, João Carlos Assis Brasil, Arthur Moreira Lima, Miguel Proença, Rodrigo Vellozo, Cezar Camargo Mariano e muitos outros. Entre eles, Lady Gaga, que me surpreendeu em um concerto a que assisti em Paris no ano de 2010. Nesse domingo fui ao Theatro Municipal para a apresentação de Michel Camilo. Esse incrível pianista é natural da República Dominicana e passeia por diversos gêneros musicais, do clássico ao popular, passando pelo jazz, com composições próprias e interpretações bem particulares de standards. Uma espécie de one man show do teclado. Fiquei bastante impressionado. Sua já antológica interpretação de Take Five é aplaudida já nos primeiros acordes. Claro que cheguei bem mais cedo, uma hora antes do início do recital, para aproveitar o café do teatro tomando um vinho. O café funciona nas dependências do Salão Assyrio, que fica no subsolo do teatro e tem uma decoração deslumbrante, para dizer o mínimo. Nesse salão aconteciam os bailes de máscaras do Municipal e também chegou a funcionar um cabaret onde se apresentou Pixinguinha! O Assyrio apareceu na minissérie Ligações Perigosas, da Globo, na cena em que Selton Mello é flagrado com outra por Marjorie Estiano... Fiquei curtindo os relevos de azulejos franceses enquanto degustava meu vinho. Servido, malheureusement, em taças de plástico. Praticamente uma heresia em um local tão belo e sofisticado. Mas vale a visita. Aliás, valem várias visitas. Pretendo voltar mais vezes. Não apenas o café, mas o teatro como um todo, é encantador. Eu sei que foi inspirado na Opéra Garnier e que o que vou dizer é um clichê, mas, ainda assim, lá vai: Parece que a gente está em Paris. Mesmo. Saí com um aconchego no peito e a sensação de um domingo bem encerrado. Do lado de fora, a lua cheia iluminava a Cinelândia... Para fechar a semana com chave de ouro.
Nas fotos, Michel Camilo agradece a ovação, vitral do teatro e detalhe dos azulejos do Assyrio. #michelcamilo #theatromunicipalrj

domingo, 19 de junho de 2016

BR TRANS

Ainda me sinto tocado pelo emocionante espetáculo BR Trans, a que assisti nesse fim de semana no Teatro Poeira. Resultado de uma pesquisa do universo de travestis, transexuais e transformistas, feita pelo artista Silvero Pereira, a peça fisga o espectador desde o momento em que ele entra no teatro. Digo artista porque acho que seria redutor chamar Silvero apenas de ator. Seu enorme talento e carisma são capazes de quebrar o gelo de qualquer coração endurecido e fazer relaxar o mais refratário dos moralistas. Assim que um deles coloque os olhos em seu vestido de melindrosa que marca com o balanço das franjas o ritmo da melodia suingada executada pelo pianista enquanto a plateia ocupa os seus lugares. Silvero dá vida a Gisele Almodóvar, espécie de alter-ego do ator, e essa nos conta a história de várias colegas e entrevistadas na sua pesquisa. Assim percorremos as alegrias, os sonhos, as desgraças, os dilemas e as angústias desses seres estigmatizados que tentam sobreviver à margem da sociedade. Eu, que adoro por identificação todos os excluídos, os desvalidos, os degredados filhos de Eva, “os ladrões e as amantes, meus colegas de copo e de cruz” (para citar Chico) fiquei completamente absorvido e emocionado. Silvero é cearense, mas realizou a pesquisa em Porto Alegre, onde entrou em contato com Jezebel de Carli, que veio a ser a diretora do espetáculo. Coincidentemente, Jezebel foi minha colega na faculdade de teatro. Já tinha ouvido falar bem desse espetáculo há muito tempo. Só agora consegui assistir. Ainda bem. E, por favor, não deixem de fazer o mesmo. Fiquei pensando em minha amiga Claudia Wonder, já falecida, e no quanto ela iria adorar se ver retratada nesse belo trabalho. Silvero arrebata ao interpretar ao vivo Três Travestis, de Caetano, e Geni e o Zepelin, de Chico Buarque. E a personagem Babi me levou às lágrimas dublando Maria Bethânia na belíssima Balada de Gisberta, que não conhecia e que agora não paro de escutar. Esse espetáculo é muitíssimo bem-vindo nesse momento de tanta violência, segregação, discriminação e preconceito contra homossexuais em geral, entre os quais travestis e transgêneros se incluem. Quem diria, em pleno século XXI. Seja pelo estado islâmico (minúsculas intencionais) ou pelos pastores que pregam a cura gay. Dá tudo na mesma: O retrocesso está no ar. Mas ainda assim, eles estão lá. Sonham e se desencantam. Ralam e se transformam. Traçam perfis na praça. E se a barra pesar, deixam o país e enchem Paris de graça... Afinal, a distância até o fundo é tão pequena, no fundo é tão pequena a queda. E o amor é tão longe...
Na foto, as franjas ritmadas do vestido de melindrosa de Gisele. #brtrans

quarta-feira, 15 de junho de 2016

MAIS GOTAS

Sábado passado fui a Copacabana para assistir ao espetáculo Esse Vazio, no Teatro Glaucio Gil. Como sempre faço quando vou ao teatro, cheguei mais cedo para comprar o ingresso e, depois de adquiri-lo, fui fazer hora tomando uma taça de vinho. Dessa vez, no simpático bistrô Pek 170, que fica na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, bem na altura do Copacabana Palace. Quando saí do bistrô e me dirigia para o teatro dei de cara com Jane di Castro saindo de um restaurante onde acabara de jantar. Não pude deixar de abordá-la. Conversamos, fizemos uma selfie e ela me deu o flyer do show que fará com Rogéria na Sala Baden Powel no próximo dia 23. O prospecto, ela falou. Achei chique. Tem coisas que só em Copacabana... Quanto ao espetáculo, bem, não amei. Mas achei que faz juz ao nome... Depois ainda fui jantar no Azumi, o melhor japonês do Rio na minha singela opinião. Ele fica em Copa, mas bem poderia estar situado na Liberdade, em São Paulo. Tal a autenticidade. Como eu dizia, tem coisas que só em etc... Na segunda, Weidy e eu fomos passar a tarde na Ilha de Paquetá. Um pequeno tesouro que em anos frequentando o Rio eu nunca havia visitado. Ruas de areia e paralelepípedos remetem ao passado e a pequenas cidades do interior, como a minha Soledade. Além das belezas naturais e arquitetônicas, Paquetá conserva o que para mim é um dos maiores luxos da atualidade: O silêncio. Andando pelas suas simpáticas praias e ruas o silêncio é tamanho que se pode escutá-lo. Vez em quando ele é interrompido pelas ondas que quebram baixinho na areia. Uma tarde de sonho... Hoje fui finalmente visitar a exposição ComCiência, de Patricia Piccinini, no Centro Cultural Banco do Brasil. Não há muito o que ser dito, pelo menos por mim, sobre esse maravilhoso trabalho. É o tipo de obra que tem que ser vista e sentida. Apesar de que, pelo visto, a maioria das pessoas somente olha. E fotografa! Meu Deus, tem gente que chega a encostar os celulares nas esculturas em busca de closes. Dá um pouco de vergonha alheia. Aliás, muita. Mas cada momento dedicado a apreciar esse impressionante trabalho valerá para sempre. Eu não vou esquecer jamais... E o mês de junho segue com temperaturas amenas. E eu, já em ritmo de despedida do Rio, procuro aproveitar o que posso da Cidade Maravilhosa.
Nas fotos, selfie com Jane, bucolismo em Paquetá e um pouco de ComCiência.

sexta-feira, 10 de junho de 2016

JUNHO EM GOTAS

Dia desses, assistindo ao filme Meia Noite em Paris, de Woody Allen, pela quarta ou quinta vez, observei que na calçada onde os personagens andavam nos anos vinte havia aqueles relevos indicativos para cegos. O que, imagino, à época ainda não existia. Mesmo em Paris, sempre tão avant-garde. Gostei do que vi. Me fez pensar que mesmo um gênio como Allen, tão cercado de gente tão capaz, pode errar...
A galeria Marcelo Guarnieri está expondo fotografias de Pierre Verger. Muitas delas tem como diferencial o fato de terem sido manipuladas pelo próprio Verger. Reveladas, ampliadas, etc por ele e, mais ainda, assinadas. O que faz com que custem em torno de vinte mil reais. Adoraria ter dinheiro para poder pagar isso tudo por uma fotografia. Vai ficar para a próxima encarnação...
Gota D'Água a Seco, com Laila Garin e Alejandro Claveaux, retoma o musical de Chico Buarque e Paulo Pontes protagonizado por Bibi Ferreira no fim dos setenta. Creiam, eu assisti, mesmo sendo praticamente um bebê. A peça se mantém atual e na minha singela opinião o único senão é o registro dramático adotado pela direção. Gota D'Água, Bibi o sabia, é trágica! Já Helena Varvaki é toda drama em A Outra Casa, de Sharr White, no pequeno Cândido Mendes. Me fez chorar potes, como tudo o que trata de doenças terminais ou crônicas atualmente...
O Facebook tem me aborrecido sobremaneira. De modo que só entro para ver os aniversariantes do dia, as atualizações e tchau. Todo o atual engajamento dos friends me dá muita preguiça. Fora Temer, ok, aceito. Mas gente perguntando que horas Dilma volta, acho um pouco demais. Desapega, meu povo...
Frio no Rio, uma novidade total para mim. Dá ainda mais saudades de São Paulo. Mas agosto se aproxima e eu, finalmente, irei voltar ao lar... Sem muita paciência para escrever aqui, navegar em redes sociais e me conectar em geral. Isolamento master...
Apaixonado pela série Gracie and Frankie, do Netflix. E, por falar em Gracie, minha amiga de fé, irmã, camarada, Grace Gianoukas está arrasando na novela Haja Coração, como a milionária excêntrica Teodora Abdala. A novela não me prende, mas fico online só para curtir a Grace. Felicíssimo pelo seu êxito na TV encerro o post. Bom inverno a todos!
Na foto, Pierre Verger na galeria Marcelo Guarnieri em Ipanema.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

MUDANÇAS

Recentemente um amigo teve que deixar o apartamento onde viveu por quase dez anos. O proprietário manifestou o desejo de vender o imóvel e, naturalmente, deu a preferência para o seu inquilino tão fiel. Mas o fato é que esse meu amigo não tinha bala na agulha para se tornar o novo proprietário e a solução foi deixar o seu cafofo tão amado. Rapidamente conseguiu encontrar um apartamento até melhor do que aquele onde viveu por tanto tempo, mas quem diz que ele ficou satisfeito! Não é o conforto do novo lar, suas paredes brancas e cheias de tomadas, não é o elevador que o outro não tinha, não é a varanda ampla que comporta uma mesa e várias plantas, não é nada disso que ele queria. Queria apenas e tão somente ficar morando no lugar onde adorava morar... Essa mudança de residência trouxe consigo a mudança de diversos hábitos: Os locais que ele frequentava e que ficavam nas imediações, por exemplo. Teria agora de pegar conduções para ir até eles ou, pior ainda, passar a frequentar outros locais. Quando a gente decide fazer mudanças de hábitos ou mesmo mudanças de vida, isso é uma coisa ótima. Abre espaço para o novo, o imprevisto, o inusitado. Mas quando isso tem que ser feito à nossa revelia é realmente aborrecedor, para dizer o mínimo. De modo que esse meu amigo ainda nem descobriu as prováveis melhoras que essa mudança involuntária pode ter trazido à sua pacata existência. Por enquanto ele nem está interessado nisso. Tanto que a primeira coisa que fez, assim que se instalou confortavelmente na nova moradia, foi fechar a porta à chave e pegar um vôo para um país bem distante para descansar por duas semanas. Diga-se de passagem, o seu país de origem. Ele mora no exterior há mais de vinte anos... Já eu, de minha parte, às vezes tenho vontade de mudar é de planeta. E, quando sou tomado por esse sentimento de inadequação, felizmente recorro à literatura, passaporte mágico para as mais loucas e inimagináveis viagens. Nada como abrir portais, transcender, trespassar a realidade inócua do dia a dia e se embrenhar em universos paralelos cheios de mistérios a desvendar. Abrir a porta do Teatro Mágico cujo acesso só é permitido aos raros, aos loucos. Devorar a primeira metade das histórias e depois começar a poupá-las lendo-as lentamente para que a separação inevitável demore mais a chegar... Nesse exato momento estou fazendo algo que não fazia e que fui obrigado a fazer: Escrever em um computador. Sempre gostei de escrever, desde criança. E sempre o fiz à máquina. Tinha verdadeira paixão pela máquina de escrever do meu pai e, mais tarde, pela minha própria, uma Olivetti Lettera 35 alaranjada. Quando não o fazia à mão mesmo, nos cadernos de bolso que sempre carregava comigo. Quando chegaram os computadores, a internet, a era digital em si, ainda resisti um certo tempo. Mas não estava pegando nem bem para mim. E, como detesto ficar para trás e adoro uma mudança, ainda que por vezes involuntária, aderi em seguida. Hoje não vivo sem meu ipad, meu notebook e meu celular. Sem sinal de internet, então, nem se fala. Sou capaz de deixar de ir para um lugar incrível se souber que lá não tem internet... Enfim, vou me adaptando como posso entre as cidades e as estepes. Nem tanto o homem, nem tanto o lobo. Meu amigo também, estou certo, logo irá se adaptar à vida nova que virá com o novo lar. O importante é que estejamos vivos, conectados e cheios de curiosidade...
Na foto, o escritor alemão naturalizado suíço Hermann Hesse, cuja leitura muito me inspira.

terça-feira, 10 de maio de 2016

LE ROUQUET

Lendo o novo livro de Patti Smith, Linha M, vejo citado pela autora o nome de um café em Paris: Le Rouquet. A princípio, o nome não me diz nada. Mas desperta, obviamente, minha curiosidade como tudo o que se relaciona com a capital francesa. Uma rápida consulta ao Google me revela uma surpresa agradabilíssima: Frequento há anos esse café e nem sequer sabia seu nome. Ele fica no Boulevard Saint-Germain, bem lá para baixo, depois de todo aquele agito turístico em torno do Flore e do Deux Magots. Ele sempre me atraiu pela discrição e pelo agradável terraço sobre o qual se distribuem mesas na larga calçada margeada por plátanos. E o melhor: Tem lugar para sentar, ao contrário dos anteriormente citados, disputadíssimos apesar de caros. Nunca comentei com ninguém que ia lá porque nem ao menos sabia o nome. Mas todas as vezes que vou para a Rive Gauche é onde me sento para comer um croque monsieur e tomar o primeiro cálice de vinho do dia, depois de descer o boulevard em direção à casa de Serge Gainsbourg para ver os grafittis da fachada. Tomei essa descoberta como uma espécie de sinal, de bom augúrio. Me envaideceu, também, compartilhar um lugar no mundo com uma artista que admiro. E fui imediatamente invadido por uma série de conjecturas: Será que eu já teria me sentado ao lado de Patti Smith sem ao menos ter me dado conta de que se tratava da autora de Só Garotos? Teria eu me sentado à mesma mesa ocupada por ela minutos antes e sentido o calor de seu corpo sobre a cadeira? Tudo é possível no mundo das conjecturas. E eu certamente não reconheceria Patti Smith, pois imagino que ela se mova pelo mundo da maneira mais natural possível nem parecendo ser a artista que é. Me dou conta de que o glamour pode se refugiar em lugares onde a maioria das pessoas sequer suspeitaria, ávidas que estão de verem e serem vistas e de consumir pagando altos preços pelas coisas mais banais. Essa constatação só reforça a ideia de que possuo, de alguma forma, uma Paris só minha. E antes que alguma patrulha me ataque já adianto: Não há nenhum resquício de exclusão social nessa minha constatação. Pelo contrário, adoro a ideia de que todos possam, pelo menos uma vez na vida, viajar até a Cidade Luz. Quando digo uma Paris só minha quero dizer uma Paris que traço a partir dos meus gostos e afinidades, das minhas descobertas ocasionais de andarilho e das minhas identificações com personalidades relacionadas a ela. E isso inclui as mais diversas camadas sociais. Como diria meu personagem Emiliano Salvatori, "do high society ao underground". Mal posso esperar pelo dia em que estarei de volta a Paris. Acho que uma das primeiras coisas que vou fazer vai ser me sentar a uma mesa desse café e tomar um porre em homenagem a Patti Smith. Como podem ver, tudo pode ser desculpa para um bebedor inveterado... Ah! Fica a dica: Linha M, de Patti Smith.
Nas fotos, o terraço à sombra dos plátanos e Patti na capa de Linha M.