sábado, 30 de abril de 2011




AU REVOIR, AVRIL

Hoje encerra o mês de abril, mês do meu aniversário e, consequentemente, do meu inferno astral. E ele encerrou digno de ser meu mês natal. Com direito à Pina Bausch e seu Ten Chi, Marco Nanini e seus Pterodátilos, teve a São Paulo Companhia de Dança, o musical New York, New York, o Circo Roda, os filmes Contra Corrente e O Retrato de Dorian Gray, o Cabaret Luxúria e a exposição O Mundo Mágico de Escher, no Centro Cultural Banco do Brasil. Ótima pedida para um final de tarde: Passear pelo centro, tomar um café, visitar a exposição de Escher e assistir ao Cabaret Luxúria. Isso sem falar na beleza do CCBB em si. Abril é outono, estação que adoro. Com dias lindos de sol que já não são mais tão quentes. E as poéticas folhas mortas, que fazem lembrar Jacques Prévert...Sempre tenho vontade de ir a Paris nessa época do ano, pois lá é primavera, outra estação que adoro. I love Paris in the springtime, comme dirais Cole Porter. Teve os festejos do meu aniversário, totalmente informais, esse ano resolvi não fazer festa, então comemorei saindo pra jantar e almoçar e, claro, beber. Retomei em abril as minhas aulas de canto, com Cida Moreira. Teve a estréia da novela Cordel Encantado, que estou adorando acompanhar. Teve muita reflexão, questionamentos, auto-conhecimento... E, claro, aumentou um ano na minha idade. Mas isso é o de menos. Ou melhor, de mais!

Na foto, eu no mundo mágico de Escher.

sexta-feira, 29 de abril de 2011





DA NECESSIDADE DE TER
Pense bem: De tudo o que você possui – estou me referindo a bens materiais – o quê você realmente necessita? Difícil responder... O mundo moderno cria constantemente tantas necessidades descartáveis, que fica impossível não ter sempre um novo bem de consumo do qual a gente precise muito para viver. Como não ter uma TV de plasma que grava tudo em HD? Como ficar mais um ano sem trocar de carro? Não acredito: Você não tem um i-phone? Como você é analógico... Pois é. Eu sou mesmo uma pessoa analógica. Gosto de analizar bem as coisas que faço, que digo, que escrevo e, sobretudo, as coisas que compro. Por incrível que pareça eu não tenho a necessidade mais urgente da sociedade atual: A de consumir. Sou o tipo de pessoa que não se realiza possuindo, e sim, sendo. Difícil de entender. Equação complicada. Não vou nem entrar no mérito da origem dos bens de consumo. Como são produzidos, comercializados, exploração de menores, mão de obra escrava, desmatamento, poluição, isso tudo seria assunto para outro post. Melhor, para outro blog. O do Sakamoto, por exemplo. Quero me ater à inversão de valores institucionalizada na sociedade de consumo na qual vivemos. As pessoas estão se medindo pelo que possuem. Pelo que consomem. Isso gera banalizações, clonagens, imitações de padrões à exaustão. Você precisa tomar champanhe. O champanhe precisa ser rosé. Pra isso você precisa ir ao lugar da moda. Para entrar no lugar da moda você precisa pagar caro, pois não é qualquer um que entra. Ah, você precisa usar a roupa da moda. Mas tem que ser da grife da moda. E você precisa estar constantemente conectado à internet. Pra isso você precisa ter um i-phone. Ou, pelo menos, um i-pad. O seu carro tem que ter alarme. Tem que ser blindado, a violência atingiu níveis inimagináveis. Tem que ser importado também. Bom, mas isso é óbvio. Tudo tem que ser importado... Eu não tenho i-phone. Não tenho i-pad. Aliás, não tenho nem carro. Minha TV é de tela côncava. Eu gravo os programas no videocassete. Escuto CDs no diskman. E nada disso afeta o meu caráter, por exemplo. Nem faz de mim um ser menor, impossibilitado de viver em sociedade. Meu celular é antigo, deve ter uns três anos. Eu não considero antigas coisas de apenas três anos. Eu gosto de coisas antigas. Gosto de coisas que durem. Gosto de ser educado. De falar baixo. Eu guardo um papel no bolso até encontrar uma lixeira. Ou, se não encontro, até chegar em casa. E jogo, então, no lixo seco. Eu costumo pedir licença, dar bom dia, dizer por favor antes de solicitar algo a alguém. Eu desligo – vejam só – eu desligo o celular no cinema enquanto todos o deixam no silencioso e atendem chamadas e respondem mensagens o tempo todo durante o filme. No teatro também. Eu faço silêncio durante a noite para não incomodar os vizinhos. Eu pago todas as minhas contas em dia. Eu me visto bem, mas segundo o meu próprio gosto e estilo, não ligando para a marca das roupas. Prefiro comprar livros, CDs ou DVDs ao invés de coisas para ostentar. Eu odeio ostentar. Eu gosto é de ser. Ser honesto, ser sincero, ser educado, ser leal, ser solidário, ser bacana, ser divertido, ser cordial, ser amigo, ser gentil, ser eu mesmo. Difícil ser assim, tão démodé... Eu devo ser mesmo muito analógico. E totalmente fora dos padrões atuais.
Mas tenho, obviamente, o meu lado "perua". Também aprecio o consumo. Só que com moderação... Ah! Também não acompanhei a transmissão do casamento real pela TV.


Ilustrando o post, obra do artista americano Alex Gross.

segunda-feira, 25 de abril de 2011








AUJOURD'HUI C'EST MON ANNIVERSAIRE...
Hoje é o meu aniversário, diz o título do post en français. E, como sou daqueles que adoram fazer aniversário, não podia deixar de registrar aqui no blog. E o engraçado é que já faço aniversários há quarenta e oito anos e continuo gostando... Os festejos oficiais começaram na sexta-feira. Que, por sinal, era a Sexta-feira Santa e fiz meu primeiro bacalhau. Adoro comer bacalhau, mas nunca havia preparado. Ficou bem bão... No sábado, fui conhecer, por indicação de minha irmã Rita, que mora em Miami e sabe mais sobre São Paulo do que eu, o Divine, um wine bar charmosíssimo que acaba de abrir aqui nos Jardins, num porão transformado em cave na Alameda Jaú. Adorei. E sigo comemorando, entre almoços e jantares no Ritz, brindes com vinho e champanhe, a minha alegria de estar vivo, saudável e feliz. O que já não é pouco nesses tempos conturbados que vivemos. Sigo, também, acreditando que tenho mais motivos para celebrar do que para lamentar. Mais para agradecer do que para pedir. Mais para realizar do que para sonhar...Não, para sonhar não há limite! Sonhar e realizar sempre. Minhas lembranças de aniversários passados são todas felizes. Lembro especialmente dos meus nove anos, quando pedi de presente pra minha mãe uma festa. Foi linda. Tinha aqueles personagens da Disney de papel que vestiam as garrafinhas de Coca-Cola. Sim, garrafinhas. Alguém lembra? Lembro muito bem, também, dos meus dezessete anos. Meus pais e meus avós maternos foram passar comigo em Porto Alegre e fomos surpreendidos por uma festa surpresa organizada por meus colegas de escola, que chegaram com bolo, balões, línguas de sogra e muita bebida. Surpreendidos por uma festa surpresa é ótimo, não? A idéia é justamente essa...Meus pais sempre iam passar meu aniversário comigo em Porto Alegre e eu adorava vê-los conversando animadamente com meus amigos, todos artistas e diferentes das pessoas com as quais eles estavam acostumados... Meus trinta também foram especiais. Fiz uma festa grande, na pizzaria de uns amigos. Teve a presença do Caio Fernando Abreu, que havia voltado a morar em Porto Alegre. Foi a penúltima vez que vi o Caio antes de ele morrer. Aliás, várias pessoas queridas que estavam presentes naquela festa já morreram, inclusive meus pais. Mas nada de falar de morte! Hoje é dia de celebrar a vida... E a minha tem sido pródiga em motivos para celebração! Todos os meus aniversários aqui de São Paulo foram inesquecíveis também. Sempre animados pela presença da Léia Bastos, meu amigo drag queen que vinha vestido de mulher ou então chegava à paisana, de Alexandre, e saía da festa montado de Léia... E os porteiros diziam: Roberto, é o seu Léia! Teve o de trinta e quatro anos, no apartamento da Consolação, que começou às cinco da tarde e terminou na manhã seguinte. Transformamos o quarto da Pati, minha amiga que dividia apartamento comigo, num dark roon... As lembranças são tantas que não caberiam em apenas um post... Mas já ta bom. Feliz Aniversário pra mim!
Nas fotos, eu, todo feliz, chegando em casa para a festa surpresa organizada por minha irmã Regina para celebrar meus dezoito aninhos e curtindo a festa na companhia das manas Rita e Regina e do pequeno Horácio...

quarta-feira, 20 de abril de 2011




SOLEDADE PISCINA CLUBE
Comemorando os setenta anos do Rei Roberto Carlos sou invadido por um turbilhão de lembranças da infância. Todas elas da minha estação favorita do ano: O verão. E todas ligadas ao supra-sumo do prazer da época: Passar as tardes no Soledade Piscina Clube. Explico: É que comemoro a passagem de anos do Rei escutando seus álbuns da década de setenta, auge da minha infância e pré-adolescência, que foram embaladas por hits como Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos, Amada Amante, Como Dois e Dois, Quando as Crianças Saírem de Férias... O Show já Terminou. Ah, e um gatto per farci compagnia: Un Gatto Nel Blu... No salão do SPC (Agora já estamos íntimos, ok?) havia uma vitrola que tocava incansavelmente os hits de Roberto Carlos. E, como eu praticamente só entrava no salão na hora do lanche, para ir até a copa, as memórias vem misturadas ao sabor de pastel com fanta uva...Esse era o meu lanche preferido. Nada de levar lanche de casa. Apenas alguns cruzeiros para comprar o pastel e a fanta uva, que são apenas a entrada do turbilhão de lembranças. E elas seguem misturadas a pantalonas de gabardine cor de rosa, boca de sino, mocassim branco, cabelo comprido, cheiro de cloro, lábios roxos de frio, queixo tremendo, novelas protagonizadas por Regina Duarte, e muita, mas muita curiosidade e total ignorância acerca de sexo. LPs, compactos simples e duplos, álbuns de figurinhas, paradas de sete de setembro, ditadura militar – eu nem sabia o que era isso – e sonhos, sonhos e mais sonhos. Não apenas de valsa. De todos os tipos. Se você não vem comigo tudo isso vai ficar no horizonte esperando por nós dois... As lembranças seguem surgindo e vão até o professor de Educação Física Claudio Barella. Eu adorava o Barella e ele me adorava também. Não sei se o que eu sentia era paixão, ou era e eu não queria saber. O fato é que eu tinha treze para catorze anos e ele era uma figura masculina com a qual me identificava positivamente. Ele incentivava as coisas que eu mais gostava, como, por exemplo, ginástica olímpica, modalidade na qual eu me destacava. Ao contrário do futebol, na qual sempre fui motivo de chacota. Quando chegaram as férias do verão de 1977/78, o meu último verão morando em Soledade, o professor Barella me convidou para ser seu assistente nas aulas de natação que ele dava pela manhã no SPC. Foi a glória pra mim. Me sentia o máximo. Finalmente reconhecido... Soube recentemente que ele morreu. Uma pena. Saudades do meu professor. E o turbilhão segue com a professora de história, Marília Zarpellon, de quem me tornei amigo e, mesmo depois de já estar morando em Porto Alegre, nas férias de verão eu ia com ela nadar pela manhã nas piscinas do SPC... Marília era a única pessoa que eu conhecia que tinha viajado para o exterior! Conhecia a Europa... Ainda bem que estrelas mudam de lugar. Chegam mais perto só pra ver... Há uns dois anos atrás eu voltei a Soledade. Tudo estava igual como era antes. Quase nada se modificou... Saio do turbilhão para trocar o CD. Já chega do Rei. Está comemorado. Acho que só eu mesmo mudei. E voltei...
Nas fotos, onde está Wally com amigos na piscina e a professora Marília posando pras minhas lentes.

terça-feira, 19 de abril de 2011







TEN CHI
Não vou falar tecnicamente sobre o espetáculo do Tanztheater Wuppertal, de Pina Bausch, porque ficaria pretensioso e chato. Até porque não sou crítico de teatro e entendo muito pouco de dança. E o que Pina faz sempre foi mais do que simplesmente teatro ou simplesmente dança. É dança teatro. Categoria, diga-se de passagem, criada por ela. E exaustivamente imitada no mundo inteiro. Tanto pelos top criadores quanto pelos amadores das mais fubangas companhias de todo o planeta. Mas deixa isso pra lá, vem pra cá, o que é que tem. Tem música, dança, poesia. Imagens que marcam pra sempre. Não tem como sair ileso de um espetáculo de Pina. É uma experiência, no mínimo, perturbadora. Reveladora. E o mais incrível é que, mesmo não estando mais aqui entre nós, ela continua viva. Graças a Deus. A primeira vez que assisti a um espetáculo de Pina Bausch foi quando morava em Paris, no início dos anos noventa. Era a criação de 1989, chamada Palermo, Palermo. Eu acabara de concluir a faculdade de teatro e cheguei na Europa sedento por assistir a todos aqueles que eu considerava os mestres do teatro: Peter Brook, Ariane Mnouchkine, Tadeusz Kantor, Dario Fo, Eugenio Barba e muitos outros. E de fato assisti a todos. Mas nenhum me impressionou tanto quanto Pina. Era ela a minha nova Deusa do Teatro. Quando a cortina do Théâtre De La Ville se abriu, o que vi foi uma imensa parede de concreto cobrindo toda a boca de cena. Silêncio. Tempo. De repente, do nada, a parede tomba para trás provocando um imenso estrondo e se desfazendo em ruínas, destroços sobre os quais os bailarinos/atores começam então a dançar. Impressionante. Aos poucos, os destroços iam sendo retirados e, sem que se percebesse, o palco ficava limpo outra vez. E o espetáculo seguia com pianos que entravam e saíam de cena, árvores inteiras que desciam de cabeça pra baixo, sequências de imagens inebriantes que até hoje guardo na memória. Quando fui sacudido por toda essa turbulência estética, eu só conhecia Pina do Café Müller, a que assistira em vídeo no Instituto Goethe, de Porto Alegre, nos anos oitenta. Depois, na mesma Paris do início dos noventa, só que na Opéra Garnier, assisti a uma de suas primeiras criações, senão a primeira, Iphigenie Auf Tauris, também impressionante. E mais recentemente, em 2001, assisti aqui em São Paulo, no mesmo Teatro Alfa de Ten Chi, à sua criação inspirada no Brasil, Água. Todos espetáculos grandiosos, com imagens arrebatadoras, música tocante e envolvente e grandes grupos se movimentando sobre a cena. Agora, em Ten Chi, se sobressaem os solos. O espetáculo é uma grande sequência de solos, entremeados por rápidas passagens de pequenos grupos. Dura quase três horas. Mas eu assistiria, de bom grado, a uma ou duas horas a mais. A neve cai incessantemente sobre pedaços de baleias. Neve no mar. Lembra o filme Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, com a incrível cena da neve na praia. Lembra cafés, cabarés, viagens, amores, desamores, saudades, perdas, desespero, paixão, humor, gargalhadas, felicidade e infelicidade. Lembra, enfim, a vida. Lembra Pina viva. Viva Pina Bausch!

segunda-feira, 18 de abril de 2011


METRO

Eu adoro andar de metro. É incrivelmente mais rápido do que qualquer outro meio de transporte urbano. Pena que aqui em São Paulo, uma cidade cujo trânsito praticamente não anda, ainda haja tão poucas linhas. Mas isso já está mudando. Semana passada conheci a nova linha do metro de São Paulo, a linha quatro, amarela. Que, por enquanto, está operando de segunda à sexta-feira, das oito às quinze horas. Minha professora de canto, Cida Moreira, mudou-se para o bairro do Butantã e, como retomei minhas aulas, usei o metro para ir até lá. Fiquei impressionado. Além de ultra-rápido – levei oito minutos da Paulista até o Butantã – é moderníssimo. Não parece que você está no Brasil. Ou, pelo menos, não no presente. O futurismo impera nos trens e nas estações. O que mais me impressionou foi que no trem não havia condutor: Ele é totalmente automático ou, sei lá, se move por controle remoto. Fiquei bem na frente, onde seria a cabine do condutor, e só tinha janelas, que davam para o túnel sem fim. Senti um pouco de medo, confesso. Principalmente quando me imaginei passando por baixo do Rio Pinheiros...Mas o entusiasmo com a modernidade foi maior. Outra novidade é que os usuários são separados da via por portas de vidro que só abrem quando o trem chega, evitando acidentes. Igualzinho a algumas linhas do metro de Paris. Fiquei lembrando da primeira vez que andei de metro na vida. Foi aqui mesmo, em São Paulo, quando eu tinha onze anos e vim conhecer a cidade com meus avós. Era na década de setenta e o metro tinha inaugurado recentemente. Dar uma volta nele era o máximo. Imagine para uma criança do interior do Rio Grande do Sul... De Soledade, mais especificamente. Quando morei em Paris usava o metro direto. Mas lá tem uma estação em cada esquina. Você pode ir a absolutamente todos os lugares da cidade de metro. Em minutos você percorre Paris inteira. Mas o deles foi inaugurado em 1900... Ou seja, é uma outra história. Uma vez, durante a guerra do Golfo, uma certa paranóia rondava a cidade, com revistas em bolsas nas entradas dos edifícios públicos e um certo pavor nas estações de metro, com orientações constantes sobre objetos abandonados que poderiam ser bombas. Voltava eu para casa no meu bom metro lotado quando houve uma discussão entre dois homens seguida de um jato de gás lacrimogênio. Foi uma confusão, gente se empurrando, gritos, lágrimas nos olhos, e eu, completamente apavorado, saí aos prantos do vagão achando que ia morrer... Em agosto do ano passado, quando meu amigo João Faria, que mora em Paris, veio me visitar, conheci a estação Alto do Ipiranga, quando fui levar meu amigo ao museu. Também é muito bonita e moderna. Acho que sou a única pessoa que conheço que não tem automóvel aqui em São Paulo. Sou pedestre com muito orgulho e, sempre que posso, utilizo o metro como meio de transporte. Espero que eu ainda viva pra ver a cidade ter tantas linhas e estações quanto as do metro de Paris... Mas isso já é sonho e, como diz a canção de Paula Toller, sonhar não custa nada. Por enquanto, tenho mais uma motivação para ir às aulas de canto: Andar no novo metro!

domingo, 10 de abril de 2011


PTERODÁTILOS

Um lindo domingo de sol de repente se fecha em nuvens de chumbo desabando fria chuva. Uma torcida assiste à derrota de seu time. Uma casa construída sobre os ossos de um gigantesco animal pré-histórico. Há algo de podre no ar. O chão se move, desequilibra. Uma família se desconstrói. Famílias inteiras se desconstróem diariamente. Atores interpretam personagens que interpretam papéis sociais/familiares. Garota de quinze anos se sente presa, apertada na própria pele. Cá entre nós, as pessoas que vão ao teatro atualmente riem à toa. Até que alguma estranheza as surpreenda. Bem feito! Tão rindo do quê? A mulher que dorme na rua grita: Não é Maria! Não é Maria!! Sua mãe me disse que você está morrendo e ela está muito chateada com você por causa disso. Pra que passar tanto perfume pra sair de casa? Não dá pra comer na mesa ao lado. E o elevador? Empesteado... Tremores no Japão. Placas tectônicas. Tiros na sala de aula. Vamos mostrar a dor dessa mãe. Mostra de novo a imagem, por favor. Me alimento de vodka com alface roxa. Tomo tranquilizantes. Eu não tenho problema com drogas. Vou beber até morrer. Enorme de gorda. No Japão, duas famílias inteiras poderiam morar dentro de mim. A farsa acabou. A luz acendeu. A chuva parou. De volta à realidade. Não gosto de Harold Pinter! Gosto de coisas agradáveis como uma canção. Jimmy Scott enche a sala. Não necessariamente agradável. Mas uma canção. Nothig Compares 2 U. Todo mundo no show do U2. Palco circular. Gigantesca aranha. Todo mundo vai morrer. De doença, de extinção, de tiro na sala de aula. De beber. Os pterodátilos deixaram de existir. Espera de uma hora e meia no Ritz. Será que vou ficar velho interpretando o mesmo personagem? Como a Dercy? Como o Zé Bonitinho? Adoro o Zé Bonitinho. Preciso escrever sobre ele no blog. Zé Bonitinho vai morrer. Mais um domingo está morrendo. Detesto domingos chegando ao fim. E Marco Nanini deu mais um show de interpretação. Deus salve o bom teatro. E Nicky Silver. E Felipe Abib e Mariana Lima e Álamo Facó... Acho que amanhã vou abrir uma ong. Ou fazer um lifting, sei lá...

quarta-feira, 6 de abril de 2011


TATUAGEM

Não, não tenho nenhuma tatuagem.As únicas marcas que trago no corpo são as de nascença e as que o tempo se encarregou de deixar. O que já não é pouco... Há um certo tempo atrás, isso faria de mim o mais comum dos mortais. Igual a milhares de outros. Hoje, é exatamente o contrário: Me sinto a mais diferenciada das criaturas... Não tenho sequer um único furo na orelha! O uso de tatuagens no corpo cresceu tanto nos últimos tempos que acabou virando mais do que moda: Uma obrigação. Como assim? Você não tem nenhuma tatuagem? Que estranho... Ora, a idéia não era justamente ser diferente da maioria, ser, digamos, original? Como, se hoje todo mundo está tatuado? Ok, os desenhos diferem. Os traços e as figuras também. Mas, se você cobre o braço inteiro ou metade dele de tatuagens, como todos agora fazem, não acaba ficando tudo igual? São milhares de mangas longas ou curtas estampadas pelos braços. Os detalhes que preenchem essas mangas podem ser diferentes, mas o resultado final é o mesmo... Ora, direis, ouvir estrelas. Certo perdeste o censo! E eu vos direi no entanto que vê-las, tatuadas em profusão, é possível nos ombros e cotovelos... Carpas com motivos japoneses também não se vê só no bairro da Liberdade. Inscrições em japonês e chinês também não... As que me irritam são as temáticas: Atores que tatuam as máscaras da comédia e da tragédia e músicos que tatuam claves de sol não dá... E os que tatuam os nomes de namorados e namoradas? Do jeito que os namoros e casamentos andam durando pouco, logo, logo essas pessoas não vão ter mais espaço no corpo! Gosto das frases: Meu amigo Ricardo K está virando um pergaminho ambulante, quase uma carta. E é bem legal. Uma vez outro amigo, Edson Cordeiro, adepto das tatoos, me disse: Se o seu corpo é um livro, você vai morrer em branco? E eu respondi: Meu corpo não é um livro. É um corpo! Aliás, Edson tem um belíssimo retrato de Maria Callas tatuado no braço. Mas é como diz a Grace, numa de suas personagens: Tatuagem é uma questão de inclusão social... E eu sigo excluído. Não to nem aí. Quando falo que não tenho, as pessoas estranham. Dizem: Jura? Nem umazinha, pequena? Não. Por incrível que possa parecer, não. Como as coisas se inverteram, não é? Antigamente, você tinha que explicar por que tinha uma tatuagem. Agora, você tem que explicar por que não tem... Tatuagem, pra mim, segue sendo a canção de Chico Buarque, cantada pela Elis recostada ao piano que Cesar Camargo Mariano tocava. Trocando olhares de cumplicidade. Que é pra te dar coragem pra seguir viagem quando a noite vem... Mas não sou careta ou preconceituoso. Acho a coisa mais linda uma tatuagem bem feita. Sei apreciá-las. Com moderação, bien sur. Mas não em mim. É como sempre digo: Não gosto de nada que fique pra sempre. Nem filho, nem tatuagem...

Na foto, a antológica capa do álbum Tatoo You, dos Stones.

segunda-feira, 4 de abril de 2011


PRESQUE QUARANTE-HUIT ANÉES...

Quase quarenta e oito anos, diz o título do post en français. É que no próximo dia 25 completarei essa idade e me encontro em pleno inferno astral. De inferno propriamente dito, não estou vivendo nada. Mas quanto questionamento! Já estou começando a achar que vivo a crise dos cinquenta antecipada... Estou numa introspecção sem fim. Tudo é motivo para reflexão. Revejo atitudes, posturas, conceitos. O tempo todo. Em casa, no ônibus, na academia, no balcão do bar, no táxi, no metro, no cinema antes do filme começar, no cinema durante o filme, na fila de espera do banco, da padaria, do xerox! Como diria meu amigo Farielo, até na Leroy Merlin! Não é propriamente ruim, mas estressa. Quem não quer paz e sossego? Eu quero. Mas o desassossego faz parte da vida. Pelo menos da vida dos artistas. Nunca está bom como está. Sempre é possível melhorar. E, sobretudo, mudar. Acabei de estrear um trabalho solo, que me deixou super satisfeito. Agora estou naquela fase de fazer contatos, tentar temporadas, viagens, datas, pautas em teatros, ou seja, produção. Eu nunca havia feito isso antes e confesso que não é a minha praia. Estou chegando à conclusão de que sou apenas artista. Apenas criador. Todo o entorno que vem anexo não é para mim. E isso entra no pacote de revisão de posturas, questionamentos e etc. a que me referi acima. E tudo prestes a virar um cinquentão! Fico o tempo todo indeciso entre continuar, tocar em frente, ou parar tudo e ir para uma praia meditar de frente pro mar. Ou ir pra Paris, bater perna nos boulevards... O fato é que chega uma hora na vida em que a gente tem que arregaçar as mangas e trabalhar. Não dá pra ficar sentado no trono de um apartamento com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar, para citar o Maluco Beleza Raul. O tempo não para de passar. E, apesar do corpinho pas mal que ainda ostento, não sou mais um bebê. Apesar, também, de ser chamado por todos no diminutivo, Robertinho, não posso esquecer do Robertão, que também habita esse corpinho pas mal e tal... Desculpem, leitores, o desabafo. Acho que é a primeira vez que escrevo algo assim, tão confessional, aqui no blog. Faz parte do momento que estou vivendo. Sempre achei que escrever organiza as idéias, elabora o pensamento. Se estiver chato, perdão! Prometo sair logo da crise e voltar a escrever coisas mais interessantes. Por enquanto, na minha cabeça, só dá eu, eu, eu... Mas o dia 25 já está aí! Depois, tudo vai melhorar.

Na foto, o bar do Ritz, um dos locais onde mais me dedico à reflexão...