sábado, 31 de julho de 2010





KEITH HARING
Ontem tive o prazer de visitar a exposição de Keith Haring, na Caixa Cultural do Conjunto Nacional. Fui logo na abertura da mostra, pois estava super ansioso para apreciar seus trabalhos. Quando chegamos na entrada, Weidy e eu, percebemos que era só para convidados e, dommage!, não tínhamos o convite. Por alguns instantes, meu mundo caiu. Fiquei parado em frente à porta, via as pessoas chegando com seus convites na mão e entrando e não acreditava que ficaria de fora. Foi quando vi que ao meu lado estava um rapaz japonês com um crachá da Caixa. Pensei: é ele que vai me convidar para entrar. Fiz a cara mais desolada do mundo enquanto mentalizava: me convida, me convida. Não deu outra: em menos de cinco minutos ele virou pra mim e perguntou: Vocês querem entrar? Sim, respondi como uma criança perguntada se queria um brinquedo. Eu libero vocês, ele falou, nos acompanhando até o lado de dentro. Agradeci muito e me entreguei ao prazer da contamplação das obras desse artista que adoro. Acho que estou me transformando num velho chorão. Cada vez mais eu fico emocionado com arte, artistas, suas histórias, suas vidas. Toda trajetória artística que começa pequena, simples e despretenciosa e que, com o tempo e o boca a boca acaba atingindo o sucesso, me emociona sobremaneira. Minha experiência na Terça Insana foi assim. Logo, a identificação é total e imediata. E circulei entre as obras com lágrimas nos olhos sem o menor pudor. Das ruas de Nova Iorque para as estações do Metro e, posteriormente, para as galerias de arte e museus do mundo. Em Paris há um belíssimo trabalho de Keith na igreja Sainte Eustache. Suas obras podem ser vistas em paredes e painéis no mundo inteiro, de Ilhéus, na Bahia, onde ele costumava fugir do frio inverno novaiorquino, até Tóquio, Amsterdã e o muro de Berlim. Além do prazer de apreciar as obras e de tomar os deliciosos drinques de Absolut que estavam sendo servidos, ainda ganhamos um catálogo maravilhoso, com reproduções das obras expostas e várias informações sobre Keith Haring e sua fundação. Vinte anos após sua morte esse artista continua atual, e sua mensagem de amor e amizade continua a rodar o mundo. Rodar literalmente, pois está estampada até mesmo em shapes de skate...
Agradeço aqui ao simpático funcionário da assessoria de imprensa da Caixa pelos convites. Valeu!

quarta-feira, 28 de julho de 2010



JIMMY SCOTT

Eu estou apaixonado por Jimmy Scoth. Melhor dizendo: pela sua voz. E, sobretudo, pela sua interpretação. Que transforma as canções de modo a apropriar-se delas. Quem me apresentou à música de Jimmy Scott foi meu amigo João Faria quando estive, mais uma vez, hospedado em seu apartamento em Paris. Quem acompanha esse blog sabe da minha ligação com a música, da minha enorme admiração por pianistas, compositores, cantoras e cantores. Vem desde criança. Sabe, também, que comecei a estudar piano aos nove anos motivado pela imagem de Elton John todo emplumado e com óculos purpurinados tocando um enorme piano branco que vi ta TV. Até hoje não sei se a motivação principal foi a música em si ou o look estravagante do pop star. De qualquer maneira, foi um bom meio que justificou um bom fim. Só teria sido melhor se eu tivesse concluído os meus estudos de piano, teoria e solfejo – que interrompi aos quinze anos de idade – e me tornado um músico profissional. Mas isso já é uma outra história. Está no campo das frustrações, aliás, excelente tema para um post futuro. Mas, voltando a Jimmy Scott, um dos maiores expoentes do jazz vocal do século vinte. Ele já estava bem velhinho, com mais de setenta anos, quando Lou Reed – sempre ele – o redescobriu e produziu um álbum incrível onde Jimmy interpreta standards do pop com roupagem jazzistica. Acompanhado, evidentemente, dos melhores músicos de jazz. É indescritível. Só ouvindo. E, por favor, ouçam. Sua voz soa como um lamento. Aguda, mas forte. Andrógina e intensa. Lembra Nina Simone. Suas interpretações para Jealous Guy, de John Lennon, e Nothing Compares 2 U, de Prince, já gravada por Senéad O'Connor, são, como diria Cida Moreira, canções para cortar os pulsos. Daquelas que a gente precisa reservar um tempo dentro da agenda especialmente para escutá-las. Preparar a luz – que deve ser baixa, indireta – servir um drinque e se entregar. Desligue tudo, computador, celular, qualquer possível interferência. Desligue-se também, se for possível. E dedique-se a um dos maiores prazeres que os nossos sentidos podem nos proporcionar. Pode parecer exagero, coisa de quem não tem o que fazer e até é. Mas é bom demais. Se lágrimas brotarem, por favor, não as reprimam. Deixem-nas correr soltas. Vocês vão ver, faz um bem danado à alma. Depois passa, é só trocar o CD. Colocar, sei lá, uma marchinha de carnaval, da sua coleção de MPB. ( Confesso que meu impulso inicial foi sugerir Banda Eva ou Claudia Leite, mas é óbvio que quem, como eu, curte Jimmy Scott ou Ella ou Billie ou Nina, não teria em casa um CD desses artistas ).
No mais, só me resta dizer: aprecie com moderação. E não esqueçam: Eu avisei que era de cortar os pulsos...

terça-feira, 27 de julho de 2010


LUCIEN FREUD

Nessa minha última temporada em Paris tive o prazer de conhecer um artista do qual nunca tinha ouvido falar: Lucien Freud. Melhor dizendo, conhecer sua obra, que estava exposta numa das galerias do Beaubourg. Eu já havia citado essa exposição aqui no blog, entre muitas outras coisas que fiz por lá, mas agora resolvi falar especificamente dela, pois me marcou bastante. Tanto que comprei, no Beaubourg mesmo, dois livros com reproduções dos trabalhos desse artista. Se o sobrenome soa familiar não é mero acaso: Lucien é neto de Sigmund Freud, o pai da psicanálise. Nascido em Berlin no início do século passado, ainda hoje, aos oitenta e oito anos, continua impressionando com sua obra no mínimo instigante. Essa exposição que visitei é composta, basicamente, de grandes telas de retratos e auto-retratos. Quando digo grandes, quero dizer muito grandes, suas figuras humanas são bem maiores que o tamanho natural. Exceto o retrato que fez da rainha da Inglaterra, o menor da exposição, quase uma três por quatro comparado aos demais. Lucien Freud pinta pessoas muito grandes, muito nuas, muito expostas, muito cruamente expostas. E expressivas. E angustiadas. E atormentadas. E, como se pode ver pelo auto-retrato que ilustra o post, não poupa nem a si mesmo. Aliás, nem a própria rainha Elizabeth II. Há, também, um quê de metalinguagem em sua pintura. Em várias obras pode-se ver o atelier do artista, ele próprio pintando seus modelos, a vista da janela do atelier para um terreno baldio cheio de lixo. É um realismo muito particular, uma vez que não se trata de reprodução do real à maneira fotográfica dos realistas, mas sim de uma exacerbação do real através de pinceladas fortes, nervosas, que em nada maquiam ou retocam esse real. Que passa a ser, então, mais que real. Supra-real, talvez. Não sou crítico de arte, não sei, portanto, definir exatamente seu trabalho através de palavras. Só vendo para sentir. E isso, eu fiz: Vi e senti. E fico imensamente feliz em constatar que sempre há coisas interessantes a serem vistas. E sempre haverá. O mundo é uma fonte inesgotável de descobertas...

quinta-feira, 22 de julho de 2010





ROSA DE SAL

Você já se sentou para beber sozinho em um balcão de bar? Tendo por companhia somente o atarefado barman que, entre um coquetel e outro, troca algumas palavras de compaixão com você que, afinal de contas, se está bebendo sozinho ali, é porque não tem ninguém com quem falar? Eu já. Muitas vezes. Ainda bem que os bartenders do Ritz, onde costumo beber no balcão, são meus amigos e super queridos. Assim fica mais fácil encarar a solidão do bar. Mas, por mais queridos e atenciosos que sejam, estão trabalhando. Ocupados demais pra lhe dar a devida atenção. Então, entre um papinho e outro, você se põe a observar o entorno. O bar. As bebidas. Os utensílios. E, claro, as pessoas. Foi assim que descobri a Rosa de Sal. Não me refiro ao poema de Neruda. Se você quiser saber de que diabos estou falando, peça para algum barman lhe mostrar o pratinho com sal onde ele faz a crosta das Margaritas, ou de qualquer outro drinque que leve crosta de sal. Com o tempo, após várias crostas feitas, o pratinho fica parecendo uma rosa. De sal. Parece papo de bebum. E é. Não que eu esteja escrevendo alcoolizado, não é isso. Mas, quando fiz a observação, eu certamente estava. Tanto que anotei em um pedaço de papel que pedi à gerente, pra não esquecer, caso fosse acometido de amnésia alcoólica. Como de fato fui. Bendito papel rabiscado encontrado no meu bolso pela faxineira...Como eu dizia, parece papo de bebum, mas é mera observação de quem tem o hábito de frequentar balcões de bar. No Ritz, por exemplo, a rosa fica ao lado da máquina de Frozen Margarita, à direita de quem entra, perto da porta giratória. Ok, Rosa de Sal descoberta e registrada, sigo bebendo e observando. À medida que o teor alcoólico sobe, minha observação vai deixando de ser tão, digamos, poética, e vai se tornando mais crítica. Começo a observar melhor as garrafas de bebidas e me deparo com um Campari cujo rótulo é ilustrado por Romero Brito. Tá, eu até gosto de Romero Brito, acho colorido, divertido, tem algo do grafitti, da ilustração, mas ele precisa ilustrar todas as embalagens de todos os produtos? Outro dia fui pegar água de coco no mercado e a caixinha da água de coco era do Romero Brito. Ele também já havia feito a vodka Absolut, o panetone Bauduco, e um sem número de produtos e embalagens. Pra que? Ele está tão necessitado de dinheiro assim? Sua arte já não é comercial o suficiente? Só falta o absorvente íntimo do Romero Brito. Modess Romero Brito! Parece papo de bebum, não? E é. Resolvo, então, observar as pessoas. Entra um rapaz de calça Diesel, camiseta Abercrombie e tênis Diesel também. Sei disso porque estava visivelmente escrito DIESEL nos tênis. E olha que a luz não era muito clara e eu já havia bebido bastante. O corpo também era grifado. Pela academia, pelo personal trainer e pelo hormônio do momento. Provavelmente GH. Igual a quase todos os outros freqüentadores. De quase todos os outros lugares da moda. Lembrei, então, apesar do teor alcoólico que subia vertiginosamente, de um e-mail que recebi de uma casa noturna daqui de São Paulo, dizendo que queriam me enviar o seu cartão especial, VIP, mas que para isso eu teria que preencher o cadastro deles. Eu, que quase nunca vou a casas noturnas, só saio para jantar ou, nesse caso, para beber meu vinho e depois ir pra casa dormir, resolvi preencher o tal cadastro por pura curiosidade. E o cadastro perguntava, de Armani a Zara, quais das seguintes grifes eu tinha o costume de comprar ou que já comprara pelo menos uma vez. Passando, claro, por Dior, Dolce & Gabana, Gucci, Prada e tudo mais. E ia além: Tem carro? De que marca? E novamente o alfabeto inteiro: De Audi a, sei lá, Volkswagen. E mais: quanto você ganha? Deseja receber e-mails dos nossos parceiros? NÃO!!! E antes que o cadastro ficasse completo cancelei o preenchimento. Por que estou falando isso? Parece papo de bebum...E é. (Soluço).
Resolvi pedir a conta e ir pra casa antes que surgissem, porta giratória a dentro, as três filhas da Baby: Sarah Sheeva, Nanashara e Zabelê...
Asereh hê!
Termino com trecho do já citado Neruda:
“No te amo como si fueras rosa de sal, topacio
o flecha de claveles que propagan el fuego:
te amo como se aman ciertas cosas oscuras
secretamente, entre la sombra y el alma”.

domingo, 18 de julho de 2010


CORAÇÃO

Dia desses sonhei que meu coração saía pela boca. Literalmente. E, além disso, falva. Usava luvas de boxe e ficava socando o ar, como um boxeador treinando em um saco de pancadas. E foi logo avisando: Desculpe aí o mau jeito. É que se eu parar de bater, você morre! E soltou uma gargalhada. Eu pensei: Olha, meu coração é bem humorado, que bom...Ele também era bonitinho, com um look retrô, cabelos lambidos e bigode à la Clark Gable. Quando percebeu que eu o observava, mandou essa: Se você pensa que estou fora de moda, vou logo avisando: Sou um clássico! Tipo Casablanca, compreende? Smooking, sapato de verniz, jantar à luz de velas...Essas coisas. E prosseguiu: Você conhece o Milton Nascimento? Então avisa pra ele que essa conversa de guardar amigos do lado esquerdo do peito é uma patacoada! Pra começo de conversa, eu nem fico no lado esquerdo do peito. Fico no mediastino, que é o espaço entre os dois pulmões. E esse nogócio de guardar amigos, sentimentos, amores, isso é lá com a memória. Aqui não cabe mais nada. Só tem aurículas e ventrículos. Eu sou um órgão, percebe? Sim, concordei temeroso. Não queria que ele se alterasse...E ele prosseguiu: Órgão, tipo um pênis, uma vagina, como é que eu vou dizer, um baço, compreende? Compreendo perfeitamente, argui. E, enquanto arguia, me dei conta de que agora, com a reforma ortográfica, ficou muito difícil arguir sem a trema... E o discurso do coração continuava: Eu apenas bombo sangue. Percebe como estou na moda? Eu “tô bombando”, como dizem na gíria. Sem falar que sou muito cultuado pelas religiões. Sou o Sagrado Coração de Jesus, o Sacre-coeur de Marie e de muitos outros. A canção popular me idolatra. De Coração Materno, de Vicente Celestino, a Coração Vagabundo, do Caetano. Só não gosto quando a Bethânia canta aquele tal de Explode Coração! Não sei, me dá um troço esquisito, uma certa taquicardia...Fico imaginando a Bethânia como uma mulher bomba, com um cinto cheio de explosivos vindo na minha direção, Deus me perdoe! Fora isso, tudo bem, Coração? Perguntei. Agora sim, respondeu. Mas nos meses de maio e junho eu sempre fico sobrecarregado. Sabe como é, Dia das Mães, dos Namorados, as pessoas confundem as coisas...Já falei: aqui não cabe mais nada. Essa mania de ver o coração como depósito de sentimentos é pura ficção. Aliás, se eu começar a colocar coisas pra dentro, entope as artérias e vocês morrem de enfarte! Mas ninguém me escuta...Claro, né? Lá de dentro, mesmo que eu gritasse, ninguém iria escutar...E agora deixa eu voltar pro meu lugar, senão você morre! Falei: Espera,
Coração! Quer dizer mais alguma coisa? Ele pensou uns três ou quatro batimentos e respondeu: Vai na feira domingo comer pastel, por favor! Adoro gordura trans...
Dito isso, me entrou boca a dentro e eu acordei, louco pra comer pastel. Ainda bem que hoje é domingo e tem feira no meu bairro.

Na foto, encarte do LP Corações Futuristas, de Egberto Gismonti

sexta-feira, 16 de julho de 2010


O ASSUNTO DO MOMENTO

Quem me conhece sabe que não gosto de dirigir e que não tenho carro. Sou, portanto, um pedestre e um usuário do transporte público. E como tal, ando muito à pé, de ônibus e de metro. A consequência disso é que ouço muitas conversas e acabo sabendo sobre o que o povo anda falando. E não dá outra: o tema das conversas é sempre o “assunto do momento”, ou seja, o que está sendo veiculado pela mídia. E invariavelmente oscila entre Big Brother, carnaval, copa, eleições e algum crime que tenha chocado a opinião pública como, por exemplo, o da família Richtofen, dos Nardoni e, mais recentemente, o do goleiro Bruno, do Flamengo. Grupos mais seletos discutem temas como a aprovação da união civil entre pessoas do mesmo sexo na Argentina ou a proibição do uso da burca em território francês. É claro que se o assunto for, por exemplo, Copa do Mundo, as conversas não se restringem a futebol, seleções e técnicos, mas se estendem a toda uma gama de micro-assuntos paralelos ao assunto principal, tais como: vuvuzelas, casaco do Dunga, jabulani, e, evidentemente, o polvo vidente. Me lembro que no mes de janeiro eu estava em Salvador e Morro de São Paulo e o assunto lá era um só: Big Brother Brasil. “A Maroca não é a cara da Ivete? É, mas a voz dela é insuportável. Aquela Lia é do mal, ela tem que ser eliminada!”. E não nos enganemos: o papo é o mesmo em qualquer roda. Dos camelôs e cobradores de ônibus aos frequentadores do Spot. E os assuntos do momento são sempre comentados com expressões estrangeiras usadas pelos personagens étnicos da novela do momento. E dá-lhe hare baba e inchalá! Sem falar no insupotável rebolation...
Parafraseando minha amiga Agnes Zuliani eu pergunto: É relevante? Ao mesmo tempo, não aguento mais aquele velho e desgastado discurso de que somos manipulados pela Rede Globo. Até fomos. E durante um bom tempo. Mas não acredito que ainda sejamos. Não hoje. Não depois do avanço tecnológico representado pela criação do controle remoto. Sem falar na TV a cabo que, sei, não é para todos. Apesar de as antenas parabólicas pipocarem nas favelas.
Acho tão bom ter os meus próprios assuntos, falar dos meus interesses e divulgá-los aos meus amigos. É sério, tenho amigos que adoram, por exemplo, encontrar comigo para saber o que ando ouvindo, quais são os cantores e cantoras que descobri, quais os livros que estou lendo. Seria tão bom se todos procurassem os seus próprios valores e referências ao invés de somente repetir o que ouvem há séculos...Quando entra a igreja no meio, então, a coisa piora significativamente. Tem gente que paga para seguir valores obsoletos. Mesmo com líderes religiosos presos por desvio de dinheiro e formação de quadrilha! Mesmo com todos os escândalos de pedofilia na igreja...Às vezes fico com a impressão de que somos um imenso rebanho de ovelhas, guiadas por um pastor que determina tudo o que devemos fazer e, sobretudo, pensar. Ou melhor, NÃO pensar. Seremos??

terça-feira, 13 de julho de 2010


ALMA RUSSA

Sabe aqueles filmes a que você vai assistir sem nenhuma referência? Pois bem, sem ter ouvido ninguém falar sobre, sem nem ao menos conhecer o diretor, fui, totalmente ao acaso, assistir a Cold Souls, traduzido, aqui no Brasil, para Almas à Venda. Que agradável surpresa! Bem no estilo dos filmes que mais gosto como Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças ou Quero ser John Malkovich, esse Almas à Venda é surpreendentemente original do início ao fim. Fico imensamente feliz quando isso acontece. Fui levado ao cinema sugestionado pela sinopse do Guia da Folha: “Em crise de ansiedade, ator em dúvidas sobre seu novo trabalho recorre a um profissional que alivia o sofrimento das pessoas extraindo e congelando almas”. Identificação total! Eu, cheio de dúvidas que estou quanto ao que fazer nessa nova etapa da minha carreira de ator, fui ao cinema carregado de expectativas. O filme é puro deleite. Em vários momentos lembra Woody Allen, com seu humor sofisticado e cheio de sutilezas. Aliás, Paul Giamatti, o protagonista que faz papel de si mesmo, também lembra muito Woody Allen em si. Não quero contar o filme, apenas a idéia, que é maravilhosa. Paul Giamatti está ensaiando o Tio Vânia, de Tchecov, e sente-se muito atormentado, o que o faz ter dificuldades para desenvolver o personagem. Após extrair a própria alma no laboratório sugerido por seu agente através de uma reportagem da revista New Yorker, o ator passa a sentir-se vazio e, de volta ao dito laboratório, aluga por duas semanas a alma de um poeta russo. Nesse meio tempo Nina, a mulher usada como mula por traficantes russos de almas, rouba a alma de Paul e a leva para a mulher de seu patrão, que é atriz e deseja ter a alma de um ator americano como Sean Penn ou Jonny Deep. Para levar a alma até a Rússia, ela precisa coloca-la no seu corpo, pois em grandes altitudes as almas são extremamente voláteis. Só que durante o tempo em que fica com a alma de Paul, Nina passa a reter alguns traços dela em si. Sinto que não posso dizer mais nada, pois estou contando o filme e isso eu não gostaria de fazer. Sophie Barthes, a diretora, mescla com maestria drama, comédia e ficção científica. A mula de almas Nina, por exemplo, lembra muito a replicante de Daryl Hannah em Blade Runner. O talento dos atores, principalmente de Paul Giamatti, confere grande verossimilhança à história que, contada assim, parece delírio. E é. E dos bons. Fiquei tentando imaginar que tipo de alma eu escolheria para mim se tivesse acesso a essa, digamos, possibilidade. Acho que uma alma russa, nem pensar. Meu orientalismo em geral e meu japanismo em específico, a princípio, me levam a pensar que escolheria uma alma japonesa. Hum...não sei. Talvez francesa. Espanhola. Italiana. Fica difícil escolher, pois nem sei, especificamente, o que vem a ser a alma. Para mim ela ainda é muito abstrata e se confunde bastante com a noção que tenho de espírito. Ou de “cabeça”. Enfim, tudo o que está por dentro, que não vemos, não tocamos, mas que resume tão bem tudo o que somos...
Lembrei agora de outro filme a que fui assistir, há um tempo atrás, totalmente “desavisado”e amei: Embriagado de Amor, com Adam Sandler. É incrível. Não se enganem com “Adam Sandler”. Esse filme não tem nada a ver com as sessões da tarde que ele costuma protagonizar.

COMPOSIÇÃO

Sempre gostei de escrever. Desde criança. Quando estava na escola, uma das minhas atividades curriculares preferidas era a composição. Estava incluída no conteúdo da matéria que, a princípio, se chamava Linguagem. Depois mudou para Língua Nacional e, mais tarde, para Português. Aliás, “matéria” também não deve mais se chamar assim... E a composição, se não me engano, agora se chama redação. Eu sempre gostei muito de português e literatura e ia muito bem nessas matérias sem precisar propriamente estudar. Só o meu interesse por elas já era o suficiente para que tivesse as melhores notas. Mas, voltando ao assunto do post, as composições versavam sobre os assuntos mais corriqueiros, normalmente relacionados às datas comemorativas, tais como: Minhas Férias, A Primavera, O Dia do Índio, da Bandeira, da Independência, das Mães e etc. Eu adorava. Era quando podia exibir meus conhecimentos extra-curriculares adquiridos através de outra atividade que me agradava muito: a leitura. Era com grande prazer que desenvolvia os textos e ficava esperando a professora devolve-los com nota máxima e elogios feitos diante da classe inteira. Lembro especialmente de uma professora, Dona Rosaura Riffel, de quem eu gostava muito e que, acredito, gostava muito de mim também. Uma vez, na sétima série, ela nos pediu para fazer uma composição sobre alguém que admirássemos muito, alguma pessoa, famosa ou não, de quem fossemos muito fãs ou que fosse importante para nós. E eu escrevi sobre ela, Dona Rosaura. Como sempre, a minha composição foi a melhor da classe e todos caíram em cima dizendo que só fora assim porque eu estava puxando o saco da professora. Imagino que para ela também não deva ter sido fácil...
Não tenho dúvida de que esse meu interesse precoce pela escrita até hoje me ajuda muito em quase tudo o que faço. Minha participação na Terça Insana, por exemplo. Acho que não teria conseguido ficar durante oito anos em um trabalho no qual uma das exigências principais é que o ator escreva se não tivesse essa, digamos, inclinação. Esse blog também. Aliás, o blog é uma forma de me fazer praticar esse hábito para que ele não se perca. E para que eu possa, com o tempo, vir a lançar meu livro que, inclusive, já estou escrevendo.

terça-feira, 6 de julho de 2010


A VOZ HUMANA

Esse é o título de uma peça de Jean Cocteau, o monólogo de uma mulher que fala ao telefone com o amante que a deixou. Mas não é sobre a obra de Cocteau que quero falar aqui, e sim sobre a voz humana em si. Ou em qualquer outro tom. Brincadeira...Sempre adorei ouvir pessoas cantando. Minha mãe era muito fã de Carmen Miranda e lembro que ela sempre cantarolava pra mim os hits Camisa Listada e A Preta do Acarajé. E contava que ela e minhas tias cantavam no coro da igreja. Desde pequeno eu gostava de cantar e, quando tinha uns cinco anos, mais ou menos, ganhei de presente uma guitarrinha de plástico com a qual eu me acompanhava cantando Era Um Garoto Que Como Eu Amava os Beatles e os Rolling Stones para todas as visitas que chegavam na nossa casa. Lembro também de uma ocasião em que minha mãe ficou hospitalizada e eu fazia a alegria das freiras do hospital cantando Amei a Negra Cor de Carvão. Nem sei de quem é essa música, mas, com certeza, hoje em dia seu autor seria processado por racismo... Me vem à memória, enquanto escrevo, umas viagens de ônibus de Soledade a Porto Alegre, que eu fazia para visitar minhas irmãs que estudavam na capital, nas quais ia cantando Conto de Areia, da Clara Nunes, para o ônibus inteiro. Quanta falta de noção! Hoje estudo canto com minha ídola Cida Moreira e até que não faço feio. Cheguei mesmo a cantar o Willcommen, do Cabaret, e o Tango do Covil, da Óprea do Malandro, de Chico Buarque, em um espetáculo da Terça Insana. Mas minha paixão mesmo são as cantoras. Adoro ouvir cantoras cantando. Desculpem a redundância, mas é que hoje em dia tem muita dançarina cantando. É só para fazer a diferença. Minha mais recente descoberta foi Melody Gardot, por cuja voz estou enfeitiçado. Após sofrer um grave acidente que lhe causou sérios danos neurais e motores, essa americana de New Jersey descobriu a música como forma de terapia para se recuperar e reaprender funções básicas do corpo e do cérebro. Hoje, além de excelente cantora, Melody compõe e toca piano. Vale a pena procurar. Sem falar em todas as minhas divas como Billie Holiday, Ella Fitzgerald, Nina Simone e Elis Regina. E, por falar em Elis, ontem à noite assisti, no Tom Jazz, ao novo show de sua filha, Maria Rita. Eu amo essa menina. Assisti a seu primeiro show no extinto Supremo Musical, que ficava na Oscar Freire com a Consolação, um clube de jazz muito pequeno onde era possível ver o artista bem de perto. Depois, com o lançamento nacional, cds e dvds, Grammys e quetais, ela passou a se apresentar em casas muito grandes, daquelas que a gente tem que se apertar em pequeníssimas mesas junto com outras seis pessoas enquanto desvia dos garçons para poder ver bem de longe os músicos no palco. Agora, felizmente, ela retomou o formato piano, baixo, bateria e voz, no Tom Jazz, que é uma casa pequena, onde o show fica intimista e acolhedor. Sensacional. Maria Rita está melhor do que nunca, madura, inteira, bela e cantando muito bem. Uma festa para todos os sentidos. Suas interpretações para Só de Você, de Rita Lee, e A História de Lilly Braun, de Chico, são antológicas. Sem falar em Soledad, de Jorge Drexler...Dignas do DNA que herdou de pai e mãe. E agora dá licença que vou escutar: É uma pena, mas você não vale a pena...E lembrar minha mãe cantarolando: Vestiu uma camisa listada e saiu por aí...

sábado, 3 de julho de 2010


PASSIONE

Sempre fui noveleiro, desde criança. Costumo dizer que cresci assistindo às novelas de Janete Clair. Bom, cresci é maneira de falar. Quem me conhece sabe que tenho apenas um metro e sessenta. Mas as novelas me acompanham desde a mais tenra infância. Não é à toa que até hoje um dos meus ídolos é a Regina Duarte. Lembro das novelas "das dez", mais fortes, com conteúdo mais adulto. Saramandaia eu tinha até medo. Mas não perdia. E, claro, Nina, de Walter George Durst. Com minha ídola. Depois, com Escrava Isaura, me apaixonei por Lucélia. A paixão seguiu em Locomotivas e em várias outras. Cheguei a fazer um álbum com fotos dela que, aliás, guardo até hoje. Mas a Globo tinha me perdido. Faz tempo que não conseguia mais acompanhar nenhuma novela. Acho que ficaram todas chatas, previsíveis, iguais. Dependendo do autor, você já conhece a história e, inclusive, os personagens, pois os mesmos atores costumam fazer os mesmos tipos. Cada autor e diretor tem sua turma, os prediletos que sempre são escalados, e assim você já sabe como será a novela antes mesmo de ela começar. Mas é claro que há exceções. Em primeiríssimo lugar está a dupla Gilberto Braga e Ricardo Linhares, de cujas novelas não perco um só capítulo. E mesmo esses, às vezes, falham. Foi o caso de Celebridade. Mas, ainda assim, tinha a maravilhosa dupla de vilões formada por Claudia Abreu e Marcio Garcia, a cachorra e o michê. Inesquecíveis. Como a Bebel e o Olavo, de Paraíso Tropical. Depois vem, na ordem das minhas preferências, Silvio de Abreu. Adoro suas tramas policialescas que misturam drama e comédia, mistério e farsa, triler e pastelão. Pois não é que Passione me pegou? Tenho até mesmo gravado quando não posso assistir. Ta certo que tem o Toni Ramos fazendo mais um estrangeiro com o mesmo sotaque... Não sei porque colocam o Toni para fazer estrangeiros. Ele é um excelente ator, mas seu registro “estrangeiro” parece ser um só, sejam os personagens gregos, indianos, italianos ou de qualquer outra etnia. Mesmo assim vale a pena. Irene Ravache como a “socialite em plena ascensão”está impagável. Já Francisco Cuoco comprova o avesso da teoria do vinho. Mais não digo. Punto e basta. Por último, mas não menos importante, vem Miguel Falabella com suas deliciosas tramas almodovarianas e diálogos impagáveis. Não adianta, quem gosta de novela como eu sempre aproveita alguma coisa numa delas. Nem que seja um único personagem. Ah! Tem as trash também: Maria do Bairro, eu adorava. Marisol. Mutantes da Record. Vidas Opostas, também da Record. E os remakes: Adorei Anjo Mau e Pecado Capital. Agora vamos ver como será Ti-ti-ti...Lembram da turma da Lazinha?
Ontem li na Folha que Passione está com pouca audiência. Toda novela de que gosto sempre tem baixa audiência. Claro, o povo adora novelões ao estilo Glória Perez... Que eu, por sinal, detesto. Lembram de O Clone? Se um Murilo Benício já é puxado, imagina dois...