terça-feira, 31 de dezembro de 2019

FELIZ 2020

Último dia do ano. Último ano da década. Me enchi de bons pensamentos antes de me sentar à frente do computador para começar a redigir esse post. Espero que saia algo que preste... Rsrsrs. O dia hoje amanheceu belíssimo, céu de brigadeiro, daqueles que a gente nem precisa colocar filtro nas fotos antes de postar. Agora, que já estamos no meio da tarde, cai uma forte chuva de verão. Un orage d’été, como dizem os franceses. Penso em agradecer pelo ano que tive. Muitos dirão que foi um ano difícil e, de fato, foi. Mas prefiro focar nas coisas boas, sempre. Trabalhei, viajei, li, conheci, aprendi, visitei, fiz projetos e acreditei. A política vai mal mas, cá entre nós, faz muito tempo que é assim por aqui. Já sobrevivemos a uma ditadura militar de fato, que durou duas décadas. Não vai ser essa gentalha que está aí agora que vai nos fazer desistir... Esse ano decidi fazer tudo como se fosse um dia igual aos outros, só para variar. Acordei cedo como sempre faço, tomei café da manhã e fui para a academia treinar. Depois passei no supermercado, comprei coisas para o almoço, ó, santo cotidiano. As coisas mais prosaicas, mais banais. É nelas que pretendo me concentrar.... Só para me contradizer, já arrumei a mesa com toalha e flores brancas, tirei a louça do armário, talheres do faqueiro, montei um banquete só para mim e para o Weidy. Estou cozinhando lentilhas e assando um lombo de porco... Não assisti Bacurau nem o último Tarantino. Achei Dois Papas muito chato e estou amando The Crown (Tá, eu sei que todo mundo já assistiu, mas eu demoro até decidir). O polêmico especial de Natal do Porta dos Fundos só me arrancou uma risada nos seus quarenta e cinco minutos de duração. Piadas óbvias, chulas e desnecessárias. Para citar Shakespeare, muito barulho por nada... Continuo revivendo o passado em fotos, livros e discos. Em escritos, também. Que tenho guardado tudo o que escrevi ao longo da adolescência. Continuo tendo vontade de ter uma casa na praia para onde eu pretendo ir e ficar. Não faço mais muitos planos para o futuro. Acho o presente uma dádiva. A grande graça divina, o milagre da existência. E o silêncio, o maior dos artigos de luxo... Caetano cantou profético, nos anos oitenta, no álbum Velô: Somos uns boçais. Concordo plenamente. E, como tais, estamos tratando de esculhambar geral. Com a sociedade, com as relações, com a natureza, com o planeta. Que Deus tenha pena de nós, que ainda não sabemos o que fazemos. Será que não?
Desejo de coração um feliz 2020 para todos! Amor, paz, empatia, solidariedade, compaixão, saúde, educação, cultura, arte, lazer e o que faltar a gente inventa...
Na foto, meu vaso de flores brancas e palmas para 2020!

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

VELHO COLEGA

Dia desses, arrumando os armários de casa, dei com um desenho feito por mim, na página de um antigo caderno, autografado pelo poeta Mario Quintana. Lembrei com saudade do nosso encontro e deixei o desenho no mesmo lugar em que o encontrara. Hoje pela manhã, não sei porquê, senti uma enorme vontade de fotografar o desenho e postar no instagram. Quando coloquei a legenda da foto, veio a necessidade de dizer algo mais sobre esse encontro e sobre essa época. Andava-se muito a pé pelas ruas de Porto Alegre. Pelas ruas do centro, mais especificamente. Meu colégio era no centro, minha irmã Rita trabalhava no centro, onde eu ia buscá-la à noite, depois do expediente. Mario Quintana estava sempre por lá. Encontrar o poeta na Praça da Alfândega ou na Rua da Praia era coisa corriqueira, posto que ele morava no antigo Hotel Majestic, hoje Casa de Cultura que leva seu nome. Eu tinha dezesseis para dezessete anos e me auto-intitulava poeta. Andava pela cidade com minhas poesias e desenhos numa bolsa à tira-colo. Imagino que hoje eu não teria coragem de me aproximar de um poeta como Mario e, muito menos, de parar para conversar com ele. Na ocasião achei super normal ele dizer que o meu desenho parecia uma Anita Malfatti. Como também achei óbvio que ele me chamasse de colega quando disse ser também poeta. Minha irmã trabalhava no Jornal Correio do Povo, na Companhia Jornalística Caldas Júnior, onde era de fato colega dele, pois o poeta escrevia para o jornal. Essa Porto Alegre não existe mais. Jovens de dezesseis anos perambulando pelo centro à noite, nem pensar. Poetas iluminando praças com seu talento, pura mitologia. Estávamos no primeiro ano da década de oitenta quando se deu o ocorrido. Hoje Quintana segue lá, na Praça da Alfândega, só que como estátua. Assim como seu quarto no Hotel Majestic, só que como museu. Ainda nos encontraríamos mais algumas vezes. Numa delas, autografou uma antologia de poemas dele onde oficializou por escrito nosso "coleguismo". Onde foi parar tudo isso que parece que aconteceu ontem? Foi parar no meu armário. Na minha lembrança, na minha memória. Só queria dividir aqui com alguém...
Nas fotos, o desenho "Anita" e a antologia autografada pelo "colega".

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

PACTO DE NATAL

Meu amigo Marcel Bahlis e eu, quando ainda éramos bem jovens, fizemos um pacto de Natal. Todos os anos, no dia 24 de dezembro, nós nos telefonaríamos de onde estivéssemos para saber como estávamos. Lembro que no dia em que firmamos esse pacto dissemos: Mesmo que um de nós esteja no Brasil e o outro, nos Estados Unidos. Ou, sei lá, um no Japão e o outro na África. Um dos dois sempre irá ligar para o outro. Depois que fizemos o trato, ainda passamos alguns Natais juntos. Com o tempo, fomos nos afastando sem nunca ligar de fato um para o outro na data combinada. Mas todos os anos, desde então, eu sempre me lembro dele no dia 24 de dezembro. Algumas vezes eu quase liguei. Depois, pensava: Bobagem. Coisa de adolescente. Antes tivesse ligado! Agora, que meu amigo já nos deixou há quase dois anos, não tenho mais para onde ligar... Quando nos conhecemos eu ainda morava em Soledade. Ele morava em Porto Alegre, mas passava as férias na minha cidade, pois a família da mãe dele era de lá. Depois me mudei para Porto Alegre e ficamos ainda mais unidos. Viajávamos juntos, saíamos, fazíamos planos para o futuro. Até que meu amigo, que tinha mar no nome, foi levado por ele... Hoje estou aqui, humildemente tentando contato. Tentando honrar nosso pacto, ainda que com alguns anos de atraso. E desejando que seja, tenha sido, venha a ser um dia, sempre, no mínimo, doce. Pois, como já cantou Caymmi, é doce morrer no mar, nas ondas verdes do mar... Feliz Natal, meu amigo. Eu estou bem, morando em São Paulo, como já sonhava desde então. Sigo atrás dos meus sonhos, já realizei alguns deles, não desisti de quase nenhum. Sempre vou lembrar da gente ouvindo Milton Nascimento, até quando saíamos de bicicleta pela estrada levando meu toca-fitas portátil. Dos nossos porres, das nossas noites de boemia, das viagens que fizemos juntos. Das nossas poesias e romances. Da nossa utopia... E, para terminar citando Unencounter, a versão em inglês da Canção da América, de Milton, “now you left the town and I’m here looking for you”...
Nas fotos, tiradas por mim, Marcel em três momentos: Me servindo uma pizza no quintal da casa da minha mãe em Soledade, fumando no campo durante a lida campeira com meu pai e posando para mim no riacho.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

BODAS DE ESTANHO

Hoje meu blog está completando dez anos! Uau!! Confesso que nem eu pensava que duraria tanto. E, sinceramente, 2009 parece que foi ontem mesmo... Já não tenho mais o mesmo entusiasmo que tinha em compartilhar ideias, coisas que vi e vivi, assisti, viajei. Mas, ainda assim, é digno de nota e de comemoração que ele se mantenha ativo. Já não posto mais com a mesma frequência e intensidade que postava. Normal, eu também já não me jogo na vida com a mesma frequência e intensidade de outrora... Estranhíssimo para mim, me referir a 2009 como outrora. Rsrsrs... Ao longo destes dez anos eu tenho relacionado o número de anos de vida do blog aos anos das bodas de casamento. Afinal, essa relação que tenho com ele, ainda que esporádica, não deixa de ser uma espécie de casamento. Pois bem, dez anos correspondem às bodas de estanho ou zinco. Isso me faz lembrar que uma vez, durante uma das turnês nacionais da Terça Insana, cada um dos integrantes do elenco ganhou, não lembro de quem, uma taça para champanhe de estanho. Marco Luque, que não ligara a mínima para o mimo, me deu de presente a sua para que eu ficasse com um par. Desde então elas estão guardadas na minha cristaleira. Que eu me lembre, nunca foram usadas. Acho que hoje finalmente irei usá-las para fazer um brinde, totalmente adequado, às bodas de estanho do blog... Já o zinco, esse me inspira poesia. Me faz lembrar de versos como: “Barracão de zinco, sem telhado, sem pintura, lá no morro”. Ou então: “A porta do barraco era sem trinco. E a lua, furando nosso zinco, salpicava de estrelas nosso chão”. Tem imagem mais linda?
Agradeço a todos que me seguem, que me leem, que me curtem, que me comentam. E, mesmo que ninguém mais o faça, eu seguirei sozinho aqui. Falando comigo mesmo, como nas páginas de um diário. Sempre fui um usuário moderado da internet. E é assim que pretendo me manter. Longe de brigas, bate-bocas e polêmicas. Fora de grupos, bolhas, alas ou facções. Apenas dividindo, com quem por ventura me ler, o que de melhor eu puder extrair dessa história contada por um idiota, cheia de som e fúria e sem sentido algum (para citar Shakespeare)...
Na foto, as tais taças de estanho.

sábado, 14 de dezembro de 2019

MAIS GUARDADOS

Remexendo guardados, como sempre faço nessa época do ano, para liberar espaço, passar coisas adiante, doar ou só jogar no lixo mesmo, encontrei o texto a seguir escrito nas páginas de um caderno de notas de 1990, ano que fui morar em Paris. A leitura revela o quanto Porto Alegre já me parecia aquém dos meus desejos, sonhos e ambições...
Sem compromisso de escrever algo que valha a pena. Apenas, nesse caderno, porque é o papel que tenho em mãos para fazê-lo. Nem tudo é deserto e calor no mês de janeiro em Porto Alegre. Em meio ao costumeiro, ao quase nada de todos os dias, algumas coisas acontecem. Então passo a misturar literatura e realidade, vida real e sonho, perder um pouco a noção do que é apenas ambição e do que já se concretizou. Passou por aqui alguém muito interessante. Eu, que já estava embebido de Vampiro Lestat, viajei nessa presença encantadora, que me enlevava contando histórias de sua mãe, de sua avó egípcia, de como vieram para o Brasil, de sua vida, embriagando-me com suas mesuras, delicadezas, seu cavalheirismo. Conheci um gentleman na minha fantasia. Hoje e sempre existem bons atores fora dos palcos. Esse pode ser um deles. Da mesma forma me encanta. Mais ainda, talvez. Alguém que sabe conduzir a atenção, a atração e o desejo de outrem na sua direção é um mestre. Da sedução, que seja. Um Don Juan. Sempre desejei conhecer um. Ele não vestia capa, veludos nem rendas. Tampouco carregava uma espada. Também não tinha a menor necessidade, pois sabia ser encantador de camiseta e jeans surrados, puídos. Não subia pelas paredes. Não escalava os telhados. Mas sugava meu pescoço como se fosse um deles, um dos seres das trevas. Não me bebeu o sangue, graças a Deus, apenas cobriu-me de beijos, sua saliva a banhar-me no calor da tarde e sabor de pêssegos. Trazidos por ele para me agradar. Há certas coisas que apesar de tão inesperadas e rápidas, passam deixando marcas de coisa que aconteceu de verdade, que durou um certo tempo. Talvez por terem essa característica momentânea, por já se saberem fugazes, talvez por isso mesmo se permitam ser mais profundas, mais intensas no pouco tempo que tem para acontecer. Não sei. O bom, depois que essas coisas passam, é a sensação de felicidade que nos deixam. Parece saudade, parece um prazer solitário, secreto. Sou um pouco assim, curto mais as coisas depois que elas já aconteceram. Gostoso estar escrevendo agora que a chuva já caiu e o calor baixou a bola... 31 de janeiro de 1990.
Me agrada constatar que meu estilo de escrita já se formara.
Na foto, Tom Cruise como o irresistível vampiro Lestat, de Anne Rice.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

ELIS & EU

Um pôster do show Essa Mulher, de Elis. A coleção O Mundo da Criança. O troféu Açorianos de melhor direção de 1988. Alguns porta-retratos sobre o armário dos livros. Muitos livros. Bonecos. Plantas aqui e ali. Uma sombrinha oriental pendurada no teto à guisa de lustre. Cartões postais pendurados na parede. Almofadas. Um tapete branco. Um retrato de Clarice Lispector feito a lápis por uma amiga. Uma canga de praia cobrindo uma antiga poltrona. Um pufe em formato de feijão forrado de veludo com uma pilha de livros de arte encima. Uma TV de plasma fixada na parede. Um armário embutido de madeira pintado de branco. Uma escada guardada atrás da porta. Um sofá-cama. Uma trama de fios ligando aparelhos eletrônicos a um tê. Uma janela com vista para os prédios do outro lado da rua. Haddock Lobo. Dois prédios acima morava Caio Fernando Abreu. Seríamos vizinhos. Um prato de porcelana com a foto de um casal tirada no Pão de Açúcar. Basta de clamares inocência, canta Elis Regina no toca-discos. Ah, um toca-discos. Cadernos de notas. De viagem. Arquivos de computador. CDs. Disquetes. Anotações que não foram utilizadas. Do tipo: “Sabe quando a esmola é demais e o santo desconfia? Quando é bom demais para ser verdade? Quando parece um sonho e você não quer acordar por nada? Pois meu agosto estava sendo assim. Até que acordei e vi que realmente era um sonho. Um sonho que vivi acordado mas, ainda assim, um sonho. Me dei conta de que apesar de velho e vivido eu continuo com a cabeça nas nuvens”... Ou então: “Fui convidado para um evento LGBT. Fiquei pensando no que seria exatamente um “evento LGBT”. E também se eu teria roupa adequada para a ocasião”... Ou ainda uma lista de coisas para fazer em Paris na próxima vez que eu for até lá, cujo título é Paris Prochaine Fois... Fotografias. Nem sei quantas. Os assuntos e épocas todos misturados. Daria um trabalho incrível organizá-las. Nem pensar. Pelo menos eu sei em que caixa estão cada uma delas. Ou penso que sei... A lembrança de um sonho em que eu podia voar. E era muito fácil: Me concentrava, agitava os braços, pegava impulso e voava. A cidade vista de cima. Ruas, avenidas, prédios, monumentos. Minha casa. A da minha infância, em Soledade. As ruas de Soledade. O açougue que tinha uma cabeça de boi na fachada e que eu morria de medo quando era criança. Engraçado, pensei no sonho, já não me amedronta... A praça, a igreja. Tudo lá. No sonho... E eu aqui, no quarto de hóspedes do apartamento. Nas minhas mãos, o livro Elis e Eu, de João Marcelo Bôscoli, que acabei de ler. Um pôster do show Essa Mulher. A coleção O Mundo da Criança. Completa, quinze volumes. O troféu Açorianos de melhor direção de 1988. Basta de clamares inocência...
Na foto, o referido pôster, que guardo desde 1979.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

ENFIM, DEZEMBRO!

O mês de dezembro chegou trazendo um pouco de frio a São Paulo. O que achei positivo, frente às altas temperaturas que nos aguardam no verão que se aproxima. Trouxe também balanços do ano (inevitáveis nessa época), lembranças de outros tempos e algumas desilusões. Mas isso faz parte da vida adulta. A gente precisa é saber lidar com elas... No campo das lembranças, as mais distintas e distantes aparecem do nada. Hoje mesmo, enquanto assistia a um depoimento de uma bailarina no canal Arte 1, fiquei recordando com detalhes da sala de ensaio do meu grupo de teatro em Porto Alegre nos anos oitenta. A cúpula de um prédio antigo da Universidade Federal, se não me engano da Engenharia. Ou seria da Arquitetura? Mas a sala em si me veio inteira. Com direito a tacos soltos do parquê que revestia o chão e manchas na pintura das paredes. Uma claraboia redonda por onde entrava a luz externa e que parecia uma escotilha de navio. Os tatames de lona verde que usávamos para nos aquecer e fazer exercícios de acrobacia. As caixas com sapatos, roupas e acessórios. As cadeiras antigas de madeira. Alguns exercícios e cenas que improvisávamos. Eu tinha vinte e três anos e andava de Vespa pela cidade... Lembranças do meu amigo Marcelo Pezzi, que morreu há vinte e cinco anos e que no mês passado aniversariava. Se não me engano, ele era do dia 27 de novembro... Já no campo dos balanços do ano vejo um misto de realizações e frustrações. Comemoramos dignamente os dezoito anos da Terça Insana, com uma breve turnê nacional e duas temporadas bem sucedidas aqui em São Paulo: De maio a julho aos sábados no Teatro Folha e setembro e outubro às terças no Procópio Ferreira. Ambos teatros onde ainda não havia me apresentado (Realizações). Deixa ver o que mais... Ah! Frustrações e desilusões prefiro nem perder tempo relatando aqui. Já basta o desgaste que provocam na gente enquanto as vivemos. Ficar relembrando só faz conferir-lhes importância ainda maior. Não pretendo carregar comigo pro ano novo nada que me tenha feito mal... Li muitos livros bons, assisti a filmes, séries, shows e espetáculos. Esses últimos, bem menos do que costumava assistir. Procurei me exercitar mais, beber menos e dormir mais e melhor. Estive mais vezes junto ao mar e tomei sol cedo pelas manhãs. Revi amigos queridos que não via há bastante tempo. Trabalhei mais do que no ano anterior e viajei menos do que nos anteriores. Dediquei mais tempo e atenção ao que tenho do que ao que não tenho. E assim espero seguir vivendo... Bom dezembro a todos!
Na foto eu, bem reflexivo, pela lente do fotógrafo Gilberto Perin.