quarta-feira, 26 de maio de 2010



VEDETTES

Adoraria ter alguém sempre comigo pra me tirar da Fnac e da Livraria do Beaubourg...Quando entro nesses lugares me perco viajando em livros , CDs e DVDs e chego a esquecer que há Paris lá fora esperando por mim. Paris que sempre me inspira, desperta curiosidades adormecidas. Tenho vontade de saber mais, de estudar, pesquisar. É uma espécie de google in loco, wikipedia de campo. Uma coisa sempre leva a muitas outras. Revi Eduardo II, de Derek Jarman, cineasta que cultuava nos anos oitenta/noventa. Que traz Annie Lenox, belíssima, cantando Cole Porter: Every Time We Say Goodbye...
Redescubro Mistinguett, a vedete das pernas milionárias que abalaram Paris, diva dos anos loucos, que, na foto acima, deixa claro que no início do século passado já sabia muito bem como causar sur la scéne, Lady Gaga da Belle Époque, Dita Von Teese art-nouveau...
Hoje resolvi rever minha amiga francesa, la Tour Eiffel, ao por do sol. Faço hora em um bistrô/lounge às margens do Sena, en face de la vedette, para vê-la iluminar-se com a chegada da noite. Só que, nessa época do ano, em Paris, a noite demora a chegar...O vinho branco veio acompanhado das clássicas olives noires, peço mais um verre e nada de anoitecer...
Acho que vou dar o braço a torcer e finalmente comprar um i-pod. É que tenho saído com o do João e ele faz uma trilha incrível para meus passeios por Paris. Quase não acreditei quando, depois de ouvir muita Ella Fitzgerald singing Cole Porter, encontrei Elis Regina cantando Rebento, de Gilberto Gil, minha Elis preferida...Lindo demais. Podem dizer que estou louco, bêbado, mas está vindo do Sena um cheiro delicioso de maresia...

domingo, 23 de maio de 2010


MERCI, LADY GAGA

Não estou agradecendo nada ao novo ícone do pop. O merci do título do post refere-se à nova loja sensação de Paris, desde a Colette: Merci. Só que sem afetação, mais natural e relaxada. Os vendedores são super simpáticos e educados e nunca abordam você querendo vender algo. Ampla em tamanho e em possibilidades de compras, a Merci retoma a idéia daquelas lojas antigas, espécies de armazéns que vendiam de tudo: de materiais de eletricidade a roupas e tecidos. Tem também um restaurante e um café. O café é belíssimo e fica no mesmo espaço da livraria. Você se sente tomando café na biblioteca da casa do seu avô. Eu viajei mesmo foi nos objetos de casa e decoração. Não acreditei quando vi copos de vidro imitando aqueles copinhos plásticos transparentes. Quem diria que o vidro, tão largamente imitado pelo plástico, um dia viria a imitá-lo? Aliás, atualmente, o que parece vidro é plástico e vice-versa...Eu não arriscaria a dizer: Merci is the new Colette. Assim como jamais diria que Lady Gaga é a nova Madonna. Cada um na sua, com seus próprios talentos e/ ou estratégias de marketing. Fui assistir ao mega concerto de La Gaga no ginásio Bercy, junto com quase vinte mil pessoas. Eu não costumo ir a grandes shows. Nem a própria Madonna, nas suas idas ao Brasil, me fez fazer isso. Mas também não resisto a uma boa novidade e, portanto, controlei o calor, a falta de ar e a dor nas pernas e fui. É realmente um belo espetáculo, ela canta, dança (pouco), toca piano e troca incontáveis vezes de roupa, algumas delas em cena mesmo. É inegável que tem formação musical, isso fica evidente na maneira como constrói as melodias e como as executa, ao vivo, ao piano. Ela não me arrebata como uma boa Amy Winehouse, mas me encanta no quesito espetáculo. As roupas, cenários e parafernálias enchem os olhos. Ela se declara apaixonada por Paris e, em lágrimas, agradece a todos os presentes por terem comprado os ingressos (nada baratos) e ido assisti-la. Todos repetem em coro as letras das canções, alguns vestem-se como ela, sentem-se celebridades como ela, acaba o show e voltam às suas vidas nem tão glamourosas. Eu não sou daqueles apaixonados por Madonna, mas aprecio suas canções, seu estilo (Dizendo melhor: seus estilos), enfim, todo o seu pacote de estrela do showbiss. Mas não consigo deixar de achar que Lady Gaga segue demais os passos dela. Tem até uma canção, Alejandro, que ninguém tira da minha cabeça que é a sua La Isla Bonita...Impossível não lembrar que quando morava aqui assisti à Nina Simone, no Olympia, e Laurie Anderson em um teatro que agora não vou lembrar o nome. Mas eram outros tempos...

sábado, 22 de maio de 2010


O TEMPO NÃO PARA


Ao passar por lugares que eram as minhas referências à época em que morava aqui em Paris, o bar, o banco, a padaria, o supermercado, a estação de metro, e ver que continuam todos lá, como eram há vinte anos atrás, sou tomado por uma emoção estranha, quase indefinível, não é ruim, mas também não é de todo boa. Talvez porque esteja acostumado a ver, no Brasil, tudo mudando o tempo todo, a constatação dessa permanência das coisas me faz perceber, de forma indisfarçável, que pra mim o tempo passou...Que nesses vinte anos eu mudei, envelheci, a minha juventude acabou, não está mais aqui, comigo. Felizmente consegui realizar a maior parte das coisas que sonhava fazer naquela época, o que já é um grande consolo. Imagino que para os que tiveram seus sonhos frustrados, essa constatação deva ser bem mais difícil de assimilar. Em seguida entro em uma pequena rua que ainda não conhecia e uma torrente de novidades me traz de volta a satisfação da maturidade. Percebo, então, que a (temida) passagem do tempo, no meu caso, não fez mais que aprimorar o que já era bom, modestie à part. E me dedico a fazer coisas que, à época, não podia e que adoro: Sentar, por exemplo, no terraço de um restaurante para tomar champanhe no meio da tarde. Acho chique. Ir à Comedie Française assistir à montagem de um clássico da dramaturgia francesa ou universal. Acho digno. Aliás, acho incrível um teatro nacional que mantém um repertório em cartaz apresentando, alternadamente, várias peças ao mesmo tempo. Sento para jantar enquanto ainda está claro lá fora e isso me lembra minha juventude em Soledade...Meu pai acordava muito cedo para ir pro campo trabalhar, por isso dormia cedo e, consequentemente, jantava cedo também: às sete. O máximo de atraso que aceitava era sete e meia. Por isso, no verão, ainda era dia enquanto jantávamos. Eu achava ótimo, pois combinava de encontrar meus amigos na praça às oito e meia e, como tomava vinho com meu pai no jantar, já subia no clima. Subir, em Soledade, significa ir para o centro da cidade. Olha o tempo passando de novo, só que agora para trás... Lembro também que, quando morava aqui, amigos em comum marcaram um encontro para que eu conhecesse a atriz Tonia Carrero, que estava de férias em Paris. No caminho para o tal encontro, achamos um colchão na rua em ótimo estado e resolvemos levá-lo para casa, pois estávamos precisando de um. Aqui em Paris se faz isso, viu? Só que o colchão era muito pesado, não foi fácil transportá-lo, me atrasei, e quando cheguei ao local marcado, Tonia já havia partido...Porém, deixara um bilhete para mim com os seguintes dizeres: “Bob, teria sido lindo ter te conhecido em Paris, um abraço, Tonia Carrero”. Guardo o bilhete comigo até hoje e prometo que quando voltar ao Brasil vou fotografá-lo para postar aqui no blog. Olha o tempo de novo...Cazuza tinha mesmo razão: ele não para!

quarta-feira, 19 de maio de 2010


COISAS QUE NUNCA FIZ EM PARIS

Desde que morei aqui nos anos noventa, nunca mais tinha ficado tanto tempo em Paris como estou ficando agora. Ao todo serão quarenta dias. E, obviamente, há muitas coisas a fazer, como sempre haverá. Por isso, tenho procurado fazer coisas que nunca havia feito antes nessa cidade. Hoje, por exemplo, precisei ir à agência do Banco do Brasil, que fica perto do Arco do Triunfo. Cheguei lá ao meio dia, tinham acabado de fechar para o almoço e só reabririam às treze e trinta (Que coisa mais portuguesa, não?). Resolvi, então, para ocupar essa hora e meia, fazer algo que nunca havia feito em Paris: Subir no Arco do Triunfo! Mais especificamente, de escada! Sim, o elevador não está funcionando e o único jeito é subir a pé. Imagino que deva ter subido o equivalente a um edifício de quinze ou vinte andares. Não sei como consegui chegar vivo lá em cima. Mas valeu a pena. A vista da cidade é deslumbrante e pode-se observar detalhadamente cada monumento de Paris. Depois do arco e da visita ao banco, desci, também à pé, toda a Avenue des Champs- Elysées, até o Jardin des Tuleries, onde sentei para descansar ao sol e escrever esse post. Espero que estejam lendo e apreciando. Como o blog ainda tem poucos seguidores, e estes colocam poucos comentários, às vezes fico em dúvida se estou sendo lido...Me dá uma espécie de nostalgia virtual, não sei, parece que estou falando sozinho. Depois passa e volto a escrever. Brincadeira, escrevo por pura necessidade. De me expressar e de, quem sabe, dividir com alguém um pouco de tudo o que estou tendo a felicidade de viver. À bientôt!
PS. No caminho de casa, depois do jardim, passei na Comédie-Française e comprei ingresso para assistir a Os Pássaros, de Aristófanes, com direção de Alfredo Arias, para amanhã, dia 20, às 20:30 h...Só que à Comédie eu já fui...várias vezes.

LE DUPLEX

Quando morei aqui em Paris no começo dos anos noventa, sempre ia a um bar chamado Duplex. Ele fica no Marais, atrás do Beaubourg, na rue Michel Le Comte. Quando digo que sempre ia, quero dizer todos os dias. Ou melhor, todas as noites. E ficava até fechar, às duas horas da manhã. Conhecia todo mundo: os frequentadores, os garçons, o barman. Aliás, o barman, na ocasião, era um brasileiro: Carlos, hoje já falecido. Além de barman, Carlos era excelente DJ, animando nossas noites com música da melhor qualidade. Brasileira, inclusive. Lembro que fui conhecer o Duplex, por indicação de um amigo, numa noite de carnaval. Eu disse pra minha amiga Pati: hoje é carnaval no Brasil e felizmente estamos em Paris!! Não quero saber de carnaval. Chegando no Duplex, surpresa: estavam tocando velhas marchinhas de carnaval! De Carmen Miranda a Emilinha e Marlene. E ali começou nossa amizade com Carlos. Quando voltei para o Brasil, um ano depois, fui ao Duplex me despedir e carlos gravou uma fita K7 pra mim, com músicas maravilhosas, que guardo até hoje. O Duplex continua funcionando, firme e forte, e a seleção musical continua ótima, mesmo sem o Carlos. O funcionário mais antigo, atualmente, creio que é o Alex. Com suas variações de humor que vão da simpatia mais explícita, com direito a bonsoir, ça va bien e selinho, até a mais completa antipatia, sem direito a nem mesmo um olhar. Mas tudo bem, faz parte do folclore do bar. Apresentei o Duplex ao meu amigo João na época em que morava aqui e ele também se tornou habitué. Só que o João continua indo ao Duplex até hoje. Há vinte anos... Conhece todos os frequentadores e conversa com todos. Exceto nas noites de sábado, quando o bar é tomado por visitantes ocasionais, como acontece em quase todos os bares do mundo. Quando morava em Paris recebi a visita do escritor Caio Fernando Abreu, que voltava de uma temporada em Londres e me procurou através de um amigo em comum, Luiz Arthur Nunes. Levei o Caio no Duplex e ele também adorou. O legal do Duplex é que ele não é um daqueles bares gay de caçação explícita e sim um lugar para se conhecer pessoas e conversar. É claro que, dependendo do intuito de cada um, tudo pode rolar. Mas, provavelmente, começará por um bom papo. Ocasião irrecusável para se praticar o idioma francês...

sábado, 15 de maio de 2010


JARDIN DU LOXEMBOURG ET JARDIN DES PLANTES

A melhor coisa que sempre faço em Paris é seguir os conselhos do meu amigo João. Melhor dizendo, suas dicas. Hoje, depois de uma semana de frio e chuva fina, amanheceu um lindo dia de sol, com o frio dando, finalmente, uma trégua. Ao abrir a janela, João me disse, do alto da sua sabedoria de vinte anos de Paris: vá ao Jardin du Luxembourg. Obedeci prontamente, pois sei que quando ele diz pra fazer alguma coisa é sucesso garantido. Não que eu já não conhecesse o Luxembourg, mas por ser, sem dúvida, a melhor pedida do dia. E foi realmente maravilhoso. Comprei uma garrafa d'água, me sentei numa cadeira e fiquei tomando sol e ouvindo música francesa no ipod. O jardim, que tem muitas estátuas e fontes, assim como o palácio de Luxembourg, foram mandados construir por Maria de Médicis, no século XVII. Depois de um tempo, resolvi seguir andando até a Sorbonne, entrei na rue Cujas, revi o Accattone, cinema onde eu costumava ir sempre, quando morava aqui, para assistir aos filmes de Pasolini e Derek Jarman...Andei mais um pouco e cheguei na rue Moufftard, la Mouff, como é chamada carinhosamente. Procurei por um pequeno bar club jazz ou algo assim, que lembro que tinha na fachada uma placa dizendo que Elis Regina cantara ali. Mas não achei, talvez não exista mais. Comi alguma coisa por lá, na rua mesmo, pois é cheia de pequenos mercadinhos, bares, restaurantes, e depois fui até a rue Pascal, onde morei por um mes e meio, creio, logo que cheguei em Paris, nos anos noventa, no hotel de L'Esperance...
Mais umas pernadas e chego ao Jardin des Plantes, onde eu costumava ir para correr, na época da rue Pascal. E ele está lindo, todo florido. São amores-perfeitos, tulipas, miosótis, papoulas...Acho que não via uma papoula desde a minha infância -sim, havia papoulas em Soledade - revi cada alameda e, à medida que ia percorrendo o jardim, a memória ia me trazendo de volta dias, momentos, situações ali vividas. Muito bom. Depois voltei pela beira do Sena até em casa para descansar e postar esse texto enquanto as imagens ainda estão frescas na minha cabeça. Tenho vontade de ficar aqui pra sempre. Sempre que venho.

quarta-feira, 12 de maio de 2010



JE SUIS ALLÉ AU MOULIN ROUGE

Eu fui ao Moulin Rouge, diz o título do post, em francês. Na verdade fomos, meu amigo João Faria e eu. Eu já havia estado no Lido, no ano passado, mas o Moulin me deixou emocionado. Nem a casa nem o espetáculo tem o luxo do Lido, mas é tão mais, digamos, genuíno! A gente se sente transportado para aquela Paris antiga, do século dezenove, e fica imaginando Toulouse-Lautrec e todos aqueles boêmios e coristas tão bem retratados em suas obras. Desde 1889, milhares de pessoas do mundo inteiro vem visitar essa sala de cabaret, que guarda um misticismo contagiante em suas paredes, cortinas, painéis e cartazes, para ver a famosa “quadrille realiste”, conhecida mundialmente como “french cancan”. E o cancan é realmente o quadro mais emocionante do espetáculo, que segue a estrutura tradicional da revista, alternando quadros de canto e dança, estrelados por vedetes-cantoras, bailarinos e coristas, com números de habilidades como malabarismo, ventriloquismo, equlíbrio e humor, executados em duplas ou em solos. Tem até um impressionante número de uma moça que dança com serpentes dentro de uma piscina de acrílico. Luz del Fuego do ano 2000...Bom tema para uma música de Rita Lee. Pelo lendário palco do Moulin Rouge já passaram figuras míticas do mundo do espetáculo como as vedetes Colette e Mistinguett, e a cantora Edith Piaf. O espetáculo atual, Féerie, está em cartaz desde dezembro de 1999, com drieção de Doris Haug e Ruggero Angeletti, Coreografia de Bill Goodson e figurinos de Corrado Colabucci. E os quadros versam sobre temas como circo, piratas, a dança em Paris, o cancan e a evolução do Moulin Rouge, de 1900 aos dias atuais. Não sei o que está acontecendo comigo, talvez seja a idade. Mas, ultimamente, tenho preferido assistir a tudo o que é tradicional, antigo, museológico até, a assistir a coisas experimentais ou de vanguarda. Se é que existe alguma coisa que ainda possa ser considerada de vanguarda hoje em dia. Depois que assisti ao documentário sobre os Dzi Croquettes, tenho achado cada vez mais difícil considerar alguma coisa nova ou original...Como já citei aqui no blog, fui ao teatro de La Huchette, assistir ao espetáculo La Leçon, de Ionesco, que está em cartaz desde a sua estréia, em 1948, e pretendo voltar lá para assistir à La Cantatrice Chauve, ou, em bom português, A Cantora Careca. Que, isso, eu já to careca de saber que é bom. E foi realmente vanguarda no seu tempo. Mas, calma, também não é nada assim tão radical: Semana que vem, por exemplo, vou assistir ao show de Lady Gaga...
E prometo contar aqui. Bisous.
Na foto acima, o primeiro cartaz do Moulin Rouge feito por Toulose-Lautrec, para o espetáculo La Goulue, de 1891.

terça-feira, 11 de maio de 2010



PARIS A PÉ

E o bate-pernas continua...definitivamente é muito melhor andar à pé por Paris do que pegar o metro, por exemplo. Só que cansa...além de tudo o que caminho ainda subo e desço seis andares de escadas várias vêzes por dia. Vou voltar com as pernas ótimas e panturrilhas incríveis. Numa dessas andanças por Paris eu fui - à pé, bien sur - visitar uma exposição de fotografias de nus masculinos que apresenta uma retrospectiva de 1870 até os dias de hoje. De Eugène Durieu, que fotografava os modelos do pintor Delacroix (Foto acima), a Bruce Weber e Joseph Caprio. A galeria, cujo nome é Au Bonheur du Jour, é especializada em nus masculinos e possui, no seu acervo, além de fotografias, desenhos, pinturas e esculturas. No caminho passei pela Galerie Vivienne (Foto acima 2), centro de moda, cultura e gastronomia, inaugurado em 1826 como precursora do que hoje conhecemos como shoping-centers. É uma passagem coberta que une a rua Vivienne à rue des Petits Champs e à rue de la Banque, e que guarda o charme e o glamour da época da sua criação. É na rue Vivienne que fica a loja de Jean-Paul Gaultier. Pausa para comer na rue Montorgueil, onde vários restaurantes, bares, bistrôs e cafés se alinham ocupando as calçadas com mesas de frente para a rua, verdadeira passarela onde desfilam as mais diversas tendências da moda e do comportamento. Sigo até o jardim do Palais Royal, revejo a Comédie Française...Na praça em frente à Comédie uma orquestra de cordas está tocando e paro para ouvir. É impressionante como uma coisa leva à outra o tempo todo em Paris. Gosto de sair de casa assim: com um objetivo em mente, mas, no caminho, me deixando levar a vários outros, tanto na ida quanto na volta. No meio disso tudo sempre tem as compras, também, que ninguém é de ferro. A novidade é a loja Uniqlo, que vende roupas de qualidade, feitas por estilistas como Jil Sander, a preços incrivelmente acessíveis. E o melhor: os ajustes são feitos na hora. Você compra uma calça, por exemplo, vai tomar um café e volta meia hora depois para retirar sua calça com a bainha feita! O que, no Brasil, demora normalmente uma semana. E tem muito mais, e sempre...
Confesso uma certa preguiça de escrever no momento. Hoje à noite iremos, João e eu, ao Moulin Rouge, assistir à revista Féerie! Prometo contar tudo depois...à bientôt!

sexta-feira, 7 de maio de 2010


MARAIS

Marais é o nome do bairro mais charmoso de Paris. Mais charmoso na minha opinião, bien sur. Pronuncia-se marré. É claro que sempre teremos Montmartre com suas escadarias, artistas de rua, o Sacre Coeur e a incrível imagem de Paris vista do alto. Mas eu sempre vou preferir o Marais. Foi lá que morei nos anos noventa. No número 18 da rue des Écouffes, em um pequeno studio no primeiro andar com janela para a rua. O Marais é como Jardins em São Paulo, Ipanema no Rio, Moinhos de Vento em Porto Alegre. É onde chique, moderno e descolado se equilibram. Convivem as sinagogas e os judeus ortodoxos com os bares gay e a fauna LGBT. Galerias e grafittis. Falafel e macarons. Aliás, os macarons estão por toda a parte. Chegou no camelô, como gosto de dizer quando algo se populariza excessivamente. Igrejas e sex shops. Design contemporaneo e arquitetura medieval. No Marais tem a Place des Voges, com a casa onde morou Victo Hugo, que pode-se visitar, pois hoje é um museu. Falando em museu, é lá também que ficam os museus Picasso e Carnavalet. É lá, na rue Sainte Croix de la Bretonnerie, que fica a livraria gay Les Mots a la Bouche. Gosto muito de sentar no Petit Fer à Cheval, um pequeno café com apenas quatro mesinhas na calçada, pra ficar bebendo um vinho e vendo o povo passar. Quando morava em Paris eu sempre ia no Petit Fer, pois morava na rua ao lado. Íamos Patrícia Cirne Lima, que morava comigo, e eu. E quando chegávamos, o garçon, que já nos conhecia, dizia: Voilá les étoiles du Brésil! Também costumo ir com frequência no bar ao lado, o L'étoile Manquante, que fica de frente para o Le Central, primeiro bar gay de Paris. E o mundo desfila pra mim. Uma verdadeira semana de moda. Ouço os mais diversos sotaques e línguas. Passam pessoas, cachorros, bicicletas. Muitas bicicletas, agora, nas ruas de Paris. Acho ótimo. Além das bicicletas públicas, da prefeitura, que você compra um cartão, põe crédito e utiliza, tem as particulares. Sabia que se você comprar uma bicicleta a prefeitura de Paris reembolsa o dinheiro? Bom exemplo a ser seguido pelas nossas prefeituras. Marais, em português, quer dizer pântano. E parece que o local era mesmo um pântano antes de ser bairro, por isso tem esse nome. Mas, hoje, só se for no sentido de ebulição, efervescência, se é que o termo tem esse sentido que lhe estou atribuindo. Eu ando muito por Paris os dias inteiros. Mas sempre acabo voltando pro Marais, até porque meu amigo João Faria, que me hospeda em seu apartamento, mora à côté. Aliás, João é vizinho de porta do popstar do pornô gay francês François Sagat, famoso pela cabeça raspada tatuada em forma de cabelo. Outro dia o vi entrar no mercado que fica em frente ao prédio. Fiquei me perguntando se a menina do caixa sabe pra quem está vendendo aqueles produtos que são comprados diariamente pelas mais prosaicas donas de casa...

Na foto, Luis XIV, o Rei Sol, bonita no Musée Carnavalet.

quinta-feira, 6 de maio de 2010



PRIMAVERA EM PARIS

Cole Porter tinha razão: Paris é adorável na primavera. Aliás, como diz a canção, every moment of the year. As árvores estão todas verdes e carregadas de folhas. Plátanos inclusive. E o melhor: fica dia até as nove e meia da noite. Pra melhorar só se voltar a esquentar. Até porque nem era mais pra estar fazendo frio. E, como dizia Ernest Hemingway, Paris é uma festa! E continua sendo. De segunda a domingo. Vinte e quatro horas por dia. Uma festa de cultura, de consumo, de informação, de gastronomia, de pornografia, do que você quiser. Você tem fome de que? Paris tem coisas incríveis, como o Teatro de La Huchete, onde assisti ao espetáculo La Leçon, de Ionesco, que está em cartaz desde a sua estréia em 1948! Não apenas La Leçon, mas, também, La Cantatrice Chauve completa cinquenta e dois anos em cartaz. Eles fazem sessões de segunda a sabado, às dezenove, vinte e vinte e uma horas. São peças curtas, de uma hora no máximo, aliás, uma das características da dramaturgia do autor, e o teatro é bem pequeno. Deve caber umas oitenta ou cem pessoas. É como se fosse um cineclube, só que, ao invés de filmes, assiste-se a peças de teatro. Cheguei cedo e fiquei fazendo hora no Le Depart Saint-Michel, restaurante-café tipicamente francês com um terraço coberto, espécie de vitrine com vista da Fontaine Saint-Michel. Enquanto bebo meu vinho, observo. É maravilhoso como os franceses conseguem ter vida própria, ter estilo em meio à globalização massificadora do mundo contemporaneo. Café é com açúcar. Pão? Com manteiga. E não tomam vinho naqueles aquários gigantes que o resto do mundo ocidental considera chique. Tomam em pequenos cálices bem mais charmosos...Pela manhã estive no Beaubourg. (Pronuncia-se Bobur). Eu sempre vou, várias vezes ao Beaubourg, o Centro Georges Pompidou, conjunto cultural que abriga museu, loja, galerias, teatro, salas de cinema, livraria, café, restaurante, espécie de shopoing center da cultura onde a gente vê de tudo. Sua arquitetura, moderna, colorida e tubular, se destaca grandiosa em meio aos prédios da velha Paris. Adoro ir ao Beaubourg. Em frente ao prédio tem uma imensa área aberta, como uma ágora romana, onde se reunem jovens artistas e performers do mundo inteiro e, não raro, pode-se assistir a pocket shows de mímica, contorcionismo ou música de qualquer planeta. Ao longo de toda a fachada do prédio tem escadas rolantes panorâmicas que nos dão uma visão incrível de Paris em diferentes planos, à medida em que as vamos subindo. Aproveitei para rever o acervo do museu de arte moderna e, dessa vez, fiquei bastante tocado com as obras de Fernand Léger. Frida Kalo e Andy Warrol não estavam expostos, dommagge...Mas tem muitos Picassos, Matisses, Kandinskys. É sempre emocionante ver essas obras, digamos, pessoalmente. Você percebe a pincelada, às vezes até um local onde a tinta escorreu e o artista deixou. E fica imaginando o impacto que tiveram na época em que foram feitas. E fiquei impressionado com a obra de Lucien Freud, que ganha exposição individual em uma das galerias. Impressionado também fiquei com os desenhos de Antonin Artaud, ator e diretor de teatro francês, criador do teatro da crueldade, feitos durante o período em que ficou internado em hosptais psiquiátricos. Enquanto comia algo no café, lembrei que foi no teatro do Beaubourg que assisti, quando morava aqui, em 1991, ao espetáculo Aujourd'hui c'est mon Anniversaire, do encenador polonês Tadeusz Kantor, que foi sua última encenação, pois ele faleceu naquele ano.
Entre o Beaubourg, que foi no fim da manhã, e o teatro, que foi à noite, bati muita perna pela cidade...No mais, estão voltando as flores. Aliás, elas já estão aí, por toda Paris...because my love is near!

terça-feira, 4 de maio de 2010



BONJOUR PARIS

Meu segundo dia em Paris parece, na verdade, o primeiro. Cheguei cansado, praticamente sem dormir, então o primeiro dia nem valeu. Hoje é que estou dando o meu bom dia para Paris. Há um sol forte, alternado com nuvens e vento frio, que se faz bastante agradável para andar. Passeio pelo Marais ao sabor do vento. Revejo ruas, lugares. E é tão bom constatar que tudo está no seu lugar, graças a Deus, graças a Deus... O prédio onde morei, no número dezoito da Rue des Écouffes, alguns bares e restaurantes que frequentava. Faço fotos: ruas, vitrines, grafittis. Está bem mais tranquilo de se andar, bem menos pessoas na rua do que quando vim a última vez, em janeiro do ano passado. Sento para comer e beber algo no terraço de um café: Le Drapeau. Pessoas passam sem parar. Etnias, modas, tendências, estilos, sexualidades. De repente, um rosto familiar. Por que sempre tem pessoas que a gente jura que conhece de algum lugar? To cheio de planos mas sem pressa nenhuma pra fazer nada. Deixo a cidade me levar. Clichê, eu sei. Mas um clichê irresistível. E Paris sempre me leva incrivelmente bem. Pra qualquer lugar. Vários lugares. Que nunca são lugar comum.