quarta-feira, 28 de março de 2012


CORRE-CORRE
Depois de quase dois anos sabáticos, nos quais só viajei, curti e escrevi muito aqui no blog, de repente me vejo envolvido em nada mais nada menos do que três espetáculos! Ao mesmo tempo. Semana que vem estreio os Homens Insanos, com a Terça Insana. Além disso, estou ensaiando uma peça com Alexandra Golik, do Grupo Le Plat du Jour, e um cabaré com canções de Brecht, com Cida Moreira e Humberto Vieira. Fora esses três espetáculos, estou entrando também em mais dois outros projetos, de outras naturezas, que ainda não posso contar aqui. Ufa! Espero conseguir dar conta de tudo sem surtar... Ando pra lá e pra cá. E, pedestre que sou, é um tal de sobe e desce ladeiras a pé, pega ônibus, pega metro, vou de casa até a Paulista, da Paulista até o Sumaré, do Sumaré até o Butantã, pareço mais um funcionário da Empresa de Correios e Telégrafos. No meio desse corre-corre perdemos Chico Anysio, Millôr Fernandes e a Rainha do Choro Ademilde Fonseca. E eu penso: Não posso morrer tão cedo, tenho muita coisa a fazer!!! Isso não é uma queixa, estou muito feliz com todas as minhas atividades. Só que, com tudo isso, o blog ficou um pouco de lado. Estamos no fim de março e esse é apenas o quinto post do mês! Por isso fiz questão de vir aqui, fazer esse mea culpa... E prometer que assim que o ritmo aliviar, voltarei a ser mais presente! À bientôt!
Na foto, calçada no bairro do Sumaré, que diz mais ou menos como me sinto...

quinta-feira, 22 de março de 2012


CONDICIONAL

SE as pessoas lessem mais, saberiam escrever corretamente e não veríamos tantos erros de português na internet. SE elas se dessem esse trabalho, até as conversas fluiriam de maneira mais agradável. O modo subjuntivo estaria ao alcance de todos e nunca mais ouviríamos acintes do tipo: Quer que eu passo lá? SE todos assim procedessem, os tempos verbais viveriam em festa. O infinitivo iria pular de alegria. O gerúndio ficaria o tempo todo cantando. Até o futuro do pretérito entraria na dança e tenho certeza de que o particípio ficaria passado! Seria a festa das concordâncias, verbais e nominais. Nunca mais elas gosta. Jamais nós vai. A gente concordamos, nem pensar! Já imaginou como seria bom SE a palavra “onde” fosse usada somente como advérbio de lugar? E não mais ao invés de em que, no qual e nas quais? SE fosse assim todo mundo saberia que advérbio é a palavra que modifica o verbo e isso já seria de um requinte inimaginável... Quem não gostasse, até poderia colocar a culpa em mim. Nunca nimim. Poderiam reclamar com a polícia. Não ca polícia. SE todo mundo resolvesse falar nós ao invés de nóis, eu já ficaria bem mais aliviado. E SE o plural virasse moda? Os meus ouvidos agradeceriam. Sim, ouvidos. São dois... Tudo o que custasse mais de um real teria o preço anunciado em reais, e não ouviríamos mais: Dois real! Dez real! Trinta real... SE fosse assim, a televisão perderia vários apresentadores e a política perderia vários representantes. Aliás, SE eu não me importasse tanto com isso eu seria bem mais feliz. Mas isso é SE...

Na foto, a impressionante biblioteca do Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro.

sábado, 17 de março de 2012



17 DE MARÇO
Não adianta. O tempo passa e eu não esqueço da Elis. Desde que ela se foi, nos já longínquos anos oitenta, que mantenho essa espécie de ritual que é comemorar o dia dos seus anos. Se estivesse viva, hoje Elis Regina completaria sessenta e sete anos. E, apesar de ter morrido precocemente, aos trinta e sete, ela deixou uma vasta obra, repleta de pérolas e interpretações até hoje insuperáveis. Seu álbum Elis & Tom, que gravou com Tom Jobim interpretando as canções dele, é histórico e impecável. Uma verdadeira obra-prima. Isso para falar de um entre as dezenas de álbuns que gravou. Seu filho João Marcelo me disse uma vez que Elis gravava tudo de prima. O que era para ser apenas voz guia ficava tão irretocavelmente perfeito, que acabava sendo a versão final. Tenho especial carinho pelas duas fotos que ilustram o post. Eu tinha dezesseis para dezessete anos e fui ao Rio de Janeiro visitar minha irmã Raquél, que estava morando lá. Aproveitei o feriado de Páscoa para conhecer a Cidade Maravilhosa e pedi à minha irmã que comprasse os ingressos para o show de Elis, Saudade do Brasil, que estava em cartaz no Canecão. Foi durante a apresentação desse que considero o melhor show de música que jamais assisti que fiz as fotos, com minha Olympus Trip 35, com flash a pilha, que tinha que ficar esperando carregar... Viva Elis! Vivam as cantoras que cantam de verdade! E que venham outras, pois o posto de maior cantora do Brasil ainda não foi ocupado...
Nas fotos, pela ordem: Elis cantando Canção da América e As Aparências Enganam.

terça-feira, 13 de março de 2012


VISITA

Quando ela me visita sou tomado por sentimentos nobres, o momento se reveste de um colorido especial e sou imediatamente transposto para um estado de letargia criativa, mesmo que soe paradoxal, uma espécie de embriaguez produtiva. Por que não dizer, um estado de graça. Nunca tive coragem de tomar um ácido, mas, pelo que me contam, deve ser mais ou menos parecido. As cores adquirem novo brilho e as formas, novas texturas. O que era inerte se move, o silêncio se faz ouvir e até mesmo o que era invisível passa a ser visto. Acho muito difícil viver sem ela. Quer dizer, viver até dá. O difícil é escrever sem ela. É por isso que, às vezes, eu fico dias sem postar nada aqui no blog. Fico esperando por ela, olhando pela janela, batendo pernas na rua, folheando livros e revistas, conversando com amigos, indo ao cinema ou ao teatro, fazendo exercícios físicos, correndo, nadando, malhando; visito exposições, sento em cafés, tomo porres, viajo, volto pra casa, tento, enfim, de tudo. Mas, se ela não vem, não rola. Até rola, mas sem a graça e fluência habituais. Estou falando da inspiração. Às vezes ela parece estar me sacaneando. Só pra ver como é que me saio sem ela. Tudo bem, resolvi me virar sozinho. Estou tentando. Então, como está? Eu sei que não fica tão bom. Parece faltar água a uma planta. Sal à comida. Açúcar ao café. Gelo ao drink... Falta Gertrude Stein à minha geração perdida. Minhas paranoias não tem Piva nem Duke Lee. Sinto muito, mas, às vezes, tudo parece estar em falta. Só o que não presta abunda. E até mesmo minha Paris não é uma festa. Os sons que me chegam aos ouvidos incomodam. Ninguém escuta música boa em alto volume. Música em alto volume é sempre axé, funk, forró ou sertanejo. Nunca Ella Fitzgerald. Jamais Cole Porter. Nina Simone em tempo algum. Sou um solitário ouvinte de Antony Hegarty... Espero que ela venha logo me visitar. Quem sabe no próximo fim de semana? Se ela vier, vou deixa-la fazer o que quiser. Se ela não vier, vou me deitar e ler Baudelaire...

Na foto, Nora Prado em momento inspirado da fotógrafa Irene Santos.

terça-feira, 6 de março de 2012


PASSAGEM DO TEMPO
O ano mal começou e já estamos no mês de março. Aliás, março acabou de começar e hoje já é dia seis. Quando penso que no mês que vem, mais especificamente no dia vinte e cinco, vou fazer quarenta e nove anos, fico um pouco preocupado: Se continuar assim, o tempo passando cada vez mais depressa, periga uma noite dessas eu ir dormir e acordar com mais de cinquenta anos! Percebo que desde que fiz trinta o tempo começou a passar mais depressa. Imaginem, então, como será depois dos cinquenta? Será que vai dar tempo de fazer tudo o que ainda quero? Visitar todos os lugares, rever todos os amigos, ler todos os livros, assistir a todos os filmes e DVDs? Saudade de quando eu era criança e ficava esperando ansioso pelas férias de verão... O período de tempo que ia de março a dezembro parecia não ter fim! A diferença é de que lado você está: Para quem tem a vida inteira pela frente, o tempo parece não passar. E para quem, como eu, já viveu muito e tem sede de viver ainda mais, o tempo não corre, ele voa! E pior: Deixa marcas cada vez mais evidentes da sua implacável passagem... Por isso é que a gente precisa estar atento e forte: Não temos tempo de temer a morte. Melhor: Não temos tempo a perder. E se, como dizem, o tempo é dinheiro, deixa eu encerrar esse post que já devo ter perdido uns duzentos reais. Duzentos e trinta. Duzentos e sessenta. Duzentos e noventa...
Na foto, tirada há trinta e dois anos atrás, o tempo ainda passava devagar. Juro: Parece que foi ontem.