terça-feira, 30 de abril de 2013

CORTEO

Eu sei que ninguém mais aguenta ouvir falar do Cirque du Soleil. De tanto eles virem ao Brasil todo ano já está quase como o especial de fim de ano do Roberto Carlos na Globo... Mas Corteo é diferente. Conheci a famosa troupe no início dos anos noventa, quando morava em Paris e eles ainda nem eram tão famosos assim. Mas já eram incríveis. Eram a maior novidade em termos de circo contemporâneo e, de lá para cá, foram e continuam sendo exaustivamente copiados nos cinco continentes. Se é que existe circo na Oceania... Nessas últimas décadas eles cresceram muito, viraram uma espécie de franquia de sucesso internacional e os espetáculos foram ficando cada vez mais espetaculares, com o perdão da redundância. Mas, enfim, não sei se por eu ainda estar sob a forte emoção de ter completado cinquenta anos no último dia vite e cinco, fui especialmente tocado por esse maravilhoso Corteo. Uma sequencia belíssima não apenas de habilidades dos artistas, mas também de imagens oníricas, líricas, poéticas, inesquecíveis. Ora impressionantes, pela grandiosidade dos efeitos, ora enternecedoras, pela simplicidade. Fiquei especialmente tocado por um casal de artistas que não diria que são anões, mas mini-pessoinhas inacreditavelmente talentosas e protagonistas de algumas das cenas mais encantadoras. O protagonista, um velho palhaço que sonha com o próprio funeral, parece ter saído de um filme de Federico Fellini. Aliás, o espetáculo todo lembra muito a filmografia do mestre italiano, com pitadas de Salvador Dali, tal o surrealismo de algumas passagens. Sou muito grato à minha irmã Raquél, por ter me presenteado com essa pequena jóia nos meus cinquenta anos... É caro, eu sei. Mas vale cada real. Realmente imperdível...

quinta-feira, 25 de abril de 2013

UM ANJO CHAMADO LEILA

Ontem à noite saí para procurar, no centro de Florianópolis, um café/bistrô que havia visitado uma vez com o Cabral, quando estávamos apresentando a Terça Insana aqui na capital catarinense. Saí a pé, estava uma noite agradabilíssima de lua cheia. Consegui encontrar o local, mas o bar em questão não existia mais. Apenas a construção, já em adiantado estado de deteriorização. Resolvi andar até a Beira Mar Norte para procurar um restaurante que avistara à tarde quando voltava da praia. Fiquei um pouco perdido, sem saber qual direção seguir, quando uma moça aparentando quarenta e poucos anos se aproximou, saindo de uma padaria, e perguntei a ela de que lado ficava a Beira Mar. Ela respondeu: Estou indo para lá, se você quiser te levo. Não bastasse a gentileza de ter parado para responder a minha pergunta, ela ainda me convidava para entrar no seu carro e ir com ela? Quase não acreditei no que ouvi. E, ainda surpreso, emendei: Em São Paulo ninguém convidaria um desconhecido para entrar no próprio carro! Ao que ela, sempre simpaticíssima, respondeu: Você tem cara de gente boa. E não é que ela tinha razão? Sou gente boníssima mesmo. Tanto que tenho a graça, a benção, a sorte de encontrar pessoas como ela... Ela se chama Leila. Contei que estava em Florianópolis sozinho comemorando meu aniversário de cinquenta anos e ela achou ótimo. Me disse que adora ficar sozinha. Aliás, vive sozinha, nunca se casou, me disse. É funcionária pública, trabalha da uma às sete, gaúcha de Canoas morando há dezesseis anos em Floripa. Quando falei do restaurante que estava procurando, se prontificou a me deixar lá. Quando perguntei sobre Santo Antonio de Lisboa, onde estou agora bebendo chardonnay e comendo ostras frescas de frente para o mar, me disse que se não tivesse compromisso me levaria na hora. Lembrei de uma outra vez que estive em Floripa, nos anos oitenta,e ia encontrar amigos de Soledade que estavam hospedados na casa de uma amiga em comum. Cheguei tarde da noite na cidade, não consegui encontrar a casa, na época não havia internet, celular, nada. Fiquei perambulando pelas ruas do centro até que vi uma Kombi com um cara colando cartazes, aqueles lambe-lambes que anunciam shows, e ele me disse: Vem comigo, dorme na minha casa e amanhã você procura a casa dos seus amigos durante o dia. Fui morrendo de medo. Cheguei na sua humilde residência, em um morro de Florianópolis, a mulher do cara nos recebeu e disse: Amanhã tu tomas café da manhã e vai procurar teus amigos, daí. Leila me fez lembrar também dos solitários personagens de Haruki Murakami, que não me canso de citar aqui no blog. Estranha visão de uma cidade que só conseguia imaginar compartilhada, social... Talvez os nossos caminhos nunca mais voltem a se cruzar. Talvez Leila nunca venha a ler essas linhas. Mas é tão confortador saber que ela existe! Saber que existem pessoas como ela, como o cara da Kombi, nesse mundo em que todos estão cada vez mais voltados para o próprio umbigo. Sua maneira aberta de ser e, principalmente, sua disposição para ajudar o próximo sem nenhum interesse, apenas por altruísmo, me emocionaram demais. Nos despedimos com um abraço e dois beijos, ela me desejando muitas felicidades nos meus cinquenta anos. Eu disse que ela era um anjo que veio para me ajudar na minha chegada aos cinquenta. Ela me disse que já tem cinquenta e três. E eu que lhe dava apenas quarenta e poucos... Na foto, as ostras, o vinho e o cachorro dormindo em Santo Antonio de Lisboa.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

HOJE

A Praia Mole hoje toda exibida arrasando nos tons de esmeralda praticamente só para mim. Digo praticamente só para mim porque, além de moi-même, tem meia dúzia de surfistas no mar e o fotógrafo a registrá-los da areia com uma daquelas lentes enormes que mais parecem um telescópio. Digo praticamente só para mim também porque sempre vi a Mole abarrotada de gente jovem e bonita nos mêses de verões passados quando costumava frequentá-la. Digo praticamente só para mim também porque não estou completamente só, tenho andado acompanhado dos estranhos personagens solitários de Haruki Murakami, que tanto me impressionou no espetáculo O Desaparecimento do Elefante e me fez ir correndo comprar o livro Após o Anoitecer. Não consigo deixar de pensar naquela imensidão de seres solitários que vem a ser a Tóquio de Murakami. Como também o é a minha São Paulo e também já foram a minha Paris e a minha Porto Alegre... Mas, como eu dizia, hoje, véspera do meu aniversário de cinquenta anos, a Praia Mole é praticamente só minha...

5.0 A BEIRA MAR

De frente para o mar de Santa Catarina, o sol começa a baixar, a lua cheia suspensa sobre a ilha que avisto da Praia Mole... Era dessa maneira que queria passar esse meu aniversário de cinquenta anos. Em um lugar de que gosto, como Florianópolis, e que não vinha há anos para ficar assim, sem fazer nada, curtindo o lugar, a natureza. Ultimamente vinha sempre a trabalho, aquela correria hotel/teatro/restaurante/hotel. A não ser há muito tempo, quando ainda morava em Porto Alegre e vinha passar todos os carnavais na ilha... Floripa que, como bem lembrou minha irmã Rita, foi palco de tantas aventuras minhas nas mais diversas idades. Estou passando esses dias sozinho, por total opção e não por falta de. Mas esse sozinho não implica solidão: Estou desfrutando da minha própria companhia, que é algo que adoro fazer. E, como já estou há dez anos em uma relação, ficar só comigo mesmo é algo que raramente acontece. É ótimo! Está sendo ótimo. Faço o que quero, na hora que quero. Tomo todas as decisões sem consultar ninguém. Escolho o programa, o vinho, a comida, a música e o modo como quero gastar o tempo. Serão apenas três dias. Mas já está de bom tamanho, na loucura em que vivemos, não? O sol se pôs, a lua brilhou ainda mais e eu tomo um chardonnay acompanhado de um carpaccio de salmão com morangos e rúcula em um restaurante que tem um deck sob a Ponte Hercilio Luz, a famosa ligação da Ilha da Magia com o continente. Feliz Aniversário para mim! Que é só na quinta-feira...

segunda-feira, 22 de abril de 2013

MEU AMIGO KIKO

De tempos em tempos sou agraciado com a presença de Kiko Mascarenhas nos palcos de São Paulo. E é sempre no mínimo transformador assistir a uma performance desse talentosíssimo ator. Dessa vez foi com O Desaparecimento do Elefante, adaptação da obra de Haruki Murakami posta em cena por Monique Gardenberg e Michele Matalon. Kiko brilha em momento solo com o seu Comunicado do Canguru, indo do riso às lágrimas, e deixando velhos cinquentões emocionais como eu à beira de um ataque de nervos. Que grande felicidade assistir a um bom espetáculo, com uma equipe incrivelmente preparada e com a platéia lotada. Uma bela idéia, um projeto extremamente bem sucedido e que é abraçado pelo público que quer coisas boas, sim! Diversão no sentido mais abrangente da palavra, esse Elefante faz refletir, emociona e arranca aplausos e gargalhadas em cena aberta. Como na impagável cena do assalto a uma loja do Mac Donald's na qual Marjorie Estiano põe a baixo a platéia do Sesc Pinheiros... Imperdível é pouco: Obrigatório. Na foto, Kiko e o Comunicado do Canguru.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

PRECE

Elevo meus pensamentos aos céus na esperança de encontrar um alento. Deus, deuses, deusas, forças superiores, entidades cósmicas, mitológicas, seculares, universais. Ao próprio Universo, clamo, humildemente, por mais amor entre os homens. Amor, compreensão, solidariedade, respeito, altruísmo, compaixão. Se é que esses conceitos ainda guardam algum valor ou mesmo significado nesse imenso caos em que estamos imersos. Esse caos de celulares, tevês de plasma, tablets, carros novos e semi-novos, tênis importados e tudo o mais pelo que se mata, se rouba, se trai, se urde, se vende, se suborna e se discrimina. Dirijo minha prece a todos, igualitariamente. Aos que estão sem grana, sem emprego, sem plano de saúde. Aos que estão sós e desamparados. Aos que são tão pobres, mas tão pobres, que só tem dinheiro, mais nada. Aos que usam de má fé para obter benefícios próprios prejudicando muitos outros. Aos que não mudam quando é lua cheia, como cantava Cazuza. A todos nós, eu inclusive. Eu que, pequeno e só, não encontro representação em nenhum rebanho. Eu que, descrente e ao mesmo tempo temente, imploro cheio de ardorosa fé a Rá, Osíris e Ísis. A Zeus e a Apolo. A Iemanjá e a Santo Antônio. A Buda e a Jesus Cristo. Minha Nossa Senhora, rogai por nós, senhores e senhoras que não sabem o que fazem. Senhor, dai-nos mais gente do bem. Já que tem tanta gente no mundo e cada vez nasce mais, mudai, Senhor, a programação neurolinguística do universo. Que ela seja direcionada para o bem comum, o amor ao próximo, a igualdade entre os povos. E que paremos logo de matar, roubar, discriminar e excluir em nome do Pai, do Filho e de todos os Espíritos Santos. Ah! E, last, but not least, que passemos a ir mais ao teatro e a ouvir boa música. Sim, porque, na boa, os estádios de futebol já estão lotados e os jogadores que ganham milhões já pagam dízimo para as respectivas igrejas que também já estão lotadas. Amém. Na foto, o santinho da minha Primeira Comunhão.

terça-feira, 2 de abril de 2013

ABRIL, 2013

Caros leitores, o mês de abril finalmente chegou. Embora eu tivesse receios de que ele chegasse. Por dois motivos: Primeiro, porque no próximo dia cinco vou estrear uma peça de teatro, o que não fazia desde o ano de 2001, quando entrei para a Terça Insana e, desde então, vinha fazendo apenas shows de humor. Mas essa é a parte boa da chegada desse abril fatídico. Segundo, e pior, porque no próximo dia vinte e cinco vou completar cinquenta anos de idade. Eu, que ainda tenho certas dificuldades de me ver como um adulto, imagina como um senhor de cinquenta... Lembro que quando completei dez anos meu pai me deu de presente um relógio de pulso, o primeiro que tive, e me disse que como eu estava completando minha primeira década de existência, estava subindo o primeiro degrau da minha vida. Achei aquilo tão bonito que nunca esqueci. E, a cada vez que completo mais uma dezena de anos sobre a Terra, lembro do meu velho pai... Brinco sempre com os garçons do Ritz, que tem na sua maioria vinte e poucos anos ou menos, que ninguém me respeita, pois todos me chamam de Robertinho, ao invés de Sr. Roberto. Até o Bigode, que toma conta dos carros, me chama de Robertinho. Bom, para dizer a verdade, até as crianças me chamam assim. E, para ser mais sincero ainda, eu próprio me vejo assim: Como o Robertinho da Dona Doracy, lá de Soledade, no interior do Rio Grande do Sul. Uma criança caipira que insiste em habitar o adulto tímido em que me transformei. Ou melhor, venho me transformando com os dias, os meses, os anos. Eis aí mais um ponto positivo: Estar sempre me transformando. De preferência, crescendo. Me tornando um ser humano cada vez melhor. E não é que já subi cinco degraus? Na foto, a exuberância dos 4.9 no entardecer de Ilhabela.