terça-feira, 28 de novembro de 2017

NOTAS DE NOVEMBRO

O mês de novembro se aproxima do final me lembrando que mais um ano também se aproxima do final. E que a vida não para. Que bom. Tomara não pare nunca... Se vivo ainda fosse, meu amado e saudoso amigo Marcelo Pezzi teria completado ontem sessenta anos de idade. Ele já nos deixou há vinte e três anos! Olha ela de novo aí, a vida que não para... Na mesma data, 27 de novembro, minha também amada e saudosa amiga Claudia Wonder partiu há já voados oito anos. Como cantava Nelson Ned, e tudo passa, tudo passará. E nada fica, nada ficará... Mas vamos falar de coisa boa? O final de semana foi pródigo em teatro e reencontros com amigos. No sábado assisti ao espetáculo Fulaninha e Dona Coisa. O texto, de autoria de Noemi Marinho, já é um clássico da nossa dramaturgia e, por incrível que pareça, eu ainda não conhecia. Nunca havia lido ou assistido às montagens anteriores. Com o perdão da palavra e com todo o respeito e admiração que tenho por ela, Noemi é phoda. Assim mesmo, com ph. Para não ficar muito chulo. Além de excelente atriz e diretora ela escreve muito bem. Ou seja, ela é muito boa em tudo o que faz. E a montagem não deixa a desejar, com jovens e bons atores em mais uma bela iniciativa do produtor Eduardo Barata... No domingo fui conferir Se Existe Eu Ainda Não Encontrei, belo texto do jovem autor inglês Nick Payne, em delicada e emocionante montagem de Daniel Alvim com o excelente Leopoldo Pacheco à frente de um afinado elenco. Longo para os padrões apressados de hoje em dia, mas gratificante para quem como eu gosta de teatro. E de textos de teatro... A primavera paulistana segue inconstante, bipolar, instável, sujeita a chuvas e trovoadas. Em uma dessas tardes chuvosas nada melhor do que assistir, pelo Netflix, a um clássico do cinema. Foi o que fiz: Me deleitei com Funny Girl, musical americano com Barbra Streisand na flor da idade interpretando a cantora e comediante Fanny Brice. De encher os olhos, ouvidos, a alma e o coração. Como estou ficando piegas... Paro por aqui. Esperando por dezembro e pelo próximo ano... Ah! Por último mas não menos importante: Nos reencontros com amigos a que me referi, esteve presente Antonio Carlos Falcão, ator gaúcho em visita à Pauliceia que me presenteou com seu trabalho musical em CD. Louco pra ouvir...
Nas fotos, a mitológica Barbra Streisand em cena de Funny Girl, Nathalia Dill e Vilma Melo em Fulaninha e Dona Coisa e Leopoldo Pacheco com Lyv Zieze, Luciano Gatti e Helena Ranaldi em Se Existe Eu Ainda Não Encontrei.

domingo, 26 de novembro de 2017

ENFIM ASDRÚBAL

Não tive a sorte de assistir aos memoráveis espetáculos do lendário grupo de teatro Asdrúbal Trouxe o Trombone. À época, a censura era muito rigorosa e eu só fui completar dezoito anos em 1981. Mesmo assim, como sempre fui muito pequeno, continuava parecendo uma criança de doze. Enfim, perdi. Mas ainda assim fui fortemente influenciado pelo "feeling" e pela estética do Asdrúbal. E passei a seguir e a admirar todos os seus ex-integrantes, sobretudo Regina Casé e Luiz Fernando Guimarães. Cheguei a assistir, no começo dos anos noventa, ao solo de Regina, a brilhante Nardja Zulperio, com texto e direção do também asdrubalino Hamilton Vaz Pereira. Agora, passado tanto tempo, o Canal Viva está exibindo uma série documental com toda a história do grupo. Tenho me deleitado. E percebido com maior clareza a importância que essa troupe teve na minha vida. Em Porto Alegre, onde eu vivia minha juventude, eles deixaram frutos como o grupo Vende-se Sonhos, que, no começo dos oitenta, desbundou minha cabecinha com o espetáculo School's Out, do qual faziam parte artistas que se tornaram meus grandes amigos como Shala Felippi e Angel Palomero. Recentemente tive o prazer de contracenar com Regina Casé na pequena porém significativa participação que fiz no filme Que Horas Ela Volta, de Anna Muylaert. Muitas lembranças me invadem enquanto escrevo. Como os solos de Patrícia Travassos e Luiz Fernando, a que assisti no Rio de Janeiro. O Grupo mudou conceitos. Era um teatro que surgia dando voz a uma geração. A gente se via em cena e pensava: Olha, não estou sozinho. Muito bom... Percebo também, assistindo a essa série, o quanto todos nós que criamos a Terça Insana trouxemos deles para as nossas cenas. O Asdrúbal está vivo. São pessoas que cantam, são pessoas que dançam, são pessoas que cantam e dançam. Ainda bem!
Na foto, os hilariantes Regina e Luiz Fernando em cena de Trate-me Leão.

sábado, 18 de novembro de 2017

GLÓRIA VERSUS HORROR

Me lanço à página em branco do blog movido não pela inspiração, mas por uma necessidade de escrever sobre o novo livro de Fernanda Torres, A Glória e Seu Cortejo de Horrores, segundo romance da autora, cuja leitura concluí na tarde de hoje. Bastante tocado, diga-se de passagem. O livro narra a história de um ator, sua ascensão e queda na carreira do teatro, cinema e televisão. Imagino que para quem, como eu, dedica a vida a esse controverso métier, a leitura seja bem mais saborosa. Ainda que por vezes de sabor amargo... Como todos parecem saber, a vida de artista no Brasil é feita de altos e baixos. Muitas vezes, mais de baixos do que de altos. Vacas magras que se alternam às gordas entremeadas por fases de transição em que nada acontece. Não é fácil e em nada se parece com o ilusório glamour que envolve o ofício. O que me intriga sobremaneira é a precisão cirúrgica com que Fernandinha disseca os altos e baixos da carreira. Pois, pelo que me consta, a carreira dela é feita de altos. E agora, com a literatura, de mais altos ainda. Pois aí é que se revela o seu grande talento: O de observadora da alma humana, principal qualidade dos grandes romancistas, na minha singela opinião. E nisso ela, como atriz, é bastante treinada. Sem falar que além de culta, criativa e talentosa, Fernanda é dotada de uma inteligência bem acima da média. Isso já se evidenciava em Fim, seu romance de estreia. Tudo acompanhado de fina ironia & humor cáustico... Posso estar dizendo sandices, besteiras, não sei. O que me move, como já expus, é uma necessidade, uma urgência. O surpreendente final da história me deixou engasgado. Mario Cardoso, o personagem central, pode ser a própria Fernanda, pode ser eu, você ou qualquer outro. Ou, como disse o ator Dionísio Neto, com quem comentei no instagram que estava devorando o livro: Somos todos Mario Cardoso. Me lembro bem de um galã verdadeiro, da Globo inclusive, que tinha esse nome. Pois o Mario Cardoso de A Glória e Seu Cortejo de Horrores tem sua vida desestruturada quando resolve montar justamente o Rei Lear, de Shakespeare, que vem a ser a peça de estreia de Fernanda no teatro, a que tive o prazer de assistir no Rio de Janeiro nos anos oitenta. Protagonizada por Sergio Britto, a montagem tinha grandes nomes do teatro nacional como Yara Amaral, Ariclê Perez, Paulo Goulart, Ary Fontoura - magistral no papel do bobo - e muitos mais que não lembro agora. Ah! Ney Latorraca e José Mayer estavam também. Com direção de Celso Nunes. Enfim, terminei a leitura dessa obra inesquecível e, graças aos deuses do teatro, começou logo na sequência a exibição no Canal Viva do especial sobre o grupo de teatro Asdrúbal Trouxe o Trombone, que me situou e me colocou novamente nos eixos... É isso: A profissão de ator é uma entrega. Uma entrega sem fim. Desistir não faz parte do trajeto. Que bom que uma atriz tem essa voz maravilhosa que se sobrepõe à mediocridade que grassa em todos os meios. No artístico, inclusive.
Nas fotos, a capa do livro e Fernanda no Rei Lear, com Sergio Britto e Paulo Goulart.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

TREM DAS CORES

Quem por ventura leu o post anterior e me achou desanimado já pode relaxar. Acontece que os cinquenta tons de cinza do último sábado deram lugar a um domingo escandalosamente ensolarado, de temperatura amena e o céu de um azul celeste celestial. E o domingo agradabilíssimo foi coroado pelo show impecável de Caetano Veloso e seus três filhos: Moreno, Zeca e Tom. Caetano apresenta os rebentos dando a cada um deles a oportunidade de mostrar composições próprias e interpretar canções do pai. Mas a cereja do bolo é o próprio pai, retomando antigos sucessos de sua carreira, grande parte deles de enorme significado para toda a minha juventude. Fui da satisfação às lágrimas em diversos momentos do show. Alguém cantando é bom de se ouvir. O talento do pai foi generosamente distribuído entre os filhos. Moreno, o mais velho, já é um nome conhecido na música popular brasileira. Já Zeca e Tom são as agradáveis surpresas. Zeca tem um timbre de agudos que enche o teatro de doçura e poesia. Sua canção Todo Homem já nasce um hit. Já Tom, o caçula, encanta por sua beleza e juventude, a distribuir sorrisos junto com o não menos encantador talento. O cenário de Hélio Eichbauer pinta uma aquarela de cores intensas, o próprio trem das cores que dá nome ao post e à canção do álbum Cores Nomes. Caetano homenageia as mães de seus filhos, Dedé e Paula, e a própria, a saudosa Dona Canô, cantando canções que compôs para elas. Nada irá nesse mundo apagar o desenho que temos aqui... Um show imperdível, poético, inspirador, necessário no momento que vivemos. E o melhor de tudo: Em um teatro. Sentado. Vendo de perto. Nada daquelas aglomerações em estádios com gente em pé assistindo a tudo por um telão. Que bom que todo o dia o sol levanta e a gente canta ao sol de todo dia...
Na foto, feita por moi même, Zeca, Caetano, Moreno e Tom recebem os entusiasmados aplausos da plateia.

sábado, 11 de novembro de 2017

SAMEDI GRIS

Sábado cinza, temperado por uma chuvinha fina que traz de volta o frio em pleno mês de novembro. Me faz lembrar Jacques Tati. Sábado para ficar em casa, remexer guardados, separar roupas e objetos para doação. A televisão ligada sem que nada esteja sendo propriamente assistido. Uma sucessão de programas culinários que vão do mais puro vegano ao mais junk dos carnívoros. Paro em frente ao computador. Projetos e projetos repousam em HD. Não seria a hora de retomar este ou aquele? Que dia. Parece que a vida resolveu dar um tempo. Tudo o que não interessa prolifera. Grandes lançamentos se sucedem em escala industrial. Isolado no meu retiro doméstico, me sinto como uma espécie de Monsieur Hulot: Incapaz de se adaptar à vida em sociedade, eternamente atrapalhado, gauche, ultrapassado pelos acontecimentos. Um sujeito simples, que cresceu fazendo tudo de maneira analógica e, com uma certa resistência inicial, se adaptou ao mundo digital. Com dores nas costas. Pertenço a uma geração que já começa a ir embora. Ontem se foi, precocemente, a comediante Márcia Cabrita. Aos poucos, tudo o que se vê não será mais do jeito que já foi um dia, para citar Lulu. Fica a pergunta: O que virá? Quem ficará? Os youtubers? Os evangélicos? As extremas direita e esquerda? Os aplicativos de encontros? A rede de hotéis Trivago? Sigo buscando luz no passado mais ou menos recente de Caio Fernando Abreu nas revistas AZ e Around. De lambuja, reencontro Bivar, Mario Mendes, Logullo, Vania Toledo e a própria Joyce. E as adoráveis Nadja de Lemos, Terezinha O'Connor, Aurore Jordan e Sra. Lisandro Depré. Enquanto isso, aqui no presente sem cor, estreias, reestreias, renovações de temporadas. Mais e mais do mesmo. Você não pode perder. Modernidades retrô. Ressignificações. Questão de gênero. Questão de ordem. Questões...
Na foto, still do filme Mon Oncle, de Jacques Tati, com o personagem Hulot.