quarta-feira, 23 de maio de 2018

VIRADA DO BEM

Não estou dando conta de escrever aqui sobre todas as coisas que estou vendo, vivendo, assistindo, curtindo. Minha sede de escrita anda um pouco arrefecida. Mas pelo menos de quatro coisas a que assisti nessa Virada Cultural preciso falar. Começo com Vertebral, o espetáculo de dança aérea vertical do Grupo Ares, com coreografias do Weidy: Do alto do prédio da Praça das Artes, eles abriram a virada, no fim de tarde frio que coloria de luzes o Vale do Anhangabaú junto com brinquedos de um Parque de Diversões e vários palcos com shows diferentes. Pura emoção com vista incrível da Pauliceia... Depois veio o show de Fafá de Belém: No domingo, logo cedo pela manhã, em plena Avenida São João, ela apresentou as canções do álbum Água, que vem a ser o meu preferido da cantora. Nesse disco Fafá faz um passeio pelo Brasil, apresentando compositores das diversas regiões do país, a minha inclusive, o sul. É de lá que ela traz a belíssima Cordas de Espinho, de Marco Aurélio Vasconcellos e Luiz Coronel. Foi com muita emoção que desfrutei desse show, com a diva Fafá refazendo ao vivo e em cores as músicas que embalaram minha adolescência. Alguma coisa aconteceu no meu coração na Avenida São João... Saindo dali fui direto para a Biblioteca Mario de Andrade para ver Regina Duarte lendo Caio Fernando Abreu. Outro deleite! Outra diva da minha infância e adolescência. Regina escolheu três contos muito porrada de Caio: Terça-feira Gorda, A Dama da Noite e Uma História de Borboletas. Adoro Regina Duarte, de quem sou fã explícito de carteirinha. E simplesmente AMO quando ela faz questão de mostrar outros lados, diferentes e opostos aos que a televisão mostra. Ela já ganha a plateia logo de saída quando, ainda antes de começar a leitura, pede desculpas pela falta de memória causada pela idade e pelo Rivotril... Adorável. E em plena manhã dominical ela nos brinda com o melhor de Caio outsider, suas feridas, dores profundas, marginalidades e solidões. Nunca mais vou esquecer da sua carinha de safada perguntando, ao ler a Dama da Noite: Você já deu o rabo, boy? Maravilhosa... E, para fechar o domingo, muitas risadas com Lindsay Paulino e sua impagável Rose, a Doméstica do Brasil, em cartaz no mesmo Teatro Itália onde venho me apresentando com o Arquivo Terça Insana. Esse rapaz é uma explosão de talento. Sua Rose é adorável, viva, humana, sofrida e irresistivelmente divertida. Entretenimento da melhor qualidade, a peça é imperdível. Escrita pelo próprio ator, que revela nesse trabalho sua veia dramatúrgica além do talento para a atuação, o canto e a dança. Uma carreira a ser acompanhada por todos... Paro por aqui. Agradecido por todos esses talentos que iluminaram meu fim de semana...
Nas fotos, a dança vertical do Grupo Ares, Fafá divando na São João, Regina lendo Caio e Lindsay recebendo merecidos aplausos.

sábado, 19 de maio de 2018

CORES DO MUNDO

Acordei cedo para assistir à transmissão do casamento real pela televisão. E posso dizer: Valeu a pena. Dois dias depois do Dia Mundial de Combate à Homofobia, a cerimônia serviu como um sinal de alerta aos que insistem em se manter de olhos fechados às mudanças pelas quais o mundo está passando. Ou melhor, já passou. As novas cores do mundo, como bem disse a apresentadora Astrid Fontenelle. Representatividade deu o tom do evento. Para quem ainda não entendeu, a ordem do dia é agregar, reunir, ter compaixão, amar, compreender, aceitar. Não cabe mais discriminar, matar, odiar, proibir, excluir. O mundo é vasto. O ser humano, múltiplo: O discurso do reverendo; o coral gospel cantando Stand by Me; o solo de violoncelo; Sir Elton John and his husband; a mãe da noiva emocionada; a noiva em si, plebeia, atriz, divorciada, feminista e negra... Regina Casé postou no instagram: Só eu estou achando o casamento tipo Esquenta? E parecia mesmo. Até pela participação dos blogueiros no youtube, lançando pérolas como o já incorporado bordão "bom dia Brasil, boa tarde Itália", de Bambola Star... O dia ensolarado parecia ter sido especialmente encomendado. Tomei o café da manhã em frente à tevê. Feliz. Só não me animei a tomar um gim, claro, devido ao antecipado da hora... Long live the bride!
Nas fotos, a apresentadora Astrid Fontenelle com a máscara da noiva, o violoncelista e o casal John.

terça-feira, 8 de maio de 2018

BIBI EM MUSICAL

Nessa recente onda de espetáculos musicais que assola o país nem tudo é truque ou apenas mais do mesmo. Vez por outra um belo espetáculo se destaca. Ou pela beleza, ou pela originalidade do tema, ou pela riqueza da produção de cenários e figurinos ou, até mesmo, pela simplicidade. É o caso de Bibi, Uma Vida em Musical, que acaba de estrear aqui em São Paulo, no Teatro Bradesco, depois de ter cumprido temporada no Rio de Janeiro. O espetáculo narra a trajetória da nossa grande dama do teatro, Bibi Ferreira, desde a infância até a atualidade. Longo, com quase três horas de duração, em nenhum momento se torna chato ou cansativo. É daqueles espetáculos que a gente acompanha a tudo com interesse e com muita, mas muita satisfação. Indo, naturalmente, do riso às lágrimas, que é como a gente gosta... A produção é relativamente simples, se comparada às made in Broadway. Mas vem envolta em muito talento e competência. O texto de Artur Xexéo e Luanna Guimarães é interessante, divertido, emocionante e bem menos didático do que o que ele escreveu para Hebe, o Musical. A direção de Tadeu Aguiar é limpa, clara, minuciosa e precisa. Como já afirmei, há muito talento envolvido. Mas o grande destaque, a cereja do bolo, é a interpretação de Amanda Acosta, que constrói uma Bibi Ferreira para muito além do estereótipo, viva, pulsante, intensa, arrebatadora. Me faltam adjetivos para definir o trabalho dessa jovem atriz e cantora, que é da mais pura excelência. Dá vontade de levar sua Bibi para casa... Tive o privilégio de assistir a essa inesquecível performance em uma noite especial, uma avant-première para convidados, a maioria artistas de teatro. E todos tivemos a sensação de ver nossas vidas ali representadas, como falou Amanda em seu discurso de agradecimento. Um dos melhores personagens da peça, Procópio Ferreira, o pai de Bibi, diz a certa altura da história: Um teatro vazio é muito triste. Dá a impressão de que a vida foi ontem... Lindo. Triste. E muito verdadeiro. Tenho certeza de que todos que ali estavam, assim como eu, já experimentaram a tristeza de um teatro vazio assim como a extrema felicidade de seu oposto, com a plateia lotada... Eu, que assisti à própria Bibi vivendo Joana em Gota d'Água e Piaf no musical de mesmo nome, fiquei bastante emocionado. Amanda, a atriz, desaparece completamente dando lugar a uma Bibi real e grandiosa. O que faz dessa jovem artista uma estrela de primeira grandeza. Sua voz enche o teatro e transborda a alma... Hoje, um dia após ter vivido essa comovente experiência, escrevo com a sensação de que a vida foi de fato ontem. Durante aquelas quase três horas que durou o espetáculo. Todos os envolvidos estão de parabéns. E é absolutamente necessário que se assista...
Na foto, Amanda Acosta como Bibi num dos números de que mais gostei: O teatro de revista.

segunda-feira, 7 de maio de 2018

PAVILHÃO JAPONÊS

Tenho me perguntado sem parar como foi que consegui viver vinte e dois anos na cidade de São Paulo sem nunca ter ido conhecer o Pavilhão Japonês, no Parque do Ibirapuera. Pois nesse último domingo, atraído pelo anúncio de uma exposição de bonsais, fui finalmente visitar este inusitado pedaço do Japão em plena Pauliceia. O curioso é que vou com certa frequência ao Ibirapuera para andar de bicicleta, tomar sol, e nunca tinha sequer suspeitado do que guardavam aquelas cercas... Bonsais, para quem porventura não saiba, são aquelas árvores anãs que os japoneses sabem fazer como ninguém. E que enchem os olhos e a alma. Ao passar pelo portão de entrada a gente já é meio que transportada para o Oriente. Ou para o que imagino que deva ser, posto que nunca estive do outro lado do mundo. Eu que já me embriago de japonismo andando pelas ruas do bairro da Liberdade, agora tenho mais um cantinho para me deliciar imaginando que estou no Japão. Enquanto aguardo ansiosamente pela oportunidade de um dia vir a conhecê-lo... Mas, além da exposição de bonsais belíssimos, alguns com flores e até frutos, tem o acervo permanente, o pavilhão em si, que é arrebatador, e o viveiro de carpas. As mais lindas, as maiores, de insuspeitadas cores, incríveis. Lembrei de Caio Fernando Abreu, que no texto Abolerados Blues, diz: Aquela tarde no Ibirapuera quando, olhando as carpas coloridas, de repente tudo ficou mágico... Todo o entorno é um grande jardim japonês, com pedras, areia desenhada, muitas plantas e árvores. Ah! Em julho voltarei lá para conferir a floração das cerejeiras. Quem vier a São Paulo não deve deixar de visitar esse lugar abençoado...
Nas fotos, detalhe do jardim de pedra, recanto do pavilhão em si, as carpas e eu fazendo a gaysha...