quarta-feira, 26 de outubro de 2016

IZAKAYA

Dia desses fui ao Issa para comer takoyaki, o bolinho de polvo que tanto adoro. Eu havia descoberto esse simpático izakaya anos atrás quando fui ao teatro escola Celia Helena, no bairro da Liberdade, para assistir ao espetáculo de formatura de um amigo e, ao procurar um lugar para comer algo e tomar um drink enquanto esperava, encontrei essa maravilha escondida na Rua Barão de Iguape. Na ocasião eu nem sabia que o Issa era um izakaya, nem tampouco o que isso significava. Passaram-se os anos, os izakayas viraram uma tendência na cidade, e, no próprio Issa, acabo por comprar um livro interessantíssimo que me foi oferecido pela proprietária, Dona Margarida: Izakaya - Por Dentro dos Botecos Japoneses, de Jo Takahashi, com fotografias de Tatewaki Nio e ilustrações de Mika Takahashi. Agora estou me sentindo super por dentro do assunto e a cada semana descubro um izakaya ainda mais encantador do que o outro. Vamos à definição: Izakayas são uma mistura de boteco com pub, bar e bistrô. Originalmente eram locais que vendiam o sakê para ser levado para casa. Mas, evidentemente, as pessoas gostavam de experimentar o sakê antes de levá-lo e para isso os comerciantes passaram a servir pequenas porções de aperitivos para acompanhar a degustação da bebida. Dá para imaginar o que veio na sequência... Hoje eles são gastrobares de poucos lugares, cardápio pequeno e com uma variedade de bebidas. Os pratos estão mais para porções, espécie de tapas japoneses que a gente nunca se conforma em comer só um ou dois, acaba experimentando vários... E, consequentemente, bebendo vários sakês. Aí, quando vem a conta, já viu... Além do Issa, eu já conhecia o moderno Minato Izakaya, em Pinheiros. E agora estou experimentando aos poucos os outros locais que o livro apresenta. Essa semana estive no Kidoairaku, um dos mais antigos da Liberdade. Parece uma casa de vó, meio bagunçada, mas a comida é realmente maravilhosa. Bagunçada e acumuladora, tal a quantidade de objetos espalhados pelo local. Fui atendido pelo Erik, filho do dono, que me contou curiosidades e me deu dicas do que pedir. Sim, porque o cardápio, colado na parede, é todo escrito em japonês... Ainda tenho muito o que desbravar nesse setor dos izakayas. Mas o livro é realmente interessante, além de belíssimamente ilustrado e fotografado. Vale a pena.
Nas fotos, a capa do livro, Dona Margarida posa para mim e o cardápio na parede do Kidoairaku.

domingo, 23 de outubro de 2016

ANJO MALVADO

O que terá acontecido a Baby Jane? A resposta está no Teatro Porto Seguro, um dos mais bacanas e aconchegantes da cidade. A encenação, da dupla Charles Möeller & Claudio Botelho, retoma a já clássica história de Henry Farrell imortalizada no cinema por Bette Davis e Joan Crawford. Dramas familiares sempre são um bom combustível para a cena. Acrescentando-se à mistura elevadas doses de álcool & rancor, tendo como pano de fundo o mundo das celebridades de Holywood, a receita está completa: O velho e bom melodrama. Adoro. Sou muito suspeito para falar. É que cresci no interior, ouvindo novela de rádio e assistindo a espetáculos de teatros de lata itinerantes. E, claro, as novelas de Janete Clair... Essa montagem tem direito a cenário de telões pintados, trilha sonora de terror, efeitos cênicos e, sobretudo, a presença iluminada de duas Grandes Damas do teatro brasileiro: Eva Wilma e Nicette Bruno. Sem falar na luz de Paulo Cesar Medeiros que, com o uso de ribaltas, recria o clima dos antigos espetáculos de variedades onde a pequena Baby Jane se apresentava quando artista mirim. Curiosamente eu já havia escutado vários colegas de teatro falarem mal dessa montagem que estava louco para conferir. Talvez tenha estreado sem estar no ponto de ser apresentada, não sei. Sei que o que vi ontem à noite no palco do Porto Seguro me encheu os olhos de prazer estético e a alma de boas recordações. Quem gosta de teatro, do bom e velho teatro, do teatrão mesmo, e, sobretudo, do gênero melodrama como eu gosto, irá amar com certeza. As atrizes que interpretam Jane e Blanche quando pequenas e na juventude também são ótimas e nos fazem acompanhar a trajetória dessa conturbada relação desde a mais tenra idade. Crianças em cena são sempre um perigo. Mas essas foram escolhidas a dedo. Os demais atores que compõem o elenco, Licurgo, Teca Pereira e Nedira Campos também não deixam por menos. Poderia falar muito mais desse espetáculo encantador. Mas prefiro apenas sugerir aos leitores que corram para assisti-lo. Só assim poderão saber o que aconteceu com Baby Jane, pois eu aqui, evidentemente, não contarei. Para não estragar a surpresa. Ou, para usar uma palavra da moda, para não fazer "spoiler". Ah! Cheguem cedo, tipo uma hora antes de começar o espetáculo. O teatro tem um bar bem interessante para drinks e comidinhas, ver e ser visto, fazer hora no clima... Saí muito agradecido e louco para assistir novamente.
Na foto, parte do elenco recebe os merecidos aplausos.

sábado, 22 de outubro de 2016

BIOGRAFFITI

Eu sempre fui completamente apaixonado por Rita Lee. Pelo menos desde os meus doze anos de idade, que foi quando ela lançou o antológico álbum Fruto Proibido. Sou tão apaixonado que morria de ciúmes do Roberto de Carvalho logo que eles se casaram. E levou anos para que eu finalmente o aceitasse... Sou tão apaixonado que dia desses, semana passada para ser mais preciso, Camila Frender, que vem a ser a nora de Rita, postou no facebook o flyer de divulgação do lançamento do livro Rita Lee Uma Autobiografia. Esse lançamento vai acontecer no dia 16 de novembro próximo e eu, de tão ansioso que fiquei com a notícia, me mandei para a Livraria Cultura do Conjunto Nacional no domingo passado, dia 16 de outubro, portanto um mês antes do événement. Mó mico... Quando voltei para casa com minha expectativa totalmente frustrada, fiquei tentando imaginar como será essa autobiografia. Fiquei tão imbuído da ideia que resolvi rever os DVDs do box Biograffiti, que dá título ao post. Essa caixa com três DVDs é encantadora. Neles Rita conta grande parte da sua vida, de como foi expulsa dos Mutantes, como adora compor, como foi composto o grande hit Mania de Você, fala da sua infância, de seus pais, das drogas, enfim, traça um panorama bastante colorido e abrangente da sua vida e carreira. É também, diga-se de passagem, uma declaração de amor à cidade de São Paulo, onde nasceu e cresceu a menina loura da cidade industrial, para citar Gil. Amor esse que compartilho totalmente. Rita diz amar até mesmo o mau cheiro do Rio Tietê... É um deleite acompanhar a trajetória desse ícone da nossa música através de depoimentos e cenas de arquivo da televisão brasileira. Um dos extras de que mais gosto é Rita Fala. Nele Rita abre o verbo e, como ela mesma diz, se me deixarem eu vou falando, falando... Então é isso, enquanto aguardo ansioso pela autobiografia de Rita Lee fico me deleitando com esse pequeno tesouro chamado Biograffiti. Recomendo!

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

AH... O RITZ!

Quem digitar o nome Ritz no campo de pesquisa aqui do blog irá encontrar vários posts em que ele é no mínimo citado. Minha relação com esse bar/restaurante de São Paulo é antiga e está tudo contado no post O Ritz e eu, de dezembro de 2009. Mas são tantas as histórias que sempre tenho vontade de voltar a escrever sobre o tema. Pra quem ainda não sabe eu moro, desde 1996, na Alameda Franca, exatamente a uma quadra de distância do Ritz. E lá se vão vinte anos que me tornei frequentador habitual desse endereço. Ontem à noite eu estava mais uma vez bebendo no balcão do bar quando Jorge Takla, um dos ilustres habitués, me disse que gosta muito das fotografias que faço do Ritz e que ele acompanha há anos. E me sugeriu que lançasse um livro de fotos do restaurante. Achei a ideia tentadora e, conversando via whatsap com meu amigo Odilon, de Salvador, ele me sugeriu que eu acrescentasse histórias junto com as fotos. Fiquei muito tentado. Tanto que já estou aqui a escrever sobre o meu velho e bom amigo... Também ontem, tive o prazer de encontrar no Ritz uma das minhas "ídolas" de todos os tempos, Zezé Motta, que não pude deixar de tietar e, claro, fotografar. Quando encontro ídolos eu tieto mesmo. Recentemente foi a vez de Pedro Andrade. Fiquei tão nervoso que tremia abraçado a ele enquanto o barman Will nos fotografava. Depois que o Takla me sugeriu o livro fiquei lembrando de fotos e efemérides vividas nesse que é o meu bar favorito através de décadas... Teve a vez em que Edson Cordeiro e eu fomos ao Ritz com a Gretchen e sua filha Tammy. Na ocasião ela era filha ainda. Hoje é filho... Teve a vez que fui, depois de pular carnaval na Banda do Redondo, vestido de mulher. E lá pelas tantas, cansado da brincadeira, fui ao banheiro, me desmontei lá mesmo e saí com a fantasia na bolsa...Teve muitos porres e micos, evidentemente. E funcionários adoráveis que deixaram saudades. Como Ricardo Kanazawa, hoje proprietário do bar Igrejinha. O Ri fazia tudo o que eu pedia, desde mudar acompanhamentos e ingredientes de pratos até me dar dinheiro pro táxi. Que eu evidentemente pagava... Cheguei a ir uma vez com o Caio Fernando Abreu, quando ainda não morava em São Paulo. Eu estava no Rio, trabalhando com Luís Arthur Nunes e vim passar um fim de semana em São Paulo. Encontrei o Caio no Viena do Conjunto Nacional, depois fomos para apartamento dele na Hadock Lobo, depois a uma peça de teatro e, para fechar a noite, Ritz... Agora estou começando a lembrar de coisas que é melhor não contar, para não me queimar ou queimar o nome dos envolvidos... Mas adorei a ideia do Takla. Vou começar a anotar histórias e a selecionar fotos. Mesmo que não dê em nada, vai ser no mínimo divertido. Pois, como diz o Mario Mendes, outro ilustre habitué da casa, eu sou fútil e a vida é curta. Cheers!
Nas fotos, uma travessura que eu sei quem fez mas não posso revelar e a lousa do dia da festa de 30 anos.

domingo, 9 de outubro de 2016

JOIA DA BRIGADEIRO

Sempre que vou ao teatro, o que acontece com uma certa frequência, gosto de chegar mais cedo, geralmente uma hora antes, e ficar tomando um drink em algum boteco das redondezas. Descubro lugares, pessoas e atmosferas incríveis nessas ocasiões. Foi assim que conheci, nessa agradável e primaveril noite de sábado, a Joia da Brigadeiro. Trata-se de uma lanchonete que fica na esquina da Brigadeiro Luiz Antônio com a Condessa de São Joaquim. Pedi uma dose de uísque e uma schweppes citrus. Inacreditavelmente tinha Jack Daniel's, o que fez com que a Joia subisse imediatamente no meu conceito. Olhei em volta e percebi que a frequência também me era familiar, embora um pouco diferenciada de mim. Mais por uma questão estética, pois acredito que nossa essência era basicamente a mesma. E a nossa sede também, se é que vocês me entendem... Pois eu estava justamente fazendo hora para assistir ao espetáculo A. M. A. D. A. S., com direção do meu amigo/mestre/professor/diretor Luís Arthur Nunes e protagonizado por Elizabeth Savala, que cumpre curta temporada no Teatro Brigadeiro, que fica um pouco mais acima da Joia de mesmo nome. Terminado o drink, me dirigi ao teatro e, após o terceiro sinal, descubro a verdadeira Joia da Brigadeiro: La Savala. Livre, leve e solta, ela é puro talento & carisma sur la scène. Uma comediante no verdadeiro e amplo sentido da palavra. One-woman-show. A peça é um mero pretexto para Elizabeth deitar e rolar, conduzindo a plateia por quase duas horas de um verdadeiro tour de force. Eu acompanho a carreira televisiva dessa atriz desde Gabriela, quando ela encantou o país com sua inesquecível Malvina. Mas não tinha ideia do que ela é capaz quando está só sobre o palco. Uma grande artista, que precisa ser vista por todos. Seu monólogo é na verdade um grande stand-up comedy. E sua atuação é uma master class do estilo. E, para completar, a fina moldura que é a delicada direção de Luís Arthur. Imperdível. Melhor do que isso, só ter saído para jantar com eles depois do espetáculo. O que aconteceu e foi igualmente encantador. E as risadas se prolongaram noite a dentro...
Na foto, Elizabeth reinando absoluta sobre o palco.

domingo, 2 de outubro de 2016

SONHOS DE OUTUBRO

Que bom que o mês de outubro chegou. É que setembro trouxe uma primavera fria que mais parece um prolongamento do inverno e eu quero que comece logo a esquentar. Pelo menos que comece a fazer temperaturas mais amenas... E o novo mês também trouxe consigo a possibilidade do sonho. Não me canso de sonhar e acho que os sonhos, mesmo os que a gente sonha acordado, são das melhores coisas que se pode ter - ou não - na vida. Eu fui um jovem bastante sonhador. Felizmente consegui realizar muitos dos meus sonhos da juventude. Grande parte deles, posso dizer. Mas, como continuo um sonhador na meia idade, ainda tenho muito por realizar. Quando a gente é jovem e tem a vida inteira pela frente, parece que ela, a vida, vai demorar uma eternidade para passar. Depois que passamos dos cinquenta anos, por exemplo, essa noção de longevidade da vida é totalmente revertida. O que nos toma é a sensação da impermanência de tudo. Da vida, inclusive. Acho que não terei tempo para realizar todos os meus sonhos, mas já que sonhar, dizem, não custa nada, aí vai... Conhecer a Ásia! Pelo menos o Japão e a Tailândia.Esse acho que ainda dará tempo.Ficar um mês em Paris hospedado em um hotel de luxo, como o Ritz ou o Plaza Athéné, também não seria nada mau. Aí já não é nem sonho, é viagem mesmo! Tem também os sonhos dourados como, por exemplo, dirigir um show de Maria Bethânia. Se assistir a um show de Bethânia já é para mim algo tão transformador - e eu assisti a vários, graças a Deus - imagine vê-la executar sobre o palco coisas criadas por mim... Esse é na verdade um sonho sem preço. Já não sou mais jovem, ela, menos ainda. E nem sequer chegamos a nos conhecer, ou seja, nessa encarnação não vai dar tempo. Uma pena. Tempo: Quem tem sobrando, quer que passe logo. Quem tem pouco, quer prorrogar. E assim caminha a humanidade. Eis aí mais um sonho: Prolongar o tempo, quando fosse necessário. Esse é um sonho impossível. Quando se fala em sonhos é difícil ficar apenas no plano dos que podem ser realizados. Pois, como já dizia a canção: Sonhar, mas um sonho impossível... Bom outubro para todos! E que ele possa trazer, além de sonhos, realizações. Muito amor, amizade sincera, compreensão, compaixão, entendimento, entretenimento e, sobretudo, saúde e prosperidade. É, sonhar não custa nada mesmo...
Na foto, Bethânia realizando sonhos sobre o palco.