quarta-feira, 27 de outubro de 2010


ADIANTADO

Eu sempre fui uma pessoa adiantada. Ou seja, alguém que chega aos seus compromissos ANTES da hora marcada. O que, nos dias atuais, já me transforma de cara num espécime raro, como se eu fizesse parte de uma espécie ameaçada de extinção. E o mais estranho de ser um cara adiantado é que parece que o mundo inteiro, ou pelo menos todas as pessoas que você conhece, tem um ritmo, e só você tem outro completamente diferente. Eu sempre fico pronto pra sair antes, eu sempre chego aos meus compromissos antes, e mesmo quando quero chegar atrasado, o máximo que eu consigo é chegar na hora. Eu cresci ouvindo meu pai dizer - quer dizer, eu não cresci. Eu ouvi meu pai dizer a vida inteira que a hora não é na hora e sim antes da hora. E acho que isso ficou gravado no meu subconsciente, porque não é uma coisa que eu provoque deliberadamente. Quando vejo eu to lá, pronto. Teste, por exemplo. Quando me chamavam pra um teste de comercial eu ia sempre pela manhã, pra me livrar logo. Mas não é que eu chegasse lá antes da hora do teste: eu chegava antes do equipamento! Não tinha nada lá quando eu chegava! Às vezes nem o porteiro sabia que ia ter um teste naquele lugar e eu já estava lá. Sexo: se eu to transando com alguém...Não, isso não quer dizer nada. Será? Vamos ver um outro exemplo: Festa: eu sempre sou a primeira pessoa que chega nas festas! E eu não sei o que faço, porque os donos da casa, que nem terminaram de se vestir para a festa, me vêem chegando e dizem: Ah, você já é de casa, fica à vontade! E eu fico lá, torcendo pra que a festa comece logo. E ainda dizem que apressado come cru. Mentira! Apressado passa fome! Ou você acha que alguém tira a carne do freezer e me serve quando eu chego adiantado num churrasco? Eu tenho amigos que estão sempre atrasados. Quando eu combino alguma coisa com eles, marco um horário falso, mais ou menos uma hora antes do horário real, pra ver se a pessoa consegue chegar pelo menos em cima da hora. Eu já cheguei a ter crises existenciais com isso, pensando que eu não tenho nada pra fazer na vida, que eu sou um desocupado, afinal como é que as pessoas correm tanto, estão sempre atrás do relógio e eu estou sempre na frente, com tempo sobrando? Mas aí eu me dou conta que as pessoas atrasadas estão sempre atrasadas, mesmo quando elas não estão fazendo nada. E que eu estou sempre adiantado, mesmo quando eu tenho muitas coisas pra fazer. Às vezes eu chego a fazer cálculos mirabolantes do tipo: e se eu fosse morar nos Estados Unidos durante o horário de verão? E se eu mantivesse o meu relógio atrasado uma hora em relação ao horário de Brasília? E se eu fosse morar na Bahia, afinal, lá não tem horário de verão; mas lá é tudo mais lento, não ia adiantar nada. O fato é que o tempo passa. Ou melhor, como dizia Cazuza, não pára! E, graças a esse passa-passa enlouquecido do tempo, a gente vai ficando cada vez mais velho. Só espero que eu não envelheça ANTES de todo o mundo.

domingo, 24 de outubro de 2010











RIO ENCORE ET TOUJOURS...
Me voilà outra vez no Rio de Janeiro. Fui, com minha amiga Shala Felipi, assistir ao espetáculo infanto-juvenil da Cia. Druw chamado Vila Tarsila. Uma viagem lúdico-imagística pelo universo da pintora brasileira Tarsila do Amaral, na qual adultos e crianças tem a possibilidade de adentrar suas formas abstratas, suas atmosferas míticas, e conhecer os animais, plantas e seres imaginários que habitavam suas telas. Tudo muito bem embalado em belos figurinos, projeções, luzes e trilha sonora. Excelente programa para o après-midi. Depois fomos, com os bailarinos que integram o elenco, à Confeitaria Colombo do centro, e todos os que ainda não a conheciam ficaram de boca aberta com seu glamour art-nouveau. E, claro, com seus doces e milk-shakes de café. Antes do espetáculo, Shala e eu havíamos passado no Bar Luiz para tomar um chop e comer o mix de mini-salsichas alemãs com mostarda. O Luiz está firme com suas portas abertas no centro da cidade desde quando Dom Pedro II ainda era o imperador do Brasil e o Rio de Janeiro, sua capital federal. Vale conhecer. À noite fomos ao Galeria, em Ipanema, para a exposição dos jeans customizados de Claudio Tovar, ex-Croquette que continua mais Dzi do que nunca, recebendo animadamente junto com a sempre fofa Lucinha Lins em coquetel regado a champanhe e o lançamento da noite: Absolut de pera. Uma perdição. Nem preciso dizer que saímos de lá um pouco altos... No mais, muitas pedaladas na bike da Shala pela orla, com direito a por do sol seguido de lua cheia banhando o mar com luz prateada. Desculpem se soa cafona, mas tem momentos na vida em que a gente precisa rebuscar a linguagem e abusar dos adjetivos... Senão, quem está lendo não tem idéia do que se passava no momento. À bientôt!
Nas fotos, pela ordem: Cena do espetáculo Vila Tarsila, interior do Bar Luiz, os espelhos da Colombo e detalhe de um dos jeans do Tovar.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010


AU REVOIR, PORTO ALEGRE!

A Volta ao Lar. Esse é o título de uma peça de Harold Pinter, em cuja montagem carioca, de 1992, trabalhei como assistente de direção de Luiz Arthur Nunes. No elenco, o já saudoso Sergio Viotti, Antonio Caloni, Vera Holtz, Marcos Breda e Marcelo Picchi que, antes da estréia, deixou o projeto e foi substituído por Mario Borges. Eu acabara de voltar de Paris, onde havia morado por um ano, e esse foi meu primeiro trabalho profissional pós-fase européia. Mas não é desse projeto longínquo que quero falar aqui no post. Foi apenas um instante de memória motivado pelo tema: Partir, retornar. Quero falar da minha volta ao lar. Ou melhor, das minhas. Eu, que adoro viajar e estou sempre indo e vindo, me pego agora no avião, voltando pra São Paulo depois de duas semanas em Porto Alegre, pensando que o bom das viagens não é somente o tempo que as antecede, durante o qual projetamos tudo o que pretendemos fazer no destino final e tudo o que desejamos que venha a acontecer. E não apenas o tempo que permanecemos no local para onde viajamos, com tudo o que ele possa trazer de bom e proveitoso para nós. Mas, também, a volta para casa. Daí a lembrança da peça de Pinter. É sempre bom voltar. Nunca se volta igual ao que se era antes de partir. Muito da viagem volta para casa conosco. Na memória. No corpo. No coração. Isso sem falar nas compras e nos souvenirs. Eu volto ao lar trazendo a alegria dos momentos vividos junto a familiares e amigos. Trazendo a satisfação de ter matado saudades. Trazendo a surpresa de ter conhecido pessoas encantadoras. A lembrança de um aroma, de uma imagem, um entardecer, um céu estrelado, uma árvore florida, um bom vinho, vários bons vinhos, medos superados, canais tratados, experiências vividas. E volto trazendo a expectativa de matar a saudade do que deixei. De quem me espera. Do meu lar. Volto para partir sempre. E sempre retornar...Como já disse Hemingway, Paris continua dentro de nós. É verdade. E não apenas Paris, mas todas as cidades por onde passamos continuam, para sempre, dentro de nós.
Au revoir, Porto Alegre! Et à bientôt...
Foto no aeroporto de Porto Alegre by Guto de Castro.

terça-feira, 12 de outubro de 2010





OCIDENTE
Porto Alegre tem um bar chamado Ocidente. Desde 1980! Eu comecei a frequentar o Oci, maneira íntima como o tratávamos, em 1983. Não que antes disso eu ainda não saísse na noite. É que não tinha coragem de ir ao Ocidente. Passava em frente olhando pra cima, pras janelas do casarão, via uns panos pendurados no teto, como se fossem tendas, e, não sei porque, morria de medo. Achava, sei lá, que era um antro de perdição. Quando finalmente tive coragem de entrar, uma agradável surpresa: Era de fato, o que eu pensava. E eu adorei! Virei frequentador assíduo... Gostava de chegar cedo, logo que abria e ainda estava vazio, sentar junto ao balcão e ficar vendo as pessoas chegarem, começarem a beber e, finalmente, se soltarem na pista. No ano de 1985 eu comecei a ir ao Oci com meu amigo Paulo Vicente e ficávamos tomando gim tônica. Sempre no balcão. Acho que é por isso que até hoje adoro um balcão de bar. Lembro que o Paulo ia de calça jeans e, no lugar da camisa, um antigo maiô de cetim preto da mãe dele e uma estola de peles. Sensação total pós-Croquettes... Muita Madonna nas pic-ups e a Gorda, apelido da atriz Eliane Steinmetz, se vestia como a própria, da fase rendas e cruzes, Procura-se Suzan Desesperadamente... A frequência ia sempre mudando, se reciclando, punk, dark, gay, descolada. Lá por oitenta e seis, tive minha fase dark, só usava preto, da cabeça aos pés. Ah, e o Ocidente também serve almoço, durante o dia. Lembro de uma época em que o roqueiro Ratão era garçon e eu ia almoçar com meu amigo João Faria, hoje morando em Paris. Lembro, até hoje, dos diálogos. O Ratão perguntava: o que vocês vão beber? João respondia: Tu me vê uma pepsi. Ao que o Ratão, sem a menor paciência, retrucava: Faz anos que essas bichas vem aqui e ainda não sabem que só tem Coca! E o João: Tu me respeita! Hilário... Aliás, são tantas histórias que um post seria pouco. O Ocidente se mantém vivo, acompanhando todas as modas, tendências, sempre se renovando. Lembro da estréia do Viva a Gorda, programa de auditório performático da já citada atriz, em que participei no quadro Concurso do Melhor Rambo: Três concorrentes magrinhos e baixinhos, vestidos como Sylvester Stalone no filme homônimo, desfilando com metralhadoras de plástico... Lembro de muitos shows, performances e espetáculos a que assisti no Oci. Como o Falcão, impagável, fazendo a Maria Bethânia. Aliás, Betânia, sem agá, nascida em Bajé e migrada para a Bahia no lombo de um burro... Saudade do Fonso, com seu delicioso mau humor. Depois que eu já estava morando em São Paulo, quando chegava em Porto Alegre e ia ao Ocidente, ele fazia a maior festa, quanto tempo, tudo bom, beijo e etc. Na segunda vez que eu ia ele já dizia: Não vai mais embora? Ta morando aqui de novo? Faz muita falta aquela cara redonda atrás do balcão... E o Toni, que quando voltei ao Oci depois de muito tempo sem vir e pedi champanhe, mandou essa: Que champanhe? Tu sempre tomou cerveja! Além de famoso ficou metido?
Esse ano o Ocidente completa trinta anos, com o Fiapo comandando tudo do alto da sala VIP, firme sobre o sobradinho da Roseka, a loja de lingerie que ficava no térreo. E eu sempre adoro revê-lo...

segunda-feira, 11 de outubro de 2010






VINHOS E ETC...
O fim de semana enológico começou na quinta-feira à noite, com um curso introdutório à cultura do vinho seguido de degustação, na loja Sommelier Vinhos, aqui em Porto Alegre, presente que ganhei da minha irmã Raquél. O curso, uma palestra de duas horas de duração, é bastante interessante para situar os apreciadores da bebida em seu contexto de origem, história, produção, conservação, tipos de uvas, e, finalmente, como saboreá-la. A melhor parte da aula! Brincadeira...
No sábado fomos, com nossas amigas Lúcia e Lica, até a cidade de Bento Gonçalves, para fazer o passeio de Maria Fumaça e visitar o Vale dos Vinhedos. Tudo regado a muitas degustações (A palavra que predominou no fim de semana)... Conheci a simpática cidade de Monte Belo do Sul, com sua bela igreja e lindos vitrais. Era fim de tarde, o sol começava a baixar e os jovens da cidade estavam reunidos na praça central, ouvindo música, bebendo e conversando, tal como eu e meus amigos fazíamos na praça de Soledade...
O passeio de Maria Fumaça é uma atração incrível, com direito a performances de músicos, cantores e atores, que se revezam em pequenas apresentações ao longo dos vagões. E, claro, degustações de sucos de uva e espumantes. E, por falar na palavra predominante do fim de semana, tivemos a oportunidade de visitar os Cogumelos da Serra, uma pequena produção de champignons onde seu produtor mostra os cogumelos sendo cultivados e todas as partes do processo de criação até finalmente poderem ser adivinha o quê? Degustados!
O hotel onde nos hospedamos, o Villa Michelon, bastante agradável e acolhedor, tem, na sua recepção, uma gatinha malhada, de três cores: branco, preto e amarelo, que recebe os hóspedes com charme felino encantador. Falar de todos os restaurantes onde comemos exigiria um post à parte. Mas vou dar destaque ao espaço gastronômico Casa Vanni, que fica nos Caminhos de Pedra, uma típica casa de imigrantes, de madeira, que abriga delicatessen, café e, no porão, uma agradável surpresa: em meio a tantos rodízios temáticos característicos da região, um inesperado e bem vindo bistrô, à la carte, com poucas opções de pratos no cardápio, excelente comida, bebida e atendimento. Sentamos a uma curiosa mesa cujo tampo, de vidro, fica sobre um antigo poço, daqueles utilizados para se beber quando ainda não havia água encanada.
Mas a grande atração do fim de semana, sem dúvida nenhuma, foi a paisagem da Serra Gaúcha, com seus vinhedos e vales a perder de vista. Todas as tonalidades de verde desfilam, se sobrepõem, se sucedem sob o azul do céu formando cenas de cartão postal. Pra uma pessoa urbana como eu, acostumada a grandes cidades e seus arranha-céus, como diz a campanha de cartão de crédito, não tem preço!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010



PORTO ALEGRE
Alegre sigo minhas andanças por Porto Alegre... Vivi a maior parte da minha vida nessa cidade. Tinha catorze para quinze anos quando vim de Soledade, e fiquei até os trinta e dois para trinta e três. Nesse meio tempo, morei um ano em Paris e um no Rio, com idas e vindas. Ainda assim, foi o lugar onde permaneci por mais tempo. Já estou vivendo há catorze anos em São Paulo. E, como não nasci aqui, com o tempo fui perdendo os laços com a cidade. Mas resolvi, desde o começo desse ano, reatar minhas ligações com Porto Alegre. E é com prazer que redescubro a capital dos pampas... Entre idas ao dentista, exames em laboratórios e encontros com amigos, vou pondo em dia nossa relação. Minha com Porto Alegre. Hoje fui ao Theatro São Pedro para assistir a um recital do pianista Mauricio Starosta. No programa, obras de Chopin, Beethoven e Villa-lobos. Os recitais acontecem no foyer do teatro, todas as quartas-feiras, às 12:30h. E a entrada é franca. Adorei. Piano sempre me emociona. Aproveitei para almoçar no restaurante do Multipalco, que é bastante agradável e tem comida excelente. Depois fui ao Santander Cultural para ver a exposição dos Video Portraits, de Robert Wilson. Nada de novo no front, Bob Wilson retoma a idéia dos retratos em vídeo de Andy Warhol, acrescentando cores, trilha sonora, pequenos movimentos e, até, ações. Enfim, ampliando possibilidades. Resulta interessante e gostoso de acompanhar. Tem até bancos em frente às obras para o público sentar e ficar observando os lentos movimentos, que, às vezes, restringem-se à respiração dos modelos. Jeane Moureau, como a rainha Mary I, fascina movendo apenas os olhos. No mais, muito bate perna pelo centro, Rua da Praia, Casa de Cultura Mario Quintana e quetais...
Na foto, Johnny Depp movendo apenas dedinhos na estola de peles.

AMARRADÃO
Li outro dia na internet uma declaração de Romário: "Estou amarradão na política". Fiquei com isso na cabeça nos últimos dias. É muito bom estar amarradão, no que quer que seja. Até mesmo na política. Estar amarradão é estar, de certa forma, apaixonado. E a paixão, todos sabemos, é o que move a vida. É o que nos move. Libera endorfinas e serotoninas. Os dependentes químicos, adictos em geral, que me perdoem, mas não tem droga melhor. E não precisa se estar, necessariamente, apaixonado por alguém. Pode ser por alguéns. Por uma cidade, um projeto, uma idéia. Ou, melhor ainda, por tudo isso ao mesmo tempo, que seria a paixão pela vida. Divago andando pelas ruas de Porto Alegre, revendo lugares, ruas, entardeceres, pessoas. Velhos e novos amigos. A primavera gaúcha é bela, iluminada, e tem clima ameno. Quente no sol e friozinho na sombra. Adoro. Saio do dentista e ando pelas ruas do bairro de Petrópolis escutando Thiago Pethit no diskman: Velho! O velho refere-se ao diskman, não ao Thiago. Nem a mim...
Estar amarradão é transformar-se só de pensar no objeto da amarração. Só de lembrar. A lembrança, por si só, torna palpável o sentimento, fisicaliza a emoção. Altera batimentos. Arrepia a pele. Eriça a alma. Eu estou amarradão. Amarradão nesse momento que estou vivendo. Nos projetos que estou desenvolvendo. Nas pessoas que estou reencontrando e nas que estou conhecendo agora. Acho que eu sou um amarradão... Valeu, Romário!
Na foto, por do sol visto da sacada da casa da minha irmã Raquél.