domingo, 26 de novembro de 2023

FAST NOVEMBER

Eu devia andar completamente distraído pela vida quando o mês de novembro passou do lado de fora da minha janela e eu nem percebi… E não é que ele tenha passado silenciosa ou discretamente. Pelo contrário, passou fazendo muito barulho, causando estragos irreparáveis. Guerras, assassinatos, atentados, tornados, enchentes, alagamentos, incêndios, rachaduras no chão e desabamentos. Lembrei de um amigo já falecido que ao ficar sabendo de grandes catástrofes (naturais ou não) nas quais havia morrido muitas pessoas, dizia, irônico: “Ótimo! Tem gente demais no mundo”… Me pergunto se ele continuaria a dizer isso hoje em dia... Lava brotou das entranhas da Terra. Ventos sopraram com a força descrita por Shakespeare em Rei Lear. Mesmo assim, não vi novembro passar. E não pense quem me lê que do lado de dentro da janela a coisa tenha se desenrolado tranquila. E mais, do lado de dentro de mim, que a janela protege, também não houve muito silêncio ou discrição. Lava brotou dos pulmões, tremores racharam entranhas, ventos sopraram com força de arrebentar as bochechas. E quando dei por mim, novembro já havia passado e eu não tinha escrito sequer um post. Nesses catorze anos de blog, pela primeira vez quase fico um mês inteiro sem postar. Sei que muitas coisas boas, maravilhosas, acontecem simultaneamente no planeta inteiro. Crianças nascem, olhares se cruzam despertando paixões, curas para doenças são descobertas. Nesse mês que termina assisti a muitas séries e documentários, filmes também. E peças de teatro, mas poucas. Saí algumas vezes com os poucos amigos que tenho. O mundo segue dividido. Não vejo graça em quase nada. Queria ter um partido, uma religião, uma filosofia ou seita. Um guru, um pastor, uma vidente ou digital influencer. Uma qualquer certeza! Só tenho dúvidas. Inseguranças, temeridades. Voltar no tempo, impossível. Ir embora para onde quer que seja, inútil. Dormir, quem pode? O álcool, os diazepínicos, nada pode conter a angústia que vem da consciência que tenho. Quisera ser o mar que quebra nas rochas desde que o mundo é mundo. E assim vai ser para todo o sempre. Enquanto houver mar. Enquanto houver rochas. Enquanto houver mundo… Bom fim de ano a todos! A foto que ilustra o post é do meu amigo fotógrafo Guto de Castro e retrata a rua Garibaldi, onde eu morava em Porto Alegre. Nessa época do ano ela fica assim, bordada de roxo pelas flores dos jacarandás que a contornam. Uma pequena dose de esperança em meio ao caos.