quinta-feira, 30 de dezembro de 2010


FICÇÕES
Essas ficções foram cometidas em outubro de 1991. Eu havia decidido voltar ao Brasil depois de ter morado um ano em Paris. E, antes de voltar, resolvi fazer uma viagem à Grécia, sonho que tinha desde criança. Quis publicá-las no blog, apesar de longas, por falarem de um momento de transição, de recomeço. Como o que estamos vivendo, de fim de ano e de década.
I
O homem está sentado na areia. Ele olha para o mar. Olha longe, lá onde se confundem os azuis. Ele pensa. Ora tanto cinza, ora tanto azul. E lembra que há muito tempo tudo parecia ser verde. Na sua memória havia muito a presença da cor verde. E era de fato qualquer coisa como pequenas cidades, dias longos, correntes de ar. Aos poucos, sentado na areia, os azuis já não se confundem. O homem percebe uma linha nítida, traçada entre o azul do mar e o liláz do céu que começa a avermelhar. A lembrança de uma música altera qualquer coisa e traz à memória as cores urbanas, os telhados de uma cidade, seus cheiros e seus boulevards. Mesmo tendo deixado essa cidade, não dava para guardar uma imagem somente agradável, algo como longas correntes de ar em pequenas cidades de dias longos. Havia subterrâneos, dias contados e um certo compromisso de recomeçar.
II
O homem está sentado em seu quarto. Ele olha para o espelho. Olha fundo, lá onde as marcas do seu rosto não se confundem. Toca a própria pele, em volta dos olhos, cabelos. Ele sente a presença do tempo, que passa e que transforma. Transforma coisas mas não altera realidades. A sua, por exemplo, de homem sozinho em frente ao espelho. Sem defezas e incapaz de maquiar o que já viveu. Em todo caso, ele pensa, um gel no cabelo pode ajudar. De gel no cabelo ele apaga a luz, fecha a porta do quarto e sai, com um certo compromisso de recomeçar.
III
O homem está sentado à mesa de um café. Ele olha para a porta. Olha através, lá onde se adivinha quem vai chegar. Ele tem a sensação de que tudo se repete. E não sabe quantas vezes já olhou através de quantas portas. Quantas pessoas vieram, quantas deixaram de vir. Essa era só mais uma espera. Consumida em cigarros, bebida e olhares através. Todas as pessoas foram embora. O homem está sozinho e tonto dentro do café. A porta parece não abrir mais. E, de fato, não abre. Só quando o homem desiste da espera, paga a conta e sai do café, com um certo compromisso de recomeçar.
IV
O homem está sentado na sala do apartamento. Ele olha para o telefone. O telefone preto que está sobre a mesa a um canto da sala do apartamento. Ele olha triste, cansado do silêncio preto do telefone. Cotidiano como um homem triste que espera, que olha pro mar, põe gel no cabelo e lembra os telhados de uma cidade. Sozinho como um homem que se olha no espelho marcado pelo tempo. A janela está aberta. Por ela entra uma brisa amena. Por ela sai uma música romântica e triste. Que fala de uma paixão impossível. O homem olha para o telefone. Olha longe, fundo, através e triste. Desiste mais uma vez. Sai batendo a porta do apartamento, sem nenhuma vontade de recomeçar. Quando entra no elevador, o telefone toca. Mas ele não escuta. E, mesmo que escutasse, não daria tempo de ir até o térreo e voltar para atender.
V
O homem está sentado à proa de um grande navio. Ao sol. Ele dorme e sonha. No sonho ele é um homem velho, que sobe uma montanha com um homem jovem pela mão. Ele está tentando falar da beleza para o homem jovem, mas esse não pode entendê-lo. O homem pensa na verdadeira beleza, universal e absoluta. A beleza idealizada e perpetuada pelos gregos, esculpida pelos escultores, gravada pelos gravadores. Vem-lhe à mente a beleza do cinema italiano, francês, do moderno cinema espanhol. Nada. Ele fala às pedras da montanha. No sonho, o homem jovem não pode conceber a beleza. E o homem velho escuta o eco que repete ao longe a palavra beleza, beleza, beleza. O homem acorda com uma certa angústia e se pergunta se vale a pena recomeçar.
VI
O homem está sentado à mesa de um café. A mesa de sempre, no café de sempre. Ele olha para a porta. Olha através, como de costume. Todas as pessoas foram embora, o homem está sozinho e tonto dentro do café. A porta se abre e entra um homem vestindo um jeans surrado. O homem de jeans surrado se aproxima do homem e para em frente a ele. Pega-o pelo braço com uma violência breve. O homem não está entendendo nada quando a porta se abre novamente e entra um terceiro homem de paletó preto com flores na mão. Era quem o homem estava esperando. O homem de jeans surrado beija a boca do homem. O outro, de paletó preto e de boca aberta, deixa as flores vermelhas caírem no chão branco e preto do café. Sem entender nada também. Termina o beijo seco de violência contida. Os três homens se olham breves. Rápidos. O homem de paletó preto sai, batendo a porta do café. O de jenas surrado o segue violento. O homem, atônito, olha para a porta e para as flores vermelhas, paralisado. Cai de joelhos no chão branco e preto do café e chora sobre as flores vermelhas. É convidado a sair soluçando e sem a menor vontade de recomeçar.
VII
O homem está sentado. Ele nada espera. Apenas bebe. Uísque. Ele não olha pra nada. Apenas sonha. Tem os olhos tristes, está de partida. Fuma cigarros light. Pensa em telhados, pontes, esquinas. Cafés e aeroportos. Mais uma vez vai deixar alguém, uma cidade, uma série de coisas. Está sozinho e não quer a companhia dos vizinhos, que batem à porta e lhe oferecem chá. Ele só quer mais gelo. Que lhe dêem o seu gelo e se vão. O uísque desce apertado sem gelo. Agora começa a descer melhor. O homem está mais bêbado. A sala gira. O ano passado gira na sua cabeça. Nada para o ano que vem. Ele não pensa em recomeçar. Mas é disso que se trata o seu momento. De coisas que começam e que terminam.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010


FACEBOOK
Adoro. Sou viciado. Entro várias vezes por dia. Fiz amigos, reencontrei amigos de antigamente, fiquei sabendo de eventos, festas, shows, espetáculos. Troquei idéias. E continuo fazendo tudo isso. Mas, de um tempo pra cá, além de tudo o que citei, o Facebook tem, também, me irritado... E muito! Por que motivo algumas pessoas sentem necessidade de postar absolutamente TU-DO o que pensam e fazem a cada cinco minutos? Tá, eu sou seu amigo, mas, desculpa, eu não quero saber se o aeroporto está parado e você está há não sei quantas horas esperando, puto com a companhia aérea! Nem quero saber quanto você pagou por um lanche ou cafezinho que achou carissimo! Não quero saber se você já chegou da academia e agora vai dormir!! Dorme logo, não precisa avisar os seus mil setecentos e cinquenta amigos. Sim, porque essas pessoas, em geral, tem muuitos amigos. Coisa chata. Mas nada me irrita tanto quanto a quantidade exagerada de erros de português que são cometidos diariamente pelos facefriends. Que vão dos mais banais, como trocar “demais” por “de mais” e “mas” por “mais”, até grosseiros como Natal com “o” no lugar do “l” e solteirice com dois “esses”. Já imaginaram o horror seria receber um a mensagem de “Feliz Natao”? Deus nos livre da “solteirisse”...
E o cúmulo da falta de assunto? Desejar bom dia no Facebook! Ou, pior, bom dia galera... E os que postam a agenda do dia? Tipo: Já malhei, fiz aula de canto, agora é só almoçar, depois sessão de fotos e, mais tarde, espetáculo. Será que isso faz com que as pessoas se sintam mais úteis ou ocupadas? Não sei, algo me diz que se elas fossem realmente ocupadas, não teriam tempo de postar tanto...E as fotos com famosos? Como se fossem íntimos, colocam legendas do tipo: Eu e Fulaninho, ao invéz de Fulano de Tal e eu. Algo como Eu e Bruninho, no lugar de Bruno Gagliasso e eu... E os artistas sem noção, que divulgam o trabalho fazendo, eles próprios, os elogios? Sem falar nas eternas citações de poetas, músicos e escritores em geral. Acho que o criador do Facebook queria saber o que cada um pensa ao colocar o box com a pergunta: No que você está pensando agora? Não? Parece que não, por que é um tal de Clarice Lispector isso, Mario Quintana aquilo, Cazuza aquilo outro, pílulas de Caio Fernando Abreu... Vamos deixá-los descansar!
Antigamente, no Brasil, tudo acabava em pizza. Agora, sem dúvida, tudo acaba em reallity show. Eu acho de uma cafonice sem tamanho expor, dessa maneira exagerada, a própria vida na internet. Mas... É o que temos para o momento! Ah! E desculpem o mau humor. É que ta chovendo na praia! Kkkkk...
Na foto eu, expondo a minha própria figura, na imagem que ilustra os meus perfis do Facebook e do blog. By Priscila Prade.

domingo, 19 de dezembro de 2010


BODAS DE PAPEL
Hoje o blog está completando um ano de existência. Um ano que me relaciono com esse veículo. Nossas Bodas de Papel. Quando ele nasceu, há exatamente um ano atrás, o primeiro post que escrevi foi sobre a minha saída da Terça Insana. E eu nem acredito que já faz um ano... Foi um ano intenso, vivido. Ou melhor, bem vivido. Viajei muito, uma das coisas que mais gosto de fazer na vida. Fui a Porto Alegre, ao Rio, à Bahia, a Paris, a Camburizinho, a Ilhabela, a Palmas, à Praia Grande, à Serra Gaúcha. Conheci pessoas, lugares, fiz novas amizades, retomei amizades antigas, superei alguns medos, ajudei pessoas queridas, perdi algumas outras, assisti a muitos shows e espetáculos, saí muito e bebi pra caramba... Mas fiz check up e está tudo bem, graças a Deus! E por falar em viagens, estou comemorando o aniversário do blog em Ilhabela, minha mais recente paixão. É a terceira vez que venho esse ano... Amei 2010 não só por ter criado e alimentado o blog, mas, também, por tudo isso que citei, muito mais, e, sobretudo, por ter sido a primeira vez em que tirei um ano sabático na minha vida. Ficar um ano inteiro sem trabalhar é um luxo. Acho chique. Acho digno. É claro que fiz umas coisinhas picadas aqui e ali, mas nada que me tomasse tempo demais ou descaracterizasse a “sabatice” do meu ano... Fiz alguns shows na Terça Insana substituindo atores, gravei um telefilme para a TV Cultura, escrevi alguns textos e dei algumas entrevistas. Corri, nadei, andei de skate e de bicicleta. Mas o que me manteve, digamos, conectado, foi, sem dúvida alguma, o blog. Escrever, mesmo que sem um compromisso profissional, uma remuneração, é um exercício maravilhoso. Eu encarei o blog como um trabalho sério, ao qual me dediquei com o mesmo afinco que me dedicava a todos os outros trabalhos. Me mantive informado, atualizado, curioso e sempre cheio de novidades para dividir com os leitores. Nos meses de maio e junho, por exemplo, quando passei quarenta dias em Paris, escrevi dezessete posts contando o que via, assistia, descobria por lá. O mesmo aconteceu em todas as outras viagens que fiz e também no tempo em que fiquei em São Paulo. Hoje já são 92 seguidores, que já expressaram suas opiniões através de 322 comentários nas mais de 7 mil visitas à página. Nada mal pra um aninho, né? Através do blog fui convidado por André Fischer para escrever uma texto para a sessão Crônica, da Revista Junior, que foi publicado na edição de junho com o título “Amigas”e que pode ser lido aqui no blog também. Bom, espero que o blog continue me mobilizando e rendendo ainda mais frutos do que nesse primeiro ano de existência. E que continue sendo um prazer alimenta-lo. Obrigado a todos os que o lêem, seguem, comentam. E Feliz 2011 pra todos nós! Ou, como dizem os franceses, Bonne Année!
Falando em Bodas de Papel: Na foto, eu, de Mestre de Cerimônias, papel que me cabe como uma luva.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010




PAULISTA OU DISNEY?
Como já cantou exaustivamente Simone durante váários anos: Então é Natal. E as cidades se iluminam para festejá-lo. Comemorá-lo. Em tempos de sustentabilidade, nada mais insustentável, tal o desperdício de energia, etc. Mas, quer saber? Um desperdício de vez em quando até que é bom! O ano tá acabando, vamos nos permitir. Eu tenho amigos que ficam putos com o trânsito que não anda na região da Avenida Paulista e adjacências. Sem falar na árvore do Ibirapuera e do show de luzes e águas dançantes. É fake? É. Aqui nos trópicos não tem neve, renas nem trenó. É cafona? É. Mas não é lindo? É! E mágico e poético e, pra mim, muito emocionante. Como não lembrar da infância, da expectativa dos presentes, da reunião familiar, da ceia, do champanhe... Eu me joguei, a pé, naturalmente, na noite iluminada e quente da Paulista e me senti em Soledade, ainda criança, saindo à noite para tomar sorvete e ver as luzinhas do Natal. Claro que guardando as devidas proporções, já que na Soledade da minha infância a decoração de Natal era beem mais simples que a de São Paulo de hoje. Ainda mais esse ano que o Kassab deu uma boa exagerada... Fim de ano é normalmente uma época de fazer balanços, repensar atitudes, rever o que se fez e projetar o que se pretende fazer. Já temos tantos problemas, tantos motivos de preocupação, pra que, então, se estressar com desperdício de energia e trânsito noturno? Acho que é bem melhor programar os horários e itinerários, de modo a evitar os engarrafamentos, e se deixar levar pela beleza fake das luzes do Natal. Joyeux Noel!
Na foto, eu, bem pimpão, entre as luzes do Trianon.

domingo, 12 de dezembro de 2010


BAZAR DA RITA
E São Paulo não pára meeesmo! O mês de dezembro, então, é uma loucura. Não dá tempo pra conferir tudo o que acontece na Paulicéia. Dias de muito calor, como eu nunca havia visto igual desde que mudei pra cá, há catorze anos... Ontem à tarde fui visitar, com meu amigo Cabral, no Club Lions, a Expo+Bazar das históricas roupas e figurinos da diva do rock brasileiro Rita Lee. Desde criança - acho que tinha uns onze ou doze anos quando saiu o LP Fruto Proibido, com a lendária Ovelha Negra - que caí de amores pela “menina loira da cidade industrial”, como cantou Gil em Os Doces Bárbaros. De lá pra cá minha paixão por Rita se manteve através de décadas. Com altos e baixos, como toda história de amor. Camila Fremder, a fofa nora de Rita, organizou, com a ajuda do Caio Gobbi, uma tarde deliciosa, com ótimos drinques servidos no open bar, na qual a gente se deleitava vendo face to face os históricos modelos usados por Rita desde o tempo dos Mutantes. Fiquei meio bobo enquanto olhava cada peça e ia lembrando onde eu havia visto Rita usá-las. A exposição/bazar reunia desde roupas pessoais e figurinos de show até instrumentos e objetos de decoração. Não comprei nada porque tudo o que gostei muito era caro. Mas me diverti experimentando algumas peças como um fraque de cetim cor de rosa que me serviu como uma luva... Ah! E descobri que o famoso macacão que Rita usou no show Lança Perfume, que eu pensava que tinha sido feito por Clodovil, foi, na verdade, comprado por Rita em uma loja de Nova Iorque que ela adora. Eu nunca tinha ido ao Club Lions e conhecê-lo foi também muito bacana. O lugar é lindo, com aquele glamour retrô que remete ao charme do centro de São Paulo de antigamente. Aliás, saindo de lá caminhamos, Cabral e eu, por várias ruas do centro. Nos fins de semana é bastante tranquilo e você pode admirar a arquitetura de Artacho Jurado, os viadutos antigos e o mural de pastilhas de Di Cavalcanti no prédio do Novotel Jaraguá, antiga sede do jornal O Estado de São Paulo. Tudo isso ainda embalado pelo clima do documentário L'Amour Fou, o Louco Amor de Yves Saint Laurent, a que assisti na sexta-feira e que me deixou, pra dizer o mínimo, tocado. O filme mostra a relação de décadas do estilista com Pierre Vergé, suas incríveis casas, viagens e a famosa coleção de obras de arte, leiloada por Pierre após a morte de Yves. Luxo e baladas fortes em combinação explosiva. Imperdível. No mais, muitas pedaladas de bicicleta pela cidade e banhos de sol e piscina. Bon été à tous!
Na foto, o incrível macacão usado por Rita em Lança Perfume. Que não estava à venda...

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010


JE NE SUIS PAS OBLIGÉ...
Eu não sou obrigado, diz o título do post. En français, bien sûr. Meu personagem Betina Botox, que costuma dar três razões para tudo o que afirma ou faz, sempre utiliza essa expressão como a terceira delas. Claro que em português e no feminino: E três porque eu não sou obrigada! Tudo isso é para dizer que eu não tenho paciência para essa invasão do alheio promovida por determinadas redes sociais como o Twitter, por exemplo. Nunca tive um, nem sei como funciona e nem quero saber. Mas recebi uma mensagem de uma fã no Facebook, rede na qual possuo um perfil, dizendo que desde que saiu do Twitter não falava mais comigo e que sentia falta dos papos que tinha lá com a Betina Botox, meu personagem. E citou assuntos e histórias que jamais sairiam da boca da Betina, que é uma personagem séria, apesar de hilária, e cujo mote é sempre cidadania, inclusão social, militância pela diversidade, e, no máximo, amenidades como moda, comportamento, televisão, cultura em geral. Conclusão: alguém habita o tal Twitter com um falso perfil de Betina Botox falando, com certeza, as maiores baixarias. Pra quê? Se não tem capacidade de criar algo próprio que seja relevante, recolha-se à sua insignificância! De que adianta a pessoa pretender dizer algo através de outrem? To muito indignado com isso. Especialmente por a Betina ser um personagem pelo qual tenho muito carinho e apreço. É um personagem que tem conteúdo, relevância. Recebo milhares de mensagens de jovens gays e de pais de jovens gays que são extremamente agradecidos a mim por tê-lo criado. Recebo, inclusive, mensagens de professores que utilizam o vídeo da Betina em sala de aula para vários esclarecimentos. Até mesmo de português, por causa da crítica ao uso do gerûndio. Aí vem um babaca qualquer falar porcarias através dela. É nojento, revoltante. Se alguém que ler esse post por ventura for usuário do Twitter, por favor, divulguem lá que Roberto Camargo e seu personagem Betina Botox não o são. Merci beaucoup!

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010


ASSIM SEM VOCÊ...

Ontem fui assistir ao show – melhor dizer concerto – de Cesar Camargo Mariano no Sesc Vila Mariana. Belíssimo. Cesar, além de dominar com maestria a técnica de seu instrumento, emociona. E o convidado especial da noite, o contrabaixista Arismar do Espírito Santo, foi, digamos, a cereja do bolo, que tornou tudo ainda mais sofisticado. Eu viajava escutando a música de Cesar e não conseguia deixar de pensar em Elis ali, ao seu lado, encostada no piano cantando As Aparências Enganam, como no show Essa Mulher, a que assisti em 1979, em Porto Alegre, no Teatro Leopoldina, ou então cantando Aos Nossos Filhos, como no show Saudade do Brasil, a que assisti em 1980 no Canecão... César, além de excelente pianista, tem humor. Conta histórias, conversa com a platéia. Uma das histórias que ele conta é justamente sobre o show Transversal do Tempo, de Elis. Me deu uma imensa vontade de que sua filha Maria Rita adentrasse o palco, como uma convidada surpresa, e os dois homenageassem a esposa e a mãe... Fiquei nessa viagem uma boa parte do tempo, avião sem asa, fogueira sem brasa, Buchecha sem Claudinho, sou eu assim sem você...Enquanto o repertório passeava por composições do próprio César, Pixinguinha, Johnny Mandel, Stevie Wonder, Djavan e Ernesto Nazareth. Desse último, ele apresentou Tenebroso, com um arranjo nada tenebroso, pelo contrário, maravilhoso...Foi reconfortante encerrar o domingo com música de excelente qualidade em um lugar tão agradável como o Sesc Vila Mariana...Em janeiro do ano que vem, minha nova musa musical Amy Winehouse vem ao Brasil para uma série de shows, um deles aqui em São Paulo, no Anhembi, mas já decidi que não irei assistir. Não tenho mais paciência (Pra não dizer idade) para grandes concertos. Eles significam aglomeração, calor, falta de ar e eu, pônei que sou, lá no meio do povo sem poder ver nada, apenas pelo telão. Ora, se é para ver pelo telão, prefiro assistir em casa, pela televisão. Shows, pra mim, agora, só em teatros. Já basta a aventura que foi assistir ao mega concerto de Lady Gaga em Paris esse ano...É por isso que agora avião sem asa, fogueira sem brasa, sou eu, Amy, assim sem você!

Na foto, fiz o que pude com minha Samsung digital.

terça-feira, 30 de novembro de 2010


UMA PRAIA DISTANTE & DESERTA...
O mês de novembro chegou ao fim. O ano está chegando ao fim. O verão está chegando. E eu só penso em estar numa praia distante & deserta. Sem maiores interferências urbanas e/ou humanas. Quase selvagem. Humanos produzem lixo e barulho demais. Sobretudo à beira-mar. Gostam de ouvir axé no talo. FM no talo. Beber muuita cerveja. Jogar frescobol. Ou, pior, futebol. E a gente sempre correndo o risco de levar uma bolada na cabeça. Ou, pior ainda, correndo o risco de que te peçam para jogar a bola de volta... Quero sossego. Nunca pensei que, depois de um ano inteiro sem trabalhar, eu ainda estivesse interessado em sossego. Mas é a mais pura verdade. Se hoje alguém me pedisse para citar um artigo de luxo eu, sem dúvida alguma, responderia: Silêncio. Silêncio é bom e eu gosto. E à beria mar, então, ouvindo somente o barulho das ondas, o canto de uma ou outra gaivota que passa... Tá, o tiozinho vendendo picolé, ok. Também não precisa ser TÃO deserta assim, a minha praia distante & deserta. Eu levaria apenas uma caixa térmica com vinho branco no gelo. Ou champanhe. E, claro, taças de cristal. Plástico e bom vinho não “harmonizam”, para usar um termo bem enológico. Algumas frutas, também. Peras, melão orange cortado em fatias. Um livro, de preferência de contos ou crônicas, que, se cansar, dá para interromper a leitura a qualquer momento. Papel e caneta, para anotar as boas idéias. Porque certamente, à beira mar e tomando vinho, elas surgirão. E se não se anota, o vinho sobe e a memória se vai com as ondas. De vez em quando, ao longe, passariam duas crianças brincando. Mas bem ao longe, que é pra não se ouvir os gritinhos. Elas jamais brincam sem gritar. De vez em quando, ao longe, passaria também um ou outro surfista. Mas não tão ao longe, que é pra se poder vê-los melhor... Na cabeça, de vez em quando, a lembrança de uma antiga história de amor. Vivida, de preferência, em um outro continente e já devidamente arquivada na memória como algo que foi bom. E passou. No walkman, de vez em quando também, alguma Ella ou Billie ou Nina ou Amy ou Madeleine Peyroux... E os dias iriam passando assim, devagar, sem vento, sem lenço e sem documento, até que a vontade de sair para badalar, ver gente, assistir a espetáculos ou, simplesmente, trabalhar, se tornasse incontrolável. E eu sentisse, finalmente, vontade de ir embora pra casa deixando para trás a minha bela e inesquecível praia distante & deserta...Para retornar assim que me desse na telha!
Na foto, eu, jovem e barbudo, em alguma praia distante & deserta.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010




WONDERLAND
Uma das piores coisas de se envelhecer é que a gente começa a perder cada vez mais pessoas queridas. É a lei natural da vida, um dia todos vamos morrer. Mas tem umas pessoas que se vão cedo demais! Hoje eu soube, logo pela manhã, que minha amiga Claudia Wonder partira aos cinquenta e cinco. Fiquei o dia inteiro triste, confuso, chateado. Pensando, entre outras coisas, que cinquenta e cinco anos é cedo demais para se partir! Se bem que, embutidos nesses cinquenta e cinco, ela deve ter vivido, pelo menos, uns cento e dez anos. Claudia era sábia. Vivida. Viva. Diva. Culta, inteligente e espiritualizada. Éramos amigos há mais ou menos dez anos. Como rimos, bebemos, brigamos, fizemos as pazes, cuidamos um do outro ao longo desses anos. Quando resolveu voltar para a Suíça, onde vivera durante anos, me deixou a chave da casa, o cartão do banco e a senha. Como éramos vizinhos, todos os dias eu ia lá, abria as janelas do apartamento, molhava as plantas, pagava suas contas. Sempre generosa, quando estava muito feliz, me ligava e dizia: Pega um dinheiro no banco e vai tomar champanhe no Ritz por minha conta... Teve a época em que nosso amigo em comum Edson Cordeiro foi morar no prédio da Claudia, aquele predinho pequeno, de quatro andares, que fica na esquina da Hadock Lobo com a Alameda Franca. Que era mais conhecido como A Prédia, tal a quantidade de gays que nele morava. Éramos os vizinhos inseparáveis. Fazíamos sinais pelas janelas, nos chamávamos, nos reuníamos. A ternurinha Wanderléia mora no prédio em frente e uma vez eu comentei com a Claudia que dois abajures estavam sempre acesos, dia e noite, em seu apartamento. Ao que Claudia respondeu: Será feng shui? Não pude deixar de rir entre lágrimas ao relembrar... Não tive o prazer de assistir às suas antológicas performances no Madame Satã, nua numa banheira de groselha, pois ainda não morava aqui em São Paulo. Mas a Claudia foi responsável por uma grande guinada em minha vida: Eu andava sem trabalho, deprimido e desacreditado de tudo quando ela me levou para conhecer o pessoal do Reiki, que se reunia às segundas-feiras numa casa em Santana. Lá conheci minha mestra Clara Gumiero que, em duas sessões, botou a minha vida nos eixos...
Vai com Deus, amiga. Faz a tua première no céu cercada de luxo e glamour. Finalmente habitarás a tua Wonderland. E que os anjos e anjas de todas as etnias, tendências e sexualidades digam Amém.
Nas fotos: Chamego no dia dos meus anos e pit-stop chez-moi antes de ir para a parada montada com chifres de veado.

domingo, 21 de novembro de 2010


EDUARDO STERBLITCH
Minhas Sinceras Desculpas: Esse é o título do espetáculo do ator Eduardo Sterblitch e também o meu pedido de desculpas. Gostaria de redimir meu mau humor e minha falta de paciência com o “humor em si” manifestados no post HUMOR, de 01 de novembro de 2010. Finalmente surge uma boa novidade no já batido mercado do riso, que está repleto de egos inflados, fazendo tudo o que podem para agradar: Eduardo Sterblitch. Eu já havia testemunhado seu talento no show do grupo Deznecessários, a que assisti há uns dois anos atrás em um bar da Vila Olímpia. Fomos assistir ao show atraídos pela performance do Traficante Gay, então um sucesso no Youtube. O ator que fazia esse personagem não compareceu, pois estava gravando uma novela no Rio, mas a grata surpresa da noite foi, justamente, Eduardo Sterblitch, com seu jeito tímido, às vezes atropelado com as palavras, o que lembra bastante Pedro Cardoso, que deve, com certeza, ser um dos ídolos ou referências do ator, o que se evidencia ainda mais nesse seu trabalho solo. Sei que ele faz alguns personagens no programa Pânico, da Rede TV, ao qual não assisto porque não gosto. Mas posso até desculpá-lo por isso, afinal, artistas talentosos também precisam pagar as suas contas. Eduardo Sterblitch poderia acomodar-se à fama conquistada através da TV oferecendo ao público o que este espera dele: O riso fácil, as imitações de famosos. Mas, ao contrário, prefere, do alto dos seus vinte e três anos, lançar-se ao desafio e fazer o que tem vontade: Um espetáculo no mínimo estranho, contundente, provocador. Não, ele não faz gracinhas. Não imita o Silvio Santos. Não conta piada pronta. Não bebe uísque, como fez no Programa do Jô. E o melhor: Não faz stand-up comedy. Eduardo Sterblitch trabalha com a reversão de espectativas, com a desconstrução, com o anti-espetáculo. Fica, por exemplo, o tempo todo preparando a platéia para a melhor parte do espetáculo, o seu grand finale, sua melhor performance. Mas, quando chega a hora do espetáculo acabar, ele não o faz porque não deu tempo... Ironicamente acho que o momento de ir embora acaba sendo mesmo o melhor momento do espetáculo. Pois a platéia, que foi lá para “rachar o bico” certamente se sente incomodada com ele, que a chama de burra. Sem medo algum. Como uma espécie Andy Kaufman, ele não quer agradar. Não quer aprovação. Deixa isso claro desde o início, quando explica por que prefere começar o espetáculo no canto: Todos começam os seus espetáculos no meio... E o melhor: Seu espetáculo tem banda, mas não é um musical. Aliás, a banda, excelente, fica o tempo todo em cena e toca apenas três ou quatro músicas. Ele justifica: Eu sei que vocês vão sair falando mal. Então coloquei uma puta banda, assim vocês vão dizer: A banda é boa.
Palmas para Eduardo Sterblitch.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010




CAUBY, CAMBUCI E ETC.
Fim de semana intenso, prolongado pelo feriado na segunda-feira. Como é bom morar em São Paulo, que oferece sempre tantas opções de lazer, cultura, entretenimento e o que mais você quiser fazer. Ou ver. Ou ouvir. Ou, então, simplesmente, não fazer. Mas saber que as opções existem é muuito bom. No caso, fiz. E bastante. A agitação começou na sexta-feira à noite, com a festa, para poucos e bons, de aniversário da Cida Moreira, em sua nova casa do Butantã. Muito vinho e risadas, com direito a canjas da própria Cida, Thiago Pethit et moi, modestamente. No sábado fui, com meu amigo Mauro Yanaze, em visita a São Paulo para conferir a Bienal, visitar a Mostra Paralela, no Liceu de Artes e Ofícios. Belas obras de Osgêmeos, Adriana Varejão, Cabelo, Felippe Segall e muitos outros. Vale conferir, em mais ou menos uma hora dá pra ver tudo. E é sempre bom andar pelo centro antigo de São Paulo, a Luz, a Pinacoteca e tudo mais que entorna esses lugares. Domingo foi o dia de Cauby arrasar, no Sesc Vila Mariana, cantando hits do repertório de Frank Sinatra acompanhado de impecável orquestra, ou melhor, big band acústica, sob o comando do maestro Ronaldo Rayol. Cauby continua impecável e é dono de técnica e potência vocais invejáveis nesses tempos de play back e programas de computador que afinam vozes. Esses seus predicados permitem fazê-lo alcançar tons altíssimos sem fazer o menor esforço. E ainda brinca, dizendo: Chega, Cauby. Para, Cauby. Não precisa gritar, é só cantar... Maravilhoso.
Hoje, na segunda feriada, pra arrematar o weekend étendu, fomos, Weidy e eu, aproveitando o sol, passear pelo bairro do Cambuci à cata de grafittis para fotografar. Eu sou grande admirador dessa forma de expressão artística, inclusive já dediquei post aqui no blog especialmente a eles. O post chama-se GRAFITTIS, quem quiser ler é só procurar no arquivo do blog. Mas, enfim, voltando ao Cambuci. O bairro é bastante simples, popular, em alguns pontos pobre mesmo. Mas tem pequenas praças, largos, igrejas, que lembram muito Salvador, lá pros lados da Ribeira. E muitos, muuitos grafittis, principalmente dos Gêmeos que, ao que sei, cresceram por lá e começaram a desenvolver seu trabalho, hoje mundialmente reconhecido, no Cambuci em si... Adoro ficar em São Paulo nos feriadões, quando todo mundo que não interessa sai, deixando a cidade livre pra quem se interessa por ela. Ruas tranquilas, nada de trânsito, uma maravilha. Gosto mesmo é de sair de São Paulo na contra-mão do movimento, entre os feriados ou na baixa estação, o que pretendo fazer essa semana se o tempo colaborar. Agora já estou em casa, ouvindo Robin Thicke, enquanto despejo todas as imagens e informações no computador.
Bonne semaine à tous!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010


TIMIDEZ NO HAPPY HOUR

O título do post sugere um bar, ao entardecer, cheio de gente cabisbaixa, sem coragem de falar uns com os outros, certo? Errado. Refere-se ao programa de Astrid Fontenelle e Fred Lessa, no canal GNT, do qual participei ontem e cujo tema era timidez. Eu, que tenho verdadeiro pavor de TV ao vivo, fui bem feliz - e bastante nervoso - participar desse que é um dos programas mais legais da nossa televisão. Astrid e Fred são dois fofos, que recebem com o maior carinho seus convidados, deixando todo mundo super à vontade. Quando cheguei estava tão nervoso que confesso que não sabia o que fazer com as mãos. Aos poucos fui relaxando e finalmente estava me sentindo quase em casa. Sem falar que fui presenteado com a presença de um dos meus maiores ídolos, trilha sonora viva de toda a minha adolescência e juventude, Milton Nascimento. Acreditem, não é nada fácil, para um tímido como eu, ficar na presença de alguém como ele como se fosse a coisa mais natural do mundo. Não é. Até porque, para mim, Milton não é desse mundo: Ele é um Deus. Fora todos esses grandes prazeres, participar do programa foi terapêutico pra mim, que nunca quis saber de fazer terapia, pois a timidez não me permitiria. Falar abertamente e em grupo sobre um problema é a melhor maneira de fazer com que ele deixe de ser um problema. Trocar idéias com pessoas que tem o mesmo problema que nós, ou saber casos de outras pessoas que também o tem, esclarece e, sobretudo, alivia. É sempre bom saber que não estamos sozinhos nesse mundo... Outro grande prazer que o programa me proporcionou foi conhecer Lazinho, o maquiador. Sabe aquelas pessoas que são história viva do show biss? Lazinho é um arquivo ambulante, um google personificado...
Que chopinho com o pessoal da repartição, o quê! Happy Hour, é com a Astrid...

segunda-feira, 8 de novembro de 2010


DE CORTAR OS PULSOS
No sábado, dia seis, fui assistir, junto com meu amigo Cau Saccol, ao show de Cida Moreira, Canções Para Cortar os Pulsos. O local da apresentação, um pequeno café-concerto chamado Casa de Francisca, é, também, uma atração à parte. Em pleno bairro dos Jardins, na rua José Maria Lisboa, tem-se a impressão de estar num cabaret de Buenos Aires ou num daqueles bares alternativos que havia em Porto Alegre nos anos oitenta, em alguns dos quais já assisti, tempos atrás, a própria Cida se apresentar. Passado o encantamento inicial que a casa provoca, ou melhor, passado não, pois ele permanece: Assimilado o encantamento inicial que a casa provoca, vem, finalmente, a Cida com seu piano a destilar as mais incríveis canções que, como diz o título do espetáculo, nos fazem querer cortar os pulsos. Todos. Vários, muito mais do que apenas dois. Os oito, se fôssemos como os polvos. Entre belas canções de Tom Waits ela nos presenteia, também, com Soul Love, de David Bowie, Youkali Tango, de Kurt Weill, Summertime, de Gershwin e Back to Black, de Ammy Winehouse. Com Curuminha, de Chico Buarque, então, o sangue jorra. Garrafas de vinho são esvaziadas sobre as mesas e as pessoas, embriagadas de álcool e de Cida, não contém exclamações... Eu sou fã dessa cantora desde o início dos anos oitenta, quando a descobri através de seu álbum Summertime, que foi gravado ao vivo no Lira Paulistana e cujo vinil é roxo. Na ocasião, eu ainda morava em Porto Alegre e, felizmente, Cida ia com frequência se apresentar na minha cidade e eu não perdia um show seu. Sempre teatral, ela abria vários desses espetáculos tocando o instrumental A Última Sessão de Música, de Milton Nascimento, e Asa Partida, de Fagner, duas das minhas canções preferidas à época. Lembro de um show de Cida a que assisti em Atlântida, uma praia do Rio Grande do Sul, e, no qual, faltou luz em meio à apresentação. Ela seguiu tocando e cantando, mesmo no escuro, e os donos da casa foram colocando velas à volta da cena, formando uma espécie de ribalta, na qual Cida brilhou ainda mais e tudo ficou muito mais emocionante... Recentemente eu tive o prazer de começar a fazer aulas de canto com ela, o que me enchia de felicidade pois, além de estar exercitando o canto, eu tinha o prazer de conviver com essa que sempre foi uma das minhas cantoras preferidas. Mais recentemente ainda, em agosto do ano passado, quando eu ainda estava na Terça Insana, tive a honra de dividir o palco com ela no espetáculo Terça Insana Cabaret, que criamos juntos, no qual ela fez a direção musical e nos acompanhou ao piano. Cida é uma cantora rara, que não se submete às normas do mercado, faz sua própria trajetória musical cheia de liberdade e sempre com um sentido de pesquisa de repertório que é extremamente enriquecedor. Quando ela abre seu baú de pérolas do cancioneiro nacional e internacional, não tem pra ninguém: É autoridade.
Ah! Esqueci de dizer que guardo até hoje o vinil roxo de Summertime e que, recentemente, em um show que Cida fez no Itau Cultural junto com o Arthur de Farias, eu levei o álbum e ela o autografou para mim. Escreveu: Roberto, um beijo da Cida. E, ao colocar a data, ao invés de por o ano em que estávamos, escreveu: 1981. O ano em que o disco foi lançado... Só a Cida!

sábado, 6 de novembro de 2010


BEIJO BANDIDO
Ontem assisti, pela segunda vez, ao show Beijo Bandido, de Ney Matogrosso. O show anterior, Inclassificáveis, assisti três vezes. Uma delas, no Canecão, na companhia da minha amiga frenética Lidoka e do inesquecível Ezequiel Neves. Sou muito fã de Ney. Desde pequeno. Ou melhor, desde criança, porque pequeno ainda sou... Eu devia ter de seis para sete anos quando os Secos & Molhados estouraram e ficava impressionado em frente à TV preto e branco assistindo às suas performances arrasadoras. Lembro que na Páscoa juntávamos cascas de ovos ocas para depois pintá-las e decorá-las com motivos como coelhinhos, pintinhos e etc. e recheá-las com amendoins. Eu fiz uma casca de ovo com a maquiagem que Ney usava nos Secos & Molhados, com direito a purpurina e rabo-de-cavalo preso na parte de trás da cabeça... Até hoje Ney é um artista que admiro. Sigo. Consumo. Ele é um artista no qual me espelho. Quero ser como ele quando crescer. Ter a sua coragem, seu carisma, sua capacidade de entrega. Ney é o show man. O homem espetáculo. Quando ele mostra um pedacinho do ombro sob o paletó, a platéia vem abaixo. E, em meio à ovação, alguém grita: Tira tudo!! Ele ri, faz uma cara sexy e continua o show como se nada tivesse acontecido. Só que tudo está acontecendo. Principalmente na cabeça das pessoas que, através de décadas, seguem tendo Ney como seu símbolo sexual. Já estive com ele, pessoalmente, algumas vezes, através de nosso amigo em comum, Ocimar Versolato. Só que, como sou muito tímido e acho que ele também é, a coisa nunca foi muito além dos cumprimentos e parabéns. De ambas as partes, pois ele também já foi me assistir na Terça Insana. Ney sempre me inspira. Ano passado comprei uma caixa com dezessete CDs, chamada Camaleão, que traz seus álbuns dos anos setenta, oitenta e noventa. Adoro escutar sua gravação de Bandido Corazón, de Rita Lee. Ou O Tic Tac do Meu Coração, hit de Carmen Miranda. Todo artista tem altos e baixos na carreira. Ney parece ter somente altos. É uma máquina de fazer sucessos. Mesmo quando as canções são todas inéditas, ele canta e as transforma, imediatamente, em hits. Nunca vi rastro de cobra, nem couro de lobisomem. Mas vi, vejo e verei, para sempre, Ney Matogrosso...
Acabei nem falando do show Beijo Bandido, título do post... Vão assistir!
Ah! A foto fui eu que fiz...

segunda-feira, 1 de novembro de 2010



HUMOR
O humor está perdendo a graça. Se banalizou. Chegou no camelô, como gosto de dizer quando algo está em toda a parte. Ta igual àquele coraçãozinho que as pessoas fazem com as mãos. Ou, sei lá, calça saruel. Melhor: Restaurante a quilo. Vocês já se deram conta de que agora tudo, absolutamente TUDO é humor? A MTV, por exemplo, deveria mudar o nome para HTV. Pois música é o que menos tem lá. Já humor... E o triste nisso tudo são as confusões que as pessoas fazem, apropriando-se de formas, tipos, estilos, como se houvesse uma fórmula para se fazer humor ou o que quer que seja. O humor virou moda. E, como toda moda, vai passar. E eu, como gosto de estar sempre à frente da moda, estou torcendo para que passe logo. Não quero mais rir. Chega! Não posso mais ouvir falar na expressão “stand up”. Sobretudo quando pronunciada com sotaque de mano paulista, seguida do não menos batido "tá ligado?". Algo como: É isteindápi, tá ligado? "Mó" engraçado... Meu próximo espetáculo quero fazer deitado, pra deixar bem claro que não é stand up. Aliás, será que alguém aqui no Brasil, além da Agnes Zuliani e, claro, dos pioneiros Agildo, Miele, Chico e Jô, sabe exatamente o que quer dizer stand up? Não a tradução literal, evidentemente. Por sinal, erro muito comumente cometido por parte dos ditos "stand upers", que chegam a declarar que stand up comedie significa comédia em pé. Pior ainda é dizer que o espetáculo é um “stand up de personagens”. Hello! Isso não existe!! É o mesmo que dizer que o restaurante é vegetariano com carne... Dizem que rir é o melhor remédio e eu concordo. Acredito que realmente é. Também acho que, para dormir, Lexotan é o melhor remédio. Mas já imaginaram tomar uma caixa inteira de Lexotan? Não dá, né? Outro dia dei uma entrevista para a revista Júnior, cuja matéria seria sobre atores que fazem espetáculos solo. Antes de dar a entrevista disse que ainda não havia feito um solo, só poderia falar da minha experiência na Terça Insana, que era composta de vários pequenos solos de diferentes atores. Ok, concordou, concordei, concordamos. E adivinha qual foi o título da matéria? Os reis do stand up! Eu nunca fiz stand up na minha vida! Sou tímido demais para isso. Mas até explicar que focinho de porco não é tomada, eu desisto e fico na minha. Torcendo pra que essa onda passe!
Na foto, a maravilhosa Dercy Gonçalves de MAU humor. Com “u”, tá? Porque mal com “l” é o contrário de bem...

quarta-feira, 27 de outubro de 2010


ADIANTADO

Eu sempre fui uma pessoa adiantada. Ou seja, alguém que chega aos seus compromissos ANTES da hora marcada. O que, nos dias atuais, já me transforma de cara num espécime raro, como se eu fizesse parte de uma espécie ameaçada de extinção. E o mais estranho de ser um cara adiantado é que parece que o mundo inteiro, ou pelo menos todas as pessoas que você conhece, tem um ritmo, e só você tem outro completamente diferente. Eu sempre fico pronto pra sair antes, eu sempre chego aos meus compromissos antes, e mesmo quando quero chegar atrasado, o máximo que eu consigo é chegar na hora. Eu cresci ouvindo meu pai dizer - quer dizer, eu não cresci. Eu ouvi meu pai dizer a vida inteira que a hora não é na hora e sim antes da hora. E acho que isso ficou gravado no meu subconsciente, porque não é uma coisa que eu provoque deliberadamente. Quando vejo eu to lá, pronto. Teste, por exemplo. Quando me chamavam pra um teste de comercial eu ia sempre pela manhã, pra me livrar logo. Mas não é que eu chegasse lá antes da hora do teste: eu chegava antes do equipamento! Não tinha nada lá quando eu chegava! Às vezes nem o porteiro sabia que ia ter um teste naquele lugar e eu já estava lá. Sexo: se eu to transando com alguém...Não, isso não quer dizer nada. Será? Vamos ver um outro exemplo: Festa: eu sempre sou a primeira pessoa que chega nas festas! E eu não sei o que faço, porque os donos da casa, que nem terminaram de se vestir para a festa, me vêem chegando e dizem: Ah, você já é de casa, fica à vontade! E eu fico lá, torcendo pra que a festa comece logo. E ainda dizem que apressado come cru. Mentira! Apressado passa fome! Ou você acha que alguém tira a carne do freezer e me serve quando eu chego adiantado num churrasco? Eu tenho amigos que estão sempre atrasados. Quando eu combino alguma coisa com eles, marco um horário falso, mais ou menos uma hora antes do horário real, pra ver se a pessoa consegue chegar pelo menos em cima da hora. Eu já cheguei a ter crises existenciais com isso, pensando que eu não tenho nada pra fazer na vida, que eu sou um desocupado, afinal como é que as pessoas correm tanto, estão sempre atrás do relógio e eu estou sempre na frente, com tempo sobrando? Mas aí eu me dou conta que as pessoas atrasadas estão sempre atrasadas, mesmo quando elas não estão fazendo nada. E que eu estou sempre adiantado, mesmo quando eu tenho muitas coisas pra fazer. Às vezes eu chego a fazer cálculos mirabolantes do tipo: e se eu fosse morar nos Estados Unidos durante o horário de verão? E se eu mantivesse o meu relógio atrasado uma hora em relação ao horário de Brasília? E se eu fosse morar na Bahia, afinal, lá não tem horário de verão; mas lá é tudo mais lento, não ia adiantar nada. O fato é que o tempo passa. Ou melhor, como dizia Cazuza, não pára! E, graças a esse passa-passa enlouquecido do tempo, a gente vai ficando cada vez mais velho. Só espero que eu não envelheça ANTES de todo o mundo.

domingo, 24 de outubro de 2010











RIO ENCORE ET TOUJOURS...
Me voilà outra vez no Rio de Janeiro. Fui, com minha amiga Shala Felipi, assistir ao espetáculo infanto-juvenil da Cia. Druw chamado Vila Tarsila. Uma viagem lúdico-imagística pelo universo da pintora brasileira Tarsila do Amaral, na qual adultos e crianças tem a possibilidade de adentrar suas formas abstratas, suas atmosferas míticas, e conhecer os animais, plantas e seres imaginários que habitavam suas telas. Tudo muito bem embalado em belos figurinos, projeções, luzes e trilha sonora. Excelente programa para o après-midi. Depois fomos, com os bailarinos que integram o elenco, à Confeitaria Colombo do centro, e todos os que ainda não a conheciam ficaram de boca aberta com seu glamour art-nouveau. E, claro, com seus doces e milk-shakes de café. Antes do espetáculo, Shala e eu havíamos passado no Bar Luiz para tomar um chop e comer o mix de mini-salsichas alemãs com mostarda. O Luiz está firme com suas portas abertas no centro da cidade desde quando Dom Pedro II ainda era o imperador do Brasil e o Rio de Janeiro, sua capital federal. Vale conhecer. À noite fomos ao Galeria, em Ipanema, para a exposição dos jeans customizados de Claudio Tovar, ex-Croquette que continua mais Dzi do que nunca, recebendo animadamente junto com a sempre fofa Lucinha Lins em coquetel regado a champanhe e o lançamento da noite: Absolut de pera. Uma perdição. Nem preciso dizer que saímos de lá um pouco altos... No mais, muitas pedaladas na bike da Shala pela orla, com direito a por do sol seguido de lua cheia banhando o mar com luz prateada. Desculpem se soa cafona, mas tem momentos na vida em que a gente precisa rebuscar a linguagem e abusar dos adjetivos... Senão, quem está lendo não tem idéia do que se passava no momento. À bientôt!
Nas fotos, pela ordem: Cena do espetáculo Vila Tarsila, interior do Bar Luiz, os espelhos da Colombo e detalhe de um dos jeans do Tovar.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010


AU REVOIR, PORTO ALEGRE!

A Volta ao Lar. Esse é o título de uma peça de Harold Pinter, em cuja montagem carioca, de 1992, trabalhei como assistente de direção de Luiz Arthur Nunes. No elenco, o já saudoso Sergio Viotti, Antonio Caloni, Vera Holtz, Marcos Breda e Marcelo Picchi que, antes da estréia, deixou o projeto e foi substituído por Mario Borges. Eu acabara de voltar de Paris, onde havia morado por um ano, e esse foi meu primeiro trabalho profissional pós-fase européia. Mas não é desse projeto longínquo que quero falar aqui no post. Foi apenas um instante de memória motivado pelo tema: Partir, retornar. Quero falar da minha volta ao lar. Ou melhor, das minhas. Eu, que adoro viajar e estou sempre indo e vindo, me pego agora no avião, voltando pra São Paulo depois de duas semanas em Porto Alegre, pensando que o bom das viagens não é somente o tempo que as antecede, durante o qual projetamos tudo o que pretendemos fazer no destino final e tudo o que desejamos que venha a acontecer. E não apenas o tempo que permanecemos no local para onde viajamos, com tudo o que ele possa trazer de bom e proveitoso para nós. Mas, também, a volta para casa. Daí a lembrança da peça de Pinter. É sempre bom voltar. Nunca se volta igual ao que se era antes de partir. Muito da viagem volta para casa conosco. Na memória. No corpo. No coração. Isso sem falar nas compras e nos souvenirs. Eu volto ao lar trazendo a alegria dos momentos vividos junto a familiares e amigos. Trazendo a satisfação de ter matado saudades. Trazendo a surpresa de ter conhecido pessoas encantadoras. A lembrança de um aroma, de uma imagem, um entardecer, um céu estrelado, uma árvore florida, um bom vinho, vários bons vinhos, medos superados, canais tratados, experiências vividas. E volto trazendo a expectativa de matar a saudade do que deixei. De quem me espera. Do meu lar. Volto para partir sempre. E sempre retornar...Como já disse Hemingway, Paris continua dentro de nós. É verdade. E não apenas Paris, mas todas as cidades por onde passamos continuam, para sempre, dentro de nós.
Au revoir, Porto Alegre! Et à bientôt...
Foto no aeroporto de Porto Alegre by Guto de Castro.

terça-feira, 12 de outubro de 2010





OCIDENTE
Porto Alegre tem um bar chamado Ocidente. Desde 1980! Eu comecei a frequentar o Oci, maneira íntima como o tratávamos, em 1983. Não que antes disso eu ainda não saísse na noite. É que não tinha coragem de ir ao Ocidente. Passava em frente olhando pra cima, pras janelas do casarão, via uns panos pendurados no teto, como se fossem tendas, e, não sei porque, morria de medo. Achava, sei lá, que era um antro de perdição. Quando finalmente tive coragem de entrar, uma agradável surpresa: Era de fato, o que eu pensava. E eu adorei! Virei frequentador assíduo... Gostava de chegar cedo, logo que abria e ainda estava vazio, sentar junto ao balcão e ficar vendo as pessoas chegarem, começarem a beber e, finalmente, se soltarem na pista. No ano de 1985 eu comecei a ir ao Oci com meu amigo Paulo Vicente e ficávamos tomando gim tônica. Sempre no balcão. Acho que é por isso que até hoje adoro um balcão de bar. Lembro que o Paulo ia de calça jeans e, no lugar da camisa, um antigo maiô de cetim preto da mãe dele e uma estola de peles. Sensação total pós-Croquettes... Muita Madonna nas pic-ups e a Gorda, apelido da atriz Eliane Steinmetz, se vestia como a própria, da fase rendas e cruzes, Procura-se Suzan Desesperadamente... A frequência ia sempre mudando, se reciclando, punk, dark, gay, descolada. Lá por oitenta e seis, tive minha fase dark, só usava preto, da cabeça aos pés. Ah, e o Ocidente também serve almoço, durante o dia. Lembro de uma época em que o roqueiro Ratão era garçon e eu ia almoçar com meu amigo João Faria, hoje morando em Paris. Lembro, até hoje, dos diálogos. O Ratão perguntava: o que vocês vão beber? João respondia: Tu me vê uma pepsi. Ao que o Ratão, sem a menor paciência, retrucava: Faz anos que essas bichas vem aqui e ainda não sabem que só tem Coca! E o João: Tu me respeita! Hilário... Aliás, são tantas histórias que um post seria pouco. O Ocidente se mantém vivo, acompanhando todas as modas, tendências, sempre se renovando. Lembro da estréia do Viva a Gorda, programa de auditório performático da já citada atriz, em que participei no quadro Concurso do Melhor Rambo: Três concorrentes magrinhos e baixinhos, vestidos como Sylvester Stalone no filme homônimo, desfilando com metralhadoras de plástico... Lembro de muitos shows, performances e espetáculos a que assisti no Oci. Como o Falcão, impagável, fazendo a Maria Bethânia. Aliás, Betânia, sem agá, nascida em Bajé e migrada para a Bahia no lombo de um burro... Saudade do Fonso, com seu delicioso mau humor. Depois que eu já estava morando em São Paulo, quando chegava em Porto Alegre e ia ao Ocidente, ele fazia a maior festa, quanto tempo, tudo bom, beijo e etc. Na segunda vez que eu ia ele já dizia: Não vai mais embora? Ta morando aqui de novo? Faz muita falta aquela cara redonda atrás do balcão... E o Toni, que quando voltei ao Oci depois de muito tempo sem vir e pedi champanhe, mandou essa: Que champanhe? Tu sempre tomou cerveja! Além de famoso ficou metido?
Esse ano o Ocidente completa trinta anos, com o Fiapo comandando tudo do alto da sala VIP, firme sobre o sobradinho da Roseka, a loja de lingerie que ficava no térreo. E eu sempre adoro revê-lo...

segunda-feira, 11 de outubro de 2010






VINHOS E ETC...
O fim de semana enológico começou na quinta-feira à noite, com um curso introdutório à cultura do vinho seguido de degustação, na loja Sommelier Vinhos, aqui em Porto Alegre, presente que ganhei da minha irmã Raquél. O curso, uma palestra de duas horas de duração, é bastante interessante para situar os apreciadores da bebida em seu contexto de origem, história, produção, conservação, tipos de uvas, e, finalmente, como saboreá-la. A melhor parte da aula! Brincadeira...
No sábado fomos, com nossas amigas Lúcia e Lica, até a cidade de Bento Gonçalves, para fazer o passeio de Maria Fumaça e visitar o Vale dos Vinhedos. Tudo regado a muitas degustações (A palavra que predominou no fim de semana)... Conheci a simpática cidade de Monte Belo do Sul, com sua bela igreja e lindos vitrais. Era fim de tarde, o sol começava a baixar e os jovens da cidade estavam reunidos na praça central, ouvindo música, bebendo e conversando, tal como eu e meus amigos fazíamos na praça de Soledade...
O passeio de Maria Fumaça é uma atração incrível, com direito a performances de músicos, cantores e atores, que se revezam em pequenas apresentações ao longo dos vagões. E, claro, degustações de sucos de uva e espumantes. E, por falar na palavra predominante do fim de semana, tivemos a oportunidade de visitar os Cogumelos da Serra, uma pequena produção de champignons onde seu produtor mostra os cogumelos sendo cultivados e todas as partes do processo de criação até finalmente poderem ser adivinha o quê? Degustados!
O hotel onde nos hospedamos, o Villa Michelon, bastante agradável e acolhedor, tem, na sua recepção, uma gatinha malhada, de três cores: branco, preto e amarelo, que recebe os hóspedes com charme felino encantador. Falar de todos os restaurantes onde comemos exigiria um post à parte. Mas vou dar destaque ao espaço gastronômico Casa Vanni, que fica nos Caminhos de Pedra, uma típica casa de imigrantes, de madeira, que abriga delicatessen, café e, no porão, uma agradável surpresa: em meio a tantos rodízios temáticos característicos da região, um inesperado e bem vindo bistrô, à la carte, com poucas opções de pratos no cardápio, excelente comida, bebida e atendimento. Sentamos a uma curiosa mesa cujo tampo, de vidro, fica sobre um antigo poço, daqueles utilizados para se beber quando ainda não havia água encanada.
Mas a grande atração do fim de semana, sem dúvida nenhuma, foi a paisagem da Serra Gaúcha, com seus vinhedos e vales a perder de vista. Todas as tonalidades de verde desfilam, se sobrepõem, se sucedem sob o azul do céu formando cenas de cartão postal. Pra uma pessoa urbana como eu, acostumada a grandes cidades e seus arranha-céus, como diz a campanha de cartão de crédito, não tem preço!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010



PORTO ALEGRE
Alegre sigo minhas andanças por Porto Alegre... Vivi a maior parte da minha vida nessa cidade. Tinha catorze para quinze anos quando vim de Soledade, e fiquei até os trinta e dois para trinta e três. Nesse meio tempo, morei um ano em Paris e um no Rio, com idas e vindas. Ainda assim, foi o lugar onde permaneci por mais tempo. Já estou vivendo há catorze anos em São Paulo. E, como não nasci aqui, com o tempo fui perdendo os laços com a cidade. Mas resolvi, desde o começo desse ano, reatar minhas ligações com Porto Alegre. E é com prazer que redescubro a capital dos pampas... Entre idas ao dentista, exames em laboratórios e encontros com amigos, vou pondo em dia nossa relação. Minha com Porto Alegre. Hoje fui ao Theatro São Pedro para assistir a um recital do pianista Mauricio Starosta. No programa, obras de Chopin, Beethoven e Villa-lobos. Os recitais acontecem no foyer do teatro, todas as quartas-feiras, às 12:30h. E a entrada é franca. Adorei. Piano sempre me emociona. Aproveitei para almoçar no restaurante do Multipalco, que é bastante agradável e tem comida excelente. Depois fui ao Santander Cultural para ver a exposição dos Video Portraits, de Robert Wilson. Nada de novo no front, Bob Wilson retoma a idéia dos retratos em vídeo de Andy Warhol, acrescentando cores, trilha sonora, pequenos movimentos e, até, ações. Enfim, ampliando possibilidades. Resulta interessante e gostoso de acompanhar. Tem até bancos em frente às obras para o público sentar e ficar observando os lentos movimentos, que, às vezes, restringem-se à respiração dos modelos. Jeane Moureau, como a rainha Mary I, fascina movendo apenas os olhos. No mais, muito bate perna pelo centro, Rua da Praia, Casa de Cultura Mario Quintana e quetais...
Na foto, Johnny Depp movendo apenas dedinhos na estola de peles.

AMARRADÃO
Li outro dia na internet uma declaração de Romário: "Estou amarradão na política". Fiquei com isso na cabeça nos últimos dias. É muito bom estar amarradão, no que quer que seja. Até mesmo na política. Estar amarradão é estar, de certa forma, apaixonado. E a paixão, todos sabemos, é o que move a vida. É o que nos move. Libera endorfinas e serotoninas. Os dependentes químicos, adictos em geral, que me perdoem, mas não tem droga melhor. E não precisa se estar, necessariamente, apaixonado por alguém. Pode ser por alguéns. Por uma cidade, um projeto, uma idéia. Ou, melhor ainda, por tudo isso ao mesmo tempo, que seria a paixão pela vida. Divago andando pelas ruas de Porto Alegre, revendo lugares, ruas, entardeceres, pessoas. Velhos e novos amigos. A primavera gaúcha é bela, iluminada, e tem clima ameno. Quente no sol e friozinho na sombra. Adoro. Saio do dentista e ando pelas ruas do bairro de Petrópolis escutando Thiago Pethit no diskman: Velho! O velho refere-se ao diskman, não ao Thiago. Nem a mim...
Estar amarradão é transformar-se só de pensar no objeto da amarração. Só de lembrar. A lembrança, por si só, torna palpável o sentimento, fisicaliza a emoção. Altera batimentos. Arrepia a pele. Eriça a alma. Eu estou amarradão. Amarradão nesse momento que estou vivendo. Nos projetos que estou desenvolvendo. Nas pessoas que estou reencontrando e nas que estou conhecendo agora. Acho que eu sou um amarradão... Valeu, Romário!
Na foto, por do sol visto da sacada da casa da minha irmã Raquél.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010




TEATRO LEOPOLDINA
Olha eu de novo aqui em Porto Alegre...
Fui ao banco, que fica na Avenida Independência, e, enquanto estava tentando lembrar exatamente onde ficava, me peguei pensando: Ah, fica depois do Teatro Leopoldina! Terrível constatação: estou velho. Eu disse estou, não "estou ficando" velho. Sim, porque só uma pessoa velha como eu ainda se referiria ao Teatro da Ospa - Que, aliás já está fechado - como Teatro Leopoldina... O lado bom é que uma torrente de lembranças agradáveis invadiram a minha memória. Que saudaaade!! Quando vim morar em Porto Alegre eu tinha catorze para quinze anos. Isso lá nos idos de 1978... E o Teatro Leopoldina, para mim, era a possibilidade do sonho tornar-se real. Era a minha fábrica de sonhos. Eu, que desde criança sonhava em ser "artista", o que quer que isso significasse na ocasião, pude ter, a partir desse local mágico, acesso ao mundo encantado das artes e dos seres fantásticos que eram os artistas... Eu vivia no Leopoldina. Ou na porta, ou dentro, ou na saída dos artistas. As peças de teatro, infelizmente, eu não podia assistir à maioria delas, pois vivíamos a época da censura e um pirralho como eu ainda não entrava em nada. Mesmo assim, ficava na saída, esperando os artistas para fotografá-los. Tenho tantas fotos desse período, que pena que estão todas em São Paulo, adoraria ilustrar o post com uma delas. Já os shows...Ia a quase todos. Acho que o primeiro a que assisti foi Babilônia, de Rita Lee. Rita linda, no auge da juventude e beleza. E louca, também. Muito louca. Depois veio Feitiço, de Ney Matogrosso, que ele abria de Carmen Miranda e depois vinha de calça de vinil, todo sado-maso; O show do primeiro disco solo de Baby Consuelo, o show de dez anos dos Novos Baianos, Caetano e Bathânia juntos, Cinema Transcendental, de Caetano, Zezé Motta!! Minha diva Zezé Motta...Tenho até hoje a foto que tirei com ela na garagem do Teatro Leopoldina, eu com uma carinha de criança abraçado à exuberante Zezé. Foi lá também que assisti a Elis, Essa Mulher. Depois do show me enchi de coragem, fui ao camarim e pedi um autógrafo, que guardo até hoje também. Ela escreveu, em diagonal no alto da página de um livrinho de cordel do Zé Ramalho, único papel que eu tinha na bolsa: Roberto, um abração, Elis. Anos depois, quando estava gravando o primeiro DVD da Terça Insana pela Trama, gravadora na qual trabalhava seu filho João Marcelo Bôscoli, mostrei o autógrafo a ele em uma reunião e João me disse que ela sempre escrevia assim, em diagonal, que a agenda de Elis era toda escrita dessa forma. Foi no Leopoldina também que assisti à Gota d' Água, com Bibi Ferreira. Sim, eu cheguei a assistir a Gota d' Água! Sou velho mesmo, e daí? Eu tinha um professor de literatura que sempre levava a classe ao teatro. Eu adorava pois, com ele levando a classe inteira, eu podia entrar...Depois dos espetáculos, rolava um bate-papo com o elenco que eu achava o máximo. Eu cheguei a me apresentar no Leopoldina, uma vez, com o Grupo Tear, do qual fiz parte, com o espetáculo A Piscina, minha estréia no Tear...To lembrando de tanta coisa relacionada ao teatro que acho melhor parar, ta ficando longo. Ah! Foi lá, também, que beijei na boca pela primeira vez!
As fotos que ilustram o post eu peguei na internet...

segunda-feira, 27 de setembro de 2010








EU FUI AO TEATRO
Nesse último fim de semana resolvi me colocar em dia com a produção teatral de São Paulo e assisti a três espetáculos muito interessantes: Inverno da Luz Vermelha, As Três Velhas e O Estrangeiro. Gostei dos três. Pela ordem em que assisti:
Inverno da Luz Vermelha, de Adam Rapp, tem direção de Monique Gardenberg e traz no elenco Marjorie Estiano, André Frateschi e Rafael Primot. A solidão, o desamor, o isolamento das grandes cidades abordados de forma humana e delicada, e, surpreendentemente, com bastante humor. A direção cinematográfica de Monique, emoldurada pela iluminação brilhante de Maneco Quinderé e embalada pela excelente trilha sonora, revela ao público, da melhor maneira, o enorme talento dos três intérpretes. Marjorie Estiano, que eu já conhecia da televisão, surpreende sur la scène, compondo com graça e sensibilidade a garota de programa que se faz passar por francesa. E arrasa no número de cabaret que faz mostrando o belíssimo corpo, toda trabalhada na sensualidade... André Frateschi eu também já conhecia do show Canções Para Cortar os Pulsos, que ele fazia com Cida Moreira interpretando Tom Waits. Também está ótimo e dá um show à parte tocando e cantando. Mas a grande revelação, pra mim, nesse espetáculo, é o talento de Rafael Primot, que compõe, com muita sensibilidade, o nerd solitário e apaixonado. Que ótimo ator! Sempre fico muito feliz de ver jovens talentos em cena. Parabéns aos três.
As Três Velhas, de Alejandro Jodorowsky, tem direção de Maria Alice Vergueiro e traz no elenco, além da própria, Luciano Chirolli e Pascoal da Conceição. Aqui se dá quase que o oposto: a excelência do texto está amparada na experiência do trio de atores já consagrados. Maria Alice e Pascoal defendem seus personagens com muita competência e Luciano Chirolli com um brilhantismo que emociona. É um virtuose. Que grande prazer é ver o Luti representar...
Já O Estrangeiro, de Albert Camus, dirigido por Guilherme Leme e Vera Holtz, traz Guilherme sozinho em cena contando de forma limpa, clara e belamente coreografada a história do homem que é condenado à morte por não aceitar mascarar seus sentimentos como quer a sociedade em que vive. Aqui também a luz de Maneco Quinderé contribui para a beleza do espetáculo, quase contracenando com o ator...
Foi inspirador. Pretendo fazer mais vezes essa maratona teatral. Quem faz teatro sabe como é difícil conseguir assistir aos espetáculos dos colegas, pois estamos sempre em cartaz ou em turnê. Mas, sempre que puder, vou repetir. Aproveito para agradecer, aqui, a todos os profissionais envolvidos nessas três montagens que são, verdadeiramente, três Espetáculos! É tão bom ir ao teatro e gostar...

sexta-feira, 24 de setembro de 2010



PRIMAVERA, CUPINS, ETC...
Minha casa começou a ser invadida por cupins! Matei, à mão mesmo, todos os que pude, joguei inseticida no restante, apaguei todas as luzes, fechei todas as janelas e vim me sentar na Dulca da Oscar Freire, pra dar um tempo até o ataque cessar. Adoro ficar sentado vendo o povo passar. Povo é maneira de falar, pois é o que menos passa por essas calçadas. Mesmo assim, a mélange é bem interessante: Pequenos grupos de judeus ortodoxos que, indiferentes ao calor, vestem negro da cabeça aos pés, patricinhas cheias de sacolas, modernos muito tatuados, estrangeiros de diversos idiomas. São dezenove horas e está bem escuro, apesar de já estarmos na primavera, recém-entrada. Aliás, bem vinda! Eu espero o ano inteiro por ela e pelo verão. E o melhor: esse ano terei duas primaveras, pois já vivi a de Paris, au mois de mai...Esse fim de semana, por incrível que pareça, vou ficar quieto em São Paulo. Estou planejando assistir a pelo menos três espetáculos, para me colocar em dia com as artes cênicas locais. Semana passada assisti, no Rio de Janeiro, a Tango, Bolero e Chá Chá Chá, com Edwin Luisi e Maria Clara Gueiros dando um show de interpretação e timing. Como é bom ver bons atores em cena. Como é bom estar em cena. Esse mês to matando um pouco a saudade, como convidado da Terça Insana. Mas, no ano que vem, pretendo voltar aos palcos com meu solo...Acabei de tomar minha segunda Baby, os cupins já deram trégua... É, acho que já posso voltar para casa.
Na foto, a primavera de Paris.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010



ELEIÇÕES
Não se assustem com a foto! Ela foi feita na época em que o sonho ainda não havia acabado... Sonho que, aliás, ajudei a construir. Como quase todas as pessoas da minha geração, que queriam ver um país mais justo, igualitário e democrático. No comício pelas Diretas Já eu estava, junto com meus amigos, no largo da Prefeitura de Porto Alegre, gritando com força pela mudança que faria todos felizes e recompensados. Tive o prazer de votar na primeira eleição direta para presidente desse país. Meu voto, no primeiro turno, foi para Roberto Freire, meu chará, candidato do Partido Comunista Brasileiro. No segundo fui de Lula, mas deu Collor na cabeça. Na nossa cabeça. E no bolso, com a Zélia confiscando aplicações. De lá pra cá muita coisa mudou. Pra melhor e pra pior. Acho que o único presidente que se elegeu com meu voto, até hoje, foi Fernando Henrique Cardoso. Que pra mim, crescido sob os governos de Médici e Geisel, seguidos de Figueiredo, Sarney, Collor e Itamar, foi, até hoje, o melhor. Sempre fiz questão de exercer esse direito de cidadão. Tanto que, logo que me mudei pra São Paulo, uma das primeiras coisas que providenciei foi a transferência do meu título de Porto Alegre pra cá. Mas, por ironia do destino, simples acaso ou total distração da minha parte, atrasado que estou com um compromisso que venho adiando há muito tempo, comprei minha passagem para Porto Alegre para o dia vinte e nove de setembro, ignorando completamente o fato de que as eleições serão no dia três de outubro. Dommage! Comprei bem antecipado, pela internet, preço promocional, não vou me dar o trabalho de tentar mudar, pagar diferença de tarifa, multa ou o que for. E mesmo o voto em trânsito, para presidente, eu já perdi o prazo. Mas quer saber? Acho que vai ser até melhor. Diante do quadro atual de candidatos, vou me sentir aliviado sabendo que não participei do processo. No meu ver, não tem nenhuma opção verdadeiramente boa. Pelo menos para presidente. Seria uma tentativa de eleger o menos pior. O que, pelo que indicam as pesquisas, não vai nem acontecer... Eu já me desencantei da política há muito tempo. Quem me conhece sabe: prefiro uma boa novela! Mas também não sou daqueles que acham que todo político é corrupto e que não tem mais solução. Se eu morasse no Rio, por exemplo, seria com grande prazer que daria meu voto a Fernando Gabeira. Aliás, meu voto sempre foi uma salada mista de partidos, pois procuro votar na pessoa e não no conjunto de alianças que a representam. Principalmente hoje em dia, que estamos vivendo a era das alianças, por mais estapafúrdias que sejam. Acho que chegamos num ponto em que perdeu a graça. Quando finalmente conquistamos a democracia, parece que ela foi confundida com o direito de todos ao roubo, à impunidade e à corrupção. E quando vejo na TV o Presidente da República pedindo para os eleitores votarem no Netinho de Paula para senador, acho que o melhor mesmo vai ser estar bem longe...

domingo, 19 de setembro de 2010



VIAGENS II
Acho que fui picado pelo inseto viajador, pois estou viajando bem mais do que o previsto para esse meu ano sabático. O que é ótimo, pois, como já falei aqui no blog, adoro fazer uma mala. E foi assim que eu, recém chegado de Ilhabela, já vim parar, dois dias depois, no Rio de Janeiro, cidade maravilhosa que não visitava desde a Páscoa desse ano. Dessa vez eu vim, digamos, a negócios. É que faz tempo que minha frenética amiga Lidoka me falava de um texto de Wagner Ribeiro, dos Dzi Croquettes, o qual eu estava curiosíssimo pra ler. E passamos juntos uma deliciosa tarde de chuvinha fina lendo juntos no sofá. Eu, que costumo vir ao Rio para curtir praia, sol e verão, tive uma outra perspectiva da cidade... Agora estou bebendo vinho de frente pro mar de Ipanema na filial carioca do bar paulista Astor, que fica no local onde funcionava o Barril 1800, na esquina da Vieira Souto com a Rainha Elizabeth. É bonito. Mas é caro...É engraçado como brasileiro gosta de pagar caro para se sentir rico. Aliás, acho que as UPPs, Unidades de Polícia Pacificadora do Rio de Janeiro, deveriam retirar os ladrões dos bares e restaurantes, assim como estão fazendo com os traficantes nas favelas, porque cobrar trinta e três reais por uma Baby Chandon e dezessete reais por um quarto de vinho no fundo de uma taça eu considero um assalto! Mas, voltando à parte boa, que é rever minhas amigas Shala Felipe, que me hospeda em sua casa, e Lidoka, hoje tive também o prazer de rever Dona Lídia, mãe da Lidoka que, aos oitenta e nove anos tá super sacudida, fazendo o cabelo animadíssima para irmos ao teatro assistir a Tango, Bolero e Cháchá-chá, com Edwin Luisi, de quem ela é fã... E o tour etílico gastronômico segue. Agora estou no Felice, um restaurante, bar e sorveteria que costumo frequentar aqui no Rio. Adoro o Felice. As hostess, gerentes e garçonetes sempre me recebem com muita simpatia, algumas já foram assistir à Terça Insana quando estávamos em cartaz aqui no Rio, e eu, realmente, me sinto em casa. É como se fosse o meu Ritz carioca. A comida é deliciosa e eles fazem um frozen de sorvete batido com vodka delicioso. Deliciosamente embriagante...Uma vez eu estava com amigos na varanda do Felice quando, de repente, começou a sair muita fumaça lá de dentro e descobrimos que era um incêndio na cozinha! Vieram os bombeiros, o restaurante foi evacuado, um horror. Mas teve um lado bom: Não precisamos pagar a conta!
Depois do Felice ainda fui, resolvido de última hora, assistir ao show Etc, de Rita Lee, no Vivo Rio. Adorei. Rita está linda, viva e cheia de graça, fazendo um monte de gente feliz!
Na foto, a Princesa Isabel toda molhadinha da chuva que cai no Rio.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010


SO IN LOVE

I'm in love with Ilhabela...Enquanto bebo meu espumante argentino Nieto Senetiner de frente pro mar olhando a lua crescente que parece uma castanha de cajú sobre a estrela Dalva, faço planos de mudar a minha vida radicalmente: Deixar São Paulo e ir viver junto ao mar, abrir uma pousada ou um café-teatro onde, além de servir as pessoas, eu as pudesse brindar com minhas performances...Adoro a idéia de fazer planos para o futuro, mesmo beirando os cinquenta! É como se a minha adolescência se extendesse indefinidamente...A trilha sonora mais constante e marcante desses dias em Ilhabela tem sido o song book de Cole Porter, por Ella Fitzgerald. Como é bom ouvir a bela voz de Ella emoldurando a paisagem da ilha...Quando cai a noite pode-se ver vagalumes, que passam voando a piscar suas pequenas luzes, coisa que não via desde a minha infância em Soledade.
Hoje conhecemos as praias mais ao sul, como Veloso e Feiticeira, e as mais ao norte, como Armação, Siriúba e Pedra do Sino, que tem um incrível efeito sonoro: quando você bate uma pedra nas rochas da praia elas reproduzem o som de sinos! Essa dica me foi dada por um leitor do blog. E por falar em coisas que não via desde a minha infância, hoje vi, na praia do Veloso, borboletas voando ao meu redor...
Amanhã volto pra São Paulo, pois estou me apresentando na Terça Insana em todas as terças-feiras do mês de setembro. Mas esses cinco dias junto ao mar aqui em Ilhabela ficarão pra sempre na minha memória...Espero poder voltar o mais rápido possível.

domingo, 12 de setembro de 2010


PÉS NO CHÃO
No post anterior eu grafei errado o nome da ilha encantada onde estou passando uns dias: Ilha Bela. O correto é Ilhabela, tudo junto. Pois bem, aqui em Ilhabela-tudo junto, tem um lugar muito interessante que conheci ontem à noite: a Ong Pés no Chão. Eles tem um espaço cultural, todo construído por eles próprios, com o apoio dos moradores da ilha, que abriga o Dança e Movimento, um festival de dança que acontece anualmente e trás, além de espetáculos, oficinas e worshops para os jovens alunos da ong. Fui assistir ao espetáculo Lúdico, da Cia Druw, que já havia assistido em São Paulo e do qual gosto muito. Pois bem, aqui no espaço do Pés no Chão, ao contrário do que diz o nome do lugar, eles voaram ainda mais. Sabe quando a magia e a beleza do local tornam um espetáculo ainda mais bonito do que já era originalmente? Foi exatamente o que aconteceu. Cheguei um pouco cedo e já fiquei logo encantado. Tudo é extremamente simples e, até mesmo, rústico, mas de uma grande harmonia. Tem pequenos detalhes na estrutura da construção como uma grade de ferro, toda formada por galhos e folhas, como se fazia no art-nouveau, mas numa versão local de grande beleza naif. Eles contam com orgulho e entusiasmo que eles mesmos a construíram. Vi as pessoas chegando para o evento em grupos, famílias, adultos e crianças, todos arrumados, cabelos molhados com aquele cheirinho de recém saído do banho que me lembrou muito a minha infância no interior quando a gente tomava banho, jantava e saía para brincar ou para tomar um sorvete na praça...Na cantina do espaço eles servem salgados e sucos naturais, feitos na hora, tem até um forno de pizza de onde saíam, quentinhas, as pizzas de muzzarela e escarola. Os sucos eram incríveis: inhame com limão, maçã com gengibre e até mesmo um de rúcula! Adorei. O espetáculo que, por um lado, sofreu limitações técnicas e espaciais, ganhou em vida, capacidade de adaptação e improviso. Tudo isso, somado à felicidade eminente da assistência, resultou numa grande ovação final com direito a gritos de Bravo! Após o que eles serviram uma deliciosa sopa de ervilha com legumes...Inesquecível.

sábado, 11 de setembro de 2010



ILHA BELA
O nome já diz tudo: é uma ilha e é bela. Demais. Desde que vim morar em São Paulo, há 14 anos, ouço falar de Ilha Bela e tinha a maior vontade de conhecer mas, não sei porque, não rolava. Finalmente aconteceu. Cheguei ontem ao entardecer e já estou apaixonado, querendo ficar pra sempre...Estou hospedado em um hotel agradabilíssimo, chamado Petit Village. Fica no alto de um morro, de onde se avista, pela janela do quarto, o mar ao longe. Na verdade o quarto está mais pra apartamento, pois tem uma pequena sala, o quarto em si, o banheiro e uma espécie de closet. E tem, também, uma janela e uma porta que dão para o mar, em uma varanda alta de onde se mira o infinito. Me divido entre a vontade de pegar o carro e visitar a ilha toda e ficar somente aqui, aproveitando cada minuto da minha estadia pra curtir esse espetáculo da natureza. Eu, que, como já falei aqui no blog, adoro sair de casa, viajar, fazer uma mala, estou realizado. Gosto muito de São Paulo mas, às vezes, é fundamental sair um pouco pra respirar, expandir o horizonte, o que, aliás, não se vê por lá, cercados que ficamos por prédios, prédios e mais prédios...
Prometo voltar a escrever da bela Ilha Bela. Se bem que aqui, como se pode atestar pela foto acima, imagens dizem muito mais que palavras...

terça-feira, 7 de setembro de 2010



VIAGENS
Uma das coisas que mais gosto de fazer na vida é viajar. No sentido literal, evidentemente. De sair de casa, mesmo. Fazer uma mala, por pequena que seja, mesmo para ficar dois dias fora, já me deixa muito animado. Não precisa ser Paris, Recife ou Bahia, pode ser aqui mesmo, em Ribeirão Preto ou Guarujá. Já gosto. Aliás, adoro o interior de São Paulo, que tem cidades interessantíssimas. Acho que tem a ver com sair da rotina, que é uma coisa sempre instigante pra mim. E sempre foi assim. Lembro que quando ainda estava morando em Porto Alegre, eu ia muito ao aeroporto levar e esperar amigos, e sempre mentalizava: um dia quero fazer um espetáculo de muito sucesso e viajar o país inteiro me apresentando. Foi o que veio a acontecer, alguns anos depois, quando entrei para a Terça Insana, onde fiquei oito anos viajando muito. E aqui vale também o sentido figurado...Esse ano de 2010 eu tirei especialmente pra isso: viajar bastante, só que não a trabalho. E, de janeiro pra cá, já fui a Camburi, Porto Alegre, Salvador, Morro de São Paulo, Rio de Janeiro e Paris. E ainda to planejando voltar a Porto Alegre, ir a Soledade, minha cidade natal, e na volta, se der, fazer um pit stop em Florianópolis. Eu gosto de me instalar na cidade, no hotel, na casa em que for ficar, guardar roupas no armário, fazer daquele local a minha casa e viver a vida que se vive lá. Mesmo que seja só por dois dias. Gosto, também, de fazer as coisas mais turísticas, os passeios mais óbvios, as fotos mais cartão postal. E, de preferência, assistir a espetáculos que estejam em cartaz nessas cidades. E, claro, conhecer pessoas que morem nesses locais. Viajar me faz muito feliz e eu quero fazê-lo cada vez mais. Nos últimos cinco anos em que estive na Terça Insana nós viajamos muito, quase todos os finais de semana, com uma pequena pausa nos meses de dezembro e janeiro. De Porto Alegre a Manaus, com direito a muito centro-oeste. Isso me cansou, não pelas viagens em si, mas porque viajar já havia se tornado, também, uma rotina. E, quando ela se instala, eu tenho tendência a pular fora. É engraçado como até mesmo a falta de rotina pode se transformar em rotina também: A mala de figurinos sempre pronta, a necessaire com tudo em dobro, pra não correr o risco de esquecer nada...Com o tempo, até as cidades começaram a se repetir, os teatros, as pessoas, então deixou de ser tão instigante pra mim. Mas é claro que já estou sentindo falta. Quem segue o blog sabe que gosto muito de ler. E uma das coisas que mais gosto de fazer em viagens é visitar os lugares que são referências de livros que li. Descobri, recentemente, lendo a biografia de Clarice Lispector, vários lugares que quero visitar quando voltar a Recife, onde já estive inúmeras vezes e, como não tinha essas referências, não visitei. E isso é algo que adoro também: sempre ter coisas que faltaram fazer, pra ter motivos para voltar às cidades de que gosto. Em Paris, por exemplo, eu sempre deixo coisas por fazer, propositadamente. Assim eu sempre terei uma desculpa pra voltar...Se bem que lá eu sempre vou querer voltar, mesmo que seja pra fazer tudo de novo! Bon voyage...
A foto que ilustra o post eu chamo de: Le Petit Prince à Munique, e foi feita sobre um lago congelado.

domingo, 5 de setembro de 2010





FOR A FRIEND
Eu queria muito começar o mês de setembro falando sobre a amizade, no meu ver, uma das mais belas formas de amor que existe. É um amor opcional, que a gente escolhe, não vem de fábrica, como o amor que temos pelos nossos pais ou irmãos. Certos amigos, aliás, são mais do que irmãos. Os amigos nos aceitam como somos e nós também os aceitamos como são. Diferente de namorados, por exemplo, com os quais somos muito mais exigentes e que exigem muito de nós. Impossível não lembrar de um grande amigo que tive. Que foi, durante os anos em que a nossa amizade durou, o meu melhor amigo. E não é que tenhamos brigado ou nos afastado. Ele simplesmente, de uma hora pra outra, morreu. Nos conhecemos em 1986 e ele faleceu em 1994. Não chegou a durar dez anos, a nossa amizade. Mas como me faz falta, até hoje... Estou falando do Marcelo Pezzi, meu grande amigo de Porto Alegre, que continua muito presente em mim, na minha vida e, até mesmo, na minha casa aqui de São Paulo, que ele nem chegou a conhecer. Digo isso porque suas irmãs, Mônica e Simone, me deram alguns objetos que decoravam a casa dele como recordação. Hoje eles decoram a minha casa. Eu adorava o apartamento do Marcelo em Porto Alegre. Era um pequeno duplex charmosíssimo que, no centro da escada que subia em caracol para o andar superior, tinha uma coluna onde ele colara antigas fotos de estrelas de Hollywood que sua mãe colecionava. Essas fotos me foram dadas de presente por suas irmãs e eu emoldurei algumas delas e preguei os quadros na parede da minha sala em formato de coluna, um sobre o outro, exatamente como ficavam dispostos na casa dele. Na parede em frente tem um quadro da artista plástica Karen Lambrecht, também presente de Mônica e Simone. Quando me sento na sala para ouvir música, o que faço com muita frequência, é impossível não lembrar do Marcelo. Principalmente quando ouço a canção For a Friend, de Jimmy Somerville, que dá nome ao post, e fala de um amigo que se foi. Marcelo e eu tínhamos uma cumplicidade e um prazer de estar juntos que nunca tive iguais com nenhum outro amigo. E olha que tenho excelentes amigos. Se a gente não tinha nada pra fazer, só ficar juntos já estava bom. Assunto não nos faltava e mesmo se, ocasionalmente, faltasse, era bom do mesmo jeito. Em silêncio. Sua morte foi a primeira grande perda que sofri. Eu tinha trinta e um anos e, até então, só perdera minha avó. Mas a dor da perda do Marcelo foi infinitamente maior. Como nos versos da canção de Jimmy Somerville: I never cried the way I cried over you... Lembro com saudade das nossas viagens à Florianópolis, no verão. E de como as planejávamos, curtindo cada detalhe do que faríamos quando estivéssemos lá. E do quanto ríamos quando estávamos juntos. Tenho certeza que hoje ele adoraria vir a São Paulo me visitar. E já veio, uma vez. Só que em sonho. Um sonho maravilhoso. Eu estava em um café, meio como o Ritz, daqui de São Paulo e, de repente, vejo ele entrar pela porta e vir andando na minha direção. Eu levantei da cadeira e nos abraçamos longamente. A sensação foi incrível e eu senti até o seu cheiro. Falei: Que bom que você veio! Acordei feliz e emocionado. E ele nunca mais voltou...
A não ser na minha memória, onde ele sempre viverá.
Acho que consegui inaugurar os posts de setembro da maneira que queria: falando de amizade.