sábado, 27 de março de 2021

DIA DO TEATRO

Vinte e sete de março. Dia mundial do teatro. Estranho comemorar essa data agora que estamos sem teatro. Sem fazer teatro. Sem ir ao teatro. Eu nunca consegui conceber um mundo sem ele. O teatro faz parte da minha vida desde a mais tenra idade. Quem me conhece sabe que desde a infância a minha vida já girava em torno dele. Adiei bastante o momento de assumir o teatro como profissão. Fiz muitas coisas antes. Mas chegou um tempo em que a necessidade de me expressar através dele falou mais alto. Eu tinha vinte anos, abandonei a faculdade de história no terceiro ano e prestei vestibular para artes cênicas. Ali começou o caminho sem volta. Tive a sorte de entrar para o curso numa época em que grandes profissionais da área eram professores. Ivo Bender, Maria Helena Lopes, Luís Artur Nunes, Graça Nunes, Irene Brietzke, Alziro Azevedo, para citar alguns. O teatro me formou, me deu espaço no mundo, na sociedade. Finalmente eu estava salvo... Hoje, esse dia é lembrado quando vivemos uma distopia sinistra. Uma realidade paralela que nos priva da beleza e do encantamento dessa arte milenar. Fazer o quê? Para alguns colegas o teatro on-line tem sido uma saída. Para mim, não. Nada supre a presença do público. Nada tem a força dessa troca de energias. Do instante-já, do aqui e agora. Do salto sem rede de proteção, como Jorge Takla falou na entrevista ao Persona em Foco quando se referia à interpretação de Marilia Pera. Marilia era dessas, das que se jogam sem rede de proteção. Infelizmente eu acho que as pessoas andam sentindo mais falta de shoppings centers e de churrascarias. De estádios de futebol lotados e de boates. Eu sigo me alimentando do que já fiz e da esperança de poder fazer o que ainda não realizei. Amo o teatro. Quero o teatro de volta. Sinto falta das tábuas do palco. Das coxias e camarins. Perdemos grandes expoentes do ofício nessa pandemia. Bivar. Nicette Bruno. Tantos, meu Deus! Mas o teatro há de voltar. Ele sobreviveu às trevas da idade média. A tantos períodos de horror. Não há de ser agora que irá sucumbir. Viva o teatro! Viva Dionísio! Viva todos os artistas do planeta! Na foto, Marilia Pera em Brincando em Cima Daquilo, um dos melhores espetáculos de teatro a que já assisti.

quarta-feira, 17 de março de 2021

ELIS 7.6

Hoje a cantora Elis Regina completaria setenta e seis anos de idade. E eu sigo comemorando seu aniversário como se ela ainda estivesse viva. Adoro dedicar esse dia do ano a beber vinho e ouvir Elis, como se beber vinho e ouvir Elis não fossem duas das coisas que mais faço na vida. Na verdade, é à memória da maior cantora brasileira que dedico esse dia. Sempre visionária e profética, a Pimentinha cantou há mais de cinquenta anos coisas que retratam exatamente o que estamos vivendo nos dias de hoje. Como em Cartomante, de Ivan Lins: Nos dias de hoje é bom que se proteja, ofereça a face pra quem quer que seja. Não ande nos bares, esqueça os amigos, não pare nas praças, não corra perigo... Que saudade de ter uma artista de tamanha grandeza nos contemplando com seus shows e álbuns. Me considero um privilegiado por ter podido assistir a três de seus shows e ter quase todos os seus discos. Para mim, Elis não morreu. Continua viva, pertinente, relevante, questionadora. E, claro, bem humorada. Ainda me emociono ao ouvi-la, como nos verdes anos da minha juventude. Histórias sobre ela já contei tantas aqui no blog que, para não me tornar repetitivo, paro por aqui. E, para encerrar citando os versos de Gil que ela gravou no lado B do compacto de Alô, Alô Marciano, “só me resta agradecer e aguardar a ocasião de tão somente andar ao léu no céu da vibração”. Feliz aniversário, Elis Regina Carvalho Costa, no céu da vibração! Na foto, Elis sendo Elis como só ela sabia ser. Muitas já tentaram, sem resultados...

segunda-feira, 15 de março de 2021

UM ANO

Mais um ano se passou. E nem sequer ouvi falar seu nome... Um ano trancado em casa. Um ano sem encontros nem festas nem abraços. Um ano sem teatro! Exatamente há um ano, no dia 14 de março de 2020, fui com minha amiga Patrícia Vilela assistir ao belo e intrigante espetáculo As Crianças. Depois da peça abracei, já um tanto receoso, meus amigos Andrea Dantas e Mario Borges, que faziam parte do elenco. Mal sabia que no dia seguinte os teatros iriam fechar. E o confinamento inevitável teria início. Um ano sem ir ao teatro e pior, sem fazer teatro. Sem pisar em um palco, sem receber o calor dos aplausos. As trocas com o público após as apresentações. Quem não pertence a esse mundo encantado pode não acreditar, mas isso é melhor do que dinheiro. Um ano sem ver o mar. Isso me faz tanta falta! Sem estar com familiares e amigos, sem viajar. Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu. Nunca os versos dessa canção de Chico Buarque fizeram tanto sentido para mim como agora. É quando a gente quer transformar o momento e não pode. Situação limite, como no teatro do absurdo. A gente quer mudar o nosso destino, mas eis que chega roda viva e carrega o destino pra lá... Não gosto de falar de coisas tristes, mas é tanta coisa ruim acontecendo o tempo todo, que fico sem assunto. Logo eu, tão otimista. Logo eu, tão cheio de interesses por tudo. De cultura a modismos. De arte a contemplação, literatura e viagens. Entrego a Deus e me ponho a rezar. Acho que nunca a humanidade rezou tanto como agora. Tentando lembrar antigas orações da minha infância redescobri Salve Rainha (no Google, que essa eu não sabia de cor). Como é bela e dramática essa súplica à mãe de Deus. Quando nós, os degredados filhos de Eva, gemendo e chorando num vale de lágrimas, recorremos à mãe maior. A criadora do mundo. Se ela criou Deus, ela veio antes. É, portanto, a criadora do mundo. Eia pois advogada nossa! Esses olhos misericordiosos a nós volvei nesse desterro. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus! Que um dia isso tudo há de passar... Sigo, como Bethânia, à espera de vacina e misericórdia.