sábado, 27 de agosto de 2011





VIDA NOTURNA
Todos os dias, lá pelas seis, sete horas da tarde, quando o sol se põe e surgem no céu as primeiras estrelas, algumas pessoas são como que possuídas por um estranho frisson. Uma espécie de fogo no rabo. Uma força maior que as empurra pra fora de casa em busca de algo que nem elas sabem dizer o que é. Essa estranha compulsão faz com que as pessoas se vistam, se enfeitem, se maquiem, se perfumem, se droguem, se embriaguem daquilo que mais as faça felizes e saiam pra rua, pros bares, pros cabarés, pras boates e inferninhos, para os mais diversos destinos que a noite possa oferecer. Algumas saem para trabalhar...Como é o caso dos vigias noturnos, dos médicos plantonistas. Tá: das putas, dos travestis, dos michês. Mas a grande maioria sai é para encher a cara mesmo. E pra dar. Dar uma volta, dar uma olhada nos lugares. Ou então para comer, dependendo da preferência. Num bom restaurante, num bistrot, no dog da esquina...São notívagos e boêmios. Artistas, insones e solitários. Os que acreditam em alma gêmea, como o Fábio Júnior, e todos os freqüentadores de nightclubs... São Paulo é uma espécie de paraíso para os amantes da noite. No glamour do jet-set ou no bas-fond do underground, nos Jardins ou no Baixo Augusta, na Vila Olímpia ou na Amaral Gurgel... Seja você socialite, promoter, drag queen, cafetão, cafetina, cantor, bailarino, michê, traficante, ficante, transformista, striper, gogo boy, gogo girl ou até mesmo vampiro... A noite está sempre aberta para te receber. Você e seus companheiros de copo e de cruz. Aliás, ela ainda é uma criança e, aqui em casa, a música e os drinks já estão rolando soltos. Serge Gainsbourg e Malcolm McLaren. Freixenet rosé que ganhei da minha amiga Lilian Pinto de Moraes.



À luz difusa do abat-jour...Tim-tim!
Na foto, anoitecer na Avenida Paulista. A partir daí, tudo pode acontecer.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011





EXCLUSÃO SOCIAL

Sentado no bar do Ritz,
Olho para os lados e percebo que só eu não tenho I phone e
m todo o balcão.
Aliás, acho que só eu não tenho I phone em todo o Ritz.
Aliás, acho que só eu não tenho I phone em São Paulo.
Aliás, acho que só eu não tenho I phone.
Aliás, acho que só eu.
É, só eu...


Sentado no bar do Ritz,
Olho para os lados e percebo que só eu não tenho tatuagem...

terça-feira, 23 de agosto de 2011




TRISTEZA...
Eu andava pelas ruas de Porto Alegre quando vi passar o táxi- lotação cujo letreiro revelava o insólito destino: Tristeza. Por um instante me perguntei quem seria capaz de pagar quatro reais para ser levado a tal destino...Tristeza? Nem de graça. A tristeza, quando chega, vem de repente. Não precisa pegar lotação. Ela não é apenas um bairro de Porto Alegre. É um sentimento que nos toma de assalto e aperta o peito. A qualquer hora e em qualquer lugar. Se encontra uma porta ou janela entreaberta na alma, vai entrando, sorrateira, invadindo, posseira, se instalando no cantinho mais escuro do nosso ser, baixando as luzes, criando um clima. Quando a gente vê, tá até colocando música pra ela: As mais tristes, de cortar o coração e os pulsos. E haja velas, abajures, toda sorte de luz indireta...Se a gente não resiste ao impulso de abrir a garrafa de vinho, então... A tristeza, hoje em dia, é considerada cafona, démodé. Não frequenta as redes sociais. A tristeza não tem facebook. Mas está em toda a parte, basta a gente abrir os olhos. Ou a cabeça. Está escondida nos cobertores, sob caixas de papelão, embaixo dos viadutos. Está no sinal fazendo malabares. A tristeza está nos quartos e corredores dos hospitais. Na saudade dos que já se foram... Quando vem, nos coloca frente a frente com o nosso pior pesadelo. Nos esfrega na cara a realidade. Nossos medos, incertezas, inseguranças. Nossos traumas de infância. Nossos segredos e incapacidades. O nosso fracasso. Eis a questão: Vivemos a era do sucesso. Não há, portanto, lugar para ela. A tristeza é baixo-astral. Vá ser triste lá no seu canto! Pegue o seu táxi-lotação e vá para aquele lugar... O que um dia cinza e frio é capaz de fazer... Me dou conta, no meu devaneio, de que a tristeza alimenta os poetas. Os artistas em geral. A tristeza inspira canções. Desde que o samba é samba é assim. E, como bem disse minha amiga Shala Felipe, como ela não sobrevive sem o seu oposto, pela mesma porta entreaberta vem a alegria, e no encontro das duas a tristeza se amansa e, sem que se perceba, saiu...


Na foto, Antony Hegarty, lider da banda Antony and The Johnsons. De cortar o coração...

sábado, 20 de agosto de 2011





AO GOSTO DO MÊS...
Recebi uma crítica construtiva de um amigo dizendo que o que escrevo aqui no blog é longo para quem gosta de ler blogs... Logo eu, que me acho tão sintético! Quase plástico... De qualquer maneira fiquei feliz, já que o blog anda sendo tão pouco comentado. Pelo menos é um comentário... Depois de semana intensamente cultural e afetiva, na companhia de minha irmã Rita, que mora em Miami e veio passar uns dias comigo em São Paulo, me encontro em Porto Alegre onde a temperatura faz jus ao mês que estamos vivendo, o agosto invernal... A feira da Redenção floridíssima por ramos de pessegueiros que lembram as cerejeiras do Japão. Porto Alegre combina com inverno. No verão é insuportável. Mas, voltando à semana intensamente cultural, teve Portinari no MAM, Steven Klein no MUBE e muitos Brecherets no Cemitério da Consolação. Eu, que não sou afeito a visitas a cemitérios fui, levado por minha irmã, visitar o da Consolação que há anos me furtava de leva-la. E adorei. Vimos os discretíssimos túmulos de Tarsila do Amaral e da Marquesa de Santos, os de Monteiro Lobato e Mario de Andrade, e a pompa e circunstância do mausoléu do Conde Matarazzo, que não deixou por menos e tombou com a elite quatrocentona paulistana ocupando boa parte do terreno com sua riqueza. Quem pode, pode... Eu, que só conhecia Brecheret do famoso deixa que eu empurro, em frente ao Ibirapuera, e da escultura do Teatro Municipal, fiquei encantado e, ao mesmo tempo, profundamente tocado pela dor representada nas figuras do cemitério. Ele é a estrela da Consolação... A mostra de Portinari é interessantíssima e abrange o período de 1920 a 1945, retratando, portanto, diversos períodos de sua obra. Emocionante ver tête-à-tête obras tão conhecidas de livros e reproduções. A figura humana estudada nos mínimos detalhes, como se pode constatar pelos estudos em grafite e nanquim que ele fazia para seus murais. Isso sem falar no belíssimo painel/grafitti d´Osgêmeos que, logo na entrada do museu, tira o fôlego do visitante mais antenado... Já Steven Klein nos joga de cara no mundo das celebridades, retratando ícones do pop como Madonna, Justin Timberlake e os Pitt -Jolie em cenas de intimidade familiar...

E agora resta ver o que a capital gaúcha tem a oferecer. À tout de suíte!

Na foto, o casal 20 Angelina Jolie e Brad Pitt no aconchego do lar.






quarta-feira, 10 de agosto de 2011



DIA DOS PAIS
A aproximação do dia dos pais e a consequente enxurrada de propagandas me fez lembrar do meu, contrário que era a essas manifestações que ele chamava de comerciais. Certíssimo, o meu pai. Já se vão catorze anos desde que nos deixou e eu ainda tenho dificuldade de falar dele por escrito. Diferentemente da leveza e do bom humor com que sempre me refiro à minha mãe aqui no blog, meu pai representava, para mim, justamente a seriedade e o comprometimento com os deveres. E hoje, quando lembro dele com saudade, é justamente disso que sinto falta: Da sua voz grave e séria me chamando à realidade. Eu, o artista, eu, o desapegado da matéria, eu, o que nunca se preocupava com o futuro, sempre ocupado demais vivendo o presente. Ou sonhando... Um belo contraponto. E se assim dizendo soa como uma relação de frieza ou distanciamento, ledo engano. Ele sempre foi presente, afetivo e envolvido com tudo o que nos dizia respeito. Dormia cedo, acordava mais cedo ainda, vivia para o trabalho e para a família, sem nunca tirar férias. Acho que meu pai foi dos últimos representantes de uma estirpe de homens cuja palavra valia mais do que qualquer contrato e ele sempre a honrava. Diferente de alguns dos seus contemporâneos, que, às vezes, lhe davam calote... Um homem de palavra, espécie que atualmente encontra-se em extinção. Quando já adulto eu ia para Soledade e saía na noite com meus amigos, ao acordar tarde na manhã seguinte eu lhe dava bom dia sabendo que invariavelmente ele responderia: Boa tarde! Hoje eu daria tudo para ouvi-lo dizer, nos meus momentos de fraqueza: Meta os peitos! Meu pai sempre foi preocupado com a nossa segurança financeira. Mas isso não fazia dele um pai desumano: Era sua maneira de nos demonstrar o seu afeto. Quando vim embora para São Paulo ele me chamou para uma conversa. E, ao se convencer de que morar aqui era realmente o melhor para mim, comprou um apartamento e me deu de presente. Para que eu tivesse uma preocupação a menos na minha batalha na paulicéia: O aluguel. Minha adolescência nos afastou bastante, rebelde que eu era contra o estabelecido que, no meu entender, ele representava. Minhas mais ternas lembranças são de quando era ainda bem pequeno e ele me botava para dormir em seu braço na hora da sesta. Ou de quando, já pré-adolescente, passeávamos de carro aos domingos, eu, ele e minha mãe...
E a melhor herança, acima de quaisquer bens materiais, foram sua retidão de caráter e sua honestidade. Essas eu vou honrar até morrer...
Não espero o dia dos pais oficial – que ele achava bobagem e que esse ano tem até jingle do guaraná Dolly - e presto, hoje mesmo, minha singela homenagem a meu querido pai....
Mas, de toute façon, para todos os outros, Feliz Dia dos Pais!

segunda-feira, 8 de agosto de 2011




SEMPRE DIGNA
Sábado fui ao Teatro Fecap, que ainda não conhecia, para assistir ao show A Dama Indigna, de Cida Moreira, que estava sendo gravado para ser lançado em DVD. Ainda bem que foi gravado! Foi um dos mais belos shows de Cida a que jamais assisti. E olha que eu venho assistindo a shows dela há muitos anos... Cida está mais intensa e concentrada do que nunca. Canta o que quer e o que gosta com a segurança de quem está fazendo o que de melhor sabe fazer na vida. Como uma predestinada. Como Nina, Billie ou Ella. Como Anthony and The Johnsons, de cortar o coração...Eu já havia assistido à Dama Indigna no Auditório Ibirapuera, mas nesse tatro, menor, mais aconchegante, o clima de intimismo ficou de levar às lágrimas a mais insensível das criaturas. Cida parecia um broche de diamantes muito bem emldurado pelo rico estojo de jóias em que Humberto Vieira transformou o palco com sua luz. Humberto assina também a direção, e Cida é toda emoção quando refere-se a ele em cena. Como disse à própria Cida ao cumprimentá-la depois do show, envelheci anos de tanto que chorei. Mas a experiência é sempre rica, válida, engrandecedora. Eu sempre aprendo com Cida, ouvindo seus discos, vendo-a cantar no palco ou nas nossas aulas de canto. A presença de Thiago Pethit, de quem também sou fã, trouxe frescor e delicadeza a Surabaya Johnny, de Brecht e Weill, que Cida vem cantando através de décadas, como ela própria brincou. Maturidade, talento, emoção à flor da pele. O que mais dizer dessa digníssima dama indigna? Só escutá-la cantar. Sempre. Sempre digna. A foto que ilustra o post fui eu mesmo que fiz. Desculpa, Cida, eu sei que era proibido. Mas não resisti...

sexta-feira, 5 de agosto de 2011





BIOGRAFIAS
Como estou sempre lendo uma ou outra biografia, as pessoas que me conhecem pensam que adoro ler esse tipo de literatura e me presenteiam com exemplares delas. Mas, conforme já declarei aqui no blog, eu gosto mesmo é de biografados. E não de todos. Tem que haver algo que me atraia na história, na obra, na personalidade ou no estilo de vida do personagem retratado. Agora, por exemplo, estou devorando a biografia de Plinio Marcos, agradável surpresa que me foi dada de presente por Grace Gianoukas, de autoria de Oswaldo Mendes. Caso típico de obra que reúne personagem interessante e excelente autor. Prende a atenção desde a primeira página. Além de conhecer muito bem o biografado, Oswaldo Mendes escreve de maneira envolvente, fazendo com que o leitor fique curiosíssimo para saber o que vem no próximo capítulo. Para citar o top da categoria, Carmen Miranda, por Ruy Castro. Até hoje inigualável. Tanto em personagem quanto em autoria. Sem falar em toda a pesquisa que vem embutida, de lambuja... Aqui incluo, também, Quase Tudo, livro de memórias da interessantíssima personagem Danuza Leão brilhantemente escrito pela própria. Tenho mais na minha lista de preferidos: Yolanda Penteado, por Antonio Bivar, Maysa, por Eduardo Logullo, Caio Fernando Abreu, por Paula Dip. Maravilhosas, também, são as memórias de Ricardo amaral, em Vaudeville. Assim como as de Patti Smith, em Só Garotos. E, claro, a inebriante mistura de História do Brasil com ficção e biografia: O Príncipe Maldito, da historiógrafa Mary del Priori. Não estou aqui para falar mal de ninguém, até porque sou um diletante, mas há casos em que o personagem é bom e o autor, nem tanto, como na biografia da talentosa e polêmica Leila Diniz... Por eu ser ator, acabo ganhando de presente biografias de atores e atrizes, muitas das quais até hoje não li. Ou comecei a ler e não me interessei em continuar. Na fila para ser lido está Lobão, Cinquenta Anos a Mil, parceria do próprio com Claudio Tognolli: Assim que terminar o Bendito Maldito, pretendo começar. Impossível não citar Furacão Elis, de Regina Echeverria, que só fui ler muitos anos depois de ter sido lançado, e A Divina Sarah, biografia da atriz francesa Sarah Bernhardt. Lembro também que já li biografias de Marilyn Monroe, James Dean, Frida Kahlo, Clarice Lispector... Mas, sem dúvida, o que faz o sucesso de uma obra biográfica, é a reunião de um bom autor e um bom personagem. Uma vida interessante bem descrita é das coisas mais envolventes de se acompanhar.
Na foto, a Pequena Notável pela pena de Ruy Castro.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011



ESCREVER
Lembro que desde criança sempre gostei de escrever. Talvez por eu ter sido uma criança e um adolescente tímido e reservado, a escrita, além de ser uma espécie de companhia, sempre foi um ato solitário, para o qual eu não tinha necessidade de absolutamente ninguém. E talvez ainda seja por isso que eu continue gostando de fazê-lo. É sintomático que eu tenha criado esse blog dias depois de ter saído da Terça Insana. Ele seria a minha companhia e a minha maneira independente de continuar a produzir coisas. No caso, idéias. Uma forma de exercitar a criatividade sem a necessidade de um grupo. Já se vai um ano e meio desde que o blog foi criado. Confesso que tive medo que me faltasse assunto. E, por vezes, realmente faltou. Mas bem ou mal ele continua me salvando. Digo salvando por lembrar Clarice Lispector, uma de minhas escritoras preferidas, que dizia ser escrever uma forma de salvação. Sempre sonhei com uma atividade artística que pudesse exercer sozinho, sem precisar de mais ninguém. Acho que os pintores, escultores, artistas plásticos em geral, conseguem tal façanha. Mas, como não tenho o menor talento para me expressar plasticamente, só me restou a escrita. Eu sempre fui do teatro, uma atividade essencialmente grupal. Não existe teatro sem a presença do outro. Nem que seja para assistir. E sempre sonhei ser escritor. Já contei aqui no blog que comecei a ler muito cedo, estimulado por meu tio Cantídio Borjes. Com jota, como ele costumava salientar. O hábito da leitura me levou ao da escrita. Escrever eu já escrevo, mas continuo sonhando com a possibilidade de ser pago para tal. Sair do agito das grandes metrópoles, me isolar em uma pequena praia para me dedicar à criação de textos. Pode haver algo melhor? Mais romântico? Poético? Para mim, não há. Recentemente fui muito tocado pelo filme de Woody Allen, Meia Noite em Paris. Para quem me conhece, por motivos óbivos: Paris e escrever, duas das minhas paixões, reunidas em uma só história... Eu adoraria poder pegar aquele táxi que me levasse no tempo para a Paris de Hemingway e Gertrude Stein. Terminei recentemente a leitura de Paris é uma Festa, de Hemingway, e continuo lendo a prestações a Autobiografia de Alice B. Toklas, de Gertrude, que contam, ambos, as aventuras daqueles artistas todos na Paris dos primeiros anos do século passado. Saudades... Eu sinto saudades do que não vivi. E que poderia ter vivido, tal a identificação que tenho com determinadas coisas passadas em épocas anteriores à minha. A escrita tem esse poder mágico. De transportar. De expandir horizontes. Sobre a folha em branco, ou sobre a tela em branco do Word, tudo é possível. Pode-se transformar o tédio em excitação, a solidão em amor correspondido, a tirsteza em alegria e vice-versa. Pode-se criar climas, suspense, terror. Pode-se fazer rir, escever com humor. Pode-se ocupar uma tarde fria de inverno, com o sol entrando pela janela do apartamento, para fazer companhia às palavras, aos pensamentos e às idéias do autor. E para, quem sabe, aquecer o seu coração. E, talvez, o coração de quem lê... Deus salve as pessoas que escrevem e as pessoas que lêem! Graças a elas o mundo pode ser sempre um pouquinho melhor...

Na foto, Clarice em ação.

terça-feira, 2 de agosto de 2011



MEU MAL É A BIRITA...
No ano de 1980 a genial Ângela Ro Ro lançava seu segundo álbum, Só nos Resta Viver, que trazia a canção que dá nome ao post. Nela, Ângela assumia ser esse o seu mal e terminava afirmando: Eu não vou parar de beber. A música brasileira ainda se agitava nos embalos da discoteca e Ro Ro vinha rasgando seus blues, visceral, assumida e escandalosa. Nossa Amy Winehouse da época. Escândalo, aliás, foi justamente o nome do terceiro LP, com canção título de Caetano Veloso livremente inspirada na vida da intérprete... Quando soube da morte de Amy, na semana passada, me veio imediatamente à lembrança esse disco, essa música, essa compositora e intérprete maravilhosa. Lembrei também da cena inicial dos Pequenos Burgueses, de Gorki, um diálogo das personagens Tatiana e Polia, que durante muito tempo eu soube de cor. Agora não lembro mais das falas e não achei o texto para citar ipsis literis, mas o diálogo diz mais ou menos o seguinte: Tatiana está lendo um romance para Polia. Essa, encantada com as palavras que escuta, começa a fazer perguntas sobre o autor. Tatiana revela que ele já morrera. Ao perguntar qual a causa da morte, Polia ouve a seguinte resposta: Bebia muita vodka. Inconformada, ela indaga: Porque as pessoas interessantes bebem sempre? Ao que Tatiana responde, definitiva: A vida cansa, Polia. Está tudo dito... Parece que la Ro Ro deixou drogas, álccol e escândalos para tráz. Segundo declaração da própria, nem de rehab precisou, foi tudo na força de vontade. Admirável. Eu consigo, no máximo, ficar segunda e terça sem beber. Com muito esforço vou até a quarta-feira no seco. Mas, de quinta em diante, não dá mais pra segurar... Que a bebida é um mal todos nós sabemos. O problema é quando se torna um mal necessário, uma tentação. E, como dizia Oscar Wilde, eu consigo resistir a tudo, menos a uma tentação... E, para terminar com mais uma citação, lembro que quando era criança adorava um quadrinho que tinha na parede da casa da minha avó – também chegada a uns gorós – com o desenho de um bêbado agarrado a um poste e os seguintes dizeres: Quem bebe morre; quem não bebe, morre; então vamos beber! Voilà! Pura sabedoria popular...