segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

UM POUCO DE SP Nem tudo é sol, chuva, frio e calor no verão de São Paulo. Apesar de em menor escala, muitas coisas interessantes acontecem na Terra da Garoa nessa época de inconstância climática. Uma delas, évidemment, o seu próprio aniversário. Esse ano a deselegância discreta de Sampa completou quatrocentos e cinquenta e nove aninhos com ares de cocotte... Parabéns a São Paulo, a mãe de todas as etnias! Bem, como eu dizia, nem tudo é chuva etc... Fui assistir ao espetáculo Namíbia, Não! Dirigido por Lázaro Ramos, um dos meus atores preferidos, que se revela com esse trabalho um excelente diretor. Um texto intrigante, que trata de forma bem humorada a questão do preconceito racial, num tom que lembra em muito o teatro do absurdo do autor de O Rinoceronte, Eugène Ionesco: Todos os brasileiros de “melanina acentuada” devem ser imediatamente deportados para a África. Uma situação limite, da qual não se tem como escapar. Mais ou menos como a iminente transformação dos humanos em rinocerontes na trama do dramaturgo franco-romeno. A peça está em cartaz no lendário espaço do Teatro de Arena, no centro da cidade, ali em frente ao Edifício Redondo, onde viveu Plínio Marcos e de onde sai todos os anos no pré-carnaval a Banda do Redondo... Não muito longe dali, no subsolo de outro famoso edifício, o Italia, cartão postal da Paulicéia, Stella Miranda e Luiz Salém trazem diretamente do Rio de Janeiro o melhor do stand up musical, se é que tal gênero existe ou é possível. Mas, como brasileiro de tudo inventa, eles inventam e sustentam esse humor leve e despretensioso cujo resultado é pura alegria e muitas risadas ao som de “sub-versões” do cancioneiro universal. Salém tem o timming dos grandes comediantes brasileiros e Stella, além de excelente cantora e atriz, ar-ra-sa no corpinho enxuto com direito à cinturinha e pernões. Uma bela vedete. Aliás, os dois, Gozados, nos brindam com excelente chanchada... No mais, muitos filmes (ainda não fui a quase nenhum), exposições (a Bienal do Grafitti pretendo visitar essa semana) e drinks que se dividem entre o Ritz e o Igrejinha, com direito a pit-stop no Urbe, que já mereceu post aqui no blog. Ah! Last but not least, As Aventuras de Pi, um Ang Lee de encher os olhos e o coração. Imperdível em 3d. À toute à l'heure! Na foto, um pouco da estonteante beleza de Pi.

sábado, 19 de janeiro de 2013

CAMBURI TOUJOURS
Me voilà mais uma vez na praia de Camburi, uma das minhas preferidas nessa imensidão que é a costa brasileira. Mais exatamente Camburizinho, juste à coté. Ela tem o charme de ser muito pequena, em poucos minutos a gente consegue percorrer a praia inteira, de ponta a ponta. Pois é numa das pontas, a da esquerda pra quem está de frente pro mar, que fica o Pura Bar, incrustado na montanha, no meio do mato e com uma vista deslumbrante do entardecer na praia. O bar em si é simplérrimo. O luxo fica por conta do incrível visual, capaz de enternecer e inspirar até os mais frios de alma... O dono, Marcelo, é uma simpatia e nos brinda os ouvidos com música da melhor qualidade, entre o jazz e a nossa velha e boa música popular. Tudo, evidentemente, em vinil. Sim, eu disse vi-nil. Incroyable. Até o mais bairrista dos gaúchos, daqueles que acham que o por do sol de Porto Alegre é o mais belo do mundo, vai ficar sem palavras diante de tamanha beleza. O Pura não abre regularmente, como a maioria dos bares. Então, quando resolve abri-lo, o dono coloca um guarda-sol aberto no portão de entrada, assim os frequentadores sabem que podem subir sem receio e que serão devidamente recompensados... Conheci o Camburizinho no ano de 2009, por indicação de minha amiga Kátia Paes, que, na ocasião morava aqui e trabalhava no Restaurante Cantineta, que também é excelente e aproveito para indicar. Quando voltei, em 2010, Kátia já estava trabalhando no Galeão, a balada de Camburi. Mas esse eu não indico porque sequer me atrevo a conhecer... Hoje minha amiga mora na Austrália e eu continuo frequentando sua pequena e encantadora Camburizinho... Como já havia dito anteriormente, o por do sol visto do Pura Bar é uma experiência inesquecível, algo que se deve fazer antes do fim do mundo. Ou da vida. De maneira que vou parar por aqui, pois ele já está começando acontecer mais uma vez. À la prochaine!

sábado, 12 de janeiro de 2013


URBE
É incrível como São Paulo consegue ser muitas em uma só. Faz tempo que eu não saía para beber sozinho. A não ser no Ritz, mas o Ritz não conta. É impossível ficar sozinho lá, uma vez que conheço todo mundo e todo mundo me conhece. Recentemente descobri o Urbe Café, que fica em uma travessa da Augusta. Mais especificamente, do Baixo Augusta. Lá não vai a minha turma, digamos assim. Se é que ainda tenho uma... Vão outras pessoas e eu adoro. Posso ficar só. Observar. Ou, se for o caso, conhecer alguém. Me sinto como se estivesse viajando. E eu faço qualquer negócio por essa sensação. Nem precisei ir longe de casa. Apenas atravessei a Paulista et voilà, eis que me encontro em terra estrangeira. Me faz lembrar os anos oitenta, quando eu vinha a São Paulo e frequentava os bares e cafés do Bixiga. Era inverno, 1987, eu chegava, de sobretudo, pedia um cognac e me sentia o máximo. Até fumar, eu fumava... Mas, voltemos ao Urbe Café. Urbanidades. Luzes. Cruzamentos. Eu sumi na poeira das ruas. Vazio e, ainda assim, farto. Me farto de Caetano Abraçaço. O amor que vive em mim vou agora revelar. O ciúme é só o estrume do amor. Quem matou o meu amor tem que pagar. Estou triste tão triste. Estou muito triste. Caetano é foda. Saudade das luzes de cena. Da boca de cena. De estar em cena. Antes de abrir a cortina, andando pelo palco, de um lado pro outro, ruídos, murmúrios, casa lotada. Lotação esgotada. Coração acelerado... Depois, drinks. Comemorar. Conhecer. Desbravar as cidades. Luzes. Cruzamentos. Olhos atentos. Às urbanidades. Ressurgir do pó. Da poeira das ruas. Vazio novamente. E, ainda assim, farto... Caetano é foda.
Na foto, o Urbe direto do meu Instagram.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013


SÓ PRA EXERCITAR
Que calor! Já estou morando em São Paulo há quase dezessete anos e não lembro de temperaturas tão altas quanto as que vem fazendo nos últimos tempos. Escrevo, só pra exercitar, cercado por três gatos que jazem espalhados pelo chão. Imagino que para eles o calor deva ser muito pior! Tadinhos, estão moles e sem nenhuma animação para bincar. Adoraria estar na praia ou em outro lugar qualquer onde não estivesse tão quente ou onde fosse possível se refrescar. São Paulo, definitivamente, não combina com altas temperaturas. Enquanto não viajo de fato, o faço através da leitura do livro Um Lugar na Janela, de Martha Medeiros, no qual ela relata suas experiências on the road. Típica leitura de verão, leve, descompromissada, textos curtos que não exigem demais do leitor. Uma delícia para passar o tempo. A medida que a autora descreve os lugares por onde passou e as coisas que neles viveu, vou lembrando de quando eu estive nos mesmos lugares e das coisas que experimentei. Muito bom. Literatura comparada: A escrita, por ela, e a vivida, por mim! Agora, o calor insuportável deu lugar a uma chuva daquelas: Caudalosa, intensa, forte, com vento, trovões, raios, relâmpagos, os orixás todos e mais São Pedro devem estar em festa... Falando em Pedro, domingo à noite, no Ritz, encontrei com Pedro Baby, o jovem músico filho de Pepeu e Baby Consuelo. Não adianta, ela pode fazer numerologia, virar evangélica, gospell, seguir o Thomas Green Morton do Rá! E até mudar o nome para Baby do Brasil: Pra mim, ela continuará sendo sempre a Baby Consuelo. Uma das musas da minha adolescência, que eu seguia, assistia a todos os shows e tirava muitas fotos. Eu estive no show comemorativo dos dez anos dos novos Baianos, em Porto Alegre, no Teatro Leopoldina, em 1979 (Abafa essa data!), e tirei um filme inteiro, de trinta e seis poses, de fotos do show. Todas dela, é claro. Em algumas, até aparecia o Pepeu também. Revelei as fotos, algumas ficaram bárbaras, e eu andava sempre com elas a tira-colo. Certa feita eu tinha ido passar a Páscoa no Rio, em 1980, quando minha irmã Raquél por lá morava, com nossa amiga Denise Ortiz. Saímos para tomar um chopp no Baixo Leblon e eis que encontro, na mesa ao lado da nossa, Baby Consuelo e boa parte dos Novos Baianos. Na maior intimidade, fui lá, falei que tinha umas fotos do show de Porto Alegre na bolsa, eles me convidaram para sentar, mostrei as fotos, Baby adorou duas delas e me pediu. Dei as fotos com todos os meus contatos atrás e ela autografou uma para mim... Pois bem, foi nesse clima “amigo da sua mãe” que abordei Pedro no Ritz, na maior cara dura, logo eu que sou tão tímido etc e tal. Ele foi um amor e me antecipou que o show Baby Sucessos, que ele dirigiu comemorando os sessenta anos da mammy, vem para São Paulo no dia 3 de fevereiro! Estou contando os dias. Pena que não tenho aqui uma das fotos que tirei daquele show. Vou procurar nos guardados e escanear... Sobre o que eu falava mesmo? Ah, ta. O calor. Agora, com a chuva, melhorou. Mas, de toute façon, estou escrevendo só pra exercitar. E, diga-se de passagem, escrevo ao som de Lulu Gainsbourg, o filho de Serge Gainsbourg. Boas viagens!

Na foto, a capa do álbum no qual Lulu homenageia o pai, Serge.

sábado, 5 de janeiro de 2013



BICICLETA

Eu sempre andei de bicicleta. Desde pequeno. Ou melhor, desde muito pequeno, visto que pequeno eu sou até hoje. Sim, eu disse bicicleta. Como bem cantou Simone no especial infantil Casa de Brinquedos, de Toquinho: B-I-C-I-C-L-E-T-A, sou sua amiga bicicleta! E para mim ela continua tendo esse nome, não virou bike. Sempre vi essa atividade como algo natural, simples, divertido e, sobretudo, sem regras. Andar de bicicleta só por andar, sem rumo e sem objetivo, eu sempre achei o máximo. E usa-la como meio de transporte, ainda mais legal, pois une o útil ao agradável. Ponto. Não há nenhuma ideologia ou postura política em torno dessa prática. Nunca precisei de capacete, equipamento ou ciclo-faixa. Nem nunca me proclamei sustentável ou ecologicamente correto ou qualquer desses novos conceitos. Novos, não. Desgastados, déjà. Comecei ainda em Soledade, com oito ou nove anos, na minha incrivelmente estilosa Monark Tigrão. Todos os meninos da rua, para não dizer da cidade, a cobiçavam. Mais tarde, já com dez ou onze anos, ganhei minha segunda companheira inseparável: A Monareta. Minha Monareta era vermelha, linda. Eu ia a quase todos os lugares com ela: Na padaria, na aula de piano, na casa dos primos, passar o fim de semana na casa da minha avó. Ficamos juntos até os meus catorze anos, quando mudei para Porto Alegre e comprei uma Caloi Peri prateada, a qual singelamente batizei Solange. Solange rodou comigo muitos anos, quilômetros e histórias. Muitas histórias. Quando ia passar as férias em Soledade ela ia comigo e batíamos os paralelepípedos das ruas e o pó das estradas. Em Porto Alegre, ela me levava para as aulas da Faculdade de História, na Puc, em apenas quinze minutos. Diferente do ônibus, que chegava a levar quase uma hora... Quando Solange foi roubada da portaria do meu prédio, senti como se tivesse perdido um ente querido. Após período não muito longo de luto, meus pais me presentearam com uma Caloi Cruizer. Essa chegou a vir embora comigo para São Paulo e a tive até bem pouco tempo. Atualmente tenho uma Dahon, pequena, leve, portátil, que fica no meu quarto mesmo. Ela é toda dobrável e fica praticamente do tamanho de uma pizza. Tá, admito que estou exagerando um pouco. Mas o fato é que já consegui leva-la para Ilhabela no porta-malas de um Fiat Uno! Além de passear com ela nos parques da cidade, uso minha bicicleta para ir a testes, reuniões, ensaios e, até mesmo, a espetáculos. Tenho mais de quarenta anos de ciclismo. Logo, posso modestamente afirmar: Não há nada mais chato, careta, sem graça e anti-libertário do que uma ciclo-faixa. Pronto, falei. Acho patéticas aquelas filas indianas de adultos e crianças na Avenida Paulista, guiados como ovelhas em um rebanho e sendo parados a cada faixa ou sinal por aqueles bandeirinhas insuportáveis. Com tantos lugares pra se andar de bicicleta em São Paulo, porque, raios, as pessoas escolhem a Paulista? Pobres bikers com suas regras, posturas e equipamentos caríssimos. Saudade dos campos de Soledade...
Nas fotos, eu com meus primos de Curitiba na Tigrão e cheio de charme solo na Monareta.



quarta-feira, 2 de janeiro de 2013




TIPO ASSIM...
Hoje pela manhã eu estava na academia fazendo o mínimo necessário para eliminar não digo as calorias, mas a culpa adquirida com todos os excessos de fim de ano, quando me dou conta de que uma menina que falava sem parar utilizava em demasia a expressão "tipo". Como tudo o que é exagerado me chama sempre a atenção -  e, em geral, me irrita muito - resolvi contar durante um minuto quantas vezes ela utilizaria a já desgastada expressão. Pois bem, foram inacreditáveis catorze vezes! Em apenas sessenta segundos!! Fiquei, tipo assim, pasmo... E imediatamente lembrei dos meninos que utilizam à exaustão a expressão "tá ligado". Todo mundo que me conhece sabe que sou um velho chato, reclamão, que se incomoda com tudo o que é sonoro. Ou melhor, sonoramente perturbador. Nada contra boa música, belos diálogos, som do vento e das ondas do mar quebrando na praia. Já passarada muito histérica cantando logo cedo pela manhã costuma me irritar também... Assim como gatas no cio miando feito loucas na madrugada pelos telhados. Mesmo que sejam os telhados de Paris. Nunca fui contra gírias. Pelo contrário, acho que são a mais fiel representação linguística das gerações, elas tem a cara das pessoas que as utilizam. Eu mesmo já fui jovem e usei muito as gírias da época da minha juventude. Mas, além das gírias, eu também tinha vocabulário. Sempre fui um jovem lido, com uma cultura razoável, e sabia me expressar sem reduzir a linguagem a meia dúzia de expressões. Sacou? Falando em sacou, meu amigo Cau Saccol postou uma mensagem de ano novo em sua página do Facebook desejando que em 2013 a gente encontre mais conteúdo na dita rede social. Quase respondi dizendo a ele que acho mais fácil encontrar uma agulha em um palheiro... Mas, uma das minhas resoluções de ano novo é justamente parar de participar tanto de redes sociais e cuidar mais da minha vida. Como podem ver, já comecei mal: Cronometrando as gírias de uma pessoa que nem conheço! Prometo melhorar...
Nas fotos, eu leve e solto na festa de Réveillon chez minha amiga Rosana Silveira.