terça-feira, 22 de março de 2022

MARÇO AO MAR

Acabo de voltar de uma semana junto ao mar de Santa Catarina na companhia de minhas irmãs Raquél e Regina. Regina nos recebeu em seu apartamento na Meia Praia, em Itapema, e nos proporcionou passeios inesquecíveis lá mesmo e nas redondezas. O litoral de Santa Catarina sempre me encantou com sua natureza exuberante. Tivemos dias de sol e noites de lua cheia que me recarregaram energias e me abasteceram para retornar à minha rotina na Pauliceia. Rimos, brindamos, relembramos nossa infância e juventude passadas em Soledade e Porto Alegre, tomamos banhos de mar, fizemos caminhadas, visitamos cidades vizinhas como Blumenau e Pomerode - onde comprei os queijos Vermont que adoro - e celebramos a vida que aos poucos é retomada na sua normalidade. Sentimos a falta de nossa irmã Rita que, mesmo à distância, esteve conosco nas lembranças e ao vivo por videochamada. Como é bom poder sair da rotina de vez em quando para relaxar e estar com quem amamos. Tomara que possamos repetir isto sempre! Nas fotos, minhas irmãs e eu curtindo sol e mar, passeio na praia do Estaleirinho, ovo gigante na Osterfest em Pomerode e a lua cheia na Meia Praia.

sábado, 19 de março de 2022

VIVA MAGLIANI

Dia desses estava conversando com Luís Artur Nunes e ele me contou que fora convidado a participar de uma mesa redonda sobre a pintora Maria Lídia Magliani, na abertura de uma exposição em homenagem a ela em Porto Alegre, na Fundação Iberê Camargo. Imediatamente me veio à mente a lembrança de um fato há muito esquecido. Quando eu tinha uns vinte anos mais ou menos, a convite de minha saudosa amiga Kiko, comecei a frequentar o Atelier Livre da Prefeitura, em Porto Alegre, onde tínhamos aulas de desenho. Um belo dia chegamos para a nossa classe habitual e tivemos uma surpresa: A pintora Maria Lídia Magliani tinha sido convidada para ir até lá conversar com os alunos. Quando já estávamos todos sentados às nossas mesas para começar os trabalhos, entra a Magliani inteiramente vestida de lilás. Nunca esqueci a visão deslumbrante que ela encarnava naquela tarde. Usava um macacão todo lilás. Não lembro detalhes, mas era mais ou menos como aquele que Rita Lee usou na capa do álbum Lança Perfume, com pregas na cintura e estreito nos tornozelos. A sandália de salto alto era também lilás. Como lilases eram o esmalte das unhas e o batom que ela usava. Trazia à mão uma carteira grande, evidentemente, lilás também. Sentou-se informalmente em um banquinho alto, dos que usávamos para nos sentar às mesas de desenho. Colocou a carteira sobre a mesa ao lado e começou a falar. Eu a olhava da cabeça aos pés, admirando cada detalhe daquela figura monocromaticamente encantadora, enquanto ela nos narrava fatos da sua carreira e respondia às nossas perguntas. Lembro que o cabelo era particularmente interessante, um black power assimétrico, à la Grace Jones, repartido do lado formando dois triângulos irregulares. Quando eu achava que nada mais poderia me surpreender naquela performance arrebatadora, vem a cereja do bolo: Ela tira da bolsa um cigarro e, para acendê-lo, um isqueiro bic lilás. Cai o pano. Aplausos ensurdecedores... Semana passada, enquanto Luís Artur preparava seu speech para a tal mesa redonda que acontecerá nos próximos dias, se lembrou da história e me pediu para que a recontasse para incluí-la no seu discurso. Para dar uma ideia de como Magliani se apresentava artisticamente para além da obra, mostrar ao público presente a persona performática que ela desenvolveu para si própria. Fiquei muito feliz de poder colaborar de alguma forma com esse evento, digno da trajetória artística e da importância dessa grande artista para a cultura brasileira. Espero que a exposição seja um sucesso e mais, que eu possa chegar a visitá-la. Também fiquei bastante satisfeito de saber que a minha memória não anda me traindo... Na foto, a artista e suas obras.

quinta-feira, 10 de março de 2022

VERÃO TARDIO

Curtindo a estação mais quente do ano, ainda que tardivement (adoro essa palavra francesa, que significa tardiamente). Depois de muito frio e chuva nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro, finalmente o verão me acena com calor e sol à beira-mar... Estou novamente em Camburi, praia que amo no litoral norte de São Paulo, para mais uma temporada al mare... Dia desses vi uma menina na praia lendo um livro cujo título era O Sucesso É Ser Feliz. Não consegui classificar a obra. Seria autoajuda? Fake news? Charlatanismo ? Ou mera obviedade? Eu jamais leria um livro com esse título. Primeiro, porque não me atrai esse tipo de leitura. Segundo, porque esses livros geralmente te culpam pela sua suposta falta de sucesso, como se as oportunidades de sucesso fossem iguais para todos. E sabemos bem que em países como o nosso não o são... Mas sigo na vibe música, drinks, sol & mar... As saídas de praia continuam me irritando muito. Rsrsrs. São verdadeiros longos, com os quais você poderia ir a uma cerimônia de premiação como o Oscar, por exemplo. Muitas são pretas, com rendas, transparências, brilhos, algo inacreditável de se usar ao sol e à beira-mar... Por falar em coisas que me irritam, o mau uso da língua portuguesa segue no topo da categoria. Um amigo que usa aplicativos de pegação me contou que um menino do site perguntou se ele mandaria uma foto do seu “pal”. Assim mesmo, com L. Nunca, jamais, em tempo algum, mesmo na mais árida seca subindo pelas paredes eu encararia um pau com L. No mais, caminhadas na praia, entardeceres de tirar o fôlego, Novos Baianos no Ipad e muitos, muitos drinks. E tenho dito! Bom resto de verão a todos... Na foto eu, todo aberto para o sunset.

sábado, 5 de março de 2022

PARISIENSE TRANS

Descobri que sou um parisiense trans. Explico: Não nasci parisiense, sequer francês ou europeu, mas me sinto um deles. Me identifico completamente com os hábitos, o estilo de vida, o humor - e até mesmo a falta de - dos habitantes da Cidade Luz. Gosto da polidez no tratamento com os outros, da reserva que precede a intimidade. Ao contrário de como é por aqui, onde a intimidade vem antes de qualquer coisa. Uma certa falta de paciência também me identifica muito com os parisienses. Por exemplo, uma vez fui com uma amiga brasileira vegetariana que não fala francês a um bistrô que costumo frequentar. Disse ao garçom: Para mim vai ser um vinho branco e um tartare de salmão, por favor. E para a senhorita, que é vegetariana... Ele me interrompe seco: Mas nós não somos vegetarianos. Adoro! Ri muito e disse para a minha amiga que ele havia sugerido uma salada da casa... Gosto muito do hábito de comer e beber nas praças e jardins. De ir direto ao ponto ao abordar qualquer assunto, sem ficar enrolando como nós brasileiros gostamos de fazer. De ter um bar ou café preferido onde se sentar todas as tardes e noites para beber e passar o tempo. O apreço pela cultura, pela língua, literatura e teatro, por exemplo. As crianças são levadas ao teatro pelos pais para assistirem aos clássicos da dramaturgia, o que não acontece por aqui. Gosto de uma sensação de liberdade individual que vem acima e antes de qualquer coisa como casamento, religião, sociedade, fidelidade conjugal e família. Sou muito mais liberté, égalité et fraternité do que pátria acima de tudo, Deus acima de todos... O problema é que para fazer a minha transição de brasileiro para parisiense custa muito caro. Apesar de não precisar fazer uma cirurgia, como ocorre com quem deseja transicionar de um sexo para outro, precisaria realizar uma série de mudanças que já não me julgo apto a fazer. Acho que passei do ponto. Sem falar que não teria dinheiro para comprar um imóvel, viver e pagar impostos em um país estrangeiro. Por enquanto, sigo me travestindo de parisiense. Me montando como se fosse um. E vivendo a ilusão de que ser parisiense bastaria... Na foto eu, o mais francês que pude, em um carnaval em frente ao Ritz. De São Paulo, bien sûr.