terça-feira, 26 de janeiro de 2016

SALVE SAMPA

Ontem São Paulo fez anos (462, uma garota!) e Paula Dip homenageou a cidade postando no facebook uma crônica do meu, do seu, do nosso saudoso Caio Fernando Abreu, que fala da idiossincrática relação do escritor com a Pauliceia. Eu, como ele, sou um gaúcho que adotou e ama essa concreta metrópole. E, como ele, não a amo sempre. São Paulo é muitas, é diversa, cosmopolita, contraditória. Esse é o seu maior encanto, para além dos arranha-céus e do Pico do Jaraguá... Outro dos meus preferidos, o escritor Antônio Bivar, esse paulista de nascença, nos ensina na sua coluna da revista Joyce Pascowitch deste mes que devemos fazer da vida não um drama, mas uma divertida comédia. É o que venho tentando há muito. Pelo menos me abstendo de alimentar estéreis confrontos virtuais em redes sociais que, a meu ver, nada movimentam e a muitos desagregam... Pois é, Sampa fez anos e eu, traidor que só, estou no Rio de Janeiro. Mas é temporário, no máximo em agosto estarei de volta à Selva de Pedra. Até lá fico na ponte aérea. Melhor dizendo, rodoviária, que não está fácil pra ninguém... O calor, que por aqui tinha dado uma trégua, com dias e noites agradáveis como numa espécie de outono fora de época, voltou agora com tudo. Essa manhã, quando voltava da academia, os termômetros já marcavam 34 graus... E por falar em fora de época, parace que São Paulo tirou o pé do chão nas comemorações do aniversário, com direito a show de Ivete Sangalo e trio elétrico de Daniela Mercury. Não falei que ela era muitas, diversa e contraditória? Então... Já eu, tão contraditório quanto Sampa, sacudi o esqueleto na quadra da Imperatriz em noite de ensaio regada a muita cerveja aqui na Guanabara... E ontem também foi dia do lançamento da fotobiografia de Marilia Pera na Livraria da Travessa do Leblon. Que, diga-se de passagem, estava transformada em uma constelação, tal a quantidade de astros e estrelas presentes no evento. Enfrentei mais de uma hora na fila, mas garanti meu exemplar autografado por Sandra Pêra e Nélida Piñon. Foi também dia de rever o filme Para Sempre Teu Caio F, de Candé Sales, que passou no Canal Brasil e que amo ter feito parte do elenco... Bom, por hora era só. Para encerrar, mais uma vez desejo: Joyeux anniversaire, São Paulo!
A foto é repetida de outro aniver por dois motivos: Não estou em SP para atualizar e porque é muito representativa do meu amor pela cidade.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

MEMÓRIAS DO FOGO

No ano de 1986, quando vivia em Porto Alegre, fui convidado por minha amiga Nora Prado para participar de um workshop com a diretora do Grupo Tear, Maria Helena Lopes. Ela era nossa professora na faculdade de teatro e fazer parte do Tear era o sonho de nove entre dez atores naquela época. Nora já era integrante do grupo e quase não acreditei quando recebi dela o comunicado de que havia sido selecionado, através do workshop, para integrar o elenco dos sonhos... Eu já havia cursado quatro semestres da faculdade e sido aluno de Maria Helena em pelo menos três deles. Mas era muito cru e dava os primeiros passos no que, à época, eu ainda nem podia chamar de carreira. Tinha feito apenas uma peça infantil e entrei para o Tear bastante assustado pela fama de brava que sua diretora tinha. A Lena, como a chamávamos, me recebeu com a paciência e a tranquilidade de quem sabia estar lidando com matéria bruta. E eu tive a intuição de me deixar moldar, sem trazer nada de pronto para a cena, coisa que de saída percebia-se que ela detestava. Lembro até hoje que, ainda antes de entrar para o grupo, em uma avaliação de fim de semestre do curso, confessei à minha mestra que tinha muito medo de entrar em cena. Ao que de pronto Lena me respondeu: Você tem medo mas faz... Éramos uma espécie de comunidade que compartilhava gostos, inspirações e referências. Lena era nossa mestra e nos conduzia com inteligência e sutileza ao que sua brilhante imaginação construía. Mais do que ensaios, nossos encontros diários eram um laboratório constante de criações. Às vezes com resultados brilhantes. Às vezes não. Ensaiávamos meses sem saber ao certo o que iria ser montado. Mas quando vinha era de uma beleza singular. Nosso local de trabalho era uma sala da Faculdade de Engenharia, na Rua Sarmento Leite, que ficava em uma das cúpulas do prédio. A sala em si já era bastante inspiradora, mas o acervo de figurinos e acessórios também não ficava para trás. Nos aquecíamos, brincávamos, jogávamos, improvisávamos, nos descobríamos e nos transformávamos. Éramos felizes e infelizes, ríamos e também chorávamos. Fazíamos festas de aniversário, apreciávamos livros de arte e, além desses encontros diários, ainda nos reuníamos em festas nas casas dos integrantes nos finais de semana. As festas da Martinha Biavaschi, por exemplo, eram bem animadas. Minhas preferidas... Bons tempos. Verdes anos. Permaneci no Tear por mais ou menos dois anos. Nesse meio tempo montamos a performance A Piscina e o espetáculo Império da Cobiça, inspirado no livro Memória do Fogo, de Eduardo Galeano. No elenco éramos nove: Sergio Lulkin, Marco Fronchetti, Pedro Wayne, Marcos Carbonel, Nora Prado, Lúcia Serpa, Ciça Reckziegel, Marta Biavaschi et moi. Nosso Império estreou em São Paulo, cumpriu temporada no Sesc Anchieta, viajou para alumas cidades do interior e, de volta à capital, fizemos uma curta temporada popular na Casa de Cultura Mazzaropi, no bairro do Brás. Na sequência fomos para o Rio de Janeiro, com temporada no Teatro Dulcina. Para só depois estrear em Porto Alegre, no Encontro Renner de Teatro, no Teatro São Pedro, e fazer temporadas no Teatro Renascença e no próprio S. Pedro. Depois a Lena foi dirigir em Barcelona, eu estreei como diretor e minha saída do grupo se deu naturalmente. Essa turnê nacional com o Tear foi importantíssima para mim. O grupo já havia viajado para o centro do país com seus espetáculos anteriores mas, para mim, era um mundo novo que se descortinava. Sem falar que serviu para me aproximar da Lena e me revelar outras facetas da "temida diretora": A amiga, colega, divertida e bem humorada. Uma das minhas maiores alegrias era conseguir fazê-la rir das minhas imitações das pessoas que íamos conhecendo ao longo das viagens... Enquanto escrevo me dou conta do quanto tenho para contar de tudo o que vivi nessa época. Um post só é pouco...
Na foto, Lena pilota Darlene Glória, minha Vespa. Gisela Habeiche ocupa o lugar de Marco Fronchetti, que deve ter batido a foto.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

BENJAMIN

Benjamim Clementine é o nome da minha mais recente paixão musical. Minha amiga Shala Felippi me mandou pelo whatsap o link de uma canção dele no youtube, London, cujo clip foi filmado em Paris. Inicialmente o timbre de voz remete a Nina Simone, principalmente nos agudos. Mas em seguida a gente esquece dela e passa a viajar na mais completa originalidade que envolve esse novo expoente da canção. Benjamin se acompanha lindamente ao piano. Seu piano lembra, às vezes, o minimalismo de Philip Glass. Mas também é algo que logo passa. Benjamin Clementine encanta pelo conjunto piano, voz, composições, figura humana e história pessoal. Dá um google aí, gente! Mas resumindo, ele é inglês de ascendência africana, super jovem (nasceu em 1988) e começou cantando no metro e nas ruas de Paris. Costuma se apresentar usando roupas escuras e pés descalços. Um Deus negro, do Congo ou daqui, como cantou Elis em Black is Beautiful. Poderia muito bem ser filho de Nina Simone ou discípulo de Philip Glass. Mas não é, não foi. Seu estilo único se desenvolveu de forma totalmente auto-didática. Recebi o link de London essa manhã e agora, fim de tarde, depois de escutar muitas vezes essa e outras tantas, escrevo sob o impacto de uma nova e apaixonante descoberta. Quem ainda não ouviu corra! Tem muita coisa dele no YouTube. Tenho certeza de que irão amar, como eu estou amando...

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

JANEIRO ESCALDANTE

O mes de janeiro chegou cheio de novidades: Eu, que já havia mudado temporariamente de cidade, mudei agora de apartamento e também de bairro. Estou morando na Glória. E posso dizer que é realmente uma glória. Super tranquilo e arborizado, o bairro me revela um novo Rio de Janeiro. Da janela contemplo a Marina de um lado e o Outeiro do outro. E ouço os sinos tocarem a cada hora cheia... Voltei a frequentar a academia, que há três meses abandonara. E só eu sei o que está me custando... Fui na estreia do projeto As Cantrizes, no Centro Cultural dos Correios, para ver cantar e contar histórias as ex-eternas-frenéticas Sandra Pera e Dhu Moraes, com arranjos e regência de Mimi Lessa. Meu filme, ou melhor, da Anna Muylaert, Que Horas Ela Volta, passou ontem à noite na Rede Globo. Tudo muito bom, tudo muito bem, mas o calor insuportável, que havia dado uma trégua, voltou com tudo. Daí o escaldante do título do post. Pois é assim mesmo, escaldado, que retomo meu blog nesse novo ano recém iniciado... Todo mundo conhece o ditado popular que diz que gato escaldado tem medo de água fria. E pinto escaldado, alguém conhece? Pois aconteceu comigo, na minha infância. Eu devia ter menos de dez anos. Na minha casa, a televisão não ficava na sala de estar, como na maioria das casas da época. Ficava na sala da televisão, que também servia de quarto de hóspedes, pois tinha um sofá que virava cama de casal. Como esse misto de quarto e sala era exatamente ao lado da cozinha, era lá que eu e minha irmã jantávamos, para não perder o Tom & Jerry nem as novelas. Pois em uma dessas noites do meu remoto passado - quando controle remoto era algo que ainda não existia- ao invés de jantar minha mãe serviu café com leite. Eu estava sentadinho, com minha bandeja de café no colo, quando minha irmã Regina se joga delicadamente sobre o sofá e todo o conteúdo da xícara, de quente para fervendo, cai justamente sobre o meu pequeno pipi. Nunca esqueci a dor que senti nem o desespero de minha mãe, com medo que minha irmã tivesse me "estragado" para sempre... Inesquecível também foi todo o constrangimento que se seguiu, com minha mãe cobrindo minhas partes pudendas com nata de leite gelado, eu deitado com o pinto cheio de nata recebendo a visita de curiosos vizinhos e parentes... Felizmente o susto foi maior do que o estrago e só o que ficou foi uma mancha arroxeada por alguns dias, seguida de uma casquinha que secou e caiu. E meu pinto escaldado não ficou com medo de água fria. Já pensou se tivesse ficado? Deixa pra lá... Como podem ver, janeiro chegou trazendo não apenas novidades, mas também lembranças... E vamos em frente que o verão está só no começo e, segundo os locais, ainda nem esquentou! Se eu viver, verei...
Nas fotos, o Outeiro da Glória visto da minha janela e Sandra & Dhu em cena de As Cantrizes.