segunda-feira, 26 de agosto de 2013

FLORES DE RARA BELEZA

Não sou crítico de cinema. Nunca fiz cinema, nem como ator, nem como diretor. Nem cinéfilo posso mais dizer que sou, pois atualmente vou muito pouco ao cinema. Mas quando um filme é bom, ah, isso eu sei. Melhor, sinto. Foi o que aconteceu com Flores Raras, de Bruno Barreto: Senti o filme, do início ao fim. Sempre gostei de filme brasileiro, mas confesso que não sou muito fã dessa "retomada" do cinema nacional que, na maioria das vezes, me faz ter a impressão de estar assistindo a uma novela da Globo. Não apenas pelos atores, mas também pelos diretores. Isso definitivamente não acontece com as raríssimas flores de Bruno Barreto. Elas soam originais como as Flores Horizontais de Osvald de Andrade cantadas do cócix até o pescoço por Elza Soares. Eu já gostava do cinema de Bruno Barreto desde Tati, a Garota. Dona Flor, A Estrela Sobe. Nem vou chover no molhado falando das excelentes interpretações de Gloria Pires e Miranda Otto. É fato. Assim como a belíssima trilha sonora, com direito à Ella Fitzgerald e Tom Jobim... Prefiro falar da rara experiência que é assistir a uma verdadeira obra de arte. Algo que toca, emociona, transforma. Algo que tem tempo limitado, mas que não queremos que acabe, não queremos perder. Como o amor de Lota por Elizabeth. Capaz de construir e de destruir. Explodir morros e implodir corações. Aliás, como ensina a própria Elizabeth Bishop: "A arte de perder não é nenhum mistério; tantas coisas tem em si o acidente de perdê-las, que perder não é nada sério. Perca um pouco a cada dia"... Só não perca, por favor, esse filme maravilhoso! Na foto, Gloria Pires recebe de frente Lota Macedo de Soares.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

HIRAMATSU

Recentemente comentei aqui no blog que, ao visitar a casa e o jardim de Monet em Giverny, descobri o artista japonês Hiramatsu Reiji no Musée des Impressionismes. Pois é dele que se trata o presente post. Mais especificamente, de sua exposição Le Bassin Aux Nymphéas - Hommage à Monet. Profundo admirador da obra do pintor francês Claude Monet, Hiramatsu fica particularmente tocado por suas famosas ninféas, e, ao visitar o jardim do artista em Giverny, decide se debruçar sobre o tema realizando essa exposição em homenagem ao mestre do impressionismo. Monet era aficcionado pela arte das gravuras japonesas e um pouco dessa paixão pode ser admirado na grande quantidade de obras da coleção do artista que decoram sua casa em Giverny. Pois é justamente a influência da pintura japonesa tradicional sobre a pintura de Monet, particularmente sua maneira de retratar a água, que irá influenciar a pintura do artista japonês, num interessante intercâmbio oriente/ocidente que acaba se transformando em ocidente/oriente. A pintura oriental influencia a pintura ocidental que influencia novamente a pintura oriental. Parece que bebi, não? Mas o efeito da arte de Hiramatsu é no mínimo embriagante mesmo. Suas telas, desenhos e biombos conseguem unir leveza e força. Delicadeza, poesia e diversão. O próprio Hiramatsu destaca o caráter amusant de sua obra. E é dessa forma que ela toca quem a contempla: Com o sentido mais amplo de diversão, a da alma, que sai leve e saciada da sala de exposição. Tomara que um dia venha para o Brasil. É dessas belezas que encontramos pelo caminho e que tornam a vida ainda mais rica... Nas fotos, respectivamente, criador e criação.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

THE ESSENTIAL COLE PORTER

Há muitos anos sou louco pela música de Cole Porter. Assisti diversas vezes ao filme De-Lovely, com Kevin Kline vivendo o próprio e tenho vários CDs com coletâneas de seus sucessos. Um dos meus CDs preferidos é, e já mereceu post aqui no blog, The Cole Porter Song Book, na voz de Ella Fitzgerald. Mas o próprio Cole Porter cantando eu tinha pouquíssima coisa, acho que só a canção Yor're the Top. Nessa minha última temporada em Paris encontrei, assim bem por acaso, na Fnac do Les Halles, a caixa com três CDs The Essential Cole Porter, que estou adorando. Inclusive porque nela, além de incontáveis Billies, Ellas, Freds e Franks, tem o próprio Cole cantando nove canções: Além da já citada Your're the Top, tem também When Love Comes Your Way, I'm A Gigolo, Two Little Babes In The Wood, Anything Goes, Be Like The Bluebird, Thank You So Much Mrs. Lowsborough-Goodby, The Cocotte e The Physician. Isso sem falar em Anita O'Day cantando What Is This Thing Called Love e Marlene Dietrich interpretando You Do Something To Me. Isso realmente faz algo comigo... Já estou furando os CDs de tanto escutar. Só para confirmar, mais uma vez e sempre: I love Porter every moment of the year. Na foto, Cole sorri ao piano.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

MUDANÇAS

Já contei aqui no blog da dificuldade que tenho em deixar Paris e voltar à minha realidade a cada vez que passo uma temporada por lá. Dessa vez, então, com a diferença de fuso horário de cinco horas a mais, foi ainda mais difícil. Fiquei uns quatro ou cinco dias caindo de sono às seis da tarde e acordando super disposto às cinco da manhã. Mas nada que a passagem do tempo não resolva. Aliás, não há nada que a passagem do tempo não resolva. Mesmo os maiores traumas ou dores. Minha ligação com a Cidade Luz vem do início dos anos noventa. Para ser mais preciso, 1990 e 1991, anos que vivi estudando e curtindo Paris como um jovem brasileiro deslumbrado e cheio de sonhos. Uma grande desilusão amorosa me fez abandonar a cidade antes que o meu, digamos, ciclo francês tivesse se concluído. Depois disso fiquei dezesseis anos sem ir a Paris para finalmente em 2007 voltar a encontrá-la. De lá para cá tenho ido em média uma vez por ano. E sempre volto com a impressão de que deveria ficar um pouco mais. Muita coisa mudou em Paris e em mim. Ninguém mais usa dinheiro para pagar, só cartão. Eu continuo usando. Ninguém mais compra o Pariscop para saber das artes e espetáculos. Eu ainda compro. Ninguém mais vai à bilheteria dos teatros para comprar ingresso. Eu ainda vou. Tanto lá quanto aqui. Agora tem carros elétricos que você pode usar colocando créditos em uma conta com seu cartão de crédito. Quando não quer usar mais, você o devolve a uma base que o recarrega automaticamente. É o mesmo esquema das bicicletas públicas. Mas, como já disse, eu mudei também em vários pontos. Agora escrevo no iPad. Tenho um blog. Frequento redes sociais. Leio jornal no iPad. Revistas eu continuo preferindo ler com as mãos, manuseando o produto em si. Falando em revista, li na Joyce de julho uma matéria muito relevante sobre os hábitos musculares de Marcos Mion, na qual o jornalista afirma que ele é um dos precursores do gênero stand up comedy no Brasil. Ãh? Quando Mionzinho ainda nem sonhava emitir o primeiro gugu-dadá, precursores como Chico Anysio, Miele, Agildo Ribeiro e Jo Soares já mandavam ver no gênero por aqui. E mesmo que o autor da matéria estivesse se referindo a essa nova onda do gênero, Grace Gianoukas e Marcelo Mansfield já arrancavam gargalhadas do público quando ele ainda engatinhava... Isso também parece ter mudado: O perfil das pessoas que escrevem nas revistas e jornais. Voltando a Paris, algumas coisas mudaram para pior: Os carros não param mais para a gente atravessar as ruas. Os táxis, mesmo no sinal verde para pedestres, não param. Parece que estou no Brasil. Como já disse em outro post, há muitos pobres nas ruas, pedindo, mendigando e mesmo dormindo nelas. Eu mudei meus hábitos e meu paladar. Estou cada vez mais exigente. E chato. Se você ainda não me conhece, nem queira... Brincadeira, eu sou um amor! E espero que essa minha história de amor mal resolvida com Paris tenha um final feliz. Ou melhor, que continue passando por mudanças sem nunca chegar a um fim. Na foto, eu com colegas de copo e de cruz no Petit Fer à Cheval nos verdes anos noventa.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

DESPEDIDA

No meu último dia em Paris acordei às cinco horas da manhã com o barulho da chuva. Uma chuva grossa, caudalosa que lavou a cidade e durou quase até o final da manhã. Comi algo e saí para caminhar, meio sem rumo, e me despedir de Paris. Fui até o Marais, sempre o Marais me puxando para si. Revi o prédio onde morei, a casa de chá Le Loir dans la Théière, na Rue des Rosiers, onde trabalhei. A Rue Charlemagne, onde fiz um ensaio fotográfico nos anos noventa. Andei pela beira do Sena, passando por suas pontes, ouvindo de quando em quando um acordeon tocar ao longe Sous Le Ciel de Paris, de Piaf. Passei pela Pont Neuf, pela Conciergerie, pela Pont des Arts. Quase em frente ao Musée d'Orsay subi de volta à calçada vendo passar o último bateau mouche, com as crianças acenando para nós, os passantes. A chuva deixou o clima bem mais ameno, quase frio em determinados momentos. Fui atrás de uma confeitaria que Cida Moreira me indicou, na qual se come o melhor mil folhas da cidade. Comi e adorei... À noite vou reencontrar meu amigo Rolando Faria para o jantar de despedida e amanhã bem cedo, antes do sol nascer, já estarei rumando ao aeroporto para, mais uma vez, deixar Paris. Com a certeza de que sempre voltarei para revê-la. Nas fotos, a Rue Charlemagne, a Conciergerie vista da beira do Sena e o gigantesco rinoceronte que recebe os turistas na entrada do Musée d'Orsay.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

ÚLTIMOS DIAS

A cada dia que passa a hora de partir se aproxima e eu me encanto mais com Paris. O bom é que ela nunca se repete, é como um espetáculo de teatro, varia com os dias e com a platéia. Muita coisa mudou, claro, muita coisa muda sempre em todos os lugares e até mesmo em nós, as pessoas. Nunca vi antes tantos pobres nas ruas, gente pedindo dinheiro, pedindo cigarro, pedindo comida, dormindo nas ruas, às vezes parece que estou em Salvador ou no Rio de Janeiro. Mas os encantos se mantém e se multiplicam... Fui assistir ao Cirque Zoe, companhia ítalo-francesa bastante interessante, com números tão interligados que nem parece um show de habilidades. Reencontrei meu querido amigo Rolando Faria, ex-integrante da famosa dupla Les Étoiles, que abalou Paris em chamas nos setenta, oitenta e noventa. Almoçamos em um simpático restaurante na Bastilha, o l'Industrie, e esticamos vários verres por toda a tarde. Para fechar o dia, fui jantar no Dalva, restaurante do qual já falei aqui no blog e que sempre indico para quem vem a Paris. O dono, Serge, é uma simpatia, sentou comigo à mesa e conversamos animadamente. Me contou que um amigo dele acaba de abrir em São Paulo uma franquia da Repetto, griffe de sapatos de dança que fabrica as famosas sapatilhas que Serge Gainsbourg usava e que estou louco para possuir. Se em Paris elas custam caro, imagine em Sampa... Voilà, c'est tout. Nas fotos, Serge em frente ao Dalva e Rolando & Roberto, les étoiles du Brésil.

domingo, 4 de agosto de 2013

LE FUMOIR

Um dos meu programas preferidos em Paris é o happy hour no Le Fumoir. Me sento a uma mesa no terraço e enquanto bebo contemplo o Louvre e suas arcadas. Fica bem em frente à estação Louvre-Rivoli do Metro e pode-se observar as pessoas que entram e saem, apressadas ou não, dessa estação. Meu amigo João já foi barman do Le Fumoir e no subsolo, numa espécie de ante-sala dos toilettes, pode-se ver exposto um retrato do meu amigo ainda nos seus verdes anos... Gosto de levar todas as pessoas que encontro em Paris para conhecer o Fumoir e sempre o recomendo quando me pedem dicas da cidade. Ver o sol se por atrás do Museu do Louvre tomando coups de Deutz, meu champanhe preferido, é um prazer que não tem preço. Ou melhor, tem. Mas pra que falar disso? Nas fotos, parte da vista do terraço, retrato de João e reflexo das Arcades na vidraça do bar.

sábado, 3 de agosto de 2013

PARIS SÓ PARA MIM

A maioria dos franceses viaja de férias no mês de agosto. Grande parte dos restaurantes fecha e mesmo os turistas parecem apontar seus roteiros de viagem em direção a outros lugares. Provavelmente em direção ao litoral. Até meu amigo João, que me recebe em sua casa, partiu de férias e fiquei sozinho, com Paris todinha praticamente só para mim. E, quer saber? Adoro. Chego facilmente aos lugares. E, quando chego, sento. Não há mais filas de espera. Mesmo na Uniqlo não há filas nos caixas. Eu, que sempre adorei São Paulo nos feriados prolongados e no verão, agora desfruto da minha Paris. Só minha... O calor deu uma trégua, já é possível sair de calça comprida e de camisa. Antes, só de bermuda e camiseta, parecia que a gente estava em Ipanema... Agradáveis dezenove graus ao sol me levaram mais uma vez até a casa de Serge Gainsbourg, cuja fachada já foi liberada dos tapumes e começa a ser recoberta por novos grafittis. Fui, também, assistir ao documentário Bambi, emocionante depoimento de vida da transexual Marie-Pierre Pruvot, que fez muito sucesso nos anos cinquenta e sessenta no Carroussel de Paris. Fui amigo íntimo de Claudia Wonder e, por incrível que pareça, ainda não assisti a Meu Amigo Claudia, falta que pretendo corrigir assim que voltar ao Brasil. No mais, caminho muito como sempre faço quando estou aqui... Nas fotos, la maison de Gainsbourg e o cartaz de Bambi.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

AGOSTO EM PARIS

O mês de agosto chegou trazendo de volta o calor, que na última semana de julho havia dado uma trégua. No entando, a cidade já parece bem mais tranquila do que no mês anterior, com menos turistas nas ruas e nos lugares. Caminho muito por Paris, dia e noite, visito parques, igrejas e jardins, vou a soirrées, descubro e redescubro pequenos bistrôs e restaurantes. E, claro, bebo muito vinho. Os rosés são os preferidos da estação. Hoje fui com o João rever a Cité des Ciences et de l'Industrie, andamos muito pelo Parc de La Villette, pegamos o Canal de l'Ourq e fomos até Pantin, onde descansamos à sombra com os pés na água. Os prédios, pontes e muros da região são todos decorados com imensos retratos de pessoas comuns, como eu ou você, que são impressos em papel e depois colados, dando um interessante efeito de integração do visitante ao local. Testamos e aprovamos o bistrô Le Pré Verre, indicação de minha amiga Lilian Rocha. E vamos vivendo la vie en rose. Ou melhor, em rosé! Nas fotos, a imensa esfera da La Géode e as margens decoradas do Canal de l'Ourq.