terça-feira, 25 de setembro de 2012


TEM DIAS QUE A GENTE SE SENTE...
E não é? Tem dias que a gente se sente mesmo. Tudo está bem, tudo está lindo e a vida até parece de fato com aquelas imagens belas e felizes que a gente vê postadas nas redes sociais. Mas, como já cantou Chico, tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu. Sem saber como se encaixar na realidade. Parece que não tem lugar pra gente nesse planeta. Nesse país. Nessa cidade. Nessa casa... Aí eu não consigo entender mais nada. No prédio ao lado, fazem uma poeira e uma barulheira infernais para trocar as pastilhas da fachada por tijolinhos. Era mesmo imprescindível? Ligo a TV pela manhã e fico pensando se a Ana Maria Braga não é um personagem do Cirque du Soleil que fugiu do Varekai sem tirar a peruca nem a maquiagem. A tarde cai e vem aquele aperto no peito, uma angústia que só começa a aplacar depois do segundo drink. Para dar lugar à paranóia que imediatamente se instala no seu lugar: Estou virando alcólatra? Ou, pior, será que eu SOU alcólatra? Influenciado pela leitura das crônicas de Caio Fernando Abreu, ouço Nara Leão. Eu, que sempre gostei de cantoras com vozeirão, nunca havia parado para apreciar a delicadeza da voz de Nara. E não é que ela nos ajuda mesmo a levar? Tem dias que só com gelo e Nara... Aí sim, a gente se sente como quem voltou ou viveu!
Na foto, Narinha em si.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012





NOS JARDINS NÃO EXISTE HAPPY HOUR
Subo e desço a Augusta. Faz horas que acabou a energia. Estou sem telefone, internet, televisão. Nem ler eu posso, sem iluminação. O Ritz só abre às oito. Criolo já cantou: Não existe amor em SP. Pois eu digo: Não existe happy hour nos jardins. Aquele café da Livraria Cultura, no Conjunto Nacional, é bacana mas está sempre cheio. E lá não pega direito o celular. Nem a internet. Entro na Lanchonete da Cidade. Me sento a uma mesa. Peço vinho. Ligo o ipad. A moça da mesa ao lado fala ao celular com um sotaque tão gaúcho que, por um instante, chego a pensar que estou em Porto Alegre. Bah, guria, to com uma dor na minha ciática! Não é ciático? Penso. Lembra Lazier Martins apresentando o Jornal do Almoço, na RBS TV. Lembro de Tatata Pimentel, Ivete Brandalise. Tania Carvalho, minha ídola do sul. Não temos mais Caio Fernando Abreu, de quem eu seria vizinho, pois moro na Franca com a Haddock Lobo. Ele morava na Haddock, quase com a Franca. Há uma conspiração universal querendo me fazer ficar of-line. Nem aqui na Lanchonete estou conseguindo acessar a internet. Que tédio! Não posso nem ficar lado a lado com Camila Pitanga... Aposto que os bares do Centro estão cheios de gente happy. Nessa hour em que ninguém aqui nos jardins parece fazer nada...

segunda-feira, 17 de setembro de 2012


A VIDA GRITANDO NOS CANTOS
É justo uma pessoa que está às vésperas de completar cinquenta anos abrir a janela e só enxergar um muro e uma parede? Onde foi parar o horizonte, a perspectiva do sonho, a possibilidade de olhar mais além? Quando se tem trinta anos e se está deslumbrado com a cidade, o trabalho, as pessoas, isso passa batido. Em casa, é onde menos se fica... Não se tem tempo para o cotidiano, o dia a dia não interessa, não se para para viver os dias, tão ocupado se está em viver os anos... Agora, que os anos já foram vividos, os instantes precisam ser desfrutados: As nuances de cada momento. A cor das horas, que mudam o céu à medida que passam. Você não pode levantar os olhos do livro que está lendo e dar com a parede a menos de cinco metros. É aprisionante. Redutor. Sobretudo quando se está lendo as crônicas de Caio Fernando Abreu. E a vida, bem, a vida... Gritando nos cantos!

quarta-feira, 12 de setembro de 2012


ABOMINAÇÃO COGNITIVA
Dois queridos amigos me enviaram, um pelo Facebook e outro por e-mail, o vídeo da palestra da filósofa Marilena Chauí sobre o alargamento do espaço privado em detrimento do espaço público. Nesse vídeo, Marilena narra, entre outras coisas, sua indignação com a falta de educação de um casal que a destrata em uma agência bancária e xinga a moça de "abominação cognitiva", o que a antagonista, certamente, não tem a menor ideia do que significa. Fiquei lembrando de quando, nos anos oitenta, todos lemos o seu livro Repressão Sexual, na escola de teatro em Porto Alegre. Quem não tivesse lido esse livro, à época, não tava com nada. Era uma espécie de abominação intelectual. Seria mais ou menos como não ter lido Camille Paglia nos anos noventa. Ou, nos dias de hoje, sei lá, não acompanhar a novela Avenida Brasil. Sim, tudo muda... Adorei o xingamento de alto nível! Fiquei mesmo admirado com a intelectual que, mesmo sob pressão, mantém o grau elevado da discussão e não perde a elegância nos argumentos. Logo hoje, nesse mundo estranho onde vivemos e no qual as pessoas desconhecem as regras mais básicas de civilidade e convívio social. Ela diz que basta entrar em um automóvel para a pessoa mais sensata se transformar em um animal selvagem. Eu diria que não precisa nem entrar em um carro, basta que saiam dos seus casulos de segurança com dez mega e wi-fi grátis... É como disse meu amigo Fabio Martinusso ao motorista do táxi que nos levava ao Igrejinha Bar no último domingo. Ao ver o motorista rir sem se conter de uma desmunhecada menos comedida do meu amigo, este exclama: Moço, eu quero fazer um curso para engrossar a voz. E o motorista: É só você gritar logo de manhã, quando acordar, uns dez palavrões que a voz engrossa. Ao que o Fabio retruca: Ai, moço! Eu não falo dez palavrões nem em um ano! Fabio, como Marilena, é uma avis rara. Ou seria uma abominação social? E esse calorão todo que está fazendo em pleno inverno? Seria uma abominação meteorológica? O fato é que vivemos rodeados de abominações de todos os tipos. É só parar pra pensar...