terça-feira, 29 de junho de 2021

C'EST L'HIVER

O inverno chegou trazendo o frio. Devo dizer, mais frio. Pois o outono já havia sido um preâmbulo bem rigoroso da estação mais fria do ano. Eu gosto muito de frio e já estava sentindo saudades do aconchego que vem com ele. Vivi grande parte da minha vida em lugares de invernos muito frios. Desde a infância em Soledade, depois Porto Alegre e Paris. Sinto muita saudade dos invernos dessas cidades. Agora me regozijo com vinhos, sopas e cobertores. Edredons. Na minha infância não havia edredon. Usávamos acolchoados de lã de ovelha. Pesados e quentes como nada mais naquela época... Muitas leituras também embalam meus dias de frio. Depois dos últimos livros que citei aqui - Cafeína e Um Dry Martini para Hemingway - segui no embalo "début du siècle" e decidi reler Paris é Uma Festa de, justamente, Hemingway. Adoro a maneira como ele se relaciona com as cidades, vivendo-as como seus habitantes locais e não como o fazem os turistas. Foi assim com Paris, Cuba e Key West, para citar algumas. É assim que gosto de viver as cidades por onde passo e por isso me identifico com o autor. No fim do último capítulo, entitulado Paris continua dentro de nós, ele se despede carinhosamente da Cidade Luz dizendo: "Paris não tem fim, e as recordações das pessoas que lá tenham vivido são próprias, distintas umas das outras. Mais cedo ou mais tarde, não importa quem sejamos, não importa como o façamos, não importa que mudanças se tenham operado em nós ou na cidade, a ela acabamos regressando. Paris vale sempre a pena e retribui tudo aquilo que você lhe dê". Identificação total. Parece ter sido escrito para mim ou por mim, modéstia à parte... O mês do inverno trouxe também a vacina para a minha faixa etária. Tomei a primeira dose no dia 14 de junho. Inicialmente ela estava programada para agosto mas, felizmente, o governo de São Paulo adiantou o cronograma. Postei a foto nos stories do meu instagram e tive recorde de visualizações. Tive também muitas mensagens me perguntando qual vacina eu havia tomado. Aproveito para responder: Vacina anti-covid 19. Não me lembro de em nenhum outro momento ter visto pessoas preocupadas com a marca das vacinas da gripe, febre amarela, sarampo ou todas as outras que as crianças tomam. Fiquei imaginando um menu na entrada do posto de saúde, como há na entrada dos restaurantes, apresentando a carta de vacinas do dia para o cliente escolher. Ou a garçonete perguntando: Dipirona acompanha? Rsrsrs... No mais, a esperança volta a acenar com alguns possíveis trabalhos e, quem sabe, o fim dessa inusitada era de isolamento e de privações. Que os deuses olhem para nós com piedade e compaixão... Na foto eu, bem pimpão, logo após receber a primeira dose da vacina.

quarta-feira, 9 de junho de 2021

JUNHO POR UM TRIZ

Nem acredito que já chegamos em junho de mais um ano pandêmico e de isolamento. Pelo menos agora a esperança já me acena com a vacina, que para a minha faixa etária chegará no dia primeiro de julho. Depois de devorar o romance Cafeína, de Maurício Torres Assumpção, a que me referi no post anterior, me lancei na leitura de A História do Brasil nas Ruas de Paris, do mesmo autor. Nele saboreio as aventuras de brasileiros notáveis pela capital francesa. Dom Pedro I, Dom Pedro II, Alberto Santos Dumont, Heitor Villa-Lobos, Lúcio Costa e Oscar Niemayer tem suas passagens pela Cidade Luz descritas com riqueza de detalhes através da rica pesquisa realizada pelo autor. Com direito a lista de endereços citados e links no final de cada capítulo. Uma espécie de guia. Só que muito mais sofisticado. O que viram, o que fizeram e o quanto contribuíram para a boa imagem do nosso país no exterior. Mas eram outros tempos, né? Hoje em dia estamos por um triz. Diplomacia virou coisa do passado. Intolerância, grosseria e linguagem chula se tornaram moeda corrente. (Me lembro que achava o presidente Figueiredo grosseiro, por declarações do tipo “prendo e arrebento” ou por dizer que preferia os cavalos aos seres humanos. Comparado ao que temos agora, me dou conta de que ele era praticamente um gentleman)... Eu também ando por um triz. Tão por um triz que belos entardeceres na sacada me fazem chorar enquanto os aprecio tomando um drink. (E quando 2021 acabar virá o quê? Outro ano vazio, socialmente distanciado, com máscaras, álcool gel e sem trabalho?). Abstinência de Paris mode on. Essas leituras avivam a imagem da cidade na minha cabeça. Percorro suas ruas, cafés, teatros, museus, salões e restaurantes. Seus parques e jardins. Suas praças e bulevares. Vivo uma espécie de realidade literária, que acontece paralela à virtual e à real. Por aqui também dou minhas escapadelas de vez em quando, pelo menos para caminhar e tomar sol. Ou para andar de bicicleta. Nos Jardins ou na Liberdade. Ou nos jardins da Liberdade. Com todos os protocolos de segurança. Aliás, nesse momento nada me soa mais falso do que essa frase: Com todos os protocolos de segurança. Mas vamos em frente. Amanhã será outro dia e, para terminar citando Hemingway, o sol também se levanta... Nas fotos, o jardim japonês do Largo da Pólvora, um dos meus recantos preferidos no bairro da Liberdade, e a luxuosa edição de A História do Brasil nas Ruas de Paris.