domingo, 30 de dezembro de 2018

NOITE VAZIA

Dia desses, chez meu amigo Tude Bastos que se recuperava de uma cirurgia, começamos a assistir pelo celular ao filme Noite Vazia, de Walter Hugo Khouri. A película tem uma hora e meia de duração e assistimos aos primeiros trinta minutos fazendo hora para o jantar. Foi o suficiente para que eu me sentisse preso à história e ficasse louco para terminar de assisti-la assim que fosse possível. O que acabou acontecendo no dia seguinte, em minha casa, mas pela tela da televisão. Rodado na São Paulo que emergia como metrópole nos anos sessenta, o filme tem toda a carga de existencialismo da nouvelle vague brasileira, mais conhecida como cinema novo. Chega a ser chato de tão parado. Mas ao mesmo tempo é maravilhoso. As pessoas estão em bares e boates e não se divertem. Não riem. Nem ao menos sorriem. Lembra em alguns momentos Cinderela em Paris, só que levado a sério... Odette Lara e Norma Benguel, no auge das respectivas belezas, interpretam duas moças de vida fácil que são caçadas por dois playboys paulistanos na tentativa de fazer com que a noite valha a pena. E dá-lhe questionamentos... Muita arquitetura modernista, muito jazz, muito delineador, muita peruca, uma pequena joia pré-Almodóvar. Odette Lara é nossa Catherine Deneuve. E Norma Benguel, nossa Jeanne Moureau. E, diga-se, nos brindam com beijo gay em cena de puro fetiche lésbico. Que maravilha. Uma hora e meia de imagens entediantes e belas. Se tivesse uma gota de humor seria uma espécie de Manhattan tropical. Mesmo assim, uma pérola do nosso cinema. A trilha sonora luxuosa é do maestro da Tropicália Rogério Duprat. Um deleite a parte é ver clássicos da arquitetura paulistana ainda em construção. A solidão das grandes metrópoles com todos os seus clichês. Com direito a jantar japonês na Liberdade servido por uma gueixa. Para quem, como eu, ama São Paulo é um presente... Ah, last but not least, os galãs Mário Benvenutti e Gabriele Tinti (uma espécie de Alain Dellon à italiana) são verdadeiros boys magia. Confere lá no YouTube.
Na foto, as divas Odette Lara e Norma Benguel em momento spicy.

sábado, 29 de dezembro de 2018

PALAVRÕES DO BEM

Eu não sei exatamente quando ocorreu essa mudança. Só sei que perdi o ponto exato em que os palavrões deixaram de ser ofensa, chingamento, falta de educação, e passaram a ser considerados elogios ou modo coloquial de se falar. O que lembro é que quando Caetano Veloso lançou o álbum Abraçaço, que trazia a canção A Bossa Nova é Foda, senti um certo desconforto mas, em seguida, aderi. Afinal, Caetano sempre foi irreverente, pop, transgressor e, agora mais do que nunca, atento aos sinais da modernidade. Mas comecei a achar a coisa deveras esquisita quando fui a um show de Johnny Hooker no Cine Joia e as pessoas, que estavam em êxtase com a apresentação, gritavam frases do tipo: Puta que pariu! Vai se fudê! Você é do caralho! Vai tomar no cu! Fiquei me perguntando o que elas gritariam se estivessem detestando... E como meus ouvidos não me dão descanso, passei a perceber essa, digamos, tendência, em todos os lugares. Nos bares, restaurantes, teatros, cinemas, em toda a parte. É um tal de "pra caralho", "do caralho" e até a variação "do grande caralho". Ou seja, o caralho está em todas as bocas... E, quando não pode ser pronunciado, como em programas ao vivo na televisão, as pessoas o substituem por baralho... Merda e bosta já estão definitivamente liberados, mas estes com a significação original mesmo, de chingamento. Quem é muito bom no que faz é pica. O velho e ingênuo "bem feito" foi substituído por "chupa"... Fico lembrando do tempo em que, além de não poderem ser pronunciados, não eram nem ao menos escritos. Eram grafados como uma sequência de símbolos sem significado que a gente subentendia tratar-se de um palavrão. Algo como #*¥@$&#*... Tenho tanto apreço pela língua portuguesa, a considero uma das nossas maiores riquezas. E é com incontida tristeza que a vejo definhar dia a dia. Mas, como já dizia Oscar Wilde, se soubéssemos quantas vezes nossas palavras são mal interpretadas, haveria muito mais silêncio no mundo...

domingo, 23 de dezembro de 2018

ZIZI ENCANTA ILHABELA

Papai Noel continua sendo generoso comigo neste Natal. Ontem à noite ele me presenteou com um belíssimo show da cantora Zizi Possi em plena praça central de Ilhabela. Na verdade foi um presente da prefeitura para os moradores e turistas. Mas eu prefiro acreditar que foi só para mim... Zizi está encantadora, linda e cantando divinamente. Eu já tinha me deliciado com a participação dela no especial de Roberto Carlos na noite anterior. E esse show foi a cereja do presente natalino. Acompanhada de quatro excelentes músicos, ela fez um apanhado da carreira, cuja escolha focou especialmente nos hits. Tudo o que eu gostaria de ouvir em um show de Zizi e que há muito não ouvia. Estavam presentes no set list desde Perigo e Asa Morena até Um Minuto Além e Beatriz. Passando por A Paz e O Amor Vem Pra Cada Um. Inesquecível. Mais uma vez encerro dizendo que Papai Noel não poderia ter me dado presente melhor...
Na foto, Zizi shining and singing entre as luzes de Natal.

sábado, 22 de dezembro de 2018

NATAL NA ILHA

Estou mais uma vez em um dos lugares onde mais gosto de estar: Ilhabela. Acho que só perde, no ranking das minhas preferências, para o palco em primeiro lugar e para Paris em segundo. Ainda assim, esse bronze só se deve aos mosquitos. O único defeito desse paraíso na minha modesta opinião. Eu demorei para conhecer Ilhabela. Já morava em São Paulo há anos quando finalmente aconteceu. Vim acompanhar o Weidy, que à época fazia parte da Cia Druwe de dança. Eles vieram dançar seu espetáculo Lúdico, que homenageava o pintor Kandinski. Acho que já faz uns dez anos e desde então tenho vindo sempre que posso. Essa será a segunda vez que irei passar o Natal aqui. A primeira foi com minha irmã Raquél e ficamos onde eu sempre costumava me hospedar, na praia do Perequê. Agora estou instalado pela primeira vez na praia do Curral e estou amando. A casa fica no alto do morro, de frente pro mar. E é só descer duas quadras que já estamos com o pé na areia... Papai Noel não poderia ter me dado presente melhor...

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

BODAS DE CERÂMICA

Hoje meu blog está completando nove anos de existência. São as nossas bodas de cerâmica. Adoro cerâmica. Tenho um amigo ceramista que mora em Campo Grande, o Mauro Yanase. Ele faz um trabalho lindo e já me presenteou com diversas de suas criações. Adoro um casalzinho de monges que ele faz. Tenho os meus há anos. Esse ano eu os coloquei junto à árvore de Natal. Ficou um amor... Mas, voltando ao aniversário do blog: Muito da minha empolgação inicial já arrefeceu. Hoje escrevo mais raramente e até me abstenho de emitir opiniões sobre vários assuntos. Como já falei anteriormente aqui, os assuntos estão muito prementes, tudo urge, tudo é de extrema importância e todos, absolutamente to-dos, tem opinião formada sobre tudo. Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante... Rsrsrs. Brincadeira. Só não acho que minha opinião tenha tanta importância assim. E muito menos que eu deva dá-la a quem não pediu... Ainda assim, mantenho o blog com entusiasmo e compartilho aqui grande parte das coisas que vivo, vejo, leio, assisto, crio, invento. Se por mais não for, é para ficar um registro da minha passagem pelo universo virtual. Aqui já tem um bom material escrito. Nesses nove anos eu mudei tanto, aprendi tanto, vivi tanto! E é no mínimo reconfortante poder dividir parte disso que seja com quem me lê. Aproveito para agradecer a todos: Muito obrigado por estarem comigo nessa já longa jornada. Espero ter fôlego para seguir por no mínimo mais nove anos... Adoro quando o blog faz aniversário também porque significa que o ano já está no fim. Gosto muito dessa época, que para mim significa mudança de ciclo, renovação, crescimento. Mais uma vez temos a oportunidade de deixar para trás o que não nos serve e ir em busca do que queremos de fato. Não que a gente realmente faça isso todos os anos. Mas só de saber que temos essa chance já me reabastece as esperanças... Por falar em esperanças, eu sempre as tenho. Mesmo quando nos acenam retrocessos, como agora. Acho que sempre se avança em alguns quesitos, ainda que em detrimento de outros. E assim a vida segue, em espiral. Mas que, pelo menos, o movimento seja ascendente!
Na foto, meus mongezitos bem fagueiros ao pé da árvore de Natal.

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

GIL, SONS & PALAVRAS

Minha paixão por Gilberto Gil é antiga, mas foi totalmente reaquecida por seu programa Amigos, Sons e Palavras, no Canal Brasil. Adoro ver Gil entrevistar seus convidados. Na verdade ele divaga sobre as coisas da vida enquanto conversa com a pessoa, e acaba que o próprio entrevistador se revela a melhor coisa da entrevista. Gil tem a sabedoria dos que já viveram quase tudo. Nada parece ser novidade para ele. As novidades, ele já antevira todas lá atrás, nos longínquos sessenta, setenta... E nesse esteio eis que veio seu show Ok Ok Ok para São Paulo e, graças à generosidade da minha amiga Andresa Espagnolo, fui assisti-lo. O que mais me encanta nesse genial compositor, além obviamente da música, é a sua incrível habilidade com as palavras. Mais que um poeta, como muitas vezes é chamado, Gil tem com as palavras a intimidade de um escritor. Há no seu olhar algo que me ilude... Não me iludo, tudo permanecerá do jeito que tem sido... Lembro que o vi pela primeira vez no show Realce, com aquelas adoráveis trancinhas coloridas, no Teatro Leopoldina, em Porto Alegre, nos idos de 1979... Depois, nos oitenta, já na fase de shows em ginásios, lembro de ter assistido a Um Banda Um no Gigantinho, também na capital gaúcha. Fui tão cedo para o local que acabei assistindo também à passagem de som... Mas, voltando ao show Ok Ok Ok: Uma noite inesquecível. Plateia lotada, Gil firme e forte no palco, acompanhado de três de seus filhos: Ben, João e Nara. Uma banda linda, arranjos sofisticados e uma luz de sonho no belo cenário de Luiz Zerbini. Um presente de Natal. Sentado no começo do show, Gil fica em pé na segunda parte para empunhar a guitarra e levantar a plateia do Teatro Bradesco. Há no seu olhar algo surpreendente: Como o viajar da estrela cadente... Saí de lá com uma vontade incontrolável de escutar todas as suas músicas. O que já venho fazendo há quase uma semana... Remexi guardados, encontrei velhos elepês e até as fotos que fiz dele no show Realce em Porto Alegre. Há no seu olhar algo de saudade: De um tempo ou lugar na eternidade... E quanto mais o ouço cantar, mais repito para mim mesmo: Eu quisera ter tantos anos-luz quantos fosse precisar para cruzar o túnel do tempo do seu olhar...
Nas fotos, três instantes do show Realce captados por minha Olympus Trip 35 no Teatro Leopoldina.

domingo, 2 de dezembro de 2018

DEZEMBRO

Oi, tudo bem? Que bom que você veio. Entra. Senta, fica à vontade. Gostou da música? É Serge Gainsbourg. Tenho quase tudo dele. Adoro. Conheci em Paris. Aliás, no ano que eu cheguei em Paris para morar ele morreu... Aí comecei a ouvir tudo e me apaixonei. Mas deixa isso pra lá, vem pra cá, o que é que tem. Rsrsrs. O que você quer beber? Tem vinho tinto, vinho rosé, espumante e cerveja. Ah, e eu posso fazer alguns drinks pra você também. Deixa eu ver o que eu tenho e o que dá pra fazer: Humm... Posso fazer um Manhattan, um Whiskey Sour, um Dry Martini ou um Gim Tônica. Dry? Olha... Gostei. Pera, já faço. Ah, não tenho azeitona inteira, só fatiada. Mas tudo bem, faço tipo um espetinho de pedaços de azeitona, fica legal também. Adorei que você veio. Não aguentava mais novembro. Outubro, então, nem se fala. Toma, tim-tim! À nossa... Calma! Tá com pressa? A gente tem a noite inteira pela frente. Quer dizer, eu tenho a noite inteira pela frente. Você, certamente, tem mais uns três ou quatro compromissos para cumprir antes do dia raiar. Afff! Há quanto tempo eu não vejo o dia raiar! Não dessa forma, só quando acordo cedo, antes do sol. O quê? Mentira, gosta nada. Quer dizer, gosta. Mas não se satisfaz em ficar aqui comigo. Daqui a pouco você certamente vai querer estar em outro lugar comigo. Ou em outro lugar com outras pessoas. Eu não te basto. Estar aqui, comigo, não te basta. Tudo bem, eu sei como é. Já fui assim também... Mas me conta: