sexta-feira, 26 de abril de 2019

56 OUTONOS

Camburi me recebe mais uma vez para o meu aniversário. Se faz ensolarada de dia e estrelada à noite, como a desejar boas vindas à minha nova idade: Aos meus cinquenta e seis outonos. Como faço aniversário em abril, gosto de contar meus anos em outonos... Mar bravio. Faixas de isolamento. Salva-vidas a postos. A cada placa sinalizando perigo, lembro Zizi Possi: Perigo é ter você perto dos olhos mas longe do coração. Muito feliz de estar aqui... Weidy veio comigo na véspera, mas já voltou pra São Paulo para trabalhar. De modo que agora estou apenas na companhia de Rosa, a gatinha do meu amigo Pedro, que mora aqui mas viajou e deixou-a sob meus cuidados. Quando não estou em casa, com ela, estou comigo. Uma das companhias de que mais gosto... O menino que fui insiste em permanecer comigo, por mais que o tempo passe. Nem sei se algum dia chegarei a ser adulto de fato. Mas gosto do que sinto, vivo, lembro e persisto. Um praticante de cross fit que conheci na praia me disse que já estamos vivendo cento e vinte anos. Se é assim, ainda nem cheguei na metade da minha vida. Quem sabe até lá eu amadureça... Recebi tantas mensagens me parabenizando pelo aniversário que me senti realmente querido. E bonito, também. Afinal, foram tantos elogios à minha forma física... Como costumo dizer, só eu sei a que custo... Aproveito para agradecer aqui. Obrigado a todos! Quanto a mim, sigo curtindo mais uns dias de praia. Meu aniversário, costumo comemorar uns dez dias no mínimo...
Na foto eu, bem pimpão, exibindo a forma física conquistada a duras penas.

terça-feira, 16 de abril de 2019

PARIS EM CHAMAS

Esse mês, mais exatamente no dia 23, vai fazer quatro anos que estive em Paris pela última vez. Para quem, como eu, ia regularmente desde 2007 isso significa tempo demais. Principalmente porque vivi na cidade no começo dos anos noventa e nutro por ela uma paixão imensurável. Mas, como eu dizia, faz quatro anos que estive lá pela última vez. Na ocasião, fui até a Notre-Dame, como sempre faço, rezei um pouco e comprei uma daquelas adoráveis velas que vem num copinho de plástico com a imagem de Nossa Senhora. (Não “nossa dama”, como traduziu um repórter da Globo ontem no jornal). Faço questão de dizer que comprei porque quando pego uma vela eu deixo uma contribuição em dinheiro. Ao contrário de várias pessoas que apenas colocam a vela na bolsa e saem... Pois ontem, quando fiquei sabendo do lamentável incêndio que destruía esse patrimônio da humanidade, eu já estava em chamas de tanta saudade de estar em Paris, justamente por estarmos em abril, mês do meu aniversário, e por eu ter ido passá-lo lá quatro anos atrás... Confesso que doeu. Me entristeceu muito. Não apenas o fato em si, mas a torrente de fotografias que passaram a ser postadas nas redes sociais. Não me refiro às fotos do incêndio, mas das pessoas em frente à catedral. Parece que o sentimento não é de pesar e sim: Vamos aproveitar que a Notre-Dame está pegando fogo e postar fotos mostrando que já estivemos lá? Perdoai-os, mãe, eles não sabem o que fazem. Sinto muito por Paris, pelos franceses, pela humanidade. Desejo que eles consigam sair logo dessa. Como já saíram de outras até bem piores. E me calo. Je vous salue, Marie...
Na foto, feita na última vez que estive em Paris, as lindas velas da Notre-Dame.

quinta-feira, 4 de abril de 2019

A MULHER SÓ

Minha primeira direção depois de ter me formado em teatro na Universidade, A Mulher Só foi também minha primeira incursão na dramaturgia. Eu andava bastante envolvido pela ideia de usar a solidão como tema de um espetáculo. Aliás, para mim a solidão era o grande tema a ser abordado. Como ainda é, de certa forma. Só que nada do que me caía às mãos parecia dizer o que eu queria. Pelo menos não da maneira que eu queria. Foi então que, inspirado no teatro do absurdo que eu estudara recentemente (especialmente em Dias Felizes, de Becket) escrevi num rompante esse meu primeiro texto dramático. Depois, no processo de criação do espetáculo, fui escrevendo mais cenas e acrescentando-as ao todo, na medida em que se faziam necessárias. Escrevi tudo à mão, em um caderno que guardo comigo até hoje... Agora, quando paro para lembrar desse trabalho, me dou conta de que as minhas pretensões dramatúrgicas foram grandemente superadas pelo verdadeiro show performático que os atores Ciça Reckziegel e Paulo Vicente promoviam em cena. Paulo é dono de um histrionismo todo próprio, uma espécie de grife que imprime a todas as suas criações. E Ciça possui uma vasta gama de emoções que gentilmente empresta a seus personagens, indo do cômico ao trágico sem parecer fazer o menor esforço. Some-se a importantíssima colaboração de Marlene Goidanich na preparação vocal dos atores et voilà: O espetáculo ficou perfeito. Modéstia à parte... Em mais um ímpeto autoral, compus uma pequena canção para os personagens cantarem em cena. Essa música ganhou gravação com arranjo de Hique Gomes. Tenho muita saudade desse tempo em que, com uma ideia na cabeça e alguns talentos reunidos, a gente conseguia fazer arte... A cena era vazia, apenas o panejamento do palco e duas cadeiras às quais os personagens estavam metaforicamente amarrados. Marilourdes Franarin levantou a produção. Chico Machado foi responsável pela criação visual. A luz de Hermes Mancilha dava o tom da atmosfera, ora de sonho, ora de duro aprisionamento. Figurinos de Coca Serpa e coreografias da própria Ciça Reckziegel arrematavam o pacote. Estreamos no final de 1989, uma pré-estreia de dois dias na Sala Álvaro Moreira, para cumprir a primeira temporada de 1990 na mesma sala. De lá, fomos para uma segunda temporada no Teatro de Câmara (Alguma notícia dele?). Um espetáculo que muito me realizou como encenador, no qual tive a oportunidade de experimentar vários estilos: Do minimalismo à chanchada, do teatro-dança à colagem de esquetes. Tudo com o subtítulo de: A Comédia -Bolero da Solidão. E lá se vão já trinta anos...
Nas fotos, Ciça e Paulo Vicente em ação. Não consigo lembrar quem foi o fotógrafo. Alguém me ajuda? Fiz foto das fotos, por isso esse brilho refletido nas imagens.