quarta-feira, 28 de junho de 2017

VIAJANDO COM BIVAR

Depois de devorar Verdes Vales do Fim do Mundo, estou economizando a leitura de Longe Daqui Aqui Mesmo (que emendei na sequência, sem intervalo) para que o prazer da leitura seja prolongado por um pouco mais de tempo... Na verdade estou preenchendo lacunas que havia deixado na leitura da obra desse autor que tanto admiro. E ainda me faltam algumas coisas dele para ler. Mas, com calma e sem muita pressa, vou completando a prazerosa viagem através de sua vida e obra. Esses dois aqui citados, por exemplo, encontrei-os por acaso em edição de bolso quando circulava pela Livraria Cultura. E eles tem me acompanhado no ônibus, no metro, na estrada, em casa, e em todas as esperas a que sou submetido por um ou outro motivo. Tudo vira desculpa para embarcar, mochila nas costas, junto com Bivar em suas aventuras e descobertas. Não vivi, como ele, o movimento hippie, por exemplo. Mas peguei uma certa rebarba dessa tendência e vivi boa parte da minha juventude sob a sua influência. Cheguei a viajar de carona e a acampar. Só que aqui mesmo, no Brasil. Enquanto ele corria o mundo... Felizmente, desde a mais tenra idade tive os livros como passaporte e eles me faziam companheiro de viagem de vários autores que admirava: De Castañeda a Clarice. De Lobato a Fernando Gabeira... Só bem mais tarde é que fui descobrir o Bivar. E passei a acompanhar suas andanças pelo mundo, os shows a que assistiu, as cidades que conheceu, as reflexões a que foi levado, as peças que escreveu e as pessoas que encontrou. Acho que foi na hora certa pois, como diz o seu amigo Andrew Lovelock em Longe Daqui Aqui Mesmo: Nunca é tarde para começar qualquer coisa... Movido por essa ideia é que estou em busca de tudo o que me falta ler da obra de Antonio Bivar. E, para quem ainda não o descobriu, indico sua leitura como indispensável. Boa viagem!
Na foto, Bivar em si pede carona na estrada.

domingo, 25 de junho de 2017

FESTA JUNINA

Dia de São João e aniversário do Weidy em Piracaia, chez nossos amigos Rodrigo et Thomas. A maison se chama La Figueira e muito já falei dela aqui no blog. Nossa intenção era chegar na sexta-feira para o por do sol. Mas houve tanto trânsito na saída de São Paulo que acabamos chegando para um rápido brinde e dormir. No sábado acordamos cedo e, após o desjejum, saímos para caminhada matinal por longa trilha mata adentro até uma inspiradora queda d'água. Mago, o cão pastor suíço dos nossos anfitriões, abria caminho nas picadas, branco e enorme como um urso polar. Depois de longos papos e planejamentos de projetos artísticos voltamos vale acima até a figueira em si, gigantesca, centenária, a dar nome à propriedade. Sentamos em suas majestosas raízes, que saem da terra formando paredes vivas, como muros a circundá-la... Nossos anfitriões são vegetarianos e preparei uma ceia, algo entre o almoço e o jantar, composta de creme de aipo, batatinhas salteadas com alecrim e salada de avocado com tomate cereja e azeitonas verdes. De entrada, pão italiano com homus e queijo melba com amêndoas e damascos. Tudo regado a espumante brut da Serra Gaúcha. O por do sol veio para fechar o glorioso sábado com uma profusão de cores de doer a alma. Digo de doer a alma porque, a essas alturas, o som de Benjamin Clementine já habitava o ar que respirávamos... Pausa para um cochilo e à noite já estávamos reunidos para mais comemorações com vinho tinto e velouté de cenoura com mandioca. Alguma música francesa no iPad, ampliada pela caixinha de som bluetooth... Domingo de sol radioso, céu de brigadeiro. Os meninos saem para nova caminhada na mata e eu me estendo ao sol para bronzear a carcaça. Penso na passagem do tempo aqui e lá, na grande cidade. Aqui as atividades se distribuem naturalmente ao longo do dia, sem horários determinados para isso ou aquilo. E quando a gente se dá conta, mais um dia findou. O silêncio é quebrado, vez por outra, por pássaros que cantam ao longe ou pelo farfalhar das folhas das árvores. Sem trânsito nem vizinhos. Sem pressa ou poluição. Sem sirene ou buzina. Encho os pulmões de ar e agradeço...
Nas fotos, vista da piscina, a maison em si e o sol se põe na janela do quarto.

sábado, 17 de junho de 2017

ZU LAI

Há poucos minutos de São Paulo existe um lugar sagrado onde se pode meditar, respirar mais calmamente e entrar em contato com a natureza, a arquitetura e a arte sacra orientais. É o templo budista Zu Lai. Situado em Cotia, região metropolitana de São Paulo, é o primeiro templo do Monastério Fo Guang Shan na América Latina. Além de todas as atividades espirituais oferecidas, como cursos de tai chi e meditação, o Zulai tem museu, biblioteca, loja, café e restaurante vegetariano. Sem falar nos belíssimos jardins com lagos, cerejeiras e esculturas, nos quais você pode tomar sol, fazer pic nic ou simplesmente ouvir o silêncio, coisa raríssima de se conseguir vivendo na Pauliceia. Fui conhecer este paraíso na Terra nesse fim de semana de feriado prolongado, o que fez com que encontrasse o local bastante cheio de frequentadores vindos de todas as partes. Pretendo voltar em um dia de semana qualquer. Imagino que sem tanta gente circulando o passeio deva ser ainda mais proveitoso. Sem muito mais o que dizer, deixo-os com algumas das belas imagens que registrei por lá. Namaste!

quinta-feira, 15 de junho de 2017

ZONA DE CONFORTO

O que todos tem contra a chamada zona de conforto? Só se fala em sair dela. Apregoa-se ali: Saia da sua zona de conforto. Jacta-se acolá: Consegui sair da minha zona de conforto. Eu estou muito bem obrigado na minha. Daqui não saio. Daqui ninguém me tira... Aliás, tem zona melhor pra se estar? Eu, heim! Só se for a Zona em si, repleta de drinks e quengas e abajures lilases e tal... Ainda mais agora, com o frio que anda fazendo. Ir até a cozinha fazer um café, para mim, já é sair da zona de conforto... Mas São Paulo não para, São Paulo não pode parar. E nesse fim de semana tem show da cult band Hercules And Love Affair, da qual já fez parte Antony Hegarty, do Antony And The Johnsons, minha paixão de cortar os pulsos. É só digitar o nome dele aqui na pesquisa do blog para ver o tamanho da minha paixão... O show fará parte de um festival holandês de diversidade que tem sua primeira edição no Brasil. A noite terá extensa programação, o que me faz crer que Antony, digo, Hercules, pisará o palco lá pelas... Ai, que preguiça!!! Nem Hercules, nem Antony em si, nem os Johnsons e nem mesmo um Love Affair serão capazes de me tirar da minha fofa, quentinha e aconchegante zona de conforto... Beijo não me liga. Mas se joga lá: Festival Milkshake, dia 16 de junho, Stereo Pop Club, SP.
Na foto, a capa do álbum cult da banda não menos cult.

sexta-feira, 9 de junho de 2017

PALAVRAS ERRANTES

Palavras são como pássaros, às vezes pousam na página em branco enchendo-a de beleza e poesia. Outras vezes voam em bando, migratórias, para terras longínquas, deixando sem assunto e nem ao menos título a pobre lauda vazia... Vez por outra se permitem pousar sobre um ou outro assunto, o novo espetáculo de um grande ator de teatro, a estreia de um amigo, um livro que li, um restaurante que conheci, bem en passant, não chegando a preencher sequer um parágrafo... E os assuntos, assim como as palavras, voam em bando para outro hemisfério. Les mots me échappent, como se diz en français... A vida, esse fenômeno por si só já tão interessante, às vezes nos faz pensar que está passando em vão. São Paulo, essa cidade efervescente que amo tanto, às vezes me faz ter a sensação de que não me corresponde, pois me permite, morto de tédio, achar que não há mais o que fazer... E se vai com as palavras o meu assunto. Ouvindo antigos discos de Caetano Veloso me encontro e me reencontro em diversas faixas, refrões, versos. Por mais distante, o errante navegante, canta ele em Terra. Me dou conta de que sigo errando por esse planeta que, às vezes penso, não é o meu. Sim, porque no planeta que imagino meu, metade das coisas que aqui acontecem não aconteceriam... Eu não sou daqui, eu não tenho amor. Marinheiro só errando de cais em cais... Ela me conta que era atriz e trabalhou no Hair. Eu também era ator, costumava brilhar sobre a cena. Alguém disse outro dia na TV: A gente nunca sabe quando vai estar no palco outra vez. Nunca sabe. Acho que foi Crioulo... Eu sempre quis muito. Mesmo que parecesse ser modesto. Agora nem sei se o que quero é muito ou pouco. Tampouco se quero. Ou o quê... Que me voltem as palavras! Isso eu sei que quero. Pelo menos...
Na foto, grafitti na antológica Rua Augusta, inesgotável fonte de assuntos.