segunda-feira, 30 de agosto de 2010



AGOSTO II

Gente, que loucura! Já acabou o mês de agosto! E eu tenho uma teoria: quando acaba agosto, o ano acaba rapidinho. Quando a gente vê, já é Natal...
Olha eu aqui falando novamente do mês de agosto. Juro que não é falta de assunto, pelo contrário. Foi um mês cheio de vários assuntos pra mim. Fiquei bastante envolvido com visitas. Eu adoro receber visitas. Principalmente de pessoas muito queridas, como foi o caso das minhas nesse mês. Recebi meu amigo João Faria, que mora em Paris, minha irmã Rita, que mora em Miami, e sua (nossa) amiga Lilian Pinto, que mora em Porto Alegre. O bom de receber visitas, no meu ver, além de matar as saudades e colocar os assuntos em dia, é que a gente acaba fazendo um monte de coisas que normalmente não faria se não fosse para levar os amigos. É aquele papo do turismo em casa, que falei no post Turismo em SP. E, claro, além de agradar aos visitantes, acabo descobrindo coisas bem legais na minha própria cidade. É o caso do Karaokê da Mamma, na Liberdade, que conheci na companhia de meus visitantes. Adorei! O lugar é incrivelmente kitsch, com uma decoração que mistura enfeites de Natal, lanternas japonesas, aquários, bolas coloridas e um sem número de tranqueiras que resulta inteiramente original. O ambiente é divertidíssimo, bebe-se, dança-se, canta-se e come-se absolutamente de TUDO. Na nossa mesa, por exemplo, teve de churrasquinhos e batatas fritas a temakis de salmão. Bem bão. A frequência é totalmente eclética, indo, como diria meu personagem Emiliano Salvatori, do high-society ao underground. Além de todos os bares e restaurantes que costumo frequentar e que gosto de apresentar aos amigos de outras terras. Adorei, também, a estação Alto do Ipiranga, do Metro, que conheci quando fui levar o João para visitar o Museu e o Parque da Independência. Aliás, João, que como já falei, mora em Paris, ficou impressionado com a limpeza do nosso Metro. Levei-os ao Mercado Municipal, onde comi um delicioso pastel de camarão, o melhor que já experimentei até hoje. Sempre que ia ao Mercado só comia o famoso de bacalhau...
João adorou também o “Baixo Augusta”, com sua vida noturna boêmia, e o bairro da Aclimação, por onde ficamos horas batendo perna.
Agosto teve também uma volta minha à Terça Insana, pois fiz shows com eles em dois fins de semana, um na Praia Grande e outro em Santo André, substituindo o ator Arthur Koll. Levei João comigo pra praia e nós dois adoramos, pois eu também não conhecia a Praia Grande...Pode?
Agora que o mês já terminou e minhas visitas se foram, ficou uma espécie de vazio aqui em casa. Felizmente, hoje à noite ainda vou rever, por poucas horas, minha irmã Rita que vai fazer uma escala aqui em Guarulhos vindo de Porto Alegre para ir pra Miami. Então, quando entrar setembro e a boa nova andar nos campos, eu volto a escrever. Isso se eu não voltar amanhã mesmo, dia 31. Au revoir!


XICO BUARK

Essa grafia para o genial poeta e compositor foi inventada por Millor Fernandes e utilizada por Clarice Lispector na crônica “Xico Buark Me Visita”, do livro A Descoberta do Mundo, que foi, durante anos, meu livro de cabeceira e que já mereceu post especial aqui no blog. A Editora Abril lançou uma coleção de CDs com a obra de Chico Buarque. Serão vinte volumes. Digo volumes porque são pequenos livrinhos ilustrados, com biografia, discografia e painel da época em que o álbum foi lançado. O primeiro volume é o LP Chico Buarque, de 1978, cuja capa ilustra o post. Lembro muito desse disco e desse ano. Comprei o CD na sexta-feira e passei todo o fim de semana escutando e recordando. É incrível como minhas memórias sempre estão ligadas a uma trilha sonora. E é incrível também o quanto de música boa eu escutava, já na mais tenra idade. No ano de 1978 eu completei quinze anos de idade. Tinha acabado de me mudar para Porto Alegre para fazer o segundo grau. E o que eu mais gostava de ouvir, então, era Elis Regina, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Rita Lee, Milton Nascimento e, claro, Chico Buarque de Hollanda. Esse disco, em especial, eu gostava muito e era recheado de sucessos. Lembro que algumas canções, como Cálice e O Meu Amor, tinham acabado de ser liberadas pela censura, assim como Tanto Mar, que faz referência à Revolução dos Cravos, em Portugal. Nesse fim de semana eu fiz shows com a Terça Insana em Santo André, substituindo o ator Arthur Koll, e as nossas idas e vindas ao ABC foram embaladas pelas canções de Chico. Ontem à noite, depois do último dos cinco shows lotados que fizemos entre sexta-feira e domingo, a lua minguante enfeitava o céu, embaçado de poluição pelo baixo índice de umidade do ar, enquanto voltávamos para São Paulo ouvindo as maravilhosas canções de Chico. No álbum tem a canção Pedaço de Mim, que Chico canta em dueto com Zizi Possi, no auge da beleza e afinação vocal, que é de cortar os pulsos. O verso: A saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu, é dos mais pungentes da MPB. E a minha preferida do disco, Pequeña Serenata Diurna, de Silvio Rodriguez. Tem Pivete, crônica-retrato do menor de rua do Brasil, que parece ter sido feita hoje. E Apesar de Você, genial metáfora utilizada para falar diretamente ao poder militar que proibia, justamente, que se falasse o que se pensava. Enquanto observava a noite de São Paulo e ouvia as canções, não conseguia deixar de lembrar da época em que o disco foi lançado. E só pensava no quanto tudo mudou. Pra melhor e pra pior. Jovens que éramos, tínhamos, além dos sonhos e ilusões que todos os jovens tem, acesso a esses artistas geniais, a toda uma intelectualidade que nos formava e nos servia de base. Eu não sei o que os jovens de hoje andam ouvindo, lendo ou assistindo no cinema, mas, pelo menos, SOA diferente. E muito pior. Ta certo, a gente não tinha internet. Mas a nossa informação não era tão fragmentada. Tudo tinha mais tempo para ser explorado, aprofundado, absorvido. Eu detesto a idéia de me transformar num velho saudosista, daqueles que dizem: No meu tempo era muito melhor! Não, não sou, não era. Meu tempo ainda é hoje. Mas, ao reescutar essas canções de Chico, não tem como não ficar comparando com o que temos hoje, pelo menos em termos de Música Popular Brasileira. E, desculpa aí, mas, cá entre nós, era muito melhor.
To louco pra encontar a Ópera do Malandro em CD. Alguém sabe onde tem?

quarta-feira, 25 de agosto de 2010




CALOR EM PARIS

Quando tá muito quente na cidade luz, o chique é tirar uma soneca na rua. Fiz as fotos em maio, quando estava passando pela rue Michel Le Comte, a rua do Duplex...A visão do saco escrotal dá uma certa aflição, eu sei. Mas confere dose extra de realismo à cena. Ou seria naturalismo?
O fato é que esse homem mora ali mesmo, sob uma marquise. Nós o víamos todas as noites, quando íamos tomar nossas saideiras no Duplex. Ele tem sofá, móveis, armários e tudo o mais. A calçada, no caso, vem a ser o seu jardim. E nada melhor do que um cochilo no jardim para os dias de calor...

segunda-feira, 23 de agosto de 2010



PROMENADE
Em francês, quer dizer passeio. Se promener: passear. Aqui em São Paulo acontece, todo ano, a Promenade Chandon, uma festa promovida pela marca de espumante que tem como cenário a rua Oscar Freire, reduto de lojas de grife. É muito engraçado e divertido. Parece uma quermesse de rico. Uma festa de largo bordada de paetês. Os cachorros desfilam com coleiras de strass. E seus donos, crentes que estão abafando, seguram suas taças de plástico pelo cabo, como só os experts sabem fazer. Parece a versão nouveau riche do café com o dedo mínimo esticado. Em meio ao festival de ostentação & maus hábitos, momentos de elevação proporcionados por músicos que, em quartetos, trios e duos, executavam obras clássicas com sopros e cordas, quase despercebidos pela turba up-to-date. Até Marika Gidali apresentou quadros de jazz/bossa com seu ballet. O inverno deu uma trégua significativa e a temperatura atingiu os 21 graus. A lua, quase cheia, pintava de prata o céu enfim azul. Atores globais literalmente expostos eram mega fotografados e filmados por um bololô de gente aglomerada em frente a uma vitrine. Tive pena deles, famosos que são. Só faltou o cartaz dizendo: Não alimente os animais. Ouvi comentários do tipo: Ele é simpaticão, tirou foto com o meu filho. Eu, depois de me promener bastante, fiquei mesmo foi na loja da Cavalera, onde aconteceu o show da diva trash Rita Cadilac. Tomei muito champanhe, digo, espumante, comprei uma camiseta e curti o show de Rita dançando e cantando muito, com direito a foto com ela no final...Tava bem bão!

domingo, 22 de agosto de 2010



SEXO
Sempre tive fascínio por essa palavra que, durante muito tempo, foi somente uma palavra para mim: SEXO. Eu ainda nem sabia direito o que significava, mas já me sentia completamente atraído pela idéia que ela evocava. Sempre era mencionada à meia voz, disfarçadamente, e isso fazia com que eu desejasse ardentemente saber do que se tratava. Só sabia que era proibido. E, se era proibido, alguma coisa me dizia que era bom. Uma vez anunciaram que iria passar na TV, bem tarde da noite, o filme Clamor do Sexo. Achei que finalmente teria acesso a esse segredo de estado mas, qual, não me deixaram assistir. E mesmo no primário, quando descobri na biblioteca do colégio o livro De Onde Vêm os Bebês, que era especificamente direcionado a crianças, a professora não me deixou retirá-lo. Meu pai tinha livros sobre sexo guardados no cofre. E quando, já aos treze anos de idade, pedi para lê-los, ele disse que eu ainda não estava preparado...Que saco! Por que algo tão natural e tão bom me foi proibido durante tanto tempo? O resultado é que passei a temer o SEXO e me mantive virgem até os dezenove anos! Tinha quase vinte anos quando transei pela primeira vez... E o pior: no ano em que comecei a transar, 1983, já se começou a ouvir falar de AIDS. Aí a paranóia se instalou e não teve jeito: Quando parecia que tudo iria liberar geral, a coisa se retraiu ainda mais. Pelo menos eu nunca tive problema com camisinha. Pelo contrário, sempre achei excitante. Quando criança, descobri que minha mãe guardava camisinhas na gaveta do criado mudo. Eu não sabia o que era aquilo e, quando perguntava, ela sempre disfarçava dizendo que eu era muito cirança para saber. O que só aumentava meu interesse em sabê-lo. Aos nove anos de idade eu tinha uma professora de piano, Tereza, uma jovem que morava interna no colégio das freiras, onde comecei meus estudos de piano antes de ir estudar com Dona Amélia, de quem já falei aqui no blog. Com Tereza eu conversava sobre tudo o que era proibido em minha casa. Foi ela que me disse que aquilo que eu vira na gaveta da minha mãe se chamava camisa de vênus, e que era usada durante o SEXO, para impedir que a mulher ficasse grávida. Imediatamente as camisinhas se converteram em objeto de prazer para mim. Eu passei a desejá-las e acalentava o sonho de um dia entrar na farmácia e poder comprar uma só para mim. Uma vez não resisti e roubei uma da gaveta. Foi uma experiência incrível. Ok, vou poupá-los dos detalhes...A palavra gay ainda não era usada e homossexual, ouvida muito raramente, era praticamente um palavrão. Uma vez, já adolescente, li na Veja uma matéria sobre o pintor Darcy Penteado, na qual diziam que ele era homossexual assumido. Fiquei apavorado e atraidíssimo por ele. O seriado Malu Mulher, que Regina Duarte protagonizava no início dos anos oitenta, teve um episódio sobre dois vizinhos gays de Malu, vividos por Buza Ferraz e Daniel Dantas que me marcou profundamente. Mas foi com muito desconforto que assistimos, eu, minha irmã e uma amiga. Sempre me lembro da história de minha tia avó, Tia Ceci, que minha mãe nos contava. Tia Ceci casou muito menina e, obviamente, sem saber nada sobre SEXO. À quela época as meninas casavam-se aos treze, catorze anos de idade. Alguém dissera à Tia Ceci, só de sacanagem, que se ela encostasse no namorado enquanto dançava, ficaria grávida dele. E, num baile em que dançavam animadamente, alguém esbarrou nela e fez com que ela e meu futuro tio se encostassem. Minha tia ficou muito mal e confessou à mãe, em prantos, que estava grávida do noivo. Perguntada sobre como havia engravidado, a história foi desmentida sem ser substituída pela realidade. E foi assim que, ao chegar na sua lua de mel, minha tia avó teve a maior decepção da sua vida quando foi "deflorada" por meu tio. Levou anos para entender e saber que era aquilo mesmo que se fazia para engravidar. Nunca consegui entender o porquê de tamanha ignorância, nem o que fazia os pais passarem adiante algo que já estava provado que era maléfico: tratar o SEXO como tabú. Obviamente, a sombra da igreja católica paira sobre tudo isso. E hoje, depois de muitos anos de divãs e consultórios de terapeutas lotados, finalmente a bruma começa a se desfazer. Mas a que custos!

terça-feira, 17 de agosto de 2010



TEMPO, TEMPO, TEMPO, TEMPO

Esse é o título de uma canção de Caetano Veloso, do álbum Cinema Transcendental, de que gosto muito. Quatro vezes tempo. Tudo a ver com a impressão que tenho: de que ele está passando quatro vezes mais rápido do que costumava passar. Eu já falei sobre a passagem do tempo aqui no blog, mas o assunto me instiga tanto que volta e meia torno a citá-lo. Não consigo concluir se ele realmente está passando mais depressa ou se a minha noção da passagem das horas, dias e anos é que se alterou. Quando era criança, um ano era algo incomensurável. E quando chegavam as férias de verão, que chamávamos de férias grandes, elas demoravam muito para terminar. E eram apenas três meses! O ano dois mil, por exemplo, era uma espécie de abstração, com toques de ficção científica, que a gente pensava que nunca iria chegar. E já faz dez anos que ele chegou. Chegou e passou. Como passam todas as informações com as quais somos bombardeados diariamente. As vinte e quatro horas do dia já não são mais suficientes para todos os compromissos que temos que honrar. Os sete dias da semana não bastam para colocarmos em dia nossas tarefas, leituras e reuniões. Os trinta dias do mês não nos permitem o descanso e o lazer necessários pra aliviar o stress. E os doze mezes do ano não tornam realidade a maioria dos nossos sonhos. E olha que eu não sou pessimista. Pelo contrário, sou o mais otimista dos mortais. Sou uma pessoa que gosta de fazer uma coisa de cada vez. Não me vejo realizando dois trabalhos ao mesmo tempo, como faz a maioria dos atores e outros profissionais que conheço. Fiquei oito anos na Terça Insana fazendo só e unicamente Terça Insana. E olha que, às vezes, mal conseguia dar conta. E mesmo agora, que estou em pleno gozo do meu ano sabático, nem sempre consigo atualizar meu blog, por exemplo. Não é uma queixa, eu até que gosto dessa loucura toda da passagem do tempo. A gente só melhora. Envelhece, é certo. Mas aprimora tanto o conhecimento, a experiência, os talentos e habilidades, que vale a pena um pé de galinha a mais ou uns centímetros extras na cintura. O bom, por exemplo, é que quando planejamos uma viagem, chega rapidinho o dia de partirmos. O ruim é que o dia da volta também chega depressa. Mas tudo tem, pelo menos, dois lados. Uma vez ganhei de presente da minha amiga Ilana Kaplan um livro interessantíssimo que trata, justamente, da passagem do tempo. Chama-se Sonhos de Einstein e foi escrito por Alan Lightman. Recomendo a leitura, são pequenos contos onde o tempo é o personagem principal. O livro inspirou a criação de um espetáculo da Intrépida Troupe, a que assisti no Rio de Janeiro e me marcou bastante. Mas chega de perder tempo. Aliás, dizem que ele é dinheiro e dinheiro a gente não pode perder...
Na foto, que fiz em 2007, o imenso relógio que conta o tempo sobre os visitantes do Museu d'Orsay, em Paris.

domingo, 15 de agosto de 2010



INVERNO


Não me lembro de já ter feito tanto frio assim em São Paulo desde que vim morar aqui, há 14 anos. Impossível não lembrar, com isso, dos invernos da minha infância em Soledade e dos invernos da minha juventude em Porto Alegre e Paris. Sempre preferi o verão ao inverno, a primavera ao outono, o calor ao frio. E meu estado de espírito, meu humor e minha disposição são diretamente afetados por essas variações meteorológicas. Sempre digo que nasci no lugar errado, pois no Rio Grande do Sul faz muito frio e me sinto um falso gaúcho por preferir as temperaturas mais elevadas e a pouca roupa. O frio me desanima, só quero ficar em casa, de preferência debaixo de um cobertor como está fazendo o Elvis, meu gato, na foto que ilustra o post. Eu, que gosto de acordar cedo, tomar café e ir para a academia, nesse frio todo só tenho vontade de ficar tomando chimarrão em frente ao computador, a um livro ou à televisão. O que também não é nada mau, já que me põe em dia com minhas leituras e escritos. Lembro que quando era criança minha mãe me chamava cedo para ir à escola e ainda estava escuro. O gelo cobria os canteiros e as calçadas. Eu não queria levantar de jeito nenhum e ela ia me vestindo enquanto eu ainda dormia... Uma vez cheguei a dormir de tênis pra adiantar o serviço da manhã. Minha mãe não acreditou quando foi me chamar... Mais de uma vez cheguei a ver neve em Soledade. Sim, vez por outra neva na minha cidade natal. Dos catorze anos em diante, quando fui morar na capital, Porto Alegre, o frio ainda seguiu me castigando. Boêmio que era, ficava até altas horas nos bares bebendo cerveja gelada e fumando. E, quando ia dormir, a bronquite e a rinite não me deixavam respirar. Quando fui morar em Paris, no começo dos noventa, era ainda mais frio mas eu quase não me importava porque tudo para mim era novidade e eu estava encantado demais com a cidade luz para me deixar abater pelo seu rigoroso inverno. Hoje procuro sempre visitar Paris na primavera ou no verão, que é quando mais aproveito minha cidade preferida. E São Paulo, a cidade que escolhi para viver, é bastante amena e agradável durante as quatro estações. O único problema é que, às vezes, resolve fazer as quatro num dia só. Nada que um bom drinque e boa música não me façam esquecer. Como agora, que estou bebendo meu vinho ao som de Billie Holiday...Mas que frio!
Impossível não citar, mais uma vez aqui no blog, a frase de minha mãe: Que raiva dessa Argentina, a gente não manda nada pra ela e ela tá sempre mandando frente fria pra nós...

quinta-feira, 5 de agosto de 2010


INFÂNCIA

Tarde fria e cinza de inverno em São Paulo. Estou mergulhado na infância de Clarice Lispector. Sua biografia, escrita por Benjamin Moser, capturou minha atenção de modo que não consigo desgrudar os olhos do livro. Quando, finalmente, paro de ler para fazer um café, a vontade de escrever me traz de volta ao blog. Eu, que sempre fui fã dessa misteriosa e enigmática escritora, percebo que sabia muito pouco sobre ela. O livro narra com detalhes os horrores do período nazista vividos pela família Lispector, que fez com que viessem para o Brasil. Confesso que tive bastante dificuldade para ler essa parte e muitos trechos eu pulei porque sou fraco demais para agüentar. Mas o meu esforço inicial foi recompensado pelo mergulho a que me referi no início do post: a infância de Clarice. As ruas e praças de Recife, as sinagogas, a Livraria Imperatriz, onde Clarice pode ler Monteiro Lobato e Machado de Assis, o carnaval, a imaginação fantasiosa de uma menina fazendo-a ser feliz em meio às dificuldades financeiras da família e aos problemas de saúde de sua mãe. Triste e poético. Belo e comovente. Impossível não me reportar à minha infância, à minha imaginação fantasiosa, à minha descoberta dos livros como possibilidade de ampliar os horizontes da pequena cidade do interior. Benjamin Moser revela nessa biografia o quanto da menina de Recife havia na escritora do Brasil e do mundo. Clarice morou em diversos países, diversas capitais, sem nunca deixar de ser a pequena Clarice da Praça Maciel Pinheiro e da Rua da Imperatriz. Impossível não constatar o quanto do Robertinho de Soledade ainda trago comigo, para o bem e para o mal. Eu também já morei em várias capitais e, até mesmo, no exterior. Mas o interior, de onde vim, é que reflete o meu interior. Digo para o bem e para o mal porque muitas características do chamado “ser do interior” atrapalham uma pessoa que vive nas grandes metrópoles. Uma certa timidez, que eu chamo de caipirice, que, muitas vezes, me bloqueia diante do desconhecido, me faz temer o que eu considero “maior do que eu”. A gente cresce, evolui, aprende, mas não deixa de ser a criança que fomos. Graças a Deus. Eu era muito pequeno quando datilografei, na máquina de escrever do meu pai, meu primeiro conto, a história de um crime, cujo título foi: Era o Mordomo. Infelizmente, não guardei por muito tempo. Ou felizmente, vai saber. Uma vez, inventei uma palavra, só para ser maior do que inconstitucionalissimamente, que minha mãe dizia que era a maior palavra que existia na nossa língua. E, por esses mistérios da memória que não sei explicar, até hoje ainda lembro de cor: Amigolaficaneblocubalaquiantiunicaniblociplicali. Não está escrita em lugar nenhum. Apenas na minha lembrança. Tiro os olhos da tela do computador e olho para a tarde fria de inverno em São Paulo. Me vem à mente o verso de uma canção de Baby Consuelo: Até nos dias turvos chega e mexe comigo. Impossível não lembrar de voltar à leitura da biografia de Clarice.

Lembro que nesse Natal da imagem acima um enfeite caiu da árvore e não se quebrou. Por isso, pedi que me fotografassem com ele na mão. Mas, na hora em que fui postar, descobri que a foto não está comigo...

terça-feira, 3 de agosto de 2010


AGOSTO

Estamos em agosto. Mais especificamente, no terceiro dia do temido e malfadado mês de agosto. Dizem que é o mês do cachorro louco e que a raiva anda a solta por aí. Mas quem disse que a raiva é um sentimento exclusivo dos cachorros? Pessoas enlouquecidas são vistas diariamente pelas ruas, babando de raiva em plena luz do dia! Experimente parar no cruzamento de duas grandes avenidas lá pelas seis horas da tarde e você vai assistir a cenas de raiva explícita. Executivos de terno e gravata mandam senhoras de meia-idade pra cada lugar! E o que é que o pobre do cachorro tem a ver com essa loucura toda? E o que a raiva tem a ver com loucura? Às vezes eu tenho raiva, mas não sou louco. E o que raiva e loucura têm a ver com o mês de agosto? Vai saber...Maio, por exemplo, é o mês das mães, das noivas. Junho é o mês dos namorados. Dezembro é o mês do Natal. Setembro, o mês das flores. Por que razão agosto é considerado o mês do cachorro louco? Eu sempre quis ter um cachorro. Mas com esse papo todo de raiva, eu ficava com medo. E, também, não confio em vacina. Então sabe o que eu fiz? Comprei um iDog. Já ouviram falar em iDog? É um cachorro eletrônico. Não é bonitinho? É muito mais fácil e prático. Não precisa nem passear com ele... Ele se alimenta de música! É só botar música pra ele que ele dança. Mexe a cabeça, as orelhinhas, pisca luzes coloridas. Se a música pára, ele late! É, ele reclama, pedindo mais. Muito melhor. Entra agosto, sai agosto, eu só preciso trocar a pilha... Eu vou contar uma coisa pra vocês: eu tenho um amigo que nasceu no mês de agosto. No dia três. E é uma pessoa tranquilíssima. Pacífica. Ele é o menor de quinze irmãos. Como os seus pais já sabiam, ao casar, que queriam ter muitos filhos, e eles ficaram com medo que lá pelas tantas faltassem nomes, resolveram dar o dia do nascimento como nome a cada filho. Ou seja: ele se chama Três de Agosto Gomes de Oliveira. Pior é o irmão dele, que se chama Primeiro de Abril... É por isso que eu tenho essa cisma com o mês de agosto. Às vezes eu tenho a impressão que um surto de raiva tomou conta da cidade. E eu digo isso porque vejo os mais variados segmentos da sociedade manifestando sintomas incontroláveis dessa epidemia: É polícia brigando com camelô, políticos se engalfinhando no congresso, babás batendo em crianças, aluno agredindo professor...E os cachorros é que são loucos! E mais: isso acontece o ano inteiro, não só no mês de agosto. Acho que devíamos achar uma nova alcunha para o mês de agosto. Sugiro mês da reflexão. Pra gente pensar melhor sobre tudo isso...Brincadeira!