quinta-feira, 29 de maio de 2014

DE VOLTA AO FRIO

Estive em Porto Alegre para a minha visita semestral ao dentista e também para passar o aniversário da minha irmã Raquél com ela. Foram dias bastante agradáveis que marcaram o meu reencontro com o frio. Já estava com saudade, principalmente depois do longo e insuportavelmente quente verão que tivemos esse ano. Me senti na Europa. Em Paris, mais especificamente. Fez frio mesmo, de gelar a testa quando andava na rua. Principalmente na Rua da Praia, que se transforma em um corredor gelado quando percorrida pelo vento e sem a presença do sol. Claro que bebi muito vinho, como se precisasse de motivo para tal. E aqui vai uma dica para os amantes da bebida: A Sommelier Vinhos, pertinho da Praça da Encol, na rua Passo da Pátria, 166. Conheci lugares muito bacanas, como o restaurante Famiglia Facin, que fica nos porões da torre da antiga fábrica da Brahma, hoje Shopping Total. Um italiano clássico e classudo, com comida ótima, preços justos e uma decoração adorável. Também gostei bastante do Naval, nenhuma novidade, pois está no Mercado Público desde 1907, mas só agora tive o prazer de conhecer e já me apaixonei pelo bolinho de bacalhau e pelo excelente peixe com molho de lulas. Digno de nota também é o hambúrguer do Bife, que vem com os mais variados e criativos recheios. E claro, as tapas do Rambla, onde comemoramos o aniversário "em si" da minha irmã. Como dá para perceber, foram dias intensamente gastronômicos, sem falar no cachorro quente da Confeitaria Princesa, que não pode faltar. E, falando em confeitaria, conheci também a Presstisserie, que preciso voltar porque lá não comi nada, apenas bebi um excelente torrontés. Mas achei o cardápio de inspiração francesa bastante apetitoso e estou louco para experimentar. Evidentemente que ao chegar de volta em São Paulo meu primeiro destino foi a academia... Voltei feliz por ter reencontrado amigos e familiares e satisfeito por constatar que a capital gaúcha deixa cada vez menos a desejar aos amantes do vinho e da gastronomia. E last but not least, visitei e recomendo a exposição O Tamanho do Mundo, de Vik Muniz, que fica até o dia 10 de agosto no Santander Cultural, e que exibe, entre outras obras, os instigantes e viajantes Postcards From Nowhere. Nas fotos, a Paris de Vik Muniz e o Largo Glênio Peres by myself.

terça-feira, 20 de maio de 2014

PRAIA MELANCÓLICA

Uma das coisas que mais me fez gostar do filme Praia do Futuro, de Karim Aïnouz, é o tom melancólico que permeia toda a narrativa. Até o Ceará do diretor é cinza, azul e nublado. Mas sobretudo a inteligência e agilidade do roteiro, que não pára para dar explicações, não se prende a detalhes realistas nem cai na tentação de dizer olha como é bonitinho ser gay. Praia do Futuro é um relato sensível e poético do amor e da solidão humanos. Da distância, da saudade, da dor e do isolamento. Dos momentos compartilhados, das alegrias, das pequenas felicidades. Das intimidades, angústias, desassossegos. Flashes das vidas dos personagens reunidos em interessante tranche de vie. Definitivamente não foi feito para agradar a todos. Mas, que belo filme. E que ator, Wagner Moura. Lembra o Banderas dos primeiros filmes de Almodóvar. E a imgem da praia sem água vou guardar para sempre na minha memória cinematográfica. Junto com a neve na praia de Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças...

sexta-feira, 16 de maio de 2014

VINTE ANOS BLUES

São Paulo, março de 1987. Desembarco do ônibus que me trouxe do aeroporto em plena Praça da República. Tenho vinte e três anos de idade. Vim com meu grupo de teatro estreiar uma peça no Sesc Anchieta. Fico hospedado na casa de uma amiga na rua Rego Freitas. E a cidade se descortina para a minha juventude... Tudo é novo, grande, moderno. Tudo promete. O grupo ao qual pertenço é muito admirado por todos e nossa diretora Maria Helena Lopes, então, cultuada. Recebemos muitos convites para festas, jovens atores nos seguem, nos levam para lá e para cá, é bacana ser amigo da gente. Imaginem como me sinto, tão jovem e deslumbrado. Os bares do Bixiga fervem à noite. A Consolação e a Paulista também. O Riviera, o La Baguete, o Ritz, o Spazzio Pirandello! O Espaço Off... Somos convidados a participar de uma performance das Harpias e Mansfield no Espaço Mambembe, da qual também fez parte Caio Fernando Abreu. Eu, seu leitor mais apaixonado fiquei lado a lado com ele e não disse palavra. A velha timidez insistiu em sentar entre nós. Um banquete inesquecível do qual não guardo nenhuma imagem senão as da memória. Muitos espetáculos para a classe teatral nas segundas-feiras, praticamente o único dia que não se trabalhava. As peças no TBC, no Teatro Igreja, no Ruth Escobar. A gente andava a pé pelo centro altas horas da noite. Não que já não fosse perigoso, mas não acontecia na-da. Meu aniversário de vinte e quatro anos foi comemorado junto com o da jornalista Marcia de Almeida em uma festa na casa de alguém que não me lembro, na rua dos Ingleses, ao lado do Ruth Escobar. No Bixiga havia uma livraria que ficava aberta à noite e foi lá que descobri o Manual do Pedólatra Amador, de Glauco Mattoso. No sobsolo do Pirandello também tinha uma livraria. A gente pirava, enchia a cara, se drogava, mas também lia muito! Ontem fui almoçar com amigos no restaurante do Masp, onde não ia há muito tempo, e essas lembranças todas e muitas mais tomaram conta de mim. Hoje de manhã, quando acordei, olhei a vida e me espantei: Saudades do menino cheio de sonhos que eu era. E as ilusões, como diria Cazuza, estão todas perdidas... Na foto, de Fernando Brentano, morro em cena da peça O Império da Cobiça, do Grupo Tear, que me trouxe a São Paulo na ocasião.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

BLUBELL

A primeira vez que ouvi Blubell cantar foi como convidada em um show de Felipe Cato no Auditório do Ibirapuera. Fiquei encantado com sua voz e desde então tenho perseguido e prestado atenção nessa figura adorável do cenário musical contemporâneo. Essa semana tive o prazer de assistir a uma apresentação dela na pequena sala do Teatro Eva Herz, acompanhada de um excelente tecladista e dela própria na guitarra. Blubell arrasa. Pequeninha, bonitinha, fofinha. Quando abre a boca é totalmente Billie Holiday. Stacey Kent, para dizer o mínimo. O nome artístico tem tudo a ver: Além de bela, é completamente blues. E canta São Paulo como só Rita Lee. Aliás, sua irreverência e bom humor lembram muito a rainha do rock. Ela estava ali, pertinho de nós, o público paulistano. Mas poderia estar em um filme de Woody Allen ou em qualquer grande palco de qualquer grande casa de shows do mundo. Fiquem atentos, por favor: Seu nome é Isabel Fontana Garcia, ela é natural de São José do Rio Preto, já foi vocalista da banda Funk Como Le Gusta, e Diva é a Mãe já é o seu terceiro CD solo. Ah! Tem uma música do seu segundo CD na trilha da novela das sete, Geração Brasil. Salve Bluebell! Na foto, a capa do CD Diva é a Mãe.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

ASSIM É POPCORN (SE LHE PARECE)

Nesse fim de semana assisti a dois espetáculos que considero de grande importância para o panorama do teatro brasileiro atual: Popcorn, de Jo Bilac, e Assim é (se lhe parece), de Luigi Pirandello, com direção de Marco Antonio Pamio. Uma revelação da dramaturgia brasileira contemporânea e um clássico da dramaturgia universal, respectivamente. Ambos plenos de atualidade. E, sobretudo, repletos de relevância. Uma boa novidade para os que achavam que o teatro da atualidade se resume a shows de stand up comedie, musicais da Broadway e revistas temáticas sobre cantores e compositores nacionais. Jo Bilac representa uma lufada de renovação na escrita teatral brasileira. Seu teatro subverte as unidades aristotélicas de tempo, espaço e ação, propondo uma inusitada maneira de contar uma história sobre o palco, na qual o espectador é convocado a participar ativamente com o raciocínio. O que já não é pouco nos tempos atuais em que tudo já vem mastigado. Além disso, em Popcorn ele estreia na direção. E muito bem, diga-se de passagem. Também estreiando na direção, Marco Antonio Pamio traz esse Pirandello atualíssimo, premonitório mesmo, no qual desenha sua direção com pulso firme, compondo tableaux e frisas bem ao estilo de seu mestre Antunes Filho. Eu que havia assistido à montagem do Teatro dos Quatro dirigida por Paulo Betti, fiquei lembrando do antigo elenco e de quantos deles já faleceram: Sergio Britto, Yara Amaral, Nildo Parente, Henriqueta Brieba e, mais recentemente, José Wilker. Coisas de gente vivida... Mas, voltando ao panorama atual: Tanto Jo quanto Pamio se dão muito bem e agraciam um público adorador de teatro que anda bem carente de espetáculos expressivos e relevantes. E ambos trazem atuações marcantes: Em Popcorn os destaques são Alessandra Colassanti e Maria Maya. Em Assim é, Bete Dorgan e Rubens Caribé. As duas equipes estão de parabéns e os dois espetáculos merecem ser assistidos por todos. Corram!

segunda-feira, 5 de maio de 2014

JOANA FAZ 30

Gente, que loucura, já estamos em maio! O que significa que no mês que vem já estaremos na metado do ano. E da metado para o fim é vapt-vupt... Também é uma loucura minha segunda sobrinha, Joana, já estar completando trinta anos de idade no próximo dia nove. Não que sobrinhas fazerem trinta seja novidade para mim, já que no ano passado Viviane, a primeira dos cinco, também o fez. Mas sempre é motivo para fazer a gente pensar. E recordar... Desde bem pequena Joana sempre teve muito temperamento. Só fazia o que queria. E quando era obrigada a fazer o contrário, era com muito barulho. Revertia todas as expectativas sobre a bonequinha loura cacheada que aparentava ser: Tinha outra por dentro. Ou melhor, outras. O que sempre me fez suspeitar que seria atriz. E acho que só não o foi por um desvio de percurso. Ao invés do palco, preferiu ser atriz na vida mesmo. Intensa em tudo. Camaleônica. Não se encantava muito com as mocinhas, as heroínas sem graça das histórias. Gostava era das malvadas, as vilãs. Petite fille rebelle, colocou um piercing na língua escondida dos pais. Inflamou. Inflamaram-se os pais. Ainda uma Lolita, já queria colocar silicone nos seios. E pedia à minha mãe: Dora, me dá uns peitos? Ao que minha mãezinha, não menos terrível, respondia: Te dou um. Pede o outro pro teu pai! Para não deixar de nos surpreender, foi a primeira dos cinco sobrinhos a se casar. E continua sendo a única. Logo ela, a mais libertária. Fui ao seu casamento, na Louisiana. Ela estava linda de noiva, de branco e com o braço esquerdo todo tatuado. Apesar de estarmos sempre distantes, pois ela, femme du monde, deixou o Brasil muito pequena e nunca mais voltou, acho que se parece muito comigo. Com aquele que eu teria sido. Ou com o que sou de fato e minha timidez insiste em blindar. Hiper curiosa sobre todos os assuntos, por vêzes me desconcertava com suas perguntas. Como em uma vez que veio passar uns dias comigo em São Paulo, ainda bem menina, e disparou: Como os gays fazem para paquerar? Como sabem se o outro cara também é gay? Adorable petite coquine... Quando criança sempre nos brindava com suas performances, que iam do Fantasma da Ópera à uma dança "egitana", que ela própria inventou e que reproduzi na minha peça Rainhas da Pesada. Como também o fiz com uma frase sua: "Eu dormi de trança e acordei frisada"! Essa acabou na minha peça A Mulher Só... Happy birthday, my adorable niece and goddaughter. Que você continue sempre a nos surpreender. Na foto, tirada em 1991, eu morava em Paris e fui visitar a Joana em Zurique.