quarta-feira, 28 de março de 2018

APRIL IN PARIS

Não é porque o mês de abril está chegando. Também não é porque abril é o mês do meu aniversário. Só sei que tenho ouvido com muita frequência a música April in Paris. Não a clássica versão imortalizada por Ella Fitzgerald e Louis Armstrong, mas a cantada por Billie Holiday. Eu sempre gostei de ir a Paris nessa época do ano. Já é primavera, o frio abrandou, o sol volta a dar as caras e as flores estão em toda a parte... Aliás, a última vez que estive na Cidade Luz foi exatamente neste mês: Fui passar o meu aniversário. Lembro bem que na véspera fui assistir ao espetáculo Sonho de Uma Noite Verão, de Shakespeare, na Comédie-Française. E no dia em si, acordei cedo e fui visitar a exposição sobre Édith Piaf na Biblioteca Nacional da França. Depois, almocei na Rue Montorgueil e, à noite, fui jantar com meu amigo Frédéric no Le Petit Monaco, onde comemos um delicioso cuscuz marroquino... Ouço essa bela canção imaginando tudo o que canta a doce e rouca voz de Lady Day: As castanheiras em flor, as mesas ao ar livre sob as árvores... Billie segue cantando algo como: Eu não conhecia o encanto da primavera, nunca tinha estado cara a cara com ele e nem sabia que meu coração podia cantar. Até estar em Paris no mês de abril... Nesse abril de 2018 está fazendo três anos que estive na capital francesa pela última vez. A canção encerra perguntando: April in Paris, what have you done to my heart? E eu encerro o post perguntando: Três meses de abril sem ir a Paris, o que vocês fizeram ao meu coração? Ao que eu mesmo respondo: Encheram-no de saudade...
A foto, das "chestnuts in blosson" ao lado da Notre-Damme, fiz em abril de 2015, quando da minha última estada em Paris.

terça-feira, 27 de março de 2018

CAETANO DANÇA

Um Jeito de Corpo é o nome do novo espetáculo do Balé da Cidade de São Paulo, no qual a companhia dança músicas de Caetano Veloso. No palco, Caetano pulsa, vibra, reverbera e ecoa. Ressurge em antigas gravações que soam totalmente modernas e atuais. Os corpos dos bailarinos, envoltos em cor e movimento, fazem ir crescendo dentro de quem assiste uma vontade quase incontrolável de aplaudir e gritar uhuu!!! O Teatro Municipal lotado prende a respiração enquanto se extasia com a beleza das imagens propostas em cena. Até que nos primeiros acordes de O Estrangeiro, última música e coreografia do espetáculo, a plateia começa a manifestar em gritos e aplausos a emoção gerada pela obra. E finalmente explode em ovação, fazendo os bailarinos agradecerem inúmeras vezes antes de baixar o pano. Que beleza. Que alegria. Que prazer. A contemplação de uma obra de arte pode trazer recompensas que às vezes leva-se um tempo para entender. Ou, mesmo que não se entenda, sentir já é mais do que satisfatório. E a gente sai do teatro de alma lavada. Inspirado. Agradecido. Pelo menos foi assim que eu saí. E louco para voltar e assistir novamente. Ouvi dizer que eles voltam no final do ano. Já estou contando os dias...

quinta-feira, 22 de março de 2018

SAMPA ET MOI

Hoje, dia vinte e dois de março, está fazendo vinte e dois anos que moro em São Paulo. Há exatos vinte e dois anos essa cidade me recebia acolhedora, hospitaleira e cheia de novas perspectivas. Eu, à beira de completar trinta e três anos de idade, adolescia tardiamente embalado em sonhos e ilusões... Nos demos tão bem, Sampa e eu, que trago comigo até hoje a impressão de que sou natural daqui e não de onde eu vim. Cosmopolita, múltipla e plural como só ela, a maior cidade da América do Sul se parece muito comigo. Com minha inconstância e desassossego. Com minhas variações de humor. Com meu eu errante e andarilho. Fomos feitos um para o outro. E para muitos outros também... Amo-te, Pauliceia. Assim como amo reclamar do teu trânsito eternamente parado, do cinza e da poluição. Do mau cheiro do Rio Pinheiros, das voltas que tenho que dar quando fecha a Paulista ou quando a acupam manifestações. Teu metrô que nunca fica pronto. Amo sonhar com o Japão descobrindo novos cantinhos da Liberdade. Amo ficar contigo só para mim quando te deixam em caravanas os paulistanos nos feriados. Amo tuas feiras e mercados. Teus grafittis e galerias, teus teatros e galpões. Tua presteza nos serviços, não encontrada em nenhum outro lugar do país. Tuas vinte e quatro horas insones e sempre dispostas a me atender no que eu precisar... Vinte e dois anos já não é pouca coisa. É claro que às vezes me revolto com a cidade, brigo, fico de mal. Faço planos de ir embora para um lugar bem tranquilo e cercado de natureza, como uma praia, por exemplo. Mas lentamente ela me reconquista com seu charme múltiplo e encantadoras possibilidades. E o que tem de novidade surgindo o tempo todo! Reclamo também dos preços aqui praticados, mais altos do que os de qualquer outra capital do país. Mas fazer o quê? Como ficar sem ela? Meu caso de amor com São Paulo é sério. Tão sério que já virou casamento. É que quando eu cheguei por aqui eu tudo entendi... Ontem à noite, como que antecipando a comemoração desse meu aniversário, tive o prazer de participar pela terceira vez do programa Todo Seu, do ícone de elegância e estilo Ronnie Von. Brindei antecipadamente e fui presenteado com muitas histórias que ele nos contou, após a gravação, regadas a bom vinho. Hoje à noite o programa irá ao ar e assisti-lo será mais uma forma de comemorar...
Na foto, o entardecer na Avenida Paulista visto do terraço do Instituto Moreira Salles.

segunda-feira, 5 de março de 2018

CANANEIA SÓ PARA MIM

Vamos falar sobre Cananeia. Uma cidade histórica, uma ilha do litoral sul de São Paulo. Que fica de frente para uma outra ilha, a Comprida. E também para a Ilha do Cardoso, importante reserva florestal do nosso maltratado país. Eu adoro esse lugar. Já venho pra cá com certa frequência há pelo menos seis anos. Fora toda a beleza da natureza que abunda e floresce por aqui, fora a arquitetura que coloca a cidade no nosso melhor e mais raro patrimônio histórico, o que me faz amar Cananeia é o fato de ela não ser um hotspot. Não é um lugar da moda. Ninguém vem para cá. Ou, por outra, ninguém que interessa vem para cá. Não vem as celebridades, os formadores de opinião, os descolados, os it girls and boys. Cananeia não é notícia, não sai na Joyce ou na Mônica Bergamo. Não tem restaurantes estrelados. O que faz com que os preços não disparem. Aqui se paga o preço justo pelas coisas que se consome. Outra: Não há violência por aqui. Nem roubo, nem assédio, nem abordagem de espécie alguma. Você pode circular pelas ruas e locais a hora que quiser e o máximo que vai acontecer quando você cruzar com alguém é esse alguém te cumprimentar. Dizer e aí, tudo bem? Bom dia, boa tarde ou, dependendo do adiantado da hora, boa noite. Que preço isso tem no Brasil que estamos vivendo? Quando na antiga capital federal nem o exército na rua consegue conter a violência? Cananeia me faz lembrar Paris. Lá eu me sinto assim: Sem medo de andar pelas ruas e pelos lugares a hora que for. Eu quero muito, sonho com a possibilidade de poder ter uma casinha, por modesta que seja, nesse paraíso insuspeitado. Sei que quando precisar fechar a porta e ir para a capital, meu cantinho estará seguro apenas com a chave que irei girar na fechadura. E que crianças passarão correndo e gritando com suas bicicletas em frente à minha modesta morada... Há também, por aqui, uma forte colônia japonesa. O que me faz amar ainda mais esse lugar. Que bom que ele existe. Que bom que fica relativamente perto de São Paulo. E que bom que eu o descobri a tempo de fazê-lo só meu...
Na foto, o dia amanhece no centro histórico de Cananeia.

sábado, 3 de março de 2018

LIGADO VIA BLUETOOTH

Andei sem texto, sem palavras. Não. Na verdade ando sem inspiração para escrever. Os textos, ideias, palavras, continuam sempre na minha cabeça. Difícil é fazê-los passar para o papel. Ou para a tela, no caso. Estou em Cananeia, onde não vinha há pelo menos uns três, quatro anos. Este já é um lugar que faz parte das minhas memórias. Um lugar parado no tempo, com casas coloniais, uma pequena igreja, uma praça. Não há muitos bancos nem caixas eletrônicos. Famílias nas calçadas, casas de portas abertas. Muitas bicicletas pelas ruas. A paz das pequenas cidades. Uma ilha de frente para outra: Ilha Comprida. Pega-se a balsa para fazer a travessia. Do outro lado, na Ilha Comprida, uma vastidão de mar e praia. A gente anda de carro à beira mar. Escolhe um local onde parar e monta acampamento. O nosso tem direito à mesinha com vaso de flores, cesta de piquenique, pratos, talheres, uma churrasqueira portátil onde assamos batatas doces, legumes, linguiças. No cooler, vinho branco. Taças. Glamur roots. Se é que vocês me entendem. Para haver algum luxo, por Deus! Todo mundo vai ao circo, menos eu, canta Bethânia em Drama, no ipad ligado por bluetooth à caixinha de som. O amor não é mais do que o ato da gente ficar no ar antes de mergulhar. Compreende? Sou acrobata na raça. Só não posso ser palhaço porque eu vivo sem graça... Queria poder ligar minhas ideias e pensamentos às páginas do blog por bluetooth também. Assim teria sempre muito a postar. Eu minto, mas minha voz não mente. Meus pensamentos também não... Bruna Marquezine era uma excelente atriz mirim. Porque agora, vendo-a en passant na novela das sete, eu a acho tão canastrona? Será o namoro com Neymar? Será que ele paga dízimo para a igreja por namorar essa estrela da TV? Hoje passei um óleo bronzeador de baixa proteção que me deixou vermelho como um camarão. Porque a gente repete erros do passado? Fevereiro passado foi o mês em que menos postei aqui desde que o blog existe: Um só post. Espero que isso nunca mais se repita. Aqui em Cananeia tem muitas ostras. Acidade é famosa pela produção desse marisco. Ou seria molusco? O que sempre me faz lembrar a vez em que fui a um restaurante local para comê-las e perguntei ao garçon qual vinho branco ele tinha para acompanhar. Ao que ele, com cara de espanto, respondeu: Branco? Vinho nóis só tem vermelho. Fiquei imaginando o que ele teria dito se eu tivesse pedido um vinho verde... Paro-me por aqui. E à demain!
Nas fotos, grafitti inspirador em Ilha Comprida e nosso hotel em Cananeia.