domingo, 28 de junho de 2020

ZEZÉ ET MOI



Ontem foi o aniversário de Zezé Motta. A diva completou setenta e seis anos de idade. Digo diva no sentido maior e mais adequado que o termo - hoje tão desgastado - possa ter. Pois Zezé é merecedora dele. Fiquei pensando no quanto admiro essa grande artista. E no quão antiga é a minha paixão por ela. Eu devia ter treze anos de idade quando assisti ao filme Xica da Silva no cinema de Soledade. Que coincidentemente se chamava Cine Teatro Zezé, em homenagem à filha do proprietário, Maria José. Não sei como consegui entrar na sala de projeção, pois à época havia forte censura e quase tudo era proibido para menores de dezoito anos. Sei que foi amor ao primeiro frame. A figura de Zezé me encantou de tal maneira  que começou ali uma admiração que se mantém através de décadas. Lembro que no ano seguinte fui morar em Porto Alegre e, mal chegando na cidade, fui até um cinema que exibia a película e roubei um cartaz, que emoldurei e pendurei na parede do meu quarto. Estávamos em 1978 e naquele mesmo ano Zezé se apresentou no Teatro Leopoldina com a Banda Mar Revolto da Bahia. Eu já tinha catorze anos, mas parecia um menininho de dez ou doze no máximo. Fiquei bastante impressionado com a performance de Zezé ao vivo no palco, principalmente cantando Postal de  Amor, de Fagner, em que ela interpretava uma louca que chegava a babar em cena. Inesquecível... Depois do show fui ao camarim, tirei uma foto com minha ídola, que vestia um robe de seda vermelho que nunca esqueci.  No dia seguinte mandei as fotos do show para revelar e justamente a foto minha com ela não saiu. Não tive dúvida, voltei ao local da apresentação e a esperei na saída dos artistas, na garagem do teatro, onde finalmente obtive minha primeira foto com Zezé. E assim foi em todas as vezes que estive com ela. Hoje tenho fotos com Zezé ao longo de minhas diversas idades, fases, cabelos longos e curtos, pintados e grisalhos... Tudo isso é para homenagear essa dama da canção, das telas e do teatro. Numa das inesquecíveis vezes que estive com ela, no aniversário de Marília Pera - outra grande diva, já saudosa - elas brindaram os presentes na festa com um dueto de Sem Fantasia, de Chico Buarque, que as duas cantavam na peça Roda Viva, do mesmo autor, em que atuaram juntas. Desejo longa vida a essa mulher de inestimável importância na cultura brasileira e na minha modesta vidinha. Como ela canta em Prazer, Zezé: Uma rainha, uma escrava, uma mulher. Uma mistura de raça e cor, uma vida dura mas cheia de sabor...
Nas fotos, a primeira, feita em 1978 na garagem do Teatro Leopoldina em Porto Alegre e a última, em outubro de 2016, feita no Ritz, aqui mesmo na Pauliceia.

sábado, 20 de junho de 2020

NOITE DE SÁBADO



Todo mundo espera alguma coisa de um sábado à noite, cantou Lulu Santos na década de noventa do século passado. E agora, na segunda década do século vinte e um, fechado em casa para se manter isolado do contágio de um vírus numa pandemia, o que se pode esperar de um sábado à noite ou de um outro dia qualquer? Não saberia responder aqui. Mas, enquanto espero, procuro fazer com que meus sábados e outros dias quaisquer sejam únicos. Especiais. Ou absolutamente comuns. Mas que tenham significado. E haja criatividade e animação para preenchê-los... Tenho um pouco de vergonha de confessar, mas há ícones da cinegrafia mundial a que nunca assisti. E tenho procurado, especialmente agora que se tem todo o tempo do mundo disponível para tal, preencher essas lamentáveis lacunas. Foi assim que dia desses assisti a Scarface, essa joia de Brian de Palma que tem Al Pacino como protagonista. Um primor. Roteiro, cenários, a trilha sonora surpreendentemente moderna e eletrônica e, claro, a interpretação de Pacino como o cubano Toni Montana, com sotaque impecável. Sem falar na beleza inebriante da então iniciante Michelle Pfeiffer. Ainda bem que assisti agora. Se tivesse assistido na época em que foi lançado talvez não tivesse apreciado tanto... Outra maravilha que me fez companhia recentemente foi A Época da Inocência, de Martin Scorsese. Protagonizado por Daniel Day-Lews, também traz no elenco Michelle Pfeiffer e Winona Ryder ainda bem menininha. De encher os olhos... E para que ninguém aqui fique pensando que vivo só de passado, vale lembrar que a série The Politician, de Ryan Murphy, estreou a segunda temporada. E devo dizer que está ainda melhor do que a primeira. Quem bota para quebrar nessa segunda edição é Bette Midler, mais sacudida do que nunca. Amo. Que saudade que estava de ver essa atriz brilhar... No mais, saudade de uma aglomeração bem animada. E de uma plateia lotada. E de um bar cheio de amigos tomando bons drinks... Bom inverno a todos!
Nas fotos, Al Pacino em Scarface, Pfeiffer e Day-Lews no filme de Scorsese e Bette Midler arrasando em The Politician.

quinta-feira, 4 de junho de 2020

EU

Terminei hoje a leitura de Eu, a autobiografia de Elton John. Essa foi a terceira obra que li desde que começaram os dias de isolamento social. Primeiro foi Metrópole à Beira Mar, de Ruy Castro, e depois A Educação Sentimental, de Gustave Flaubert. Durante esse período tenho me envolvido mais com o que leio do que normalmente acontece. Passo na companhia dos livros grande parte das minhas manhãs. Ocorre que vou me apegando aos personagens e, quando o livro se aproxima do final, começo a poupá-lo para que a convivência se estenda por mais alguns dias... Com o livro de Elton John isso foi ainda mais acentuado, posto que sou fã deste astro do rock desde a mais tenra idade. Ele sempre representou para mim uma imagem positiva de artista bem sucedido, que gostava das mesmas coisas de que eu gostava, tais como música, piano e figurinos extravagantes. Inclua-se aí, diga-se passagem, altas doses de plumas e paetês... Isso sem falar que minha infância inteira foi embalada por seus hits Skyline Pigeon, Goodbye Yellow Brick Road e Crocodile Rock. Eu tinha implicado um pouco com o filme Rocketman, achei-o negativo e muito focado nos problemas, como se ele não tivesse tido uma vida de glamour e alegrias também. Agora que li a história desse artista contada por ele próprio e soube que o filme foi um projeto pessoal dele, produzido por seu marido David Furnish, entendo completamente e acho que até gosto da película. Não vou ficar contando fatos por ele relatados. Quem se interessar que leia, garanto que é leitura das mais agradáveis. Para além de todas as extravagâncias, barracos, excentricidades, escândalos e esbórnias, Eu revela uma história de sofrimento, crescimento, aprendizado e – por mais que eu não goste muito do termo – superação. Fora as deliciosas fofocas envolvendo celebridades amigas como Freddie Mercury, Rod Stewart, John Lennon, Gianni Versace, Lady Gaga, a família real inglesa e muitos mais. E um monte de fotos das mais variadas épocas da vida desse longevo rockstar. Que uma leitura das boas me caia logo às mãos para que eu possa sair do luto em que já me encontro...
Nas fotos, a capa de Eu e Elton conversando com a amiga Melina (era assim que ele chamava Freddie Mercury) no backstage de um show.