terça-feira, 30 de setembro de 2014

TESTES

Eu deveria ter nascido na França. Mas, seu eu realmente tivesse nascido lá, será que seria essa pessoa 85% boa e apenas 15% má? Não sei. Não saberia precisar. Se eu fosse um candidato à presidência do Brasil, seria Eduardo Jorge. Tadinho de mim! Não teria a menor chance de me eleger... Pelo menos eu seria pai daquele filho gato que está bombando nas redes sociais. Ah! Meus amigos falam de mim como uma pessoa "gente boa". Isso eu sou mesmo. E acho que se tivesse nascido na França seria mais gente boa ainda, pois teria mais motivos para ser feliz e, consequentemente, fazer os outros felizes. Teve também uma porta na qual entrei que revelou que sou 78% alegre, um verdadeiro sol que ilumina a vida das pessoas à minha volta. Confesso que esse me fez bem para o ego... Teve mais alguns que não lembro exatamente o que deram. Acho que se eu fosse um músico erudito seria Mozart, e sou uma pessoa com uma memória de elefante, quase nunca esqueço de nada. Das poucas coisas da internet que não tem me aborrecido atualmente: Esses testes. Adoro, para dizer a verdade. E você que está me lendo? Quantos testes desse tipo já fez? Quero saber... Ah! Agora eu vou olhar para a lente da verdade e revelar em primeira mão: Se eu fosse um estilista, seria Clodovil! Tá boa, santa? Os nossos comerciais entram agora mas eu volto em seguida. Marcos!

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

JAZZ AO MEIO DIA

Na verdade é ao meio dia e meia. Mas é jazz. E dos bons. Faz tempo que vejo o cartaz, sempre que passo pelo Conjunto Nacional: Terças-feiras, doze e trinta, jazz com Tito Martino Jazz Band. Ou esquecia, ou não podia, ou não dava tempo. Até que nessa terça, finalmente, me programei e fui. E adorei! A banda tem sete integrantes. Dois deles são jovens, mas já devem ter lá seus trinta e poucos. Os outros são mais vividos: Uns tiozinhos cheios de suingue e muito talento. Mal o show começa e a gente já se sente em um filme de Woody Allen, nos jazz clubes de Nova Iorque ou andando pelo Central Park. Em seguida estamos em Paris, percorrendo as margens do Sena. Para logo depois voltar aos Estados Unidos e embarcar em um trem com Marilyn Monroe, Jack Lemon e Tony Curtis em plena Lei Seca, viajando para a Florida. O jazz é assim, tem esse poder de nos transportar. E traz consigo Mood Indigo, Hello Dolly e It Had To Be You, entre outros clássicos do estilo, tocados da maneira mais tradicional. Antes de começar, o maestro pergunta à plateia lotada do Teatro Eva Herz quantos já estão ali pela vigésima ou quadragésima vez. Várias pessoas levantam a mão. Depois ele pergunta quem está vindo pela primeira vez. Outras tantas e mais eu levantamos. Percebe-se então que o projeto é o maior sucesso de público. O que me faz muito feliz. Música da melhor qualidade oferecida semanalmente no horário do almoço. Eu já suspeitava que acharia maravilhoso. E realmente: É uma ma-ra-vi-lha. E o melhor: De graça. Corre!
Mais informações em www.titomartinojazzband.com.br

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

OLHARES DE CLAUDIA WONDER

Durante os últimos anos que estive na Terça Insana, fui acumulando livros e DVDs em uma pilha de espera, tal era a correria que eu estava vivendo, sem tempo para colocar em dia minhas leituras e sessões de cinema. Hoje, cinco anos após a minha saída do grupo, ainda tenho livros a me esperar pacientemente para serem lidos. Já estou quase no fim da fila, ou melhor, pilha. Um desses que me esperavam é o livro da minha amiga Claudia Wonder que, infelizmente, já não está mais entre nós. No mês que vem fará cinco anos que ela nos deixou. Desde o fim de semana passado retomei o contato com minha amiga através da leitura desses seus ""Olhares de Claudia Wonder"". Um interessante painel caleidoscópico do universo trans, LGBT e do universo mesmo, como um todo sobre o qual habitamos. Seu olhar atento e antenado, sempre questionador, faz falta nesses tempos estranhos que estamos vivendo. Claudia sempre foi à luta. E chamava consigo os que estavam atentos como ela, sem esquecer de dar um toque para os desavisados. O livro reúne crônicas, comentários, perfis e entrevistas que ela fazia para o portal Gonline e para a Revista G Magazine. As entrevistas revelam personagens incríveis como Rogéria, Phedra D. Córdoba e Miguel Magno. Os perfis nos apresentam personalidades trans do Brasil e do mundo, como Coccinelle, Divina Valéria e Thelma Lipp. A leitura tem me enchido de saudades. Quando do lançamento do livro, fui à noite de autógrafos na Livraria Cultura do Conjunto Nacional. Claudia estava sentada a uma mesa na entrada da livraria recebendo o público e fazendo as dedicatórias. No meu exemplar ela escreveu assim: "Roberto, o que dizer? Você com certeza é um dos amores da minha vida!!! Tenha sempre meu olhar de carinho pra você, amado!!! Claudia Wonder. 2008". E tenho mesmo. Guardado no fundo do meu coração.
Na foto, o olhar atento e forte de La Wonder.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

MY MARILYN

Graças à Radio Swiss Jazz, que baixei no meu iPad, estou sempre descobrindo cantores, cantoras, músicos e grupos interessantes. Minha mais recente descoberta foi o David Klein Quintet e seu álbum My Marilyn, um belíssimo tributo à atriz Marilyn Monroe. O álbum relê jazzisticamente temas de filmes seus como Some Like it Hot e canções imortalizadas pela blonde como Diamonds e My Heart Bellongs to Daddy. Sem falar em várias outras pérolas como Kiss, Incurably Romantic, Let's Make Love e She Acts Like a Woman Should. Como sou daqueles que não se sentem satisfeitos no plano digital, minha irmã Rita me mandou dos states o CD em si, propriamente dito. Que é luxo só. O encarte traz fotos belíssimas da Diva Platinada. Entre elas, uma de Marilyn com Ella Fitzgerald, de quem era fã apaixonada. Já está tocando no modo repeat e vai permanecer por um bom tempo... A foto da capa do álbum, de Bert Stern, faz parte do último ensaio fotográfico que Marilyn fez antes de morrer, aquela famosa sessão no Bel-Air Hotel de Los Angeles regada a Dom Pérignon safra 1953. Tive o privilégio de visitar a exposição dessas fotografias aqui em São Paulo há alguns anos e adquiri o livro/catálogo cujas imagens desnudam o mito. Mas voltando ao álbum: Não deixem de ouvir My Marilyn. Super recomendo...

sábado, 13 de setembro de 2014

TIAS AVÓS

Acho que já contei aqui no blog que minha mãe foi criada pelos avós. Portanto, considerava seus tios e tias como irmãos. Logo, do lado materno, eu tinha somente tios e tias. Minhas três tias avós, que eu considerava como tias, eram: Tia Jecyra, Tia Cenyra e Tia Cecy. Todas com ipsilon, assim como minha mãe Doracy. Muito phynas elas... Tia Jecyra morava em Espumoso, cidade onde na verdade nasci, mas fica só entre nós, pois meu pai me registrou como nascido em Soledade e serei um soledadense até morrer. Embora eu desconfie que minha paixão por espumantes venha daí... Pois eu adorava ir a Espumoso visitar essa tia que tinha um acordeon e me deixava tocar. A casa da Tia Jecyra era cor de rosa. Seu marido, Tio Sereno, gostava de sair para caçadas e, quando voltava, nos convidava a comer perdizes assadas, o que se tornava uma grande festa com enormes mesas cheias de parentes na garagem. O banheiro da casa da tia Jecyra era todo preto e rosa. Os azulejos e o piso eram pretos e as louças, cor de rosa. Achava aquilo o máximo, muito, mas muito antes de sequer ter ouvido falar em casa cor... Tia Cecy morava em São Leopoldo e, sempre que tia Jecyra ia visitá-la, passava por Soledade e me levava com ela. Viajávamos na Rural Williys do Tio Sereno e eu, obviamente, ia sentado no banco da frente, junto com minha tia, todos devidamente sem cinto de segurança. A casa da Tia Cecy era divertidíssima, tinha um atelier de costura, ela fazia vestidos de festa dignos de Denner. Lá tinha também minha prima adotiva Verinha que já na época era gay assumidérrima e cantava e tocava violão. Adorava ouvi-la cantar os sucessos Rain and Tears e Marie Jouli, de Demis Roussos... Tia Cecy era casada com Tio Cantídio, de quem já muito falei por aqui. Principalmente por ele ter sido a pessoa responsável por despertar e incentivar em mim o gosto pela leitura. Uma ocasião estávamos todos à mesa almoçando e o Fabinho, neto da Tia Cecy, que na época devia ter uns quatro aninhos, aproveitando uma brecha na conversa, disparou: Dona Marieta caiu na valeta rasgou a buceta e costurou com linha preta! Bem antes dele chegar na buceta um silêncio constrangedor se formou e só foi quebrado, com alívio, quando Tia Cecy explodiu em sonora gargalhada, no que foi seguida por todos... Depois de viúva Tia Cecy se mudou para Florianópolis. Quando fui me apresentar pela primeira vez na capital catarinense com a Terça Insana, fui às lágrimas quando, ao espiar o público por uma fresta da cortina antes de o espetáculo começar, vi minha tia já bem velhinha, com mais de noventa anos, sentada numa das primeiras fileiras... Tia Cenyra, das três, era a que eu tinha menos afinidade, pois quase nunca a via. Ela morava em Porto Alegre e tinha uma renca de filhas! Nem lembro quantas. Seu marido, Tio Claudio, fabricava aeromodelos e tinha uma oficina em casa para confeccioná-los. Era bem bacana ficar horas bisbilhotando por lá, nas poucas vezes que estive em sua casa. Pobre Tia Cenyra, teve uma morte trágica, atropelada por um ônibus... As três já se foram, mas deixaram saudades. Nunca vou esquecer que Tia Jecyra, sempre que chegava na nossa casa para uma visita, me beijava dizendo: Oi, meu amor! E cochichava: Sirva um uísque do teu pai pra tia... Sem gelo! Adorável...
Na foto, Tia Cenyra pagando de pin-up à beira-rio...

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

OSTENTAÇÃO

Você já ouviu falar no funk ostentação? Claro, né? E no forró ostentação? Ainda não? Como assim? Você está por fora... Descobri ontem à tarde na televisão, esse eletrodoméstico infernal, a nova tendência do momento. O que teríamos para ostentar, fiquei pensando. Só se for a nossa falta de educação, de cultura, de informação. Nossos valores distorcidos, nossas meias verdades. Nossa cafonice, nossos babados. Nossos dentes faltando, amarelos demais. Nossos dentes sobrando, brancos demais. Nossas rugas demais. Nossos botox e plásticas demais. Nosso excesso de silicone. Nosso barraco com wi-fi e gato net. Nosso saldo devedor. Ou melhor, negativado... Forró ostentação, por outro lado, é totalmente sintomático. A cara do país onde vivemos. Podemos, graças a Deus, comprar televisão de plasma, tablets, pacotes turísticos a perder de vista. Mas ai de nós se adoecermos e precisarmos ser internados em um hospital público. Não sabemos ler, escrever ou mesmo falar corretamente a nossa própria língua, mas de que isso importa se temos smart phones e postamos tudo o que temos nas redes sociais? Ostentar é constrangedor em qualquer situação ou classe social. O fenômeno ostentação, seja ele ligado ao funk, ao forró, ao sertanejo, ao brega ou ao que for, revela muito da nossa condição de pobres indigentes que confundem ter com ser. Não somos nada, logo, não temos nada. Então vamos ostentar nossa pobreza de espírito embalada em ouro e falsos brilhantes. Nossa falta de criatividade. De genialidade. Nossa ignorância envolta em glamour. Quem sabe a TV nos mostra num domingo à tarde e a gente emplaca? Já pensou? Vai ser um baita sucesso. Aí é só correr pro abraço. E beijinho no ombro pras invejosas de plantão...

terça-feira, 2 de setembro de 2014

MAGIA AO LUAR

A estreia de um novo filme de Woody Allen é algo que sempre me faz uma pessoa mais feliz. Sou daqueles cuja vida já valeria a pena se fosse somente para prestigiar as obras desse cineasta. Seu humor, longe de ficar só na superfície, é repleto de questionamentos. E melancolia. Magia ao luar poderia ser uma comédia de sessão da tarde não fosse a genialidade desse mestre da sétima arte. Que usa um confronto entre ciência e misticismo, razão e emoção, para questionar o sentido da vida e a banalidade das coisas. Sua transitoriedade e finitude. Com a delicadeza das histórias de amor e a ironia das comédias mais refinadas. Tudo embalado em uma reconstituição de época perfeita, lindas paisagens, excelente trilha sonora (como sempre), ótimos atores e, de lambuja, Ute Lemper dando uma canja como a cantora de cabaret que de fato é. Nada que Woody Allen já não tenha feito antes em outros filmes. Só que ele, assim como os bons vinhos, fica cada vez melhor. E faz comigo, como diz a canção de Cole Porter que está na trilha, something that simply mystifies me. Ainda bem! O novo Woody Allen é um velho e bom Woody Allen. Cheguei em casa e coloquei para tocar You Do Something To Me, na versão de Bryan Ferry, no modo repeat até cansar. Depois troquei para a versão de Ella Fitzgerald. Que nunca me faz cansar. Assim como Woody Allen. E fiquei, ou melhor, continuei pensando no sentido da vida e na banalidade das coisas. Sua transitoriedade. E finitude...