domingo, 25 de julho de 2021

ALMA DAS FLORES

Minha amiga Nora Prado acaba de lançar seu segundo livro de poesias: Alma das Flores. Recebi pelo correio a encomenda que me chegou como um buquê, uma corbélia de poesia e de graça. Neste pequeno relicário estão contidas as dores e as alegrias da vida. E, claro, a beleza. Tudo o que Nora faz envolve o belo. Desde a minha juventude, meus verdes anos de escola de teatro em Porto Alegre, que sou encantado por tudo o que ela faz, produz, emana. Alma das Flores traz memórias, saudades, descobertas. A dor da perda e do luto, a maravilha dos nascimentos, a beleza de uma chuva mansa que ela observa cair da janela, a passagem do tempo, as desigualdades e injustiças sociais, os encontros, o amor, a amizade. Quanta coisa a poesia pode conter! E como é bem-vinda em um momento de privações como esse que estamos vivendo. Aproveito para parabenizar a editora Bestiário pela iniciativa de publicar poesia. Delicadeza é artigo raro hoje em dia, está em falta no mercado e é muito importante que seja lançado. E, agora mais do que nunca, a poesia chega como um facilitador. Através dela todos os assuntos são abordáveis, digeríveis, trazíveis à tona. Já começa pela capa, belamente ilustrada de flores, que traz na contracapa a flor mais bela entre todas: Nora em si, a um só tempo poetiza e musa inspiradora, como a Dama das Camélias no inspirado clic da fotógrafa Irene Santos. Não deixe de conferir!

quinta-feira, 15 de julho de 2021

BREMNER CABARET

Há tempos não compartilho por aqui minhas descobertas musicais, os cantores e cantoras que minhas buscas pela internet me revelam. Ando mesmo desmotivado para escrever, o que espero que passe logo. Mas tombei totalmente ao acaso sobre o maravilhoso Bremner Duthie, cantor/ator americano que me fez parar tudo para escutá-lo e me trouxe de volta ao blog. Depois de muitos anos atuando e cantando na ópera, ele decidiu emprestar sua bela voz de barítono aos clássicos do Cabaret. Fiquei especialmente encantado com dois álbuns dele que reúnem a obra de Kurt Weill: Bremner Sings Weill e Bremner Sings Kurt Weill Volume II. Sou apaixonado pelas canções de Weill, muitas delas em parceria com Bertold Brecht e algumas das quais já tive o prazer de interpretar ao lado da diva Cida Moreira e do saudoso Dunga Brunet no nosso Cabarecht, que percorreu o interior de São Paulo em projeto de circulação da Secretaria de Cultura. Bremner alterna a potente voz operística com rasgados à la Tom Waits apropriando-se das canções e dando-lhes roupagem totalmente nova. Às vezes chega a mudar tanto a melodia que a gente demora a reconhecer a canção. Confesso que não gosto muito quando isso acontece. Na minha humilde opinião essas canções já são tão belas e perfeitas que tudo o que se deve fazer é cantá-las e tocá-las tal como foram escritas por esses dois gênios do teatro musical. Mas a maior parte do tempo é fascinante ouvi-lo cantar. Unindo o canto à experiência de ator, Bremner recria o universo do Cabaret em seus shows com cenários e figurinos que trazem ainda mais dramaticidade à sua já tão expressiva figura. Suas versões para Pirate Jenny, Youkali Tango, My Ship, Je Ne T'aime Pas e Cannon Song são puro deleite. Após ter morado durante anos entre a Escócia e o Canadá, atualmente ele vive entre Nova Orleans e Paris. Olha Paris de novo aí, sempre ela. Quem sabe não foi isso que me identificou tanto com ele? Tenho escutado bastante não apenas os álbuns com as canções de Weill, mas também suas regravações de clássicos do jazz e '33 a Kabarett, álbum que traz pérolas como Boulevard of Broken Dreams, Dancing in the Dark e Falling in Love Again. Taí uma coisa que sempre me traz felicidade, mesmo em meio aos maus momentos da vida: Apreciar o trabalho de um grande artista. A arte, assim como o amor e o humor, sempre salvam... Na foto, Bremner sur la scène em momento inspirado de seu Cabaret.

quinta-feira, 1 de julho de 2021

VERBORRAGIA

Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões, como cantou Caetano. Mas ultimamente tenho sentido coisas bem menos nobres roçarem a nossa inculta e bela língua. A propósito de Flutua, canção de Johnny Hooker que se tornou o novo hino LGBTQIA+ (Confesso que ainda prefiro I Will Survive ou I am what I am): Só eu acho que tem verbos demais no refrão “Ninguém vai poder querer nos dizer como amar”? Gente, que desperdício! O verbo é tão importante numa oração que esse exagero chega a ser uma espécie de ostentação. E, como toda ostentação, é brega, cafona. Aliás, eu acho que isso começou com uma tendência que tenho observado de as pessoas colocarem o verbo poder antes de todos os outros verbos. Algo do tipo: Para poder tentar negociar, para poder conseguir pagar, para poder começar a entender... Chega a doer os ouvidos. Ou, como dizem alguns: Chega dói (Ui!)... Minha personagem Betina Botox, lá atrás, nos anos dois mil, já dizia: “Adoro desligar o computador porque aparece “seu Windows está sendo desligado”. Por mim seria “seu Windows vai estar sendo desligado”. Quanto mais verbo, melhor, né? Pra que regular verbo? Se no princípio era o verbo! Aloka”... Estou cansado, queridos amigos. Ou deveria dizer estou cansade, querides amigues? Esse é outro modismo que me irrita sobremaneira. A culpa é do PT, que começou com aquela bobagem de chamar a Dilma de presidenta! Rsrsrs. Brincadeira à parte, presidente já é uma palavra de gênero neutro. Serve, portanto, para o masculino e para o feminino. Como o pretendente e a pretendente, o residente e a residente. Para que atribuir um gênero a uma palavra que já é inclusiva? Como bem me explicou Luís Artur Nunes, que além de mestre e doutor em teatro é também professor de português, o gênero gramatical não tem nada a ver com o gênero sexual. Donde concluo que nossa língua não é excludente, machista ou homofóbica. Apenas segue, como todas as outras, suas regras gramaticais. Alterar esses códigos não é inclusão. É apenas ignorância... Mas, eu sou apenas um velho chato e “cringe”, cuja opinião não deve ser levada em conta. Apenas um desabafo. Joga “cringe” no Google. E flutua-a-a... Na foto, o retrato de Camões por Fernão Gomes.