quinta-feira, 1 de julho de 2021

VERBORRAGIA

Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões, como cantou Caetano. Mas ultimamente tenho sentido coisas bem menos nobres roçarem a nossa inculta e bela língua. A propósito de Flutua, canção de Johnny Hooker que se tornou o novo hino LGBTQIA+ (Confesso que ainda prefiro I Will Survive ou I am what I am): Só eu acho que tem verbos demais no refrão “Ninguém vai poder querer nos dizer como amar”? Gente, que desperdício! O verbo é tão importante numa oração que esse exagero chega a ser uma espécie de ostentação. E, como toda ostentação, é brega, cafona. Aliás, eu acho que isso começou com uma tendência que tenho observado de as pessoas colocarem o verbo poder antes de todos os outros verbos. Algo do tipo: Para poder tentar negociar, para poder conseguir pagar, para poder começar a entender... Chega a doer os ouvidos. Ou, como dizem alguns: Chega dói (Ui!)... Minha personagem Betina Botox, lá atrás, nos anos dois mil, já dizia: “Adoro desligar o computador porque aparece “seu Windows está sendo desligado”. Por mim seria “seu Windows vai estar sendo desligado”. Quanto mais verbo, melhor, né? Pra que regular verbo? Se no princípio era o verbo! Aloka”... Estou cansado, queridos amigos. Ou deveria dizer estou cansade, querides amigues? Esse é outro modismo que me irrita sobremaneira. A culpa é do PT, que começou com aquela bobagem de chamar a Dilma de presidenta! Rsrsrs. Brincadeira à parte, presidente já é uma palavra de gênero neutro. Serve, portanto, para o masculino e para o feminino. Como o pretendente e a pretendente, o residente e a residente. Para que atribuir um gênero a uma palavra que já é inclusiva? Como bem me explicou Luís Artur Nunes, que além de mestre e doutor em teatro é também professor de português, o gênero gramatical não tem nada a ver com o gênero sexual. Donde concluo que nossa língua não é excludente, machista ou homofóbica. Apenas segue, como todas as outras, suas regras gramaticais. Alterar esses códigos não é inclusão. É apenas ignorância... Mas, eu sou apenas um velho chato e “cringe”, cuja opinião não deve ser levada em conta. Apenas um desabafo. Joga “cringe” no Google. E flutua-a-a... Na foto, o retrato de Camões por Fernão Gomes.

6 comentários:

  1. Adorei a aula de português, esse texto deveria ser lido pela Renata Vasconcelos no JN. Tenho um bode desses modismos que começou com o x no final das palavras, cansativo...

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    1. Odilon, darling! Quem, como nós, ama a língua portuguesa, sofre...

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  2. É isso mesmo, Roberto. E nem falaste na praga do gerúndio ....

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    1. Lyla, já falei tanto do gerúndio que cansei. E ele já está meio que ultrapassado. Infelizmente sempre surgem novos modismos...

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