domingo, 30 de janeiro de 2022

JANEIRO CRIATIVO

O mês de janeiro, que parece ter começado ontem, chega ao fim amanhã. Daqui a pouco já vai ter acontecido o mesmo com o ano que acaba de iniciar. Assim é a vida, esse moto-contínuo que nos leva para lá e para cá. Até que um dia a gente fica mais para lá do que para cá e tudo cessa... Esse janeiro tem sido especial por ter me trazido de volta aos ensaios de uma peça de teatro. Com meu mestre, diretor e amigo Luís Artur Nunes, de quem sou assistente de direção na montagem de Os Amores do Palco ou O Palco dos Amores, cujo elenco é formado por Ana Guasque – também produtora do espetáculo – e João Baldasserini. Está sendo um grande prazer estar outra vez em uma sala de ensaios vivendo esse interessante e rico fenômeno que é o processo de criação teatral. Desde criança sou encantado com essa capacidade mágica de transformar ideias em realidade, textos em palavras vivas, ações descritas por rubricas em emoções verdadeiras. Transpor as histórias do papel para o palco. Reproduzir o passado à luz do presente. E as outras inúmeras possibilidades com que essa arte ancestral nos presenteia. Que bom que o teatro tem resistido através de séculos e se reinventado, apesar de todas as eventuais dificuldades. Agora, por exemplo, ele vive uma nova retomada pós-isolamento social. Uma das primeiras atividades a parar e das últimas a recomeçar. Com todos os cuidados necessários, vamos que vamos... Ana e João são dois ótimos atores e assisti-los e ajudá-los no processo de descoberta dos personagens, intenções e emoções, assim como na sua formatação física e cênica, é para mim também um grande aprendizado. E tudo sob a batuta do nosso maestro Luís Artur, uma das minhas maiores referências profissionais. Sou muito grato aos deuses do teatro por mais esta oportunidade... Espero mais coisas do ano que se inicia. Entre elas, voltar aos palcos como ator e viajar. Duas das coisas que mais amo fazer na vida e que, devido à pandemia, não fiz mais. Vou dando notícias por aqui. Um bom ano de 2022 a todos! Nas fotos, Ana e João em exercícios de criação na sala de ensaio.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

ELIS 4 EVER

Quarenta anos sem Elis. Lembro como se tivesse sido ontem. A notícia da morte trágica chegou pelo rádio. O mesmo rádio que a popularizara. Tão espantoso quanto foi para mim a morte de Elis na época, é para mim hoje já terem se passado quarenta anos. Assustador, como comentei logo cedo pelo WhatsApp com minha amiga Anne, aquela com quem eu comemorava os aniversários de Elis, fato já relatado aqui no blog. O mundo mudou tanto de lá para cá. Para melhor e para pior. Em termos de tecnologia, por exemplo, fomos da Idade da Pedra ao mundo civilizado. E a própria tecnologia, tão largamente desenvolvida, trouxe à tona o nosso pior, expôs a nossa barbárie em redes sociais… Eu, que à época era um garoto de dezoito anos apavorado com a possibilidade de prestar o serviço militar obrigatório, me transformei em um senhor de cinquenta e oito apavorado com a possibilidade de sair às ruas e contrair o corona vírus... Nem vou entrar na questão do nível atual das cantoras. Seria sacanagem com a maior de todas que repousa tranquila e eu não ia querer fazê-la revirar-se na nuvem da eternidade. Com idas e vindas, avanços e retrocessos, Elis continua sendo a maior, a melhor. E, chato que sou, não gosto de ouvir nenhuma outra cantando o seu repertório. Nem mesmo a filha Maria Rita. O que Elis cantou é dela. Se não vai fazer melhor - e é certo que não vai - então não cante, não regrave. Deixa quieto. Ou, para ser atual, don’t touch, it’s art… Que cada vez mais jovens descubram o canto de Elis. Sua relevância. Sua qualidade musical, seu temperamento, seu humor. Sua voz inigualável. Que ela nunca seja esquecida. Para mim, ela continua viva para sempre. Viva Elis Regina!

domingo, 9 de janeiro de 2022

HOMEM FEMININO

Domingo chuvoso e frio. O verão de São Paulo sendo o verão de São Paulo e transformando tudo numa Sibéria glacial, opaca e gris. Minha irmã Raquél veio passar as festas de fim de ano comigo e me trouxe vinhos que agora embalam minha existência e aquecem meu tíbio coração. E o pensamento voa... Tiago Iorc, em seu belíssimo clipe para a canção Masculinidade, me trouxe reflexão e memórias. Como pude sofrer tanto e calado durante tanto tempo? Onde andava Nossa Senhora das Bichas que não olhava por mim? Certamente passou toda a minha infância e adolescência exilada ou presa nos porões da ditadura militar. E quando enfim liberta, Aleluia! Passou a permitir a visibilidade de Fernando Gabeira em tanga de crochê – que soube-se ser um biquíni emprestado da prima Leda Nagle - e o sucesso FM de Pepeu Gomes pregando que ser um homem feminino não fere o meu lado masculino. Não que antes não tivesse havido Gil, Caetano e Ney (sobretudo Ney!) sussurrando em falsete coisas que eu nem sei contar. Mas aí o estrago já estava feito... Até que hoje, juntando os cacos de tanta autoestima, autoconfiança e amor-próprio abalados por bulling e perseguições pedagógicas e religiosas, o resultado ainda é positivo. Poderia ter sido bem pior... Mas, voltando a Tiago Iorc, ele é um artista bem-vindo e necessário. Principalmente no Brasil atual, que acena para brutalidades, machezas e sectarismos em geral. Sua reflexão é oportuna, genuína e fresca. Sobretudo, livre do ranço das militâncias. Seu alfabeto é amplo e inclusivo: Do a ao z. Ou, para ser grego como as variantes do corona vírus, do alpha ao ômega. Que bom que estejamos vivendo o crepúsculo do macho antevisto por Gabeira. Ainda que tardiamente... Desde que comecei a ler Visão Noturna, de Tobias Carvalho, jovem autor gaúcho que desponta como revelação literária, tenho anotado meus sonhos em um caderninho que deixo junto à cabeceira da cama. É incrível como a princípio os sonhos somem na hora de anotá-los. Depois, com o tempo, começam a se detalhar mais e mais. Para de novo sumirem ao ponto de não conseguir anotar uma só linha. Não sei onde esse novo hábito irá me levar. Quem sabe a um post inédito aqui no blog? O que me impressiona é a variedade de pessoas, temas, locais e tempos sonhados de uma noite para a outra. Que máquina complexa é a mente humana. Capaz de tanto abarcar. Crentes dirão que está tudo na bíblia. E olha que a bíblia é só um dos milhares de livros escritos na Terra através de séculos... Como eu dizia, os vinhos que minha irmã me trouxe embalam minha existência e aquecem o meu tíbio coração. E, como cantava Fagner, ai meu coração que não entende o compasso do meu pensamento... Nas fotos, as masculinidades de Tiago, Pepeu, Ney & Gabeira.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

ANO BOM

O ano de 2021 chegou ao fim. Estamos em janeiro de 2022, um novo ano que inicia e que a gente espera que seja melhor do que o anterior. Li muitas postagens dizendo que 2021 foi um ano ruim, que bom que terminou, ô ano difícil, etc... Acho que os anos em si não são propriamente bons ou ruins. Eles apenas delimitam períodos das nossas vidas. Quem os faz bons ou ruins somos nós mesmos. É claro que há fatos que independem da nossa vontade e que nos afetam diretamente. Como a pandemia que estamos vivendo desde o começo de 2020 e que tem feito os nossos dias não serem lá a maravilha que eram. Mas cabe a nós descobrirmos maneiras de preenchê-los com o que nos faz bem. Nos “reinventarmos”, para usar um termo da moda e já tão desgastado. Que atire a primeira ring light quem nunca se aventurou numa live, por exemplo. Ou não fez pão caseiro, ou não ativou o empreendedorismo, outro termo para lá de desgastado. E por falar em termos e expressões que, de tão usados, a gente não aguenta mais ouvir falar, que tal aposentarmos de vez o batidíssimo “éramos felizes e sabíamos”? Não consigo entender como alguém possa ter sido feliz alguma vez na vida, por pouco que fosse, sem saber. Ou sabia ou não era feliz como agora pensa que foi... Quando morre alguém famoso ou importante para a pessoa ou para a sociedade a moda é postar “obrigado por tanto”. Acho esquisito. Parece que a pessoa fez mais pelos outros do que deveria. Rsrsrs... Precisamos rever essas expressões ou, para usar outra palavra do momento, ressignificá-las. É bom lembrar que todo o cuidado é pouco na hora de ressignificar o que quer que seja. Conteúdo, por exemplo, é uma palavra que foi mal ressignificada. Significava algo que tem profundidade, relevância. Um assunto pertinente. Agora, principalmente quando se fala de redes sociais, conteúdo passou a ser qualquer coisa que nelas seja postada. Desde uma dancinha besta com uma música insuportável até palavras difíceis sendo repetidas por uma menininha de dois anos... Diva é outra palavra cuja ressignificação me incomoda bastante. Perdeu o sentido de deusa, divindade feminina, musa inspiradora, que era atribuído a grandes mulheres merecedoras dessa distinção. Agora qualquer uma é diva: De fanqueiras do morro até influenciadoras digitais. Passando por drag queens e ex-integrantes de reality-shows. (Me pergunto se todas as categorias anteriormente citadas não estão contidas nessa última) ... Como podem ver, o ano novo apenas começou e eu já envelheci mais uns dez anos. Voltei ainda mais chato e ranzinza do que já era. Mas cheio de expectativas e esperanças renovadas. Bom 2022 a todos! Na foto, minha gatinha Lina et moi na noite de Ano Novo.