tag:blogger.com,1999:blog-85311494458812213972024-03-16T11:52:54.216-07:00BLOG DO ROBERTO CAMARGORoberto Camargohttp://www.blogger.com/profile/02632765501173128712noreply@blogger.comBlogger860125tag:blogger.com,1999:blog-8531149445881221397.post-19029626082336817032024-03-06T12:52:00.000-08:002024-03-08T12:38:12.083-08:00PERFECT DAYS<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhi_CVKXht6hCq2pxqlzXmfA7LX-fysHx8EzkCCUqrk9rMNz3EGMZTlPdLL5W5FfAopUqoINipagxXNfgYoIbsez-5wY4xceycpsUvftgdUCD90-DPO7_WFRjs2c5SyyzZvjhxbEU3lKaCcRX0Tv1rBoekmSAO44MImEW-bZOOM6K98N3H66GYH9OEET6TG/s4000/IMG_8132.JPG" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="4000" data-original-width="2700" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhi_CVKXht6hCq2pxqlzXmfA7LX-fysHx8EzkCCUqrk9rMNz3EGMZTlPdLL5W5FfAopUqoINipagxXNfgYoIbsez-5wY4xceycpsUvftgdUCD90-DPO7_WFRjs2c5SyyzZvjhxbEU3lKaCcRX0Tv1rBoekmSAO44MImEW-bZOOM6K98N3H66GYH9OEET6TG/s320/IMG_8132.JPG"/></a></div>
Ao me sentar diante do computador para escrever esse post devo confessar que ainda não sei muito bem o que vou dizer. É sobre o filme Dias Perfeitos, de Win Wenders, a que assisti ontem à tarde. Uma tarde quente de verão, abafada mesmo, com um vento que anunciava a chuva que estava por vir. O filme começou e foi, aos poucos, me transportando para uma outra dimensão. Acho que é isso, mas poderia ser também outra realidade, outro tempo, outras possibilidades de se viver. Quem espera encontrar ação ou aventura nos filmes, por favor, não vá porque não tem. Nem romance ou suspense. Nem mesmo uma história com começo, meio e fim. Mas do que se trata então? Trata-se de um poema filmado. Poesia feita de imagens e de sons. Acompanhamos o dia a dia do personagem Hirayama, funcionário da companhia de banheiros públicos de Tóquio. Sua rotina. Sua maneira de observar o mundo em volta. Seus rituais, seus hábitos, seus gostos particulares. Sua maneira de se relacionar com os outros. O filme tem um ritmo próprio, diferente do que estamos acostumados. E a vida, no filme, também tem seu próprio ritmo. Para começar, quase tudo no universo do personagem é analógico: Os livros que lê, as fitas K7 em que escuta suas músicas; a máquina fotográfica com a qual registra sua visão da cidade; o som da vassoura da vizinha varrendo a calçada, que o desperta todas as manhãs... Hirayama não vive preso ao celular, oh, libertação suprema! Imagino que a maioria das pessoas não tenha tempo para dedicar duas horas das suas atribuladas rotinas a esse filme. Ocupadas que estão com coisas importantíssimas como expor as próprias vidas nas redes sociais, por exemplo. Mas é uma pena que assim seja. Perdem muito. O filme abre uma janela no cotidiano. Nos arranca da nossa vaidade, do nosso egoísmo autocentrado. Nos dá a percepção da nossa própria futilidade... Termina com Hirayama dirigindo seu furgão da companhia de banheiros públicos ao som de Felling Good, na voz de Nina Simone. Emocionado, ele ri e chora. Em silêncio, como fica durante quase todo o tempo do filme. A trilha sonora, diga-se, é maravilhosa... Quando a sessão acabou, um temporal varria a cidade e a enxurrada cobria as calçadas da Rua Augusta, que tinha se transformado em uma grande cachoeira. Fiquei parado na porta do cinema esperando a chuva acalmar. Os carros parados em fila tentavam subir em direção à Avenida Paulista. Muitos desistiam, retornavam e desciam a Augusta de volta. O que tornava o caos ainda maior. Me veio à mente a música de Éric Satie. Alguns textos de Caio Fernando Abreu. São Paulo sendo São Paulo. Eu sendo eu. A vida sendo ela própria...
Na foto, o ator Kõji Yakusho, que vive Hirayama, no cartaz de Dias Perfeitos.Roberto Camargohttp://www.blogger.com/profile/02632765501173128712noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8531149445881221397.post-80867823441930871792024-02-28T14:52:00.000-08:002024-02-28T14:52:43.387-08:00FEVEREIRO DUMP<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZ1qNBhSxyGSU1blGOiiCSMtmTe3USF2dMe21Qsb0Kpyp9j5tmSOffuTL0DruvyMtD8iiOETY8LMKaWJObR5RUbUqlxNFPFdDzpFfthdGlEtJNL7Q2mbppbEHxMCSKMCGS1b-Efi9xRMCCg1NNvvVoNOnRVCzeKLF5qqZzP_NtPrgvo9mSX5IwqsGixVQM/s4032/IMG_7868.HEIC" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="4032" data-original-width="3024" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZ1qNBhSxyGSU1blGOiiCSMtmTe3USF2dMe21Qsb0Kpyp9j5tmSOffuTL0DruvyMtD8iiOETY8LMKaWJObR5RUbUqlxNFPFdDzpFfthdGlEtJNL7Q2mbppbEHxMCSKMCGS1b-Efi9xRMCCg1NNvvVoNOnRVCzeKLF5qqZzP_NtPrgvo9mSX5IwqsGixVQM/s320/IMG_7868.HEIC"/></a></div>
No primeiro dia do mês minha gatinha Lina faz aniversário. Quatro anos... Vou com meu amigo Edson Cordeiro ver nosso amigo dj Eduardo Corelli tocar em um restaurante descolado no Bixiga... Fico encantado com a performance de Nilton Bicudo em O Antipássaro, espetáculo no qual ele transborda a poesia de Orides Fontela. Puro arrebatamento... Relembro um verão dos anos oitenta do século passado no Rio de Janeiro na companhia de amigos inesquecíveis... Meus pais em um antigo baile de carnaval no Clube Comercial de Soledade. A trilha sonora é Camisa Listrada, na voz de Carmen Miranda... Minhas irmãs e eu em um antigo baile de carnaval no Clube Comercial de Soledade. Ao fundo, Caetano Veloso canta Muitos Carnavais... Meu personagem ovino, uma ovelha inspirada no homem carneiro de Haruki Murakami, descansa a beleza com máscara de dormir deitada em um sofá no pós-carnaval. A imagem é embalada pela voz de Edson Cordeiro cantando Lovesong, da banda britânica The Cure... Relembro as queridas Lidoka e Claudia Wonder, que já viraram purpurina e iluminam o céu. Weidy e eu na praia de Ipanema (bronzeados, dourados e felizes) no verão de 2009... Para fechar com chave de ouro, assisto a mais dois espetáculos de teatro: Um com a maravilhosa Martha Mellinger (De Tanto Amar) e o outro com o surpreendentemente incrível e encantador João Côrtes (Invisível)... Essa foi uma tentativa de traduzir em palavras o que seria um carrossel de imagens do mês de fevereiro no meu Instagram. Um fevereiro intenso & variado. Bem como eu gosto! E boas águas de março a todos!
Na foto, eu-ovelha descansa a beleza no pós-carnaval.Roberto Camargohttp://www.blogger.com/profile/02632765501173128712noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8531149445881221397.post-5829377190335255382024-02-26T04:00:00.000-08:002024-02-26T04:00:16.908-08:00INVISÍVEL<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7Y1lJq6RZiDqeMNCUV-_CJsoj8owLstl4ag_h_7gFXsFjzwDq3X8awUmJHOrON0-oaIVZy61_t84SFOTQ7jUvdWgsRZUMLUXVgXHDG83a5Qtnct6NwUbuSQIF2Wuk8bAsBck9gDPfkqRicYmNsS99h84gBBr1VkcxRNmc8ol6N1R3GMSkl7xxd9BWv0Bh/s4032/IMG_8039.HEIC" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="4032" data-original-width="3024" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7Y1lJq6RZiDqeMNCUV-_CJsoj8owLstl4ag_h_7gFXsFjzwDq3X8awUmJHOrON0-oaIVZy61_t84SFOTQ7jUvdWgsRZUMLUXVgXHDG83a5Qtnct6NwUbuSQIF2Wuk8bAsBck9gDPfkqRicYmNsS99h84gBBr1VkcxRNmc8ol6N1R3GMSkl7xxd9BWv0Bh/s320/IMG_8039.HEIC"/></a></div>
Escrevo ainda fortemente impactado pelo espetáculo Invisível, solo do ator João Côrtes, a que assisti ontem à noite no Teatro Renaissance. É a primeira vez que assisto ao trabalho desse jovem artista que, pelo que andei pesquisando, já tem dez anos de carreira. João encanta desde o primeiro momento em que pisa no palco. Com uma presença cênica eletrizante e um trabalho corporal invejável ele conduz a plateia através da violenta história de seu personagem, que é vítima de violência física e psicológica por parte de seu companheiro. Assim falando parece que se trata de algo difícil de se assistir, ou pesado demais, ou até mesmo chato. Mas não é. Com seu talento e carisma João arrebata e nos prende à sua narrativa do início ao fim. É um grande prazer presenciar uma entrega tão intensa no palco. Ele denuncia e, ao mesmo tempo, entretém. O texto de Moisés Bittencourt e a direção impecável de Fernando Gomes são emoldurados pela precisa e mágica iluminação de Paulo Cesar Medeiros, praticamente o único cenário do espetáculo. Com ritmo intenso, cortes e flashbacks cinematográficos, o espetáculo solo de João Côrtes é uma lufada de ar fresco no teatro brasileiro. Uma renovação. Sacode, diverte, emociona e faz pensar. Precisa ser visto! Esse jovem ator é um atleta, um ginasta da arte e das palavras. Não sei mais o que dizer. Estou sem fôlego, estupefato, entorpecido. Saí do teatro renovado e recomendo a todos...
Na foto, João recebe e agradece os merecidos aplausos.Roberto Camargohttp://www.blogger.com/profile/02632765501173128712noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8531149445881221397.post-29349639588295620652024-02-23T04:39:00.000-08:002024-02-23T17:52:46.330-08:00PARAÍSOS ARTIFICIAIS<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJLjwx6cY5UZiFGQZh8aCMQj7HX-qJTV6_h25DscA8P-PbRZho8RbC3hRA8v2a0gcJFKoFVu_Lhp2Wdd2-o8CPID1vNDq8ZVJ6aOzStw1y9_GpBHuNi4X3tmT3OEAShiSWm3wlzDVHmQabx5FTRwM-0K8_pA0pgV3NqMq5snsuxgA9M9ZrPO5RG5283eGH/s640/IMG_7980.PNG" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="423" data-original-width="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJLjwx6cY5UZiFGQZh8aCMQj7HX-qJTV6_h25DscA8P-PbRZho8RbC3hRA8v2a0gcJFKoFVu_Lhp2Wdd2-o8CPID1vNDq8ZVJ6aOzStw1y9_GpBHuNi4X3tmT3OEAShiSWm3wlzDVHmQabx5FTRwM-0K8_pA0pgV3NqMq5snsuxgA9M9ZrPO5RG5283eGH/s320/IMG_7980.PNG"/></a></div><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiEA1yLDjTmIkfoEM3QO5jmim2W7-8GXJ_nltxfiVwczTceJr9R036tWxk5-KyZ7T2Da_mSeGvNFRHMgnj6AJLvFjJ5Nx98WoaAXdxeKA4N1aO0US2xTaoalrF69Hpp2Iclzgw3PA4Iyayts4z0s9VlBBgGTmYs8x1A9P9qTkrLRbC1Qp2PVffrQP_jPW4p/s700/IMG_7978.JPG" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="438" data-original-width="700" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiEA1yLDjTmIkfoEM3QO5jmim2W7-8GXJ_nltxfiVwczTceJr9R036tWxk5-KyZ7T2Da_mSeGvNFRHMgnj6AJLvFjJ5Nx98WoaAXdxeKA4N1aO0US2xTaoalrF69Hpp2Iclzgw3PA4Iyayts4z0s9VlBBgGTmYs8x1A9P9qTkrLRbC1Qp2PVffrQP_jPW4p/s320/IMG_7978.JPG"/></a></div>
Desde a mais tenra juventude tive irresistível atração por drogas. E, paradoxalmente, nunca me dei bem com nenhuma delas. Pelo menos das que cheguei a experimentar. Tudo começou com a leitura de A Erva do Diabo, de Carlos Castañeda. E, consequentemente, de outras obras desse autor como Viagem a Ixtlan, O Segundo Círculo do Poder e outras que não me ocorre o nome. Essa semana tive que fazer um exame clínico que exige a tal sedação. Assim que a enfermeira aplicou a injeção no tubo do soro fiquei grogue e só me lembro de ter dito ao médico: Já estou tonto. A partir daí tudo se apagou e só recuperei a consciência em casa. Consciência é maneira de falar. Dormi a tarde inteira, acordei, jantei e dormi de novo até o dia seguinte. Acordei com uma espécie de ressaca misturada com depressão, muito semelhante ao que acontece depois de qualquer noitada de excessos. Daquelas de antigamente, lógico. Que hoje em dia noitada para mim é ir ao teatro ou a um bar ou restaurante e antes da meia noite já estar em casa... Não sei qual benzodiazepínico, psicotrópico ou estupefaciente (rsrsrs) os médicos costumam aplicar nessas ocasiões. Sei que deu uma bagunçada geral na minha mente já não muito organizada... Por outro lado, trouxe à tona memórias já quase esquecidas. Como os Paraísos Artificiais do título do post, que se referem à obra do escritor Charles Baudelaire. Nela o autor de As Flores do Mal discorre sobre a dor e a delícia de se utilizar substâncias como o ópio, o haxixe e o vinho, capazes de "transformar os homens em deuses antes de lançá-los ao inferno". Na verdade Baudelaire acaba puxando a brasa da sardinha para o álcool. Assim como ele eu, que comecei pelo álcool e passei por várias outras substâncias alteradoras da consciência, descartei todas elas e ao álcool retornei. Rsrsrs (não que eu o tivesse abandonado enquanto experimentava todas as outras)... O que sei é que não tenho nenhum controle sobre drogas e não ter controle é algo que não suporto. Toda substância que faz "viajar" me leva para uma insuportável onda de pânico, insegurança, medo e horror. Sou muito melhor consciente. E, melhor ainda, levemente embriagado. Levei anos para me dar conta disso. Mas nada como a maturidade, não é mesmo? Para o bem e para o mal... "Deveis estar sempre embriagados. Para não sentir o horrível fardo do tempo que vos esmaga os ombros e vos verga para a terra, é preciso embriagar-se sem descanso. Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, a vosso gosto. Mas embriagai-vos". Sábias palavras de Baudelaire. Me vieram também à mente os escritos de Thomas de Quincey e Antonin Artaud e os livros da coleção Rebeldes e Malditos da editora L&PM. Quem se lembra dessa coleção? Eu sei que entrega a idade rsrsrs. Mas eram adoráveis e necessários numa época em que não se tinha sequer um Google, por exemplo... O bom é que o efeito do sedativo e a crise pós-sedativo já passaram e a minha cabecinha parece ter voltado ao normal. Ao normal dela, se é que me entendem. Acho até que logo mais, à noite, vou beber um negocinho só para ver o estrago que faz... Boas viagens a todos!
Nas fotos, Rober<b>teen</b> viaja no vinho e a obra Os Fumantes de Haxixe, de Gaetano Previati.Roberto Camargohttp://www.blogger.com/profile/02632765501173128712noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8531149445881221397.post-62928686508672460142024-02-12T12:45:00.000-08:002024-02-12T15:25:33.786-08:00CANÇÕES DE CARNAVAL<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHxz1udNYY9V4XaPaCRdcue0VmlMcFWIPFWZtOLdpGoeSnXAyoONLKzQ_Y6NQi2oIZ9bo9TmaFU_L1F1Pyb7B777YvgEJ6kvDM_LlWYIT5yHkvdoZI8Jb3ByzHhxizkgE17LvWiYQFAsE7sbogoSXNNX5SDP28po4WqjKq9ZJTX3Q7uRQur5Gv3zP-wuVd/s2048/carmen100.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="2048" data-original-width="1536" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHxz1udNYY9V4XaPaCRdcue0VmlMcFWIPFWZtOLdpGoeSnXAyoONLKzQ_Y6NQi2oIZ9bo9TmaFU_L1F1Pyb7B777YvgEJ6kvDM_LlWYIT5yHkvdoZI8Jb3ByzHhxizkgE17LvWiYQFAsE7sbogoSXNNX5SDP28po4WqjKq9ZJTX3Q7uRQur5Gv3zP-wuVd/s320/carmen100.jpg"/></a></div><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjK9tdqSy73uPvYQk_og2wYPiY22zv80ErdMNkZa9dXeAe5HcQPAuIfTFymMC4l744xaMTyQO0S_Jqhx02JeWhf1eq8ivyj8ysaLLm2dcUHf4nrXxS4CbI7ZnCbN3tbgoENSheg9-KFVoEQ3Fk4cRyz4OKnzXHOgbi-OYOwizGOrWcZuOxTWvrC7PM0Lb8W/s1200/asfr%C3%8A.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="1200" data-original-width="1200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjK9tdqSy73uPvYQk_og2wYPiY22zv80ErdMNkZa9dXeAe5HcQPAuIfTFymMC4l744xaMTyQO0S_Jqhx02JeWhf1eq8ivyj8ysaLLm2dcUHf4nrXxS4CbI7ZnCbN3tbgoENSheg9-KFVoEQ3Fk4cRyz4OKnzXHOgbi-OYOwizGOrWcZuOxTWvrC7PM0Lb8W/s320/asfr%C3%8A.jpg"/></a></div><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWpJB_uR_Qzfm17EdY6uyq7Wcg3p0Ktqq-iWLPJBbybsCtV6bR0Wz8U-GDATJhWNA6BOdSUcWvFAEEsSXJ7TnrD97AauJRM6wzHby-vK-hd22iCJ3AyQ8ljDJxBuxow4mi1fQSYmbejhaDgXB6JmHGcUkJRXDuXHjoluxmd42b3wVDKAZPq28GcDBm2ecQ/s220/caemc.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="220" data-original-width="220" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWpJB_uR_Qzfm17EdY6uyq7Wcg3p0Ktqq-iWLPJBbybsCtV6bR0Wz8U-GDATJhWNA6BOdSUcWvFAEEsSXJ7TnrD97AauJRM6wzHby-vK-hd22iCJ3AyQ8ljDJxBuxow4mi1fQSYmbejhaDgXB6JmHGcUkJRXDuXHjoluxmd42b3wVDKAZPq28GcDBm2ecQ/s320/caemc.jpg"/></a></div>
... e nesses dias de folia em que a multidão se amontoa, se acotovela e se entrelaça lânguida e cheia de lascívia, eu me entrego ao deleite da música. Inevitavelmente acabo revisitando álbuns e canções que ao longo do ano ficam mais no fundo das pilhas de CDs e LPs. Quero falar especificamente de três álbuns que tem embalado meus dias de folia (ou de anti-folia). O primeiro deles é Carmen Miranda 100 Anos, idealizado e produzido por Thiago Marques Luiz. Uma luxuosa edição dupla que traz no primeiro CD duetos de Carmen com grandes cantores da primeira fase da carreira dela como Mario Reis, Silvio Caldas, Francisco Alves e Carlos Galhardo. Hits como Alô Alô, Isto é Lá com Santo Antônio e Pra Quem Sabe Dar Valor são apresentados nas gravações originais da Pequena Notável com seus contemporâneos. A gente chega a visualizar os cordões passando em meio a muito confetti e serpentina; o outro CD que compõe a edição vem com artistas nossos contemporâneos (alguns já falecidos como Elza Soares, Gal Costa e Rita Lee) fazendo suas interpretações dos grandes sucessos de Carmen; e aí temos Evinha, Maria Alcina, Baby do Brasil, Caetano, Elba Ramalho, entre outros. Amo a versão de Marília Barbosa para o hit Eu Dei. A capa é belíssima, com direção de arte de Ana Amélia Martino e Rafael Ayres. Um luxo para ser degustado o ano inteiro... O segundo álbum é Babando Lamartine, das esfuziantes Frenéticas, sexteto vocal do qual fazia parte minha saudosa amiga Lidoka. Nesse gracioso e animado passeio pela obra do genial Lamartine Babo "as Fre" cantam embaladas por arranjos do não menos genial Cezar Camargo Mariano. Traz pérolas como Canção Pra Inglês Ver, Aí, Hein! e Maria da Luz, entre outras como O Teu Cabelo Não Nega (hoje seriam canceladas) e Jou Jous e Balangandãs. (Lamartine, diga-se, também está presente nos duetos com Carmen do primeiro álbum aqui citado)... Terceiro mas não menos importante, o histórico, antológico, inesquecível e imprescindível Muitos Carnavais, de Caetano Veloso. Nem sei o que falar deste disco que amo tanto, cujo vinil me foi presenteado pelo meu amigo Paulo Teixeira com a seguinte dedicatória: "Roberto, para que a tua vida seja sempre uma festa, como esse disco é". E não é que foi? Ou melhor, vem sendo. Entre Muitos Carnavais, Chuva, Suor e Cerveja e Atrás do Trio Elétrico, A Filha da Chiquita Bacana (eu rsrs) vem vivendo a vida como uma verdadeira festa. Pois, como cantam as Frenéticas, só quem tem mãe no mangue é que não dança, com medo de revelar a sua herança... Fora esses três discos aqui citados, ainda me delicio com uma coletânea de sucessos de Carmen que eu havia dado de presente à minha mãe e que ficou de herança para mim. Minha preferida desse CD é Adeus Batucada. Então, minha gente, para encerrar citando Caetano, vamos viver, vamos ver, vamos ter, vamos ser, vamos desentender do que não, carnavalizar a vida coração... Bom restinho de Carnaval à tous!
Nas fotos, as capas dos tês álbuns citados no post.Roberto Camargohttp://www.blogger.com/profile/02632765501173128712noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8531149445881221397.post-13298330426200123112024-02-10T08:20:00.000-08:002024-02-10T16:56:19.060-08:00CARMEN, CARNAVAL, ET CÆTERA<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJ3oFJ19eMerAp_1dckJFPXRYmXyoYfn2827Hhpve_R1KNu7DfVCtBb7qaa44ojfnnuxPVlhbU0GkGmueSp7Sva_ynvaXHhnFbXQsXsXa05oQDIJPUcNWNfvC0vf2UKbOGaijEofZK51-wqsBH5NyK6ncXq2TvgPKJJjaPKuY3QMIjypapBzFn5JQC4iFR/s600/IMG_7841.JPG" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="600" data-original-width="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJ3oFJ19eMerAp_1dckJFPXRYmXyoYfn2827Hhpve_R1KNu7DfVCtBb7qaa44ojfnnuxPVlhbU0GkGmueSp7Sva_ynvaXHhnFbXQsXsXa05oQDIJPUcNWNfvC0vf2UKbOGaijEofZK51-wqsBH5NyK6ncXq2TvgPKJJjaPKuY3QMIjypapBzFn5JQC4iFR/s320/IMG_7841.JPG"/></a></div><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgz0PBOfDC8JMjsAIsLmvk71UM6yNQR29uoQkT995SfSt9vfiIsiZTVlSS_GMblgpAFlvEKqBvxTC1D41AxSID6MtpOOvr46GMFeXcIJEaCb-tUqlerySAvcrQm3mEnbwm-1EX853xYTg9QftyhW4USeTXt8D1Hnlsg0mlrm4r_vVb2DQeifwQxdNmjESVB/s422/IMG_7842.JPG" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="422" data-original-width="349" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgz0PBOfDC8JMjsAIsLmvk71UM6yNQR29uoQkT995SfSt9vfiIsiZTVlSS_GMblgpAFlvEKqBvxTC1D41AxSID6MtpOOvr46GMFeXcIJEaCb-tUqlerySAvcrQm3mEnbwm-1EX853xYTg9QftyhW4USeTXt8D1Hnlsg0mlrm4r_vVb2DQeifwQxdNmjESVB/s320/IMG_7842.JPG"/></a></div><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDHhXItL5vh-n2v35O_uu7MGM1Yxyx9oC4rPO9hygaiGpJM_SMPDLCnISqfy0tqiDxvkOQBtAyebjulWXyC6Qd4GtaUsguu-Amfbe6tgIRIMGx90-gjyUWSVdGRmE2uTvDdkuQLNVXtcs1ZjG5uWdj_R_GVUGgrvooHh2nRAFP_xSicHUuBRKzTkzy5tZN/s596/IMG_7843.JPG" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="596" data-original-width="514" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDHhXItL5vh-n2v35O_uu7MGM1Yxyx9oC4rPO9hygaiGpJM_SMPDLCnISqfy0tqiDxvkOQBtAyebjulWXyC6Qd4GtaUsguu-Amfbe6tgIRIMGx90-gjyUWSVdGRmE2uTvDdkuQLNVXtcs1ZjG5uWdj_R_GVUGgrvooHh2nRAFP_xSicHUuBRKzTkzy5tZN/s320/IMG_7843.JPG"/></a></div>
Ontem foi o dia do aniversário de Carmen Miranda. Sempre é tempo de render-lhe homenagens. Carmen foi uma das maiores artistas brasileiras de todos os tempos (embora fosse portuguesa de nascimento). Seu sucesso internacional foi tamanho que fez com que alguns brasileiros ficassem magoados com ela, achando que ela tivesse trocado o Brasil pelos "States"(o que eu faria sem a menor culpa). Mas, felizmente, ela explicou a questão na canção Disseram que eu Voltei Americanizada, e tudo voltou ao normal... Amo Carmen desde a mais tenra idade, principalmente por ela ser a minha primeira memória musical: Uma das minhas lembranças mais antigas é minha mãe cantando Camisa Listrada, hit da Pequena Notável, e eu pedindo: Mãe, canta sossega leão! Minha mãe era fã de carteirinha de Carmen. E sempre contava que ela pediu para ser enterrada de tailleur vermelho, com baton e unhas pintadas de vermelho também. Adoro o suingue e a malemolência de Carmen, sem falar dos looks pra lá de avant-garde. Nunca me esqueço de quando, aos dezesseis anos de idade, fui assistir ao show Feitiço, de Ney Matogrosso e, num dado momento do show, ele entrava em cena de turbante cantando O Tique-taque do Meu Coração... A biografia de Carmen escrita por Ruy Castro é um dos meus livros preferidos. Sou encantado pela personalidade dessa mulher totalmente à frente de seu tempo. Adoro a passagem em que sua mãe, cansada de ouvir Carmen destilar palavrões, pergunta: "Minha filha, porque você não diz apenas ai Jesus?"... Quando estava no Rio de Janeiro, em cartaz com a Terça Insana, tive a oportunidade de visitar o museu dedicado à memória de Carmen Miranda. É lindo, mas ao mesmo tempo dá pena de ver que todo o legado dessa grande artista se resuma a alguns vestidos e balangandãs. Carmen merecia muito mais. Católica fervorosa que era, nunca se permitiu se divorciar do marido americano. E ele, nada bobo, acabou ficando com todo o patrimônio de Carmen que, como sabemos, não era pequeno... Aproveito o dia de seus anos, que é também aniversário do meu amigo e grande cantor Edson Cordeiro, para manifestar meu apreço e minha admiração por essa grande artista que projetou o Brasil para o mundo através de seu imenso talento. Pequena Notável, Brasilian Bombshell, ícone gay, Carmen faz juz a todas essas alcunhas. E agora, nesse período de carnaval, nada melhor do que relembrar seus hits, marchinhas carnavalescas que ela imortalizou na memória auditiva dos brasileiros. Como Balancê, regravada por Gal Costa nos anos oitenta e que foi hit também na voz da já saudosa Gal... Eu, como venho fazendo nos últimos anos, fico em casa lembrando dos carnavais que passaram, ouvindo muita música brasileira e, claro, tomando meus bons drinks. Bon carnaval à tous!
Nas fotos, três looks baphônicos da Pequena Notável, que de pequena não tinha nada.Roberto Camargohttp://www.blogger.com/profile/02632765501173128712noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8531149445881221397.post-45191274632296383862024-01-31T10:36:00.000-08:002024-01-31T12:23:45.083-08:00TANTO MAR<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6aLJXez17Ij8bqnhLaJuRXW6iMNKj_oZyJ-ROGLuG42B1LTf73enPTc3J6jQqZwUMmzSF9XqvmnJjLnZOdtl_Cxwf3MJzanB4-ghPtEAYDaH-QNNs893BRM_x-xjq8NZ04zZBR9HeFpSNIXHymVV46CtueSK6a1vNkDFWcoQiBdE5J_rNC5YSZqOlKlM8/s4032/IMG_7707.HEIC" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="4032" data-original-width="3024" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6aLJXez17Ij8bqnhLaJuRXW6iMNKj_oZyJ-ROGLuG42B1LTf73enPTc3J6jQqZwUMmzSF9XqvmnJjLnZOdtl_Cxwf3MJzanB4-ghPtEAYDaH-QNNs893BRM_x-xjq8NZ04zZBR9HeFpSNIXHymVV46CtueSK6a1vNkDFWcoQiBdE5J_rNC5YSZqOlKlM8/s320/IMG_7707.HEIC"/></a></div><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihjz8ccyUaFJRdnz3NhNOFTYYbDTNswzYnnJpXEMqrLq7Tne5Z7djzMpx6aemSwmjz6VtwTCu7NmSfUtSm6C3KWa6vxCVTFOS5VOXkRVaF33sHUHjzKXGkHC3PAynjvtnkfG_GXvpfNlUzeqHd3FqHiE5UO2zCjkH5LyrG1Olh-5KYbNuGBFWObZdurJHt/s4032/IMG_7703.HEIC" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="4032" data-original-width="3024" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihjz8ccyUaFJRdnz3NhNOFTYYbDTNswzYnnJpXEMqrLq7Tne5Z7djzMpx6aemSwmjz6VtwTCu7NmSfUtSm6C3KWa6vxCVTFOS5VOXkRVaF33sHUHjzKXGkHC3PAynjvtnkfG_GXvpfNlUzeqHd3FqHiE5UO2zCjkH5LyrG1Olh-5KYbNuGBFWObZdurJHt/s320/IMG_7703.HEIC"/></a></div>
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgP0_LDUFbP9sKT2lQ07aSPzFKVvUuIrGqJmVqBYI42ayRReIVb3ifaU4a3kS58VN3oDpbu0L26Ud9B78AcKw0BwSV9avDM7URq86uNMs41S9LkvpO0T4khrBCgLcg8ggQ53oG1IXO-i54JkD4ko4-w5umeC0CooHI_pnxbQxjvg-T8OAs-_UbqX0gTndgu/s4032/IMG_7724.HEIC" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="4032" data-original-width="3024" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgP0_LDUFbP9sKT2lQ07aSPzFKVvUuIrGqJmVqBYI42ayRReIVb3ifaU4a3kS58VN3oDpbu0L26Ud9B78AcKw0BwSV9avDM7URq86uNMs41S9LkvpO0T4khrBCgLcg8ggQ53oG1IXO-i54JkD4ko4-w5umeC0CooHI_pnxbQxjvg-T8OAs-_UbqX0gTndgu/s320/IMG_7724.HEIC"/></a></div>
De repente janeiro se tornou o mês sem fim. Todos postam piadas sobre o tema. Que não acaba mais, que parece ter trinta e quatro dias, etc. Por mim, janeiro podia se estender ainda mais. Acho que trinta e um dias é muito pouco. Endless january. Ainda mais para quem, como eu, esperou até quase o final do mês para vir para a praia. Choveu muito durante quase o mês inteiro. Agora, nos últimos dias, finalmente me entrego ao dolce far niente à beira-mar... Estou de volta a Camburi, onde não vinha desde setembro do ano passado. Quatro longos meses longe deste que é um dos meus locais preferidos no mundo: O mar. Não propriamente o mar, mas a beira-mar. Quando digo que amo estar no mar eu quero dizer de frente para ele. Não dentro, se é que me entendem. Dentro eu tenho até um certo medo, o que me impede de fazer um cruzeiro marítimo, por exemplo. Mas amo contemplá-lo. E aqui, de frente para ele, me vem à mente as palavras de Clarice Lispector: "Aí está ele, o mar, a mais ininteligível das existências não humanas"... Além do mar em si, a natureza aqui no litoral norte de São Paulo é bastante exuberante. São árvores, flores e plantas em profusão. Muito verde e muito azul, no céu e no mar. De dia sol, de noite estrelas e lua. Fico muito feliz quando estou nesse contato direto com a natureza, do qual abri mão para viver na Babylon City que é a Pauliceia. Felizmente há paraisos a poucos quilômetros de distância da capital. Um deles é Camburi, onde estou agora. Há também, um pouco mais ao norte, Ilhabela. E, bem mais ao sul, quase no Paraná, Cananeia, de que muito já falei aqui no blog. E assim os dias vão passando, devagar, de frente para o mar. Nos fones de ouvido Novos Baianos, Gal, Caetano e, atualmente, muito Chico Buarque: Sei que há léguas a nos separar, tanto mar, tanto mar. Sei também quanto é preciso, pá, navegar, navegar... E o que dizer dos entardeceres? A cada dia um espetáculo inédito de cores e tons. Degradês. Arrebatadores. Estupefacientes. Fico bobo. Verdade! Fico pasmo à beira-mar. Bebo, claro. Todos os dias. O dia todo. E à noite também. Que eu não venho à praia para fazer dieta, isso já faço na cidade. Aqui me entrego à contemplação. Ainda citando Clarice: "Aqui está o homem, de pé na praia, o mais ininteligível dos seres vivos. Como o ser humano fez um dia uma pergunta sobre si mesmo, tornou-se o mais ininteligível dos seres vivos. Ele e o mar". E, para seguir velejando na onda das citações, termino com Caymmi: "O mar, quando quebra na praia, é bonito, é bonito...
Nas fotos, amanhecer em Camburi, fim de tarde em Boiçucanga (que fica juste à côté) e pôr do sol no Mirante Baleia Bar.Roberto Camargohttp://www.blogger.com/profile/02632765501173128712noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8531149445881221397.post-48276572159579435532024-01-25T04:14:00.000-08:002024-01-25T05:53:40.928-08:00SÃO PAULO PASSO A PASSO<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhk-jO8aV7etS5atChT4LPkaWQbNL8ldUALrKzKvmmsRAWzKepHtJH71156sh4EPAJ8WndSTIcKp9Ul7FnV8vtJRADwOJApJVKZm2olUNBb-GDuFfzL_Yi1HySZaVMGn6iSGUqMQ80M0bePEWa47O8wY5L2R_BLRgVlCGku55LtVpBgIoKv_lv6lFfucQyW/s3407/IMG_7618.HEIC" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="2393" data-original-width="3407" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhk-jO8aV7etS5atChT4LPkaWQbNL8ldUALrKzKvmmsRAWzKepHtJH71156sh4EPAJ8WndSTIcKp9Ul7FnV8vtJRADwOJApJVKZm2olUNBb-GDuFfzL_Yi1HySZaVMGn6iSGUqMQ80M0bePEWa47O8wY5L2R_BLRgVlCGku55LtVpBgIoKv_lv6lFfucQyW/s320/IMG_7618.HEIC"/></a></div><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQs4Nh_0Jbfi2r-H79w_muYiwgZDb6EYM1WYbsMtwJdPKPba_oGfoZlPPiFTX4VjIF6oL0HCMQbVK0QzOKKBNj9N0-W4bSGP-hqtE4LPVNSpM_-Qxu3gnEiYwo8X3MBxY8bv1u5dux3Z_NDMDpofoJ-H9lRfkNJKNN3dAZSfWkg7OJpQ3QwJ0dJmRb4Icu/s3231/IMG_7619.HEIC" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="2420" data-original-width="3231" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQs4Nh_0Jbfi2r-H79w_muYiwgZDb6EYM1WYbsMtwJdPKPba_oGfoZlPPiFTX4VjIF6oL0HCMQbVK0QzOKKBNj9N0-W4bSGP-hqtE4LPVNSpM_-Qxu3gnEiYwo8X3MBxY8bv1u5dux3Z_NDMDpofoJ-H9lRfkNJKNN3dAZSfWkg7OJpQ3QwJ0dJmRb4Icu/s320/IMG_7619.HEIC"/></a></div><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEXCDGGNfPTobSKAW-USThV_A4sVV_vUzPjdqsM5XQTsZtJ6uqlBJck2e3zjNK-GSd4XIbwMjvI3keEVBXM96qR9caCHlXwpObb-jBMJwXAMpa_oRlKGNNAjoSbRXkkgUiUBeXMQK1nOHHS9i2czozuLmKx3FnxgWRQvVABHSc5ZeuGzaOlPuXH35_4myO/s4005/IMG_7623.HEIC" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="2721" data-original-width="4005" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEXCDGGNfPTobSKAW-USThV_A4sVV_vUzPjdqsM5XQTsZtJ6uqlBJck2e3zjNK-GSd4XIbwMjvI3keEVBXM96qR9caCHlXwpObb-jBMJwXAMpa_oRlKGNNAjoSbRXkkgUiUBeXMQK1nOHHS9i2czozuLmKx3FnxgWRQvVABHSc5ZeuGzaOlPuXH35_4myO/s320/IMG_7623.HEIC"/></a></div>
Hoje é o aniversário da cidade de São Paulo. Aproveito a efeméride para renovar o meu amor pela cidade, relembrando passo a passo o que fez com que eu me apaixonasse por ela...
Em 1975, aos onze anos de idade, venho com meus avós paternos passar as férias de verão na casa de meu tio Djanir, que morava em Osasco. Impossível não lembrar em detalhes a taça de sorvete que tomei no Terraço Italia, acompanhado de minha tia e meus primos, extasiado pela visão da cidade do alto dos quarenta e seis andares do edifício; o trem que pegamos na Estação da Luz para ir até Campinas visitar uma outra tia; o passeio no Simba Safari, no qual a gente ficava dentro do carro, com os vidros fechados, e via as feras de pertinho...
No ano de 1983 eu abandonara a faculdade de História e trabalhava no Banco Itaú, em Porto Alegre, enquanto me preparava para prestar o vestibular para artes cênicas. Em uma ocasião fui sorteado para vir a São Paulo trazer o malote do banco até a agência do Jabaquara. Tinha que passar o dia na capital esperando para levar de volta outro malote no fim do dia. Meu tio me esperou no aeroporto, deixamos o malote e peço a ele para me levar na esquina da Ipiranga com a São João, então imortalizada nos versos da canção Sampa, de Caetano Veloso...
Em 1984, já cursando artes cênicas, a faculdade entra em greve e venho visitar meu amigo Egisto Dal Santo que, à época, estava morando em um apartamento na Praça da República. Decubro as etílicas e lisérgicas noites do Bixiga; me encanto com o espetáculo Macunaíma, de Antunes Filho, a que assisti no teatro do Sesc Anchieta...
Já em 1987, venho com meu grupo de teatro, o Tear, de Maria Helena Lopes, estrear o espetáculo Império da Cobiça, creiam, no mesmo antológico Sesc Anchieta, onde três anos antes me encantara com a descoberta de Antunes Filho e seu deslumbrante teatro de imagens; conheço e me apaixono pelo Ritz, lugar que frequento desde então até hoje; descubro o bairro dos Jardins, onde jurei que um dia moraria e onde de fato moro até o presente...
Em 1992, já de volta de Paris e morando no Rio, venho a Sampa visitar minha amiga Lucia Serpa. Encontro com Caio Fernando Abreu no restaurante Viena do Conjunto Nacional. Bebemos e conversamos longamente, depois Caio me trouxe até o seu apartamento da Haddock Lobo (aqui do lado de casa), em seguida fomos ao teatro e, após o teatro, finalizamos a noite no Ritz...
De 1987 até 1996 - ano em que me mudei definitivamente para São Paulo - tudo o que fiz foi plantar sementes que me trariam para cá. Nesse meio tempo morei em Paris e no Rio de Janeiro, mas sempre de olho na dura poesia concreta das esquinas de Sampa. Até que minha amiga Lucia Serpa me consegue um trabalho no Grupo XPTO, sou recebido pela minha outra amiga Nora Prado, reencontro minha outra amiga Patricia Wood, com quem havia morado em Paris, vamos morar juntos num apartamento nos Jardins, e aí já começa uma outra história...
Parabéns, São Paulo, pelos quatrocentos e setenta anos! E muito, mas muito obrigado mesmo, por me acolher. "Quem vem de outro sonho feliz de cidade" como eu (de Soledade, Porto Alegre, Paris e Rio de Janeiro), "aprende depressa a chamar-te de realidade, porque és o avesso do avesso, do avesso, do avesso"...
Nas fotos, a vista do apartamento do Egisto na Praça da República (1984), minha amiga Coca Serpa fotografada por mim na Liberdade em 1987 (ela é o pontinho amarelo à esquerda) e eu, todo faceiro, atravesso a Consolação já morando na Pauliceia em 1996.
Roberto Camargohttp://www.blogger.com/profile/02632765501173128712noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8531149445881221397.post-57939174864787160122024-01-19T09:15:00.000-08:002024-01-19T09:17:39.934-08:00HONEY BABY<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_A4zD8pzoyqQbPFu12Kj8ztp_Iq9S9cUKMDheYPrwCPUZUEU1-nkTkjr-L5FgCcdz-6CZ7bQgk_gipavl5rhlDutVmtkLzhBZGv7liSJG-COBCWYcOVw0W1q_F78nKu1V8TJes1omBLbmjKhj5ZjvqCADSJkRXctz7OEgtgAqZAlJxRX0oYJeOsitcf8j/s4032/IMG_7537.HEIC" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="4032" data-original-width="3024" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_A4zD8pzoyqQbPFu12Kj8ztp_Iq9S9cUKMDheYPrwCPUZUEU1-nkTkjr-L5FgCcdz-6CZ7bQgk_gipavl5rhlDutVmtkLzhBZGv7liSJG-COBCWYcOVw0W1q_F78nKu1V8TJes1omBLbmjKhj5ZjvqCADSJkRXctz7OEgtgAqZAlJxRX0oYJeOsitcf8j/s320/IMG_7537.HEIC"/></a></div>
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No alto da colina do Sumaré, no número 187 da rua Macapá, a casa de Guilherme de Almeida guarda um tesouro que encontra-se ao alcance de qualquer um de nós. Me refiro ao acervo pessoal do poeta modernista (e artista multimídia, antes disso existir) Guilherme de Almeida e de sua esposa Belkis de Almeida, a famosa Baby a que o título do post se refere. Baby era a musa inspiradora do poeta, retratada e esculpida por diversos artistas, a estrela que se destaca na visitação da casa. Sim, a casa é um museu, aberto à visitação. Comprada e mantida pelo governo do estado de São Paulo, essa residência cheia de encantos é receptiva a qualquer interessado em conhece-la. E o melhor: De graça. O acervo conta com obras de Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Di Cavalcanti, entre outros. Sem falar em uma infinidade de objetos pessoais, como livros, discos, fotografias e lembranças de viagens. A visita termina no topo, quando a gente sobe a famosa escada, imortalizada por Guilherme na crônica Escada de Minha Mansarda (Que ganhamos de presente impressa, como lembrança da visita). A escada, “íngreme, estreita, escura e curva” e a mansarda em si são, como bem definiu a guia da visitação, a cereja do bolo. Após subi-la adentramos no refúgio do poeta. Onde estão a sua mesa de trabalho, suas máquinas de escrever e, o que mais amei saber, as suas lembranças de Paris. Assim como eu, ele era um apaixonado pela Cidade Luz. Ali também está a belíssima cabeça de Baby, esculpida por William Zadig. A casa ainda tem Brecheret, Lasar Segall, Antonio Gomide e Sanson Flexor. Esse último, autor de um dos mais intrigantes retratos de Baby. Quando, nos anos quarenta do século passado, Guilherme resolveu construir a casa e se mudar para lá, seus amigos modernistas perguntavam por que ele resolvera ir morar naquele “fim de mundo”. A rua era de terra e com apenas três casas. A dele foi a quarta a ser construída. "Aí assentei minha casa porque o lugar era tão alto e tão sozinho, que eu nem precisava erguer os olhos para olhar o céu, nem baixar o pensamento para pensar em mim"... O fim de mundo, diga-se, está a quinze minutos da Avenida Paulista. Que, vale ressaltar, é a belíssima vista que se tem da janela da mansarda. São Paulo segue me encantando, mesmo depois de quase trinta anos vivendo nela…
Nas fotos, Baby retratada por Anita Malfatti e Lasar Segall e a cabeça dela esculpida por William Zadig.Roberto Camargohttp://www.blogger.com/profile/02632765501173128712noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8531149445881221397.post-78102739448017354422024-01-15T14:52:00.000-08:002024-01-15T14:58:05.832-08:00ANJOS & CORDEIROS<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqtIkpUvhciMSG7JbcbX8PySS-BrSRMCjIuxioo0GE0El2o-6e_j17XEbHMyNbHSpdTH5xigUsDPrp57DwVnxq0Y1hQ4hHy9TyP9V4PWL1ONT1C1bFCuU6hNuMX2TgRS6LmcFacNPGD04vTDU3V47Cb0v_qK7rSh3x1BfUvH_SMDVyWOaM8QtDXQ6mG_LZ/s733/IMG_7467.PNG" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="733" data-original-width="635" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqtIkpUvhciMSG7JbcbX8PySS-BrSRMCjIuxioo0GE0El2o-6e_j17XEbHMyNbHSpdTH5xigUsDPrp57DwVnxq0Y1hQ4hHy9TyP9V4PWL1ONT1C1bFCuU6hNuMX2TgRS6LmcFacNPGD04vTDU3V47Cb0v_qK7rSh3x1BfUvH_SMDVyWOaM8QtDXQ6mG_LZ/s320/IMG_7467.PNG"/></a></div>
I believe in angels, diz a canção entoada com voz de anjo por Edson Cordeiro no palco do Sesc Ipiranga no fim de semana que passou. Eu também acredito em anjos. Comecei 2024 subindo ao palco já na primeira quinzena de janeiro! Quem me conhece ou me segue aqui no blog sabe que o palco é um dos três lugares onde mais gosto de estar na vida. Os outros dois são, sucessivamente, Paris e o mar. Pois foi justamente no palco do show Voz e Violão, do meu amigo de longa data Edson Cordeiro, que tive a honra de me apresentar recitando o poema da canção Fado Tropical, de Chico Buarque e Ruy Guerra, que faz parte do musical Calabar, por eles escrito ainda sob os anos de chumbo da ditadura militar brasileira. Sou muito grato ao Edson por me dar esse espaço, essa oportunidade de contracenarmos em momento tão sublime da carreira dele. Um artista internacional, que há tempos o Brasil já perdeu para o mundo. E que agora experimenta uma reaproximação com sua terra natal. Sou grato também por ele ter visto em mim a possibilidade de me expressar dramaticamente em cena. Depois de anos fazendo humor e comédia, não foi fácil para mim encontrar o tom certo e a carga dramática adequada ao texto do poema, que começa dizendo: "Sabe, no fundo eu sou um sentimental". Até aí tudo bem, eu também o sou. Mas depois o texto segue com uma ironia fina e cruel, o que testou minhas possibilidades de atuação e me tirou da famigerada zona de conforto: "Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo, além da sífilis, é claro"... Foram três apresentações, uma na casa de shows Blue Note, em outubro do ano passado, e mais duas neste fim de semana que passou, no Sesc Ipiranga. É pouco, eu sei. Mas para quem, como eu, já andava tendo crises de abstinência cênica, pensando em fundar o MTSP (movimento dos trabalhadores sem palco) e sair ocupando os palcos dos colegas, foi de enorme satisfação. Renovou minhas esperanças em relação ao ano que se inicia. Como diz a canção que começa o post, "I believe in angels, something good in everything I see. I have a dream, a fantasy". Desejo um 2024 pleno de palcos e de plateias lotadas. Não só para mim, mas para todos os meus colegas artistas. A generosidade do meu amigo me inspirou. E, para terminar citando o fado, "e se a sentença se anuncia bruta, mais que depressa a mão cega executa. Pois que senão, o coração perdoa"...
Na foto de Rafaela Queiroz, eu em momento sublime na companhia do anjo Cordeiro.Roberto Camargohttp://www.blogger.com/profile/02632765501173128712noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8531149445881221397.post-54936696270910306732024-01-10T09:55:00.000-08:002024-01-10T09:55:49.532-08:00PRETÉRITO IMPERFEITO<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-cakvCNCoPjlhxijWcug2ccVW7kZx8Eof1K_8YRfx6Kg8EYOXvkCJeGahiwbXqKu0s14A3XtsEiAosp09yL9Klb80b2wyhuQFfjITlHjPW7yAxyxO5MZneyJN4kvLfSrz2_zPn6YDBG77QtaR-3RmEKMC3e5xycRU1mMjNkFwoAY1udJgvLNDmdRkLa7v/s2048/quarto%20poa.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="1426" data-original-width="2048" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-cakvCNCoPjlhxijWcug2ccVW7kZx8Eof1K_8YRfx6Kg8EYOXvkCJeGahiwbXqKu0s14A3XtsEiAosp09yL9Klb80b2wyhuQFfjITlHjPW7yAxyxO5MZneyJN4kvLfSrz2_zPn6YDBG77QtaR-3RmEKMC3e5xycRU1mMjNkFwoAY1udJgvLNDmdRkLa7v/s320/quarto%20poa.jpg"/></a></div>
Já falei aqui no blog de uma teoria que tenho: Quando o presente não está bom ou, pelo menos, minimamente satisfatório em relação às expectativas que tenho da vida, das pessoas e de mim mesmo, me volto para o passado. Não de maneira saudosista, mas como uma forma de entender como foi que cheguei até onde cheguei e o quanto já havia no meu "eu passado" da pessoa que me tornei hoje. Isso normalmente envolve remexer guardados. E essa busca invariavelmente me revela surpresas. Como o texto que transcrevo a seguir, escrito por mim em maio de 1984, quando tinha vinte e um anos de idade. Vou colocar entre aspas, para diferenciá-lo bem do meu estilo atual:
"Na sala do pequeno apartamento, a um canto onde a estreita faixa de sol que aquecia o ambiente se limitava, acomodado sobre uma cadeira, lançava, sobre as folhas do caderno, com a caneta de pena, palavras, pequenos versos, estrofes novas, tentando estruturar, sob a forma de poesia, o que sentia em relação a si e às constantes ondas de paixão e arrebatamentos poéticos de que era tomado. Difícil encontrar as palavras adequadas, que não traiam os verdadeiros intuitos e que transmitam, a quem por ventura as ler, ou mesmo a quem as escreve, a descrição exata da realidade ou da fantasia do pensamento em questão. A visão interior das coisas, dos sentimentos que vez ou outra se nutre por determinada pessoa ou situação é rica e amparada por uma série de recursos que a imaginação possui e que cabe a cada um desvendá-los, uma vez que a restrita linguagem das palavras carrega em si o risco do mal-entendido, dos enganos, da não-transmissão das reais intenções... Ao fundo, vindo do quarto, o som do violino modulava o poema, que variava as intenções do conteúdo, da forma, conforme o tipo de sensação que a música causava ao poeta, ou melhor, à pessoa que procurava, através da arte das palavras escritas, dar sentido àquele instante daquela tarde daquele dia daquela sua vida... No quarto do apartamento, junto à janela que dava para a estreita rua contornada por jacarandás em flor que, plantados lado a lado junto ao meio fio das duas calçadas, a envolviam como em um túnel roxo e verde de flores e folhas, tocava seu violino enquanto observava, absorto, musicalmente contemplativo, as nuances, os degradês, as diversas variações de cores que a música lhe sugeria. Tentava, então, de cada nota extrair uma cor, de cada cor fazer brotar novas notas, dando um colorido especial à sua arte que, inventiva, livremente unia cores e sons, formando uma aquarela musical na qual havia, para cada emoção, um <b>tom </b>especial de cor e de som... As palavras que eram ocasionalmente pronunciadas na sala, em voz alta, sugeriam, no quarto, novas harmonias, melodias inusitadas, frases musicais que uniam o geométrico espaço do pequeno apartamento num só e grande momento artístico: O da sala escrevia ao som da música que o do quarto extraía das cores e das próprias palavras vindas dele, dos dois, seus pensamentos, suas artes... Quando, depois de uma dessas tardes, ou noites, ou manhãs, madrugadas, conversavam sobre suas músicas e poesias, era com incontida emoção e felicidade que constatavam a beleza de sua relação, sua convivência poético-musical que os aproximava sempre mais, desvendando, a cada dia, novas afinidades..."
Mantive tudo como estava no original. Mesmo os excessos, redundâncias, as frases excessivamente longas e o uso exagerado da vírgula. Afinal, como diz o título do post, o passado é imperfeito...
Na foto, a vista do meu quarto em Porto Alegre, desenhada por mim em maio de 1982, dois anos antes de escrever o texto aqui transcrito.
Roberto Camargohttp://www.blogger.com/profile/02632765501173128712noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8531149445881221397.post-34541572551792129112024-01-02T09:56:00.000-08:002024-01-02T10:05:07.349-08:00CARTÃO POSTAL<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiL_muP-_jJPBRTWObSuyG95Zra3YHT_TLKCZZttYHSqjc8MUUbXjdttytdF83VlcwHKXKBTEXAMBHvV98RoJ3IU0kMKFSu2EaYFiqIRnHv6WbU2wzzPtZp8sqP_s-BbEtLetIfTHxCO6bvMN-ObkgzjtpDI85WxH494G0c9usTjCkf6MADwZeWZ6t-1zZv/s640/BB.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="640" data-original-width="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiL_muP-_jJPBRTWObSuyG95Zra3YHT_TLKCZZttYHSqjc8MUUbXjdttytdF83VlcwHKXKBTEXAMBHvV98RoJ3IU0kMKFSu2EaYFiqIRnHv6WbU2wzzPtZp8sqP_s-BbEtLetIfTHxCO6bvMN-ObkgzjtpDI85WxH494G0c9usTjCkf6MADwZeWZ6t-1zZv/s320/BB.jpg"/></a></div><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi98hdIqEgdelIzm_wgI7WY8cNt_eY0_pkH390T-6uSx74HR2Z4Q3ZpmyubAkSgoP08s95_9kCiaBYFpMpKOYtf38tipUPF5jdLbW-V6NG5p6vihP1Hs04SsoUta-xhNyEWq4YKTNsHvuLJsUrkAMx73hL6M0oj2ik9oco6Fjps8imZGxJKUP3c6Nn9RoVN/s640/james%20dean.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="480" data-original-width="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi98hdIqEgdelIzm_wgI7WY8cNt_eY0_pkH390T-6uSx74HR2Z4Q3ZpmyubAkSgoP08s95_9kCiaBYFpMpKOYtf38tipUPF5jdLbW-V6NG5p6vihP1Hs04SsoUta-xhNyEWq4YKTNsHvuLJsUrkAMx73hL6M0oj2ik9oco6Fjps8imZGxJKUP3c6Nn9RoVN/s320/james%20dean.jpg"/></a></div><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1XD4Xboc986haeW6aKvAUb2-7wz_2i4baSEAMr9C4sd_sghq2WevIugQ_Ib4prGoDVFo0kahuOAOAwY5s8eHgSAh95xjqPsc9DciqL_WGbBRRGH7mYEV5x6pNs-_pd9VxDYQfiMEc6OhuaypkpdPyfjj3jM4Z-JkHh332ySAK6EGKBnSJ9j5rANnDOsmT/s640/p&g.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="640" data-original-width="481" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1XD4Xboc986haeW6aKvAUb2-7wz_2i4baSEAMr9C4sd_sghq2WevIugQ_Ib4prGoDVFo0kahuOAOAwY5s8eHgSAh95xjqPsc9DciqL_WGbBRRGH7mYEV5x6pNs-_pd9VxDYQfiMEc6OhuaypkpdPyfjj3jM4Z-JkHh332ySAK6EGKBnSJ9j5rANnDOsmT/s320/p&g.jpg"/></a></div>
Esse é o título de uma das minhas canções preferidas de Rita Lee, do álbum Fruto Proibido. É também a capa de um dos meus discos preferidos dos Novos Baianos. Mas quero falar do cartão postal em si, propriamente dito. Em conversa com meu amigo Odilon Henriques pelo whatsap (sobre o que guardamos e o que estamos em processo de desapego) chegamos à conclusão de que não abrimos mão das nossas coleções de cartões postais. A minha começou ainda em Porto Alegre, nos anos oitenta do século passado. E ganhou corpo, digamos assim, no começo dos anos noventa, quando fui morar em Paris. Lá chegando, todo um mundo de cartões postais se abriu para mim. Tinha um lugar - um, não, vários - chamado La Banque de l'Image, dedicado a vender pôsters (outro ítem digno de post), fotografias, cartazes e, claro, cartões postais. Em tempos pré-internet, google, YouTube e etc. era tudo o que a gente podia sonhar em termos de acervo de imagens. Desde Liz Taylor e James Dean no backstage das filmagens de Asssim Caminha a Humanidade (e Marilyn Monroe fazendo musculação com halteres) até os mais incríveis e sensuais nus masculinos quando ainda nem se sonhava com a farra da pornografia gratuita que acessamos hoje. Passando pelos mais belos registros de Brigitte Bardot no auge da jeunesse et beauté... À época, fiz um pacto comigo mesmo de que sempre que fosse a um museu, exposição, livraria, teatro ou loja de souvenirs compraria, pelo menos, um cartão postal. Depois de um ano morando na capital francesa minha coleção ficou bastante interessante. Isso sem falar que em todos os bares que frequentávamos tinha cartões que eram distribuídos gratuitamente em pequenas estantes onde a gente se servia à vontade. Some-se a isso todas as viagens que fiz a outros países, de onde sempre trazia mais postais, e dá para se ter uma ideia da riqueza desse meu pequeno (nem tanto) acervo particular de imagens. Fora tudo o que citei aqui, a gente ainda tinha o hábito de mandar e receber cartões postais pelo correio. No verso eles tinham um espaço (mais ou menos a metade) reservado ao endereço do destinatário e outro para uma pequena mensagem. Algo que pudesse ser lido por todos pois, evidentemente, eles eram enviados sem envelope. O que tornava o custo da postagem menor do que o de uma carta, por exemplo. Mas isso é assunto para outro post. Minha coleção está lindamente acondicionada em uma bela caixa-gaveta da Louis Vuitton que ganhei de presente do meu amigo Edson Cordeiro. Quando eu me for, será fácil para quem se encarregar das minhas coisas jogar essa caixa no lixo com todo o tesouro imagético que guarda. Ou presentear alguém com ela. Mas, enquanto eu viver, ela ficará comigo.
Nas fotos, uma pequena amostra dos meus preciosos guardados: BB mostra as pernas que abalaram Paris, James Dean em momento dramático e o fundo do mar segundo Pierre et Gilles.Roberto Camargohttp://www.blogger.com/profile/02632765501173128712noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8531149445881221397.post-38567060390066164982023-12-26T07:22:00.000-08:002023-12-26T07:30:17.148-08:00MEMÓRIAS DE VINIL<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhePdGVJYFS5ATT46awLDZ9Z5jEZ0f06z6XU9I1dZz1GwYSkzt1clOs4NzbFWIBtU13Z6VcHthTXJVmXmM5m84lhP-D2n2mLDeX5u6DaV36xi6GXmkNZOJe3jYU1k7J-cQATeyBsR3n5P8XpIiTFekMOPzan96GFd2j0_VcewHamehbqW8BVZ6_Ogas2rsu/s3264/1C410DE1-3028-4E35-8460-D0C5E68161FF.jpeg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="2448" data-original-width="3264" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhePdGVJYFS5ATT46awLDZ9Z5jEZ0f06z6XU9I1dZz1GwYSkzt1clOs4NzbFWIBtU13Z6VcHthTXJVmXmM5m84lhP-D2n2mLDeX5u6DaV36xi6GXmkNZOJe3jYU1k7J-cQATeyBsR3n5P8XpIiTFekMOPzan96GFd2j0_VcewHamehbqW8BVZ6_Ogas2rsu/s320/1C410DE1-3028-4E35-8460-D0C5E68161FF.jpeg"/></a></div>
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnmQS5amARiGeVajdWL1jO59qaldDpVMmQPDjpCeRBfqibHOWYIyuIalyUPPQqOkt_sQbP_y3u4Tvy0Y7fjfdn52xiJSwx9Dgt0OnMZBgDaGr7LgsSQDEVkuU5N7VP3z2rSrauFUfVvGYtfDTwrxUTaTjI698EcZ-YYLwoLgfAC2Ags_SATIurJDHAB4D6/s223/alteza.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="223" data-original-width="223" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnmQS5amARiGeVajdWL1jO59qaldDpVMmQPDjpCeRBfqibHOWYIyuIalyUPPQqOkt_sQbP_y3u4Tvy0Y7fjfdn52xiJSwx9Dgt0OnMZBgDaGr7LgsSQDEVkuU5N7VP3z2rSrauFUfVvGYtfDTwrxUTaTjI698EcZ-YYLwoLgfAC2Ags_SATIurJDHAB4D6/s320/alteza.jpg"/></a></div>
Eu sempre pedia de Natal para a minha mãe um disco de Maria Bethânia. Foi assim com Álibi, Talismã e Alteza, entre outros. Bethânia sempre lançava em dezembro os seus álbuns. Agora também saem em dezembro as novas temporadas de Emilly in Paris. É uma maneira de comparar, mas nada se compara... Dia desses liguei a tv e Ludmila cantava no programa do Serginho Groissman: Foca no meu bum bum. Troquei de canal e, no canal Brasil, dei com Elis e Tom, o documentário. Desculpe, Ludmila. Desculpe, Seginho. Não tenho como focar no bum bum quando estou acostumado a focar no talento. (Não que Ludmila e Serginho não tenham os seus mas, como eu dizia, nada se compara)... Na frente da minha casa, em Soledade, tinha uma espécie de varanda. A chamávamos de área. Área da frente. Ali nos sentávamos aos domingos para ver "o movimento ". Que nada mais era do que os carros e as pessoas que passavam para cima e para baixo como em um footing motorizado. Melhor do que ver o movimento, só sair para dar uma "voltinha de carro". Quando eu convencia meu pai a nos levar era o máximo. Na frente da minha casa tinha também uma segunda sala que dava para a rua, que era o escritório do meu pai. Sempre adorei essa sala. Tinha máquina de escrever, desde cedo uma das minhas grandes paixões. Tinha também um cofre, cujo segredo ainda bem pequeno meu pai me confiou. Dentro do cofre havia uma parte proibida para mim que era onde ficavam livros adultos, sobre sexo. Acreditam que, mesmo sabendo o segredo do cofre e o abrindo quando bem desejasse, eu jamais toquei nos livros que me eram proibidos? Mesmo quando uma vez, aos doze ou treze anos, tive um papo sério com ele dizendo que já estava na hora de eu ler aqueles livros e me informar sobre o tema. Meu pai disse que ia pensar e nunca mais tocou no assunto. E eu, burro, ainda assim, não os li. Bom, para se ter uma ideia, meu pai tinha uma arma que eu sabia onde ficava guardada e nunca tive coragem de tocar nela. Só de olhar, morria de medo que aquilo explodisse e me matasse. Acho que se tratava de obedecer aos mais velhos, coisa que deixou de existir há muito tempo... Quando já adolescente, eu e meus amigos (todos maconheiros, para desespero dos meus pais) invadíamos o escritório enquanto meu pai estava no campo trabalhando com o gado. Nos chapávamos e ficávamos ouvindo música no toca-discos. Eu tinha um som potente no apartamento em Porto Alegre, claro, e esse toca-discos portátil para ouvir nas férias em Soledade os discos que trazia. Às vezes meu pai voltava mais cedo da lida e havia uma verdadeira diáspora de amigos deixando rapidinho o escritório e limpando as provas do "crime"... No Natal em que Bethânia lançou o LP Alteza, meus amigos passaram na minha casa para me pegar depois da ceia e fomos à reinauguração da Boite Xodó, que havia sido reformada após um incêndio. Fomos, se não me engano, Marcel, Paulo, Rosaura, Nádia, Carminha e eu. Naquela época a gente ainda "ficava" entre amigos. O termo usado ainda não era esse, mas nessa noite eu me lembro que fiquei com a Nádia, irmã da minha amiga Rosaura. (Mas queria mesmo, no fundo e bem escondido, ficar com o Marcel ou com o Paulo)...
O Mauro Ota, amigo japonês das minhas irmãs, vinha às vezes nos visitar nas férias em Soledade. Ota tinha um Puma, o carro esporte mais "descolado" do momento. Inacreditavelmente ele me emprestava o Puma, mesmo sem eu ter habilitação. Eu saía dirigindo sempre pelas ruas "de trás", jamais pela avenida principal, onde podia ser parado pelos PMs. Uma vez peguei o Puma e fui até a casa da Rosaura, estacionei na frente e businei até que ela aparecesse para ver quem era. Quando me viu no Puma, jurando que era meu, me fez prometer que só ela andaria comigo no carro... Rosaura e eu percorríamos as ruas de Soledade na minha bicicleta Solange. Uma vez, descendo uma ladeira, os freios falharam e nós nos estabacamos num campinho no fim da rua... Nas férias de verão em Soledade eu acordava cedo (mentira, minha mãe me acordava), tomava café e ia nadar na piscina do clube com minha amiga Marilia Zarpellon. Marilia tinha sido minha professora de história no ginásio e eu era apaixonado por ela. Uma vez cheguei a me declarar, deixando a coitada numa saia justa daquelas de couro, sem forro e com o zíper emperrado... Marcel era o meu melhor amigo, tipo irmãozinho mesmo, e já nos deixou há alguns anos. Como já contei aqui, tínhamos um pacto de sempre ligar um pro outro no dia 24 de dezembro, onde quer que estivéssemos. Esse dia foi anteontem e, onde quer que você esteja, Marcel querido, lembre de mim como eu lembrarei para sempre de você...
P. S. Quando estava de férias em Soledade e algum disco novo era lançado eu ia até Passo Fundo, cidade maior vizinha à nossa, especialmente para adquirir. Em Soledade, eles demoravam a chegar. Foi assim com O Que Vier eu Traço, primeiro LP solo de Baby, então Consuelo. Quando saiu Muito, de Caetano, minha irmã Rita o comprou para mim em Porto Alegre e me trouxe no Natal. Memórias, memórias. Quem não as tem? Mas nada se compara...
Nas fotos, Marcel fotografado por mim na lida campeira com meu pai e Bethânia na capa do LP Alteza.
Roberto Camargohttp://www.blogger.com/profile/02632765501173128712noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-8531149445881221397.post-71444991836067273062023-12-18T06:36:00.000-08:002023-12-18T06:36:11.773-08:0014 ANOS DE BLOG<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdOyXlYoteHEu3U_43_FGhydudAhZV9B6tOB4cRxu4evhBaF2V2LBYMqf7ADypct689euESS8HXM9I_WLNKUv8ZKxqzn8r841XlZGY1BLXrgY-BeZPBObHnt7v_-kZ7ynGWFALb26LwwUZo5RFRXnSG1trjLIi4G0SD0_4rDL7iNjdEu9343-VmjY0JLo8/s2592/DSC00789.JPG" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="2592" data-original-width="1944" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdOyXlYoteHEu3U_43_FGhydudAhZV9B6tOB4cRxu4evhBaF2V2LBYMqf7ADypct689euESS8HXM9I_WLNKUv8ZKxqzn8r841XlZGY1BLXrgY-BeZPBObHnt7v_-kZ7ynGWFALb26LwwUZo5RFRXnSG1trjLIi4G0SD0_4rDL7iNjdEu9343-VmjY0JLo8/s320/DSC00789.JPG"/></a></div>
Amanhã, dia 19 de dezembro, meu blog completa catorze anos de existência. Quis fazer o post hoje, segunda-feira, para me sentir útil começando a semana em atividade. Cansei daquela coisa de contar os anos do blog em bodas. Só para fazer diferente, esse ano não vou discorrer sobre o marfim, que seria o elemento correspondente a catorze anos de casamento. Ando em falta com meu blog. Tenho escrito pouco. Não apenas aqui, tenho escrito muito pouca coisa em geral. Sabe aquele papo manjado na internet de expectativa e realidade? Pois é, acho que comecei esse blog com muitas expectativas e nem todas elas se tornaram realidades. Mas o que fazer? Assim é a vida... Obviamente eu não iria deixar o aniversário passar em branco e nem o mês de dezembro, que tanto amo. Então vou espremer aqui pra ver se sai um post digno da importância da efeméride... Desde a mais tenra idade as letras me atraíram. Antes mesmo de entrar para a escola já conhecia todo o alfabeto e formava palavras com as letras estimulado pela minha mãe. Chegava a escrever pequenas cartinhas para minhas irmãs que moravam no colégio interno, na cidade de Cruz Alta. Quando cheguei na primeira série, foi facílimo para a professora Aluf Tams completar a minha alfabetização. Lembro até hoje do método empregado por ela para nos apresentar as vogais: A história da abelhinha, da escova, do índio, dos óculos e do urso... Foi ali mesmo, na biblioteca do Grupo Escolar Maria de Abreu e Lima, que tive contato com a obra de Monteiro Lobato e a devorei inteira. (Sinto que me repito um pouco e peço desculpas aos leitores habitués). A tentativa aqui é de resgatar a minha paixão pela escrita, que vem de mais de meio século. Cruzes! Às vezes eu mesmo me assusto com a quantidade de anos que já vivi... Minha mãe vivia me perguntando por que eu não escrevia um livro. Eu sigo me perguntando. E acho que foi movido por essa vontade que me lancei aqui, na escrita dessas já incontáveis linhas por mim postadas nesses catorze anos de blog. O livro ainda não foi publicado, mas adianto que já tenho material para, no mínimo, dois. Aliás, se alguém que me lê porventura souber de um editor que tenha interesse em publicar um autor neófito, contatos via comentários... Sem mais delongas, quero agradecer mais uma vez e sempre a todos que me seguem, me leem, comentam, compartilham, enfim, me amam. Rsrsrs... Sigo postando, ainda que com menor frequência, com a mesma esperança e alegria de sempre. O prazer de dividir aqui tudo o que vivo, descubro, penso, leio, assisto ou visito é todo meu. Sempre que puder farei questão de compartilhar minhas vivências com quem me lê. Aproveito também para desejar um feliz Natal e Ano Novo a todos! Paz, saúde, prosperidade e felicidade, para haver amor entre os homens. Au revoir!
Na foto, moi pelo fotógrafo Guto de Castro (Só pra me exibir um pouco, que eu também preciso).Roberto Camargohttp://www.blogger.com/profile/02632765501173128712noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-8531149445881221397.post-68537860642263191942023-11-26T10:02:00.000-08:002023-11-26T10:02:46.325-08:00FAST NOVEMBER<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtmdYlpdZ9va36D1dfNThx6X0fsVkrqwj5wG0nXFyCkt0JonkDC3oLdcAIxoWjCxbKcTBfFcsJrv73sXFuytT3r_3Uk5xXz_4tfZUczhQqxn5gQ3lGs6udQF11iLOQFPXsYGXyp1f3xpoMbjCP2-zN5wcqceg2vnZX5aeeSqT5Dqrr4qf3DvMZw4atmdk9/s887/910A2A48-E0F8-4115-AC74-784CF97EDC66.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="887" data-original-width="720" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtmdYlpdZ9va36D1dfNThx6X0fsVkrqwj5wG0nXFyCkt0JonkDC3oLdcAIxoWjCxbKcTBfFcsJrv73sXFuytT3r_3Uk5xXz_4tfZUczhQqxn5gQ3lGs6udQF11iLOQFPXsYGXyp1f3xpoMbjCP2-zN5wcqceg2vnZX5aeeSqT5Dqrr4qf3DvMZw4atmdk9/s320/910A2A48-E0F8-4115-AC74-784CF97EDC66.jpg"/></a></div>
Eu devia andar completamente distraído pela vida quando o mês de novembro passou do lado de fora da minha janela e eu nem percebi… E não é que ele tenha passado silenciosa ou discretamente. Pelo contrário, passou fazendo muito barulho, causando estragos irreparáveis. Guerras, assassinatos, atentados, tornados, enchentes, alagamentos, incêndios, rachaduras no chão e desabamentos. Lembrei de um amigo já falecido que ao ficar sabendo de grandes catástrofes (naturais ou não) nas quais havia morrido muitas pessoas, dizia, irônico: “Ótimo! Tem gente demais no mundo”… Me pergunto se ele continuaria a dizer isso hoje em dia... Lava brotou das entranhas da Terra. Ventos sopraram com a força descrita por Shakespeare em Rei Lear. Mesmo assim, não vi novembro passar. E não pense quem me lê que do lado de dentro da janela a coisa tenha se desenrolado tranquila. E mais, do lado de dentro de mim, que a janela protege, também não houve muito silêncio ou discrição. Lava brotou dos pulmões, tremores racharam entranhas, ventos sopraram com força de arrebentar as bochechas. E quando dei por mim, novembro já havia passado e eu não tinha escrito sequer um post. Nesses catorze anos de blog, pela primeira vez quase fico um mês inteiro sem postar. Sei que muitas coisas boas, maravilhosas, acontecem simultaneamente no planeta inteiro. Crianças nascem, olhares se cruzam despertando paixões, curas para doenças são descobertas. Nesse mês que termina assisti a muitas séries e documentários, filmes também. E peças de teatro, mas poucas. Saí algumas vezes com os poucos amigos que tenho. O mundo segue dividido. Não vejo graça em quase nada. Queria ter um partido, uma religião, uma filosofia ou seita. Um guru, um pastor, uma vidente ou digital influencer. Uma qualquer certeza! Só tenho dúvidas. Inseguranças, temeridades. Voltar no tempo, impossível. Ir embora para onde quer que seja, inútil. Dormir, quem pode? O álcool, os diazepínicos, nada pode conter a angústia que vem da consciência que tenho. Quisera ser o mar que quebra nas rochas desde que o mundo é mundo. E assim vai ser para todo o sempre. Enquanto houver mar. Enquanto houver rochas. Enquanto houver mundo… Bom fim de ano a todos!
A foto que ilustra o post é do meu amigo fotógrafo Guto de Castro e retrata a rua Garibaldi, onde eu morava em Porto Alegre. Nessa época do ano ela fica assim, bordada de roxo pelas flores dos jacarandás que a contornam. Uma pequena dose de esperança em meio ao caos.
Roberto Camargohttp://www.blogger.com/profile/02632765501173128712noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8531149445881221397.post-41124902872186449202023-10-19T13:03:00.000-07:002023-10-19T13:03:43.824-07:00O VAMPIRO BORIS - FINAL<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvMYus7s0GATHKLVqDxD9FXMYFXqGNJ6Xx84FX-Y3RHkXIrgV_o4sWwRYYXYumnLnnu3EzLmjpIdj8hA4R42_YBFOCD-XPZtR2CERJLW9q0r3xjSF0QOmmucaqXxJwgGPjjfwP8T16BWnkC0ZEqDrbxnBJRNkVznqLVyjuuc-NKNlEI39noDfNXpW3lMjd/s640/parr%C3%AD.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="634" data-original-width="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvMYus7s0GATHKLVqDxD9FXMYFXqGNJ6Xx84FX-Y3RHkXIrgV_o4sWwRYYXYumnLnnu3EzLmjpIdj8hA4R42_YBFOCD-XPZtR2CERJLW9q0r3xjSF0QOmmucaqXxJwgGPjjfwP8T16BWnkC0ZEqDrbxnBJRNkVznqLVyjuuc-NKNlEI39noDfNXpW3lMjd/s320/parr%C3%AD.jpg"/></a></div>
Saniasin. Rajneesh. Baguan. Osho. Roupa vermelha, colar. Mala. Terceiro olho, cajal preto nos olhos. Incenso. Buda. Seitas, mistérios, iniciações. Boris trazia segredos, prometia iluminações, mudanças. Uma nova era. Seres evoluídos. Evolua, não polua, escrevia nas páginas dos meus cadernos, junto à imagem de uma lua crescente, por ele desenhada como um grafitti. Tanto para mim. Ao alcance da mão e tão distante. Flertava com a dança e com o teatro. A yoga, a biodança. Retiros espirituais. Como alguns instantes vacilantes e só. Vento devastando como um sonho que gente maluca gosta de sonhar...
A praia da Pinheira, em Santa Catarina. O bairro do Bom Fim, em Porto Alegre. Desfilamos nesses dois lugares nossas juventudes e nossos sonhos. Nossas ilusões passageiras e as que se mantiveram comigo, pois ele já se foi. Para onde, não sei. Talvez para a Paris do século XIX, com seus teatros e bulevares, como fez Lestat, no romance de Anne Rice. Acho que nunca saberei: Boris era um ser envolto em mistério. Que a vida me trouxe e depois me levou. Como os vampiros que vem, causam o maior estrago, ceifam vidas e se vão. Sem deixar rastros, apenas cicatrizes. E lembranças. Depois partem, alados. Misteriosos. Antes que o dia amanheça, desaparecem. Noite adentro, mundo afora. E eu sinto aquela coisa no meu peito: Sinto aquela grande confusão. Eu sei que também sou um vampiro, que nunca vai ter paz no coração...
Já faz um bom tempo que recebi a mensagem da minha amiga com a notícia da morte de Boris. Não mudou muita coisa para mim: Continuei sem vê-lo ou ouvir falar dele como vinha acontecendo há quase quarenta anos, desde que nos afastamos. Nem ao menos em sonho ele me visitou. Vez por outra, remexendo guardados, encontro alguma fotografia em que ele aparece comigo ou com alguns dos nossos amigos. Nada muito nítido ou revelador, todas meio fora de foco, tremidas como as lembranças que tenho dele. Encontro também dois bilhetes que ele me mandou da Praia da Pinheira, escritos em pedaços de papel de embrulho cor de rosa, com uma conta de bar anotada à mão no verso. Típico. A cara dele. Não creio que eu vá reencontrá-lo em uma possível vida após a morte. Tivemos tempo demais nesta aqui e isso nunca aconteceu. Até porque ele não deve ter morrido de fato. Talvez descanse sob a superfície da terra junto ao cemitério do Père-Lachaise, em Paris, ou nos arredores do French Quarter, em Nova Orleans. Até que o som de alguma banda de rock o desperte novamente em um século qualquer, em uma nova era, como ele gostava de dizer. Não sei. O que era para ter sido, foi. O que não foi, a gente inventa. Romanceia. Auto ficciona. Com pitadas de terror e erotismo, que é para tornar a leitura envolvente e, quem sabe, inspiradora para possíveis corações apaixonados. Como eram os nossos naquele adorável e inesquecível fin de siècle...
Roberto Camargohttp://www.blogger.com/profile/02632765501173128712noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8531149445881221397.post-14333055517353773752023-10-15T16:59:00.000-07:002023-10-15T16:59:15.033-07:00O VAMPIRO BORIS PARTE III<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJtT_fwb-EbiBlvYPBlIuiSwLrsXpMuJe3kiQHnYvi6ZN1QFsCrVtlz9WW2mN0H4bIkm6I7uil4eL80tA0t7FoqQdkNmcevOgaJCsvJfg_J3rA54t688iWWYe8T0JPZYwiiMdy0DttFvAvrgq1RzyMrFdnYdZdEzLkNJD4fgY0fToWmGUdVC1lB9iY4dAl/s640/387501352_1330192910969873_5197633381272327437_n.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="339" data-original-width="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJtT_fwb-EbiBlvYPBlIuiSwLrsXpMuJe3kiQHnYvi6ZN1QFsCrVtlz9WW2mN0H4bIkm6I7uil4eL80tA0t7FoqQdkNmcevOgaJCsvJfg_J3rA54t688iWWYe8T0JPZYwiiMdy0DttFvAvrgq1RzyMrFdnYdZdEzLkNJD4fgY0fToWmGUdVC1lB9iY4dAl/s320/387501352_1330192910969873_5197633381272327437_n.jpg"/></a></div>
Tão intensas quanto a presença de Boris eram as suas ausências. Quando ele desaparecia meu humor ficava completamente alterado. Meu metabolismo se acelerava. Meu PH ficava ácido. Ele tinha o poder de, mesmo à distância, me desestabilizar por inteiro. Eu tinha raiva dele por isso. Raiva de mim por deixar que ele fizesse isso comigo. E nas noites de lua cheia a coisa piorava consideravelmente. Principalmente no verão, quando o ar noturno era invadido pela fragrância das gardênias e damas da noite que adentravam meu quarto de rapaz de vinte anos. Então tentava preencher com álcool o vazio que a ausência dele abria no meu peito: Vinho tinto. Vinho do Porto. Campari. Cherry Brandy. Sangue. Dalvas, Dolores, Maysas, Bethânias e Ro Ros tomavam conta do toca-discos. Nem sei quantas rotações por minuto. Abajures, cinzeiros e copos espalhados. Discos fora das capas. Drama: Quando você passa três, quatro dias desaparecido eu me queimo num fogo louco de paixão. Anjo exterminado...
As noites do Bom Fim ardiam de segunda a domingo. Do Estudantil ao Ocidente, passando pelo Alaska, Copa 70, Mariu’s, Lola, Lancheria do Parque, Anjo Azul, Bar Esperança e aquele outro de que não lembro o nome em alguma daquelas travessas da Osvaldo Aranha. Eu entrava tímido, olhando em todos os ambientes, aquela vontade de saber onde você estava, com quem estava, porque eu sabia que me traía. Não só a mim, traía vários, várias, você não era de ninguém como você mesmo me dizia entre beijos ardentes e overdoses. Essa busca era inútil porque eu nunca te encontrava, mas eu não desistia. Com perfeita paciência fazia todo o percurso de volta, uma via sacra de bêbados, drogados e prostituídos, uísque, Dietil, Diempax. Each man kills the thing he loves. Cena de sangue num bar da Avenida Osvaldo Aranha... Querelle de Brest. O romance de Genet que Fassbinder materializou em película cult assistida por nós no Cinema Um, Sala Vogue. Gaumont Filmes. Brad Davis inesquecivelmente belo e terrível. Marinheiro predador. Muito cuidado com essas noites quentes em que navios ancoram em cais distantes e mal iluminados. Facas perfurantes atravessam estômagos, cortam jugulares, degolam sem piedade. Eu trabalho numa ferrovia, babe, marinheiro não, eu não sou. Não aposte seu rabo se não tiver a intenção de perder. Não se arrisque em sexo fácil pelas esquinas e becos sombrios que o vírus pode te matar. Como matou Brad Davis, o eterno Querelle de Rainer Werner Fassbinder e Andy Warhol. A gente saiu do cinema comendo pipocas e foi beber em um boteco da Avenida Independência. O Vogue ficava na Independência, esquina com a rua Garibaldi, onde eu morava com minha irmã. Garibaldi quase com Osvaldo Aranha, meia quadra do Parque da Redenção. Esse parque que de dia era solar e bem frequentado e que à noite se transformava em território livre, terra sem lei onde os ladrões e os amantes malditos, colegas de copo e de cruz, se perdiam em alamedas escuras e moitas sem fim. Você era desses seres da noite que o parque escondia. Conhecidos em comum me alertavam sobre seus hábitos noturnos. Como você me dava medo e me atraía...Roberto Camargohttp://www.blogger.com/profile/02632765501173128712noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8531149445881221397.post-43534181930141860312023-10-07T16:51:00.000-07:002023-10-07T16:51:22.989-07:00O VAMPIRO BORIS PARTE II<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQ_sbZsaVVw2N21C6bRasvsiWCf0eaCVlYaTKzfze335cXIrufrZ0GlC1oon3P-gk3AqzrR0MyFj5WLfaKKl7Nfy4Dh9Tr6nDRThjAfRTozOsfqSUjFpk2ous6hyphenhyphenIqhT5kvwsiWcRhbqKeLgNeBzIHanb-lC1K1PP4sv13ozDRW7zgKnJXcRh_rVtKjqTu/s771/titifreak.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="771" data-original-width="499" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQ_sbZsaVVw2N21C6bRasvsiWCf0eaCVlYaTKzfze335cXIrufrZ0GlC1oon3P-gk3AqzrR0MyFj5WLfaKKl7Nfy4Dh9Tr6nDRThjAfRTozOsfqSUjFpk2ous6hyphenhyphenIqhT5kvwsiWcRhbqKeLgNeBzIHanb-lC1K1PP4sv13ozDRW7zgKnJXcRh_rVtKjqTu/s320/titifreak.jpg"/></a></div>
Boris representava tudo o que mais me atraía e mais era proibido para mim. O lado escuro da lua. Hey, babe, take a walk on the wild side. Era um ser da noite, dos bares. Frequentava lugares que eu sonhava conhecer, mas morria de medo. Tinha medo de tudo, quase. Uma aura de permissividade o envolvia. Ele materializava na minha frente as coisas que eu lia em André Gide, Jean Genet, Tennessee Williams e Bukowski. Então aquele mundo fascinante, habitado por seres livres, rebeldes, malditos, inconformados, desencaixados e sem pudores era acessível para mim? Estava agora ao alcance da minha vontade há tanto tempo reprimida? Difícil de lidar. De aceitar. De administrar. Ele vinha e ia embora com a mesma facilidade. Sumia dias sem dar nenhuma explicação. Ao voltar, calava minha boca cheia de cobranças com beijos de tirar o fôlego. E, rolando no carpete, me fazia esquecer de tudo o que fizera ou deixara de fazer. Enquanto minhas roupas iam sendo arrancadas por aqueles incontáveis braços de polvo sedutor. Quanta novidade para um jovem rapaz vindo do interior...
Eu achava lindos os seus pés e suas mãos. Ficava horas a admirá-los em silêncio. Na minúscula barraca individual em que acampávamos, deitados após o almoço, eu olhava para seus pés descalços apreciando cada mínimo detalhe. Os dedos longos, de unhas perfeitas, bronzeados pelo sol. Na praia ele estava quase sempre descalço, usava no máximo sandálias havaianas. As mãos, vez por outra, dedilhavam as cordas de algum violão. Ô Antonico, vou lhe pedir um favor. Que só depende da sua boa vontade. Prezado amigo Afonsinho, eu continuo aqui mesmo. Aperfeiçoando o imperfeito. Oba, oba, oba Charlie. Como é que é my friend Charlie. Não era só violões que dedilhavam: Suas mãos devassas me percorriam com igual destreza, invadindo bolsos que ele perfurava em direção a intumescências túrgidas e úmidas do meu incontrolado sexo que desabrochava, quanto riso, ó quanta alegria. Eu estou tão cansado, mas não pra dizer que não acredito mais em você...
Nossa sede insaciável de álcool nos levava a uma ronda noturna por botecos e bares nem sempre bem frequentados. E nos despertava outras sedes não menos insaciáveis que às vezes nos faziam ir ao banheiro juntos e lá mesmo, apertados em quatro paredes infectas, aplacá-las aos risos e sair com a maior cara de pau, como se nada tivesse acontecido. Acho que essa loucura toda, entre idas e vindas, não chegou a durar dois anos. Depois disso nos afastamos e, apesar de continuarmos morando na mesma cidade por muito tempo, eu nunca mais o encontrei ou ouvi falar dele. Teria se transformado em morcego e voado para terras distantes? Ou quem sabe seu peito teria sido atravessado por uma estaca? É impressionante a capacidade que algumas pessoas têm de desaparecer da vida da gente sem deixar rastros. Mais de trinta anos se passaram sem que eu nunca o tivesse reencontrado. Mesmo quando já existiam as redes sociais. Nada. Nem um perfil em nenhuma delas. Seriam os vampiros invisíveis nas redes, assim como o são diante dos espelhos? Aí está uma prova que nunca tirei: Não lembro de jamais ter visto a imagem de Boris refletida em um espelho... Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra, diz a elegia de Drumond. Boris era desses: Dos que se transformam quando o sol começa a se por. Dos que mudam quando é lua cheia. Dos que roubam gardênias perfumadíssimas dos jardins noturnos alheios para te dar de presente. Que juram amor eterno e fazem a eternidade caber em uma noite. Era noite de lua cheia na praia da Pinheira. O mar estava coberto por sua luz prateada. Brilhava no meio da noite. Como brilhávamos, Boris e eu, sobre as pedras da ponta da Praia de Cima. Não havia mais nada além dos nossos corpos entrelaçados sobre as pedras da praia. Nada além da luz da lua. Branca. Iridescente. Censurar ninguém se atreve: Mãos que adentravam calças e cuecas. Línguas desbravavam bocas e outros orifícios. A maior expressão da beleza, do amor e do prazer que eu jamais experimentara. Meu pequeno mundo se expandia a universo. Minha percepção se alargava. Minha vida interior desabrochava à luz da lua e à beira mar. Segura as pontas, meu coração. É tão bom sonhar contigo, ó luar tão cândido... Continua no próximo post. Na foto, obra do artista Titi freak.
Roberto Camargohttp://www.blogger.com/profile/02632765501173128712noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8531149445881221397.post-17934918077812047372023-10-03T05:40:00.001-07:002023-10-03T05:40:24.944-07:00O VAMPIRO BORIS - PARTE I<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyJ7E2GtnaHgan-aWTWzJLOiqxES8rJKQ2TMHfmW3i6xGe__gzsoV9NPDy-LUJ4cGpT_2l-e64UDcR4XnvjNJrui5L54Vgl1eKCd55SEN1TylNygUrxJJBOTfSZJrhOu0nijbElueSkI-RYaQclR4W5tCkjPlLMLP-7587i4lmOKiKXRkX9L7-MjlV1R_y/s853/lua.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="853" data-original-width="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyJ7E2GtnaHgan-aWTWzJLOiqxES8rJKQ2TMHfmW3i6xGe__gzsoV9NPDy-LUJ4cGpT_2l-e64UDcR4XnvjNJrui5L54Vgl1eKCd55SEN1TylNygUrxJJBOTfSZJrhOu0nijbElueSkI-RYaQclR4W5tCkjPlLMLP-7587i4lmOKiKXRkX9L7-MjlV1R_y/s320/lua.jpg"/></a></div>
Dia desses recebi, pelo aplicativo de mensagens de uma rede social, a notícia do falecimento de Boris. A nota não dava maiores explicações. Vinha da irmã dele, uma amiga muito querida, daquelas que o tempo guarda na memória e a gente nunca mais vê nem ouve falar. Dizia que depois de longos anos de sofrimento, de luta contra a dependência de drogas e várias doenças por elas desencadeadas, ele finalmente descansara. Assim como ela e todos os que o cercavam. A simples leitura desse nome - Boris - acendeu em minha mente a chama de lembranças há muito adormecidas...
Conheci Boris, o vampiro, no ano em que completei vinte anos de idade: 1983. Por pouco eu não atingi ainda virgem a marca dos vinte anos. No limiar do ano, aos quarenta e cinco minutos do segundo tempo, o tão ansiosamente por mim esperado aconteceu. Melhor, acontecera. Com outro. Mas, voltando a Boris, ele não era de fato um vampiro. Era, na verdade, um garoto de vinte anos, como eu. Mas, para mim, Boris sempre foi nome de vampiro. Ele me lembrava um daqueles seres das trevas. Primeiro pelos olhos, pretos por fora e vermelhos por dentro. Costumava pintar o contorno deles com cajal preto forte e, como fumava muita maconha, os tinha invariavelmente vermelhos na parte interna. Se ainda hoje meu coração não se cansa de ter esperança de um dia ser tudo o que quer (para citar Caetano) imaginem aos vinte anos. Segundo, pelo fato de me sugar por completo. Me tinha em suas mãos. Muito mais vivido e rodado na quilometragem (apesar de termos a mesma idade), me manipulava com natural esperteza e dissimulada cafajestagem. Eu, que dava os primeiros passos na malandragem e boemia da vida, com a cabecinha cheia de fantasias românticas, narrativas açucaradas e desfechos heteronormativos, era presa fácil, facílima para a sanha desenfreada do meu amante algoz...
O conheci por um daqueles acasos totalmente inesperados que a vida nos apresenta. Daqueles que o tempo revela não terem sido acaso nenhum. As férias de verão já tinham acabado e eu havia retomado a minha entediante rotina de aulas na faculdade de História, que sonhava abandonar para cursar Artes Cênicas, minha verdadeira vocação. Uma amiga me convida para irmos passar um feriado prolongado na praia, em Santa Catarina, onde a esperava uma ficante cujo irmão iria conosco no mesmo ônibus. Nos encontramos na rodoviária e, quando adentramos o ônibus, ele já nos esperava devidamente instalado no banco ao lado do meu. Faíscas, tremores, arfares. Meu coraçãozinho neófito quase arrebenta de tanto bater. Movimento retilíneo uniformemente acelerado. Conversa vai, conversa vem, antes da metade da viagem já estávamos nos atracando no banco do ônibus que tinha ficado pequeno para tantos braços, abraços, entrelaçamentos arfantes e sensuais...
Ainda não havia para mim Anne Rice, a tua mais completa tradução: O Vampiro Lestat. Foi mais tarde, no final da década, que vim a conhecer essa intrigante autora de romances cujos protagonistas se alimentam de sangue humano ainda quente. Quando, nas noites cálidas de lua cheia do verão gaúcho, eu me perguntava onde Boris estivera naqueles anos todos em que não nos conhecíamos, mesmo morando em bairros próximos da mesma cidade, não deixava de considerar a possibilidade de ele ter passado os últimos cem ou duzentos anos vivendo em estado vegetativo, sob a superfície da terra, se alimentando de pequenos roedores; e, atraído por sons amplificados de rádios, televisores, guitarras elétricas e melodias complexas como a Arte da Fuga, de Bach, tal como o personagem dos romances de Rice tivesse voltado à superfície justamente na Porto Alegre dos anos oitenta por mim habitada...
Continua no próximo post.Roberto Camargohttp://www.blogger.com/profile/02632765501173128712noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8531149445881221397.post-35891903043422482682023-09-25T13:47:00.004-07:002023-09-25T13:47:57.772-07:00O QUE TINHA DE SER<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkKrAmRTZ49NTmnwDCVHMvy-O9y3NpRdUqB0kv9OGpHxCZPxitfixTL11U9gFbQto7pvHv27FVFC8_raDixAb67MXixw-ItS3s6H3lM-D-na8Rox1YaIH_Q382pMlI-GBMCC8jmIq1XsML2Qh1b4Nb8uBD7CrQBXYkIjX-kJ0qIGKSYfrT0VJMCWx9Kzce/s601/capa-filme-elis-e-tom-1.png" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="601" data-original-width="486" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkKrAmRTZ49NTmnwDCVHMvy-O9y3NpRdUqB0kv9OGpHxCZPxitfixTL11U9gFbQto7pvHv27FVFC8_raDixAb67MXixw-ItS3s6H3lM-D-na8Rox1YaIH_Q382pMlI-GBMCC8jmIq1XsML2Qh1b4Nb8uBD7CrQBXYkIjX-kJ0qIGKSYfrT0VJMCWx9Kzce/s320/capa-filme-elis-e-tom-1.png"/></a></div><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2PqBC2ihtMTSAcYsSm26DMfVqECEfew2h5iZ1Rb6oViUGDNnlzCeQVxrTs-RxoZlPUgMhsrhd6GLBrLf_T0vpcd5XvUoDfrPxkvqfKDKTe5xV8pkCintducH9IXKFOXvaKL-CSxf5ZRBQFeQMX9ZrDc_ze6skrmxcr-z_DCZ5h0S6_qJ9PtQcEhf5vdw0/s924/elisetomcapa.webp" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="911" data-original-width="924" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2PqBC2ihtMTSAcYsSm26DMfVqECEfew2h5iZ1Rb6oViUGDNnlzCeQVxrTs-RxoZlPUgMhsrhd6GLBrLf_T0vpcd5XvUoDfrPxkvqfKDKTe5xV8pkCintducH9IXKFOXvaKL-CSxf5ZRBQFeQMX9ZrDc_ze6skrmxcr-z_DCZ5h0S6_qJ9PtQcEhf5vdw0/s320/elisetomcapa.webp"/></a></div>
Acabo de chegar do cinema. Fui assistir ao documentário Elis & Tom, Só Tinha de Ser com Você. A sensação é de que entrei em uma máquina do tempo que me transportou para uma época em que sensibilidade, talento, cultura, inteligência e genialidade abundavam. Ao contrário do que vivemos hoje em dia, a carência total de todas essas virtudes. Elis Regina e Tom Jobim eram dois grandes artistas e o álbum que resultou desse encontro é uma obra-prima. E, como toda obra-prima, perdura até hoje, passados mais de quarenta anos da sua realização. Como é dito em diversos momentos do filme por vários dos entrevistados, foi uma grande ideia de difícil realização. Aliás, dificílima. Artistas são seres complexos. Grandes artistas são seres muito complexos. Juntar tamanhas complexidades não seria mesmo uma experiência simples... O resultado é esse disco antológico no qual Elis e Tom dão uma aula de música. A gente ri e se emociona o tempo todo no filme. Cenas inéditas de Elis, de quem sempre fui fã, cantando no estúdio acompanhada de Tom, Cezar Camargo Mariano e seus excelentes músicos, me fizeram chorar de emoção e felicidade. Ver Elis cantando aquelas interpretações definitivas de belíssimas canções como Retrato em Branco e Preto, Só Tinha de Ser com Você, Chovendo na Roseira, Modinha e Soneto da Separação, entre outras, foi um dos grandes presentes que a vida me deu. Quando percebi que o filme estava se aproximando do fim fui tomado por enorme tristeza, queria que ele durasse pelo menos mais uma hora. Ah, não seja a vida sempre assim como um luar desesperado a derramar melancolia em mim, poesia em mim... Pretento assistir de novo o quanto antes, até para fixar frases que foram ditas e que no embalo da emoção não consegui gravar. Em determinado momento um dos músicos diz que a arte é também uma forma de amor. E ao longo do difícil processo de criação e execução do álbum, Elis e Tom foram se amando também. Um outro tipo de amor. Amor de artistas criadores pela obra criada. De repente, do riso fez-se o pranto, silencioso e branco como a bruma. De repente, não mais que de repente... É muito lindo, eu gostaria que todos fossem ao cinema prestigiar essa película. Felizmente Roberto de Oliveira registrou tudo o que rolou em Los Angeles durante as gravações. E felizmente as famílias de Elis e Tom permitem que tudo seja levado a público. Quem ganha somos nós, o filme é um presente para os fãs. Assim como o álbum Elis &Tom vem sendo através de décadas... Corram para os cinemas! Afinal, de que servem as flores que nascem pelos caminhos se o caminho sozinho não é nada? Em cartaz nas melhores casas do ramo.
Nas fotos, o cartaz do filme e a capa do álbum antológico.
Roberto Camargohttp://www.blogger.com/profile/02632765501173128712noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-8531149445881221397.post-53073754582045242592023-09-14T13:23:00.003-07:002023-09-14T13:43:53.583-07:00PÁSSARO DA MANHÃ<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfiwquWh2ijSGvqRuiPlPyrhhwvflch0WwBtmb7lAjQtgGzNF8IIUkIs7X4caboq2bXebtya6Y5e8EbMymaa3AmtfXRPSRdtApVXHU7POd1Vsv_Lv8tINz-bTuJqwMsUk2XIdoSHhnkp9uET0G-ANbEm3ptfozSyI2nVpru0vB7Cxh_kV7WuQSNDZRIE-C/s500/Capa_de_P%C3%A1ssaro_da_Manh%C3%A3.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="500" data-original-width="500" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfiwquWh2ijSGvqRuiPlPyrhhwvflch0WwBtmb7lAjQtgGzNF8IIUkIs7X4caboq2bXebtya6Y5e8EbMymaa3AmtfXRPSRdtApVXHU7POd1Vsv_Lv8tINz-bTuJqwMsUk2XIdoSHhnkp9uET0G-ANbEm3ptfozSyI2nVpru0vB7Cxh_kV7WuQSNDZRIE-C/s320/Capa_de_P%C3%A1ssaro_da_Manh%C3%A3.jpg"/></a></div><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3vkwqqzRrRHa3SaQJOtqYp2EKOQepIm4COlxk_F2O7iA6rG4z8VRbbX99dXAerKZgj2b6wMd9lcXjMSjNLUbSd5Pygh0ae-QFamQ3uaP1BZXOqmHIWgZzP3sGfpnWYMQK-aJRo_m0FJ-Da8YkfSDBxX-4hBVOhSYkAMvSYS0KWzroCu9Mu15BWVM09pAP/s3339/beta.webp" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="3339" data-original-width="1699" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3vkwqqzRrRHa3SaQJOtqYp2EKOQepIm4COlxk_F2O7iA6rG4z8VRbbX99dXAerKZgj2b6wMd9lcXjMSjNLUbSd5Pygh0ae-QFamQ3uaP1BZXOqmHIWgZzP3sGfpnWYMQK-aJRo_m0FJ-Da8YkfSDBxX-4hBVOhSYkAMvSYS0KWzroCu9Mu15BWVM09pAP/s320/beta.webp"/></a></div>
Quando eu tinha catorze para quinze anos me mudei de Soledade para Porto Alegre para fazer o segundo grau (não sei como se chama hoje) num colégio da capital. Meus pais, que investiam tudo no nosso bem maior - nossa educação - faziam questão de que nossos estudos fossem feitos nas melhores instituições de ensino. E nesse quesito, Porto Alegre dava de dez na nossa provinciana e amada cidade natal. Mas já estou me desviando do assunto, que vem a ser o matinal pássaro de Maria Bethânia. Quando cheguei em Porto Alegre, minhas irmãs haviam assisitido recentemente ao show de Bethânia no Teatro Leopoldina e já tinham o LP de mesmo nome, o dito Pássaro da Manhã. Eu, que desde pequeno adorava ouvir música (ficava até tarde da noite escutando a rádio Farroupilha no rádio da Variant do meu pai estacionada em frente à casa ou no meu radinho de pilha da Luluzinha) me tomei de amores por Bethânia, aquela entidade mística e misteriosa, e seu encantador disco recheado de hits e curiosidades. Quando ainda estava morando em Soledade lembro de ver na TV a propaganda do show, em que ela aparecia cantando um trecho da canção Um Índio, de Caetano: "num ponto equidistante entre o Atlântico e o Pacífico, do objeto sim resplandescente descerá o índio"... Minha paixão foi instantânea. Decorei todas as canções e também os textos que Bethânia recitava. Eu já era apaixonado por Olhos nos Olhos, de Chico (hit do álbum anterior, Pássaro Proibido) que era uma das mais tocadas na Rádio Farroupilha. Não sei descrever exatamente o que significava, à época, o lançamento de um novo LP de um dos nossos ídolos. Era uma espécie de pacote surpresa, que a gente aguardava ansiosamente pela chegada e, quando chegava, estava repleto de referências, memórias, identificações e marcas que ficariam para sempre em nossas vidas. O que seria hoje o correspondente? Acho que não existe mais algo tão repleto de significado. O conteúdo, a qualidade das letras e melodias, a excelência vocal, tudo isso se perdeu. Claro que temos, por exemplo, a graça de Marina Sena cantando "ai que delícia o verão, a gente queima o ombrim, a gente brinca no chão", ou Jão a insistir no já batido "gosto de meninos e meninas" requentando Renato Russo (preguiça total). Mas algo como Gonzaguinha, Milton, Chico, Caetano, Fagner, João Bosco, Djavan, Toquinho e Vinicius, sorry, não tem mais... O Pássaro da Manhã trazia textos de Fernando Pessoa, Fauzi Arap, Clarice Lispector e da própria Bethânia. Além dos hits Terezinha e O Que Será, de Chico Buarque, Um Jeito Estúpido de Te Amar, de Isolda, e Tigresa e Gente, ambas de Caetano. Sem falar em Começaria Tudo Outra Vez, de Gonzaguinha. E os arranjos? Meu Deus, que lindeza. E as fotos de Marisa Alvares de Lima? Um deslumbramento. No encarte, uma foto de Bethânia de terninho branco e gravata de pérolas cercada de arranjos de flores brancas... Estive uns dias junto ao mar e, como sempre faço, ouvi bastante esse álbum no Ipad. E a memória me trouxe tudo de volta...É isso, sigo ouvindo Bethânia e seus chiquérrimos pássaros (da manhã e proibido) e também seus dramas. Para haver algum luxo, por Deus! Que eu também preciso. Amém pra todos nós...
Nas fotos, a capa do álbum e do encarte por Marisa Alvares de Lima.Roberto Camargohttp://www.blogger.com/profile/02632765501173128712noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8531149445881221397.post-91077595804687271552023-09-05T16:55:00.000-07:002023-09-05T16:55:11.594-07:00ALMOÇO AMIGO<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZLmPfOQ-SID_iC0e5qvJ6vJPo46ch0TX8lyIeoRhxfseFts-QQlqJyrhqzVH73Xs46pMJb_qrPOKq-gO9FN3biMqU1qQGYTUuhz64JMRgon16SGWDu0L0NCgOU2YOawJhfMVsxCG8ie4TBy1KHq6UW9UkfNDphOPjEl2_0_pykynW7wqPIVG0ZYmQ01un/s640/doar.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="481" data-original-width="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZLmPfOQ-SID_iC0e5qvJ6vJPo46ch0TX8lyIeoRhxfseFts-QQlqJyrhqzVH73Xs46pMJb_qrPOKq-gO9FN3biMqU1qQGYTUuhz64JMRgon16SGWDu0L0NCgOU2YOawJhfMVsxCG8ie4TBy1KHq6UW9UkfNDphOPjEl2_0_pykynW7wqPIVG0ZYmQ01un/s320/doar.jpg"/></a></div>
Não lembro há quanto tempo eu não saía para almoçar com um amigo. Um amigo querido, daqueles das antigas, que a gente fica um tempão sem encontrar e quando encontra continua tudo igual. Quero dizer, a amizade continua igual como sempre foi. Já as vidas mudam o tempo todo e esses encontros também são bons para isso, para atualizar cada um dos dois acerca das mudanças vividas pelo outro. Quem como eu vive numa grande metrópole como São Paulo, por exemplo, sabe que não é fácil fazer um encontro desses acontecer. As pessoas têm agendas intensas de trabalho e de compromissos pessoais, tudo é longe e dificilmente as duas partes conseguem ter um dia e horário disponíveis em comum. Sem falar que todo aquele tempo que passamos isolados em casa por causa da pandemia acabou nos fazendo perder um pouco o hábito dos encontros. Enfim, eu tenho procurado retomar minhas atividades anteriores ao isolamento e, dentre elas, rever amigos é uma das que mais priorizo. (Além de ir ao teatro e passar uns dias junto ao mar). O almoço de hoje com esse amigo muito querido me divertiu, me fez pensar e repensar; me animou a retomar meu processo de desapego e doações, que andava um pouco parado; "botou a fofoca em dia", matou um pouco a saudade e, sobretudo, me fez ver o valor que tem uma amizade verdadeira. Sincera. Desinteressada. Como todas deveriam ser e, infelizmente, muito poucas são. Quantas amizades desse tipo você pode afirmar que tem hoje em dia? Seria capaz de contar? Caberia nos dedos de uma mão? Talvez das duas? Se você tiver uma só que seja, meu conselho é que a agarre para você e não a solte mais. Sabe aquele famoso e batido “ninguém solta a mão de ninguém”? Solta, sim. Então não solte a mão dos seus amigos de verdade. Cultive as amizades. Mesmo que à distância, por e-mail, por carta, por Whatzapp, por videochamada ou pelo direct do Instagram. Lembre do seu amigo com carinho e demonstre esse carinho para ele. Em vez de reencaminhar tudo o que você recebe pelos grupos de mensagem (e às vezes nem lê, só passa adiante) pense, diga ou faça algo especialmente dedicado a ele ou ela. Algo que diga respeito a vocês dois. Uma memória de um momento bom vivido juntos. Um singelo almoço em um lugar agradável no meio da semana. Como o que tive hoje com o meu amigo. O primeiro amigo que fiz quando cheguei aqui em São Paulo há vinte e sete anos...
Na foto, brinquedos que separei para doar assim que cheguei do almoço. Afinal, já estou bem crescidinho.Roberto Camargohttp://www.blogger.com/profile/02632765501173128712noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-8531149445881221397.post-57408041250844791282023-08-29T08:52:00.001-07:002023-08-29T08:52:46.648-07:00AGOSTO DUMP<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjej1vo4sruDPx8pky0v-3rKOg0x1hZNH_HQdsxcskmZj1_cVQrwwpLyPx9o-QxUNUdedFAdXgBhli8pkgpKHjTp8C-QFudoiOLASEs_WxAfMVE9noEYItxi_scOLzRat72k3JieW4qg_O8M4hEGQsFSg1ft9b3Fi1-B4U7JgGd6H-gglF3qdwwmKHtU5NG/s640/zibarra.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="640" data-original-width="434" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjej1vo4sruDPx8pky0v-3rKOg0x1hZNH_HQdsxcskmZj1_cVQrwwpLyPx9o-QxUNUdedFAdXgBhli8pkgpKHjTp8C-QFudoiOLASEs_WxAfMVE9noEYItxi_scOLzRat72k3JieW4qg_O8M4hEGQsFSg1ft9b3Fi1-B4U7JgGd6H-gglF3qdwwmKHtU5NG/s320/zibarra.jpg"/></a></div><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXuPv5lZKzELgPEaHGpReHMl6dzghKqomkaDI0ockiODFUlkcztqnuAXUTtB__7ezNyOwrZ7NvxeCRgBTSkhDFKn91FKBSDzgdn-T4wXOEKb8iKUIZY7d7_bHXCZYKCYgQOZeVjK9415vSoFWNE8XJ80lg2JvGlMshmwYEZi479zHTcl9w4rVIqhXMHI7F/s640/simas.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="640" data-original-width="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXuPv5lZKzELgPEaHGpReHMl6dzghKqomkaDI0ockiODFUlkcztqnuAXUTtB__7ezNyOwrZ7NvxeCRgBTSkhDFKn91FKBSDzgdn-T4wXOEKb8iKUIZY7d7_bHXCZYKCYgQOZeVjK9415vSoFWNE8XJ80lg2JvGlMshmwYEZi479zHTcl9w4rVIqhXMHI7F/s320/simas.jpg"/></a></div><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuz6Aaz_azAQs_106pkrNl0A6PmwJvQc_B4jy9FAzQczgwVc-R2H0t4cA6Rp-XlsNaOI-5OUbCzpEFDAYBi5Q5KTk3AIqxnm8tFPTntjSmt2-TkKOHaAm2szAuzGU4XTpokmKxEyaZewhOFuS9MZbSlmYjOa8hwh8Eo0EJGTT66WflH3052wZvTRsyXOja/s640/spcia.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="640" data-original-width="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuz6Aaz_azAQs_106pkrNl0A6PmwJvQc_B4jy9FAzQczgwVc-R2H0t4cA6Rp-XlsNaOI-5OUbCzpEFDAYBi5Q5KTk3AIqxnm8tFPTntjSmt2-TkKOHaAm2szAuzGU4XTpokmKxEyaZewhOFuS9MZbSlmYjOa8hwh8Eo0EJGTT66WflH3052wZvTRsyXOja/s320/spcia.jpg"/></a></div>
Calma, mês de agosto! Não vá embora ainda que só postei uma vez aqui no blog esse mês! Então vamos lá: Passou voando, sim! O mês e também o primeiro semestre do ano, que de agora em diante voará direto para o Natal rsrsrs. Nem cheguei a comentar aqui tudo o que assisti, li, descobri ou fiz nesse malfadado mês. Confesso andar com preguiça. Muita. Não apenas de escrever, mas de praticamente tu-do. As redes, as pessoas, os lugares, as "trends"... Fui, pela primeira vez, assistir a um show do cantor Zé Ibarra, de quem sou fã há tempos e ainda não tinha visto ao vivo. Um primor. Ele arrasa! Canta e toca lindamente as suas próprias composições e também sucessos de outros artistas. A cereja do bolo é ele cantando Gal no tom antigo da Gal, agudíssimo e hiperafinado. Só ao violão ou acompanhado da banda ele preenche o palco e encanta não só pela música mas, também, pela beleza. Ô menino bonito! O show foi na Casa Natura Musical, que também não conhecia e adorei. E, por falar em menino bonito, Rodrigo Simas também dá show de beleza e talento em Prazer, Hamlet, de Ciro Barcelos, o eterno Dzi Croquette. Deixando claro que nudez em cena, no teatro, definitivamente, é pra quem pode... E o que dizer da fofurice explícita da segunda temporada de Heartstopper, no Netflix? Com Nick e Charlie desfilando seu amor adolescente pelas ruas de Paris? Mata o velho aqui de inveja & saudosismo... Teve a São Paulo Companhia de Dança no Teatro São Pedro com a belíssima trilha sonora executada ao vivo pela orquestra do teatro. Ao som de Villa-Lobos, as telas de Di Cavalcanti ganharam vida na criação de Mirian Druve. Sem falar que é sempre um prazer ver o bailarino Yoshi Suzuki sur la scène. Outro menino bonito, diga-se de passagem... É claro que não teve só belezas & fofuras no mês de agosto todo. Teve tristezas, feiuras e até algumas vergonhas. Frustrações, também, que a vida não é um perfil do Instagram. Perdemos grandes artistas, como Aracy Balabanian e Léa Garcia, para citar apenas duas. Mas deixa a tristeza pra lá. Vamos falar de coisa boa? Teve a visita do queridíssimo Édson Cordeiro, que veio da Alemanha para cantar e encantar em Salvador, na Concha Acústica, acompanhado da Orquestra Sinfônica da Bahia e, na volta, passou por aqui. E, para terminar o mês com chave de ouro, hoje dia 29, é o aniversário do meu mestre, diretor e amigo amado Luís Artur Nunes! Viva Luís Artur! E deixa eu parar por aqui por que, com tanto menino bonito, já "me sinto enfeitiçada, correndo perigo", para citar Rita Lee... Bom fim de agosto a todos!
Nas fotos, Zé Ibarra e seu violão, Rodrigo Simas e seu corpão e a SP Cia de Dança no palco do São Pedro. Aplausos, por favor!Roberto Camargohttp://www.blogger.com/profile/02632765501173128712noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8531149445881221397.post-59184727499491328642023-08-12T07:36:00.001-07:002023-08-12T09:25:02.176-07:00RETORNO A "A HERANÇA"<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiONcrv14jvnaN6q0p2p2NuxDC7ys9f9YM_HrsLXU5z5zbtG_4am18_gmHP__fkTT3dyTWMwLQ3ydxynk4jSV0Zozul5Fj1k9al7vxqDmJH3RpnI33aX0R0WuDzcPuF4g2AN6BbMK4dHCaR4qIYOSQoFz7A-xJy8BwC3gg99_iU_tGaye-B9lFyRLNG-jde/s1440/heranca.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="1440" data-original-width="1152" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiONcrv14jvnaN6q0p2p2NuxDC7ys9f9YM_HrsLXU5z5zbtG_4am18_gmHP__fkTT3dyTWMwLQ3ydxynk4jSV0Zozul5Fj1k9al7vxqDmJH3RpnI33aX0R0WuDzcPuF4g2AN6BbMK4dHCaR4qIYOSQoFz7A-xJy8BwC3gg99_iU_tGaye-B9lFyRLNG-jde/s320/heranca.jpg"/></a></div>
Ontem fui ao teatro pela segunda vez para assistir ao mesmo espetáculo. Na verdade, a segunda parte de A Herança, peça de Matthew Lopez em cartaz no Teatro Raul Cortez. Foi o meu "retorno a Howards End", para citar a obra inspiradora dessa bela história. Eu, que saio cada vez menos de casa; que nunca assisto a nada que dure mais de duas horas. Me surpreendi preso a essa complexa e intrigante narrativa de quase sete horas de duração. E ao final da primeira parte já estava louco de vontade de voltar para assistir à segunda... Assim como eu, a plateia toda parece estar mergulhada na história do jovem Eric, interpretado com graça, talento e carisma por Bruno Fagundes, que é também produtor da peça. Fiquei pensando que os intermináveis meses de confinamento que vivemos com a pandemia da covid talvez tenham alterado a nossa percepção da passagem do tempo. Exercitamos à exaustão a contagem das horas, dias e meses. E o que antes parecia longo agora flui de maneira prazerosa. Poderia começar com isso. Também poderia começar dizendo que uma boa história, quando é bem contada, prende a atenção do interlocutor do início ao fim. Uma herança é algo que é doado após a morte de alguém. "O patrimônio, incluindo bens, direitos e dívidas, deixado por alguém em razão de seu falecimento". É disso, em suma, que a peça trata: Da casa que Eric recebe de herança de Walter. Casa que, durante os anos oitenta, abrigou muitos jovens vítimas da Aids. Mas também trata do legado que uma geração de homens gays deixa para a outra. As leituras são vastas e plurais. A gente ri, se emociona e se encanta. É muito tocante lembrar de todos os amigos que perdemos para a Aids. Há shows de interpretação como o monólogo de Marco Antônio Pâmio na primeira parte e a sua imitação dos arroubos dramáticos do personagem de Rafael Primot na segunda. (Não me contive e puxei os merecidos aplausos em cena aberta). Há o talento e juventude de André Torquato, que se desdobra em dois personagens completamente diferentes um do outro em belo exercício de composição. Há também a participação luxuosa de Mirian Mehler que, quase no fim do espetáculo, entra e dá um show. Há a direção sensível e clara de Zé Henrique de Paula. Há um Reynaldo Gianechinni surpreendentemente maduro e belo em cena. Eu nunca o havia visto atuar sur la scène. Há tanta coisa boa que só assistindo. Esse post tem o intuito de recomendar o espetáculo. Depois dos aplausos, Bruno pede que cada pessoa da plateia recomende para outras cinco. É o que estou fazendo aqui. Em agradecimento a esse belíssimo espetáculo a que assisti convido quem me lê a assistir também. Que bom que voltamos a fazer teatro. Que bom que as pessoas voltaram a ir ao teatro. E, last but not least, que bom que Bruno Fagundes herdou dos pais o talento e o amor pelo teatro. Esse espetáculo evidencia que, mesmo ainda tão jovem, Bruno já é um homem de teatro. E que isso fique de herança para as gerações futuras! Corre que ainda dá tempo: A peça fica em cartaz aqui em São Paulo até o dia 03 de setembro e depois vai para o Rio de Janeiro, em curta temporada no Teatro Clara Nunes.
Na foto, Bruno Fagundes e Reynaldo Gianechinni para a divulgação do espetáculo.Roberto Camargohttp://www.blogger.com/profile/02632765501173128712noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8531149445881221397.post-42101613200326425862023-07-18T07:56:00.002-07:002023-07-18T12:09:39.892-07:00EMOÇÃO VERDADEIRA<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjf41DgRGrvyNW0G11E1vK9yjcTB-sLJQu4_kS0XxVD4IagFUmXOFOFnaoCe6Ao4haxW42r4o7Wegtht9o5g083jDXmXcEM23v_yXRjeOgIqP_qlJQZ9bQQt6Kex362Jtn26gFyyJR1oJtO49XD_Ne_e7rMU-HYarhVA4NvuVcPFkMYHyaY3z98tWNaCSD1/s3088/IMG_5352.jpeg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="3088" data-original-width="2320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjf41DgRGrvyNW0G11E1vK9yjcTB-sLJQu4_kS0XxVD4IagFUmXOFOFnaoCe6Ao4haxW42r4o7Wegtht9o5g083jDXmXcEM23v_yXRjeOgIqP_qlJQZ9bQQt6Kex362Jtn26gFyyJR1oJtO49XD_Ne_e7rMU-HYarhVA4NvuVcPFkMYHyaY3z98tWNaCSD1/s320/IMG_5352.jpeg"/></a></div><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKf3neuJCJZfVsEQ77lax-YalVKpemvFDkLibi_s5SlK3COOg4yNXCODX9ekgoECvHiA7TIM2vOHNNINFpHVwuZ1YQgI4r7aisOLs0LzwC6pEFqgyI24IIHcGZ95pFaaIQWAsg46QF117CUvoOjDVXsu-J4nMCgiqSx3VtiO0ve9kDWs0cAx0XVyx3pkdi/s789/IMG_5468.jpeg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="789" data-original-width="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKf3neuJCJZfVsEQ77lax-YalVKpemvFDkLibi_s5SlK3COOg4yNXCODX9ekgoECvHiA7TIM2vOHNNINFpHVwuZ1YQgI4r7aisOLs0LzwC6pEFqgyI24IIHcGZ95pFaaIQWAsg46QF117CUvoOjDVXsu-J4nMCgiqSx3VtiO0ve9kDWs0cAx0XVyx3pkdi/s320/IMG_5468.jpeg"/></a></div>
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgt5ZjZAFA6E7ziFGMikcMKsvPxuJga1fxv6x1toSXRvXvQW9DrWI9DlgZqEu-nXgL-Bf6cryhdtidAlvGutQWKcfF0R-B4uBSLVSoYuSjpb9H3WmaHhu9Ds2neFntxsPLPt0kSCO6bqx0Gfmzmn_MB4TiIhn4EvHJIlFZOM7MLNEUSiT2hpNoaD3b3HBEg/s4032/IMG_3066.jpeg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="3024" data-original-width="4032" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgt5ZjZAFA6E7ziFGMikcMKsvPxuJga1fxv6x1toSXRvXvQW9DrWI9DlgZqEu-nXgL-Bf6cryhdtidAlvGutQWKcfF0R-B4uBSLVSoYuSjpb9H3WmaHhu9Ds2neFntxsPLPt0kSCO6bqx0Gfmzmn_MB4TiIhn4EvHJIlFZOM7MLNEUSiT2hpNoaD3b3HBEg/s320/IMG_3066.jpeg"/></a></div>
Nesses tempos em que tudo é artificial, até mesmo a inteligência, resolvi falar de uma emoção verdadeira... Nos dias que passei em Porto Alegre aproveitei para visitar a Cema. Iracema. Fomos eu, minha irmã Raquél e nossos amigos Guto e Carminha. Durante muitos anos da minha adolescência e juventude a Cema foi nossa empregada. Não sei se é correto falar assim nos dias atuais. E, também, ela nunca foi apenas isso. Era muito mais. Cuidava da casa e de nós. E mandava na gente também! Rsrsrs... Com o tempo, além de trabalhar para nós, se tornou faxineira do prédio. Não só do nosso, de vários outros da rua também. E de outras ruas. Guto e Carminha, os amigos que foram conosco visitá-la, também são moradores do prédio da rua Garibaldi, onde morei grande parte da minha vida. Meus anos dourados, digamos assim... A Cema não parava. Começava muito cedo e ia até o fim do dia. Já entrava em casa dando ordens: Beto (ela me chama assim), se tu não arrumar o teu quarto eu não vou limpar! E se a Raquél não guardar aquele monte de sapato eu vou jogar tudo pela janela... Descendente de imigrantes alemães, fala com sotaque forte e com aquele "ere caregado". Cema está lutando contra o câncer. Fez uma cirurgia de risco para retirada do tumor e está no processo de recuperação, fisioterapia e repouso. Nossa visita despertou muitas emoções. Choramos, nos abraçamos, ela disse várias vezes que me amava. Quero aproveitar esse post para dizer: Cema, eu te amo muito! Não sei se consigo descrever aqui o que sempre houve a mais entre nós do que a simples relação de tabalho. Sempre fomos amigos. Cúmplices. Lembro do quanto sofremos quando nosso querido amigo Marcelo Pezzi, para quem ela também trabalhava, nos deixou. Lembro com carinho dela indo, toda feliz com a chave do carro na mão, me cumprimentar após a apresentação da minha peça Lisístrata no teatro São Pedro. Muito antes de se ouvir falar em meritocracia, Cema já era a self-made womam que criou e formou a filha, construiu a casa própria, comprou carro e investiu em terras no interior, de onde era originária, apenas com o suor do seu trabalho. Muito antes de se cogitar falar em inclusão, ela já me aceitava e gostava de mim do jeito que eu sempre fui. E agora, quando eu achava que ela não tinha mais como me surpreender, ela me conta que um sobrinho "virou mulher e mudou o nome pra Yasmin". Assim, cheia de afeto e naturalidade... Tomamos café, comemos pãezinhos de queijo, bolo e cuca. Me mostrou os ovos das galinhas que ela tem no quintal. Guto, que é fotógrafo, colheu limões-bergamota do pé que ela tem na frente da casa, para fazer uma foto. Cema sempre foi uma mulher forte, uma verdadeira fortaleza. Vê-la debilitada pela doença, vacilando entre desistir e ir em frente, me fez repensar muitas coisas. Não sei de onde tirei ânimo para encorajá-la a continuar com o tratamento, com a promessa de que, na minha próxima ida a Porto Alegre, eu irei até a casa dela novamente para ela cozinhar para mim e tomarmos juntos uma cerveja. Essa semana ela começa as sessões de radioterapia. Vou rezar e torcer muito pela sua recuperação. E contar os dias para o nosso reencontro...
Nas fotos, Cema e eu no dia da visita, os limões-bergamota fotografados por Guto e Cema et moi nos velhos tempos do Edifício Navarra.
Roberto Camargohttp://www.blogger.com/profile/02632765501173128712noreply@blogger.com2