sábado, 28 de setembro de 2013

ENQUANTO O FEIJÃO COZINHA

Hoje resolvi fazer feijão para o almoço. Deixei-o de molho desde ontem à noite. Enquanto o feijão cozinha, me sento para ler e acabo por escrever. Estou devorando a biografia de Alexandre Frota, Identidade Frota - A Estrela e a Escuridão. Frota sempre foi um ícone pop para mim. Acompanhei sua carreira desde o início. Ele, que nasceu no mesmo ano que eu, estava fazendo aos vinte anos o que eu queria fazer e ainda não tinha coragem: Teatro, cinema, televisão, sucesso. Isso tudo sendo uma referência de masculinidade e vigor físico. O que eu queria ser e não era... O tempo passou, eu criei coragem e fiz minha carreira à minha maneira. Ele, à maneira dele. Até que um dia viemos a contracenar no palco da Terça Insana. Eu adorei conhecer pessoalmente essa figura tão controversa. E quer saber? De perto ele é um amor... Generoso e sem nenhum pudor de se autodepreciar em cena. Um verdadeiro comediante. A leitura do livro está me fazendo ver que nem sempre as coisas aconteceram da maneira que ele esperava que acontecessem. O que é muito difícil para quem, como ele, alcança o sucesso em tão tenra idade e, como ele próprio afirma, completamente despreparado e sem ninguém que o pudesse orientar. Essas trajetórias de pessoas que se fazem sozinhas, movidas por uma determinação inabalável, sempre me encantaram. E, enquanto o feijão cozinha, me dou conta de que essa determinação inabalável foi o que sempre me faltou. Eu até que tenho determinação. Mas ela é completamente abalável... Preciso abrir a panela de pressão que borbulha na minha cabeça. No sentido literal, evidentemente. E temperar o feijão. No sentido figurado... Nas fotos, três momentos do Bad Boy: No auge da juventude e beleza, dividindo a cena comigo e autografando Identidade Frota.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

SÃO JOÃO DA BOA VISTA

Nessa última sexta-feira, dia 20 de setembro, tive a honra de participar da trigésima sétima edição da Semana Guiomar Novaes, no belíssimo e incrivelmente bem conservado Teatro Municipal de São João da Boa Vista, uma encantadora cidade do interior de São Paulo, que até então não havia tido o prazer de conhecer. Seu teatro foi inaugurado no ano de 1914! Foi uma emocionante apresentação do espetáculo Cabarecht, que venho tendo o prazer de fazer ao lado dos queridos e talentosíssimos Cida Moreira, Humberto Vieira e Antonio Carlos Brunet. Há muito tempo não me emocionava tanto em cena como nessa apresentação. A ponto de chorar na hora do agradecimento. Sou muito grato a esses colegas e aos deuses do teatro por poder fazer parte desse belo e requintado espetáculo. São João da Boa Vista foi a primeira de uma série de nove cidades que iremos percorrer no interior do estado. Darei notícias aqui... No sábado, já de volta à capital, fui conferir o espetáculo da minha amiga Agnes Zuliani, Funny, um interessante cabaré/documentário sobre três representantes do humor feminino judaico: Fanny Brice, Gilda Radner e Fran Lebowitz. Como bem definiu Agnes, o espetáculo é um cabarário, um novo formato muito bem implantado por ela. Deliciosamente bem humorado, corrosivo e muitíssimo bem executado por todos os intérpretes, com destaque para a própria Agnes em si, que está cantando muito bem, além de arrasar como a excelente atriz que é. No domingo foi a vez de conferir o Covil da Beleza, peça de autoria de Eduardo Ruiz, de quem tenho o orgulho de ser amigo. Edu escreve cada vez melhor. Uma espécie de Oscar Wilde da Pauliceia. Vale a pena prestigiar esse promissor dramaturgo contemporãneo. Uma pena que seu texto é, na maior parte do tempo, desperdiçado na boca de atores que parecem não saber o que estão dizendo... O que fazer, nada é perfeito! E boa semana para todos... Na foto, o Teatro Municipal ao fundo, visto da Praça da Igreja.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

A MORTE, ESSA VILÃ

Passei os últimos dias na companhia de adolescentes terminais, cujas vidas estavam condenadas pelo câncer. Felizmente, na ficção. É que acabo de terminar a leitura de A Culpa é das Estrelas, de John Green, livro que me foi dado de presente por meu amigo Odilon Henriques. Após um curto período de resistência à leitura, entreguei-me a essa belíssima história de amor e morte dos jovens Hazel Grace e Augustus Waters. Eu tenho verdadeiro pavor de lidar com esse tabu. Sim, a morte, para mim, é um tabu. Não tenho a sabedoria nem a fé necessárias para encará-la como uma coisa normal, malgrado a sua iminência. Eu sei que, um dia, ela virá. Então deixa ela lá, no dia dela, e espero que falte muito tempo ainda. Não me conformo quando ela leva prematuramente pessoas incríveis, que ainda estavam no auge, como minha querida Sandra Güez e meu inesquecível amigo Marcelo Pezzi. Isso sem falar nos nossos ídolos, como Elis Regina, Cássia Eller e Amy Winehouse. Mesmo quando nos tira os mais velhos, como nossos pais e avós, a dor da perda é algo que marca profundamente a nova vida que seguimos sem nossos entes queridos. Eu não quero viver muito, tipo ficar velhinho, tendo dificuldades para fazer as coisas sozinho e dependendo dos outros. E também não tenho a menor vontade de viver muitos anos me privando das coisas que me dão prazer. Prefiro viver menos tempo tendo prazeres diários do que ter uma longa vida de privações. Como Hazel e Gus tomando champanhe no restaurante em Amsterdã. Aquele poderia ser o seu último momento juntos. Mas era, sem dúvida, o melhor. Citando a própria Hazel Grace: "Alguns infinitos são maiores do que outros"... E quer saber do que mais? É por isso que eu bebo! E recomendo a leitura dessa obra. Na foto, A Deposição de Cristo, de Caravaggio.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

OUBLIÉ

Não conseguia lembrar onde foi. Se numa ruazinha estreita de Paris ou em um beco do centro de uma outra cidade qualquer. Talvez tivesse sido em uma praia deserta de algum litoral. No quarto de um antigo hotel. Num boteco com mesas de plástico na calçada. No subsolo de uma loja de departamentos. Ou mesmo nos recônditos labirintos da memória. Talvez em algum sonho daqueles que, de tão detalhados, parecem reais. Fazia os mais incríveis esforços para lembrar. Cheirava roupas, perfumes. Remexia antigos guardados. Quem sabe dentro de um livro. No interior de uma das milhares de latas e caixas que colecionava. No bolso de um casaco de figurino. Num canto da sala, do quarto, da alma. Tentava de tudo: Colocava antigos LPs para tocar na vitrola. No iPad, uma nova cantora francesa cujo timbre lembra Piaf. As mais diversas versões da obra de Kurt Weill. E nada. Nada de lembrar. Mas do que era mesmo que estava querendo lembrar? Já foi. Passou. Melhor esquecer...

terça-feira, 3 de setembro de 2013

AZUMI

Aqui estou, mais uma vez no Rio de Janeiro, depois de quase dois anos sem vir. Dessa vez para as apresentações do espetáculo Cabarecht, que faço com Cida Moreira, Sandra Dani e Antonio Carlos Brunet, o Dunga. O inverno do Rio é bem curioso, faz quase trinta graus, tem sol o dia todo e as pessoas estão todas na praia. Eu, recém chegado do inverno paulista, me preservo com medo de pegar um resfriado e ficar sem voz para cantar... Hoje descobri algo que me fez muito feliz: O restaurante japonês Azumi, há vinte e cinco anos funcionando em Copacabana, mas que poderia estar tranquilamente instalado no bairro da Liberdade, em São Paulo. Com cabines reservadas, nas quais você pode se reunir com os amigos ou a familia, o Amuzi tem também um simpático balcão, no qual a gente pode ficar de frente para o sushiman Eric que, além de preparar as mais incríveis delícias diante dos nossos olhos, ainda nos dá dicas de como realizá-las. Inesquecíveis o vinagrete de polvo que comi como entrada, o salmão skin grelhado que Erik me ofereceu e o uramaki de salmão que comi na sequência. Voltarei sempre. Com muita certeza... Na foto, Erik em ação.