sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

FIM

Que deleite passar dias à beira mar saboreando o livro Fim, de Fernanda Torres. Que menina danada. Como ela consegue ser tão boa em tudo o que se propõe a fazer? Genética privilegiada, dirão uns. Talento natural, dirão outros. Eu diria que as duas alternativas estão corretas e acompanhadas de uma inteligência muito acima da média. A primeira vez que a vi em cena foi no Rei Lear de Sergio Britto, quando ela quase menina vivia Cordélia, ao lado de Yara Amaral e Ariclê Perez. Depois ela encantou a todos com sua atuação em Eu Sei que Vou te Amar, de Jabor, levando o premio de melhor atriz em Cannes. E nunca mais parou de atuar no cinema, no teatro e na televisão. Mas como ela arranjou tempo para escrever tão bem um livro tão bom de se ler? Fim é puro deleite. Pulsa do início ao fim. Fernanda é culta sem ser pretensiosa, pornográfica sem ser vulgar, dramática sem ser piegas, divertida e bem humorada sem ser apelativa. Ufa! Difícil ser tudo isso numa primeira obra, não? Pois Fernandinha cumpre com louvor o seu intento. E brinda o leitor com histórias que dão o que pensar. Ou lembrar. Ou desejar. O que mais se pode esperar de um romance quando se está lendo nas férias de verão à beira mar? Que ele demore para acabar, só isso. O que não acontece, pois ele tem só duzentas páginas e a vontade que se tem é de não parar de ler. Desejo sinceramente que Fim seja apenas um começo. No caso de Fernanda, mais um começo. Na foto, Nanda nas filmagens de A Casa de Areia, em uma paisagem que lembra muito a que me encontro lendo seu livro.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

LOUNGE

Nem tudo é deserto e praias intermináveis em Ilha Comprida. Há bares também. De longe em longe. Ou de lounge em lounge, para usar um termo bem em voga na ilha. Uns bem simpáticos e peculiares. Como o Pontinho Lounge, espécie de comunidade hippie que mistura grafitti, slackeline e música eletrônica. Com direito a DJ e uma cozinheira tansex. Para o meu gosto, a música eletrônica não combina muito com o ambiente marítmo mas, quem me conhece sabe, sou difícil de agradar. No bar ao lado, por exemplo, que é bem mais hippie e bem mais simples, estava tocando Novos Baianos que, para mim, é a glória em se tratando de música que combina com praia. Mas o mais incrível de tudo é que no Pontinho Lounge tem o quê? Tem wi-fi! Isso mesmo. Uma conexão com a rede no meio do nada. O dono me disse que à noite ele fica aberto até o último cliente, pois "moro aqui mesmo", ipsis litteris. Não é o máximo? Eu adoraria morar junto ao mar, numa praia quase deserta e com wi-fi. O que mais eu poderia querer? Gelo para os drinks, amor e mais nada. Na foto, os fundos grafitados do Pontinho Lounge que só me fazem crer, cada vez mais, que lounge é um lugar que não existe...

ILHA COMPRIDA

Se existe um lugar no planeta que faz juz ao nome que tem, esse lugar é Ilha Comprida, no litoral sul de São Paulo. Trata-se de uma extensa faixa de praia de mar aberto. De um lado, montanhas. Do outro, mar, areia e céu a perder de vista. Em frente, o infinito. Meu lado português - e eu certamente tenho um, já que sou um Albuquerque de Camargo - meu lado português tem ímpetos de singrar os mares em busca do desconhecido. Obviamente eu não faria isso e, se o fizesse, morreria de medo. Mas acho bonito dizer que tenho ímpetos de singrar os mares e etc. De longe em longe um carro estacionado, algumas cadeiras, um guarda-sol. Nada de som ligado em alto volume. Nada de crianças gritando. O vizinho mais próximo fica a pelo menos mil metros de distância. Adoro. Então trata-se do seguinte: Vir para a ilha munido de caixa térmica com muito gelo. Comidinhas beliscáveis, comíveis com a mão. Frutas idem. E força nos drinks. Pode parecer exagero, mentira ou delírio, mas é a mais pura verdade: À beira mar os drinks tem o melhor efeito que se possa imaginar. De preferência vinhos brancos, rosés ou espumantes. Sakê com frutas também recomendo. É o mais próximo que consigo chegar de uma praia deserta, o que atualmente é um dos meus maiores sonhos de consumo. De-ser-ta. Só para mim. E para quem eu quiser, evidentemente. Na foto, Weidy salta entre mar, céu, dunas & ondas.

sábado, 21 de dezembro de 2013

ZAZ

Parece uma sigla. Mas não é. Zaz é o nome artístico da cantora francesa que mais tenho ouvido nos últimos meses: Isabelle Geffroy. Quem me conhece ou segue o blog sabe que de tempos em tempos me apaixono perdidamente por um cantor ou cantora. Pois a minha mais recente descoberta é essa garota. Sim, ela é apenas uma garota de trinta e três anos e já canta muito. Como Amy Winehouse. Como Elis quando começou a cantar. Como Cassia Eller. Enfim, como muitas outras pelas quais já me apaixonei. O que mais me encanta em Zaz é o seu timbre, que lembra muito o de outra grande cantora francesa que admiro: Édith Piaf. E, assim como fez Piaf no começo da carreira, ela também canta nas ruas de Paris. Assim que vi postado no Facebook um video dela cantando em Montmartre, no qual fui marcado por minha amiga Lucia Nascimento, fui correndo atrás de seus álbuns e foi amor à primeira audição. Un coup de foudre, como se diz na língua dela. E desde então Zaz nunca mais parou de cantar aqui em casa, na estrada, na praia, em quartos de hotéis, onde quer que eu vá. Ela é daqueles fenômenos artísticos raros, que surgem de tempos em tempos e que, quando aparecem, parece que já conhecemos, que já cantava há muito tempo. Algo que, creio, tenha a ver com vidas passadas. Ou talvez seja justamente o contrário: Algo que vem trazendo o futuro. Não sei. Só sei que: Re-co-men-do! No post seguinte, assista ao video de Zaz nas ruas de Paris.

O VIDEO QUE ME ENCANTOU

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

I LOVE GRAFITTI

Já faz tempo publiquei aqui no blog um post chamado Grafittis, no qual eu contava da minha admiração por essa forma de arte. E não é de hoje. Pra começo de conversa, na foto de abertura do blog estou sentado sobre um trabalho do artista Nunca, no bairro da Liberdade. Eu já tinha álbum de grafittis no Orkut! E mesmo antes do surgimento dessas tais redes sociais, me lembro de ter comprado uma máquina fotográfica melhor do que a que eu tinha só para fotografar grafittis pelas ruas de São Paulo. Aliás, uma das coisas que sempre me fez amar essa cidade é a profusão de grafittis que a adornam. Ainda que ultimamente, mesmo com a crescente valorização do grafitti como arte nas ruas, galerias e museus do mundo inteiro, a prefeitura de São Paulo insista em apagá-los pintando as paredes onde foram feitos de cinza. Nada mais triste. Como na canção de Marisa Monte: Apagaram tudo, pintaram tudo de cinza. Só ficou no muro tristeza e tinta fresca... Bom, para aqueles que ainda não se ligaram indico o filé mignon do grafitti de São Paulo: Osgêmeos, Nunca, Nina Pandolfo, Speto, Zezão, Binho Ribeiro, Titi Freak, Onesto, Minhau, Chivitz e Cranio. Pra começar. Quem sabe você não se encanta e descobre muitos outros? É só abrir os olhos e a cabeça e prestar bastante atenção. Agora, quanto à grafia da palavra, há dúvidas e controvérsias. Há quem prefira "graffiti", do original italiano, grafite, aportuguesado, ou ainda grafito. Eu optei por grafitti, com dois T, como foi usado por Caetano Veloso na canção homônima do álbum Velô, de 1984, que adoro. De toute façon, recomendo a apreciação dessas obras, se por mais não for, para aliviar o stress do dia a dia atribulado da grande metrópole. Profitez-en! Na foto, só para me exibir, grafitti que cliquei na Rue Mouffetard, em Paris, em julho deste ano.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

BODAS DE FLORES

Hoje meu blog está completando quatro anos de existência. São as nossas Bodas de Flores! Não é lindo? Na verdade, quatro anos de casamento podem ser chamados Bodas de Flores, Frutas ou Cera. Ãh? Cera? De jeito nenhum. Frutas eu até gosto e acho bonitas, mas prefiro tomá-las em drinks a comê-las. A menos que venham descascadas e picadinhas para que eu só tenha o trabalho de espetá-las com um palito para comer. Logo, escolhi Bodas De Flores, que amo. Desde sempre. Flores por todos os lados, como dizem os Titãs. As únicas que não suporto são as artificiais. Mesmo que os mesmos Titãs digam que as flores de plástico não morrem jamais. Nada como as flores do jardim da nossa casa, do Rei... Adoro ganhar flores, dar flores ou simplesmente comprar belas flores para colocar no vaso e alegrar a casa. Que bom que já se passaram quatro anos e continuamos aqui firmes, meu Blog e Eu. Que bom que nossas bodas sejam de flores, porque, como sabemos, nem tudo são flores... E que bom que Flor do Lacio seja ela, a nossa língua portuguesa inculta e ainda assim bela, que tanto prezo e procuro humildemente honrar aqui nas minhas mal traçadas linhas. O dia do nascimento do blog é hoje mas, na verdade, os festejos comemorativos já começaram no início do mês, junto ao mar de Camburi, uma das minhas praias preferidas. Lá passei agradáveis dias cercado de muita natureza e, consequentemente, flores. As mais belas flores selvagens... Tão intensamente coloridas que me encheram os olhos e o coração de alegria. Muitas flores para quem estiver lendo é o meu desejo. E obrigado a cada uma das cento e oitenta e duas flores que aqui me seguem...

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

DERNIER JOUR

Minha despedida de Camburi acontece em altíssimo estilo, com um deslumbrante dia de sol e céu muito azul, sem uma nuvem sequer. Fiquei sentado à sombra de um pequena árvore, com uma trilha sonora especialmente escolhida para a ocasião. Songs from the Last Century, de George Michael, que adoro, Ella Fitzgerald ever, mais Corine Bailey Rae e Jimmy Scott. E a minha nova Amy, a petite fille française Zaz. Tudo isso acompanhado do drink no qual me viciei verões passados aqui em Camburi: Caipirinha de saquê com lima da pérsia. Ah! Curiosamente hoje, início de semana, esse drink voltou a custar os antigos catorze reais que comentei aqui no blog, no post Reflexões à Beira Mar. Houve uma deflação! Adorei... A praia está tranquila e até o mar, que andou revolto no fim de semana, acalmou. A galera que foi entrando sem óleo nem creme no sábado e no domingo já subiu a serra. Ficaram poucos e bons... E assim vou encerrando minha petite saison sur la plage. Esperando poder voltar o mais breve possível! Na foto, meu Mágico de Oz dando uma de salva-vidas.

PATIO CAMBURI

Esse é o nome do lugar onde estou hospedado aqui em Camburi. Fica atrás do shoping do centrinho da cidade. Uma escada dá acesso aos pequenos flats, com dois quartos, uma sala/cozinha e banheiro. Bem simples e despojado, mas muito bacana. Há uma área coletiva com piscina, sauna e sala de jogos. A piscina tem um tamanho bom, pude dar minhas braçadas. O responsável pelo aluguel dos flats é o Pedro, que conheci quando minha amiga Katia Paes morava aqui e eles eram namorados. Assim, tive o privilégio de pagar um preço especial bem em conta. Reencontrei o Galedj, um franco-marroquino que havia conhecido da última vez que estive aqui. De modo que pude aproveitar minha estada para praticar la langue française, o que é bem raro de me acontecer em terras brasileiras. Galedj está indo morar no Rio de Janeiro, numa cobertura de frente para o mar de Ipanema. Isso sim é para quem pode... Meu vizinho de porta no flat é o ator Paulo Castelli. Me contou que já não trabalha mais como ator há anos e que agora atua como psicólogo. Certo ele. Quem me dera ter assim, uma carreira B na manga... Hoje o Pedro me levou na sua motocicleta até Boiçucanga, cidade vizinha, pois eu precisava ir ao banco e, pasmem, aqui no Camburizinho não há um só caixa eletrônico! Nem banco vinte e quatro horas. Aproveitei para comprar a passagem de volta para São Paulo. Mas nem quero falar nisso agora. Meu desejo é ficar, ficar, ficar... Ir ficando até enjoar. O que acho que demoraria bastante para acontecer. Hoje está fazendo o dia mais lindamente ensolarado desde que cheguei. Parece que Camburi faz isso de propósito, como a me dizer: Fique! Ne me quittes pas... Na foto, a incrível combinação de azul e verde.

domingo, 8 de dezembro de 2013

REFLEXÕES À BEIRA MAR

Me pergunto muitas coisas nesses que já começam a ser meus últimos momentos à beira mar. Amanhã devo voltar para São Paulo e isso faz de mim um questionador das minhas próprias escolhas e atitudes. Porque São Paulo? Porque a grande cidade e não o sossego de uma pequena praia? Porque concreto, trânsito, poluição, filas, barulho ao invés de silêncio, ar puro e o infinito ao meu redor? Preciso dizer que são acompanhadas de música essas minhas reflexões à beira mar. No fone de ouvidos, bien sur. Que não sou de ficar invadindo o espaço sonoro alheio. E música boa. No momento, Corine Bailey Rae. Eu sou uma pessoa que procura estar sempre atualizada em relação aos avanços da tecnologia. Mas, cá entre nós, digitar textos em um teclado virtual é um saco. Principalmente para quem costumava datilografar rápido, como era o meu caso. Abafa. O caso, no caso. Já provei vários sabores do picolé Rochinha e o de milho verde continua sendo o meu favorito. Cada vez que peço um diferente para experimentar acabo me arrependendo e pensando: Deveria ter pedido o de milho... Lembro de outros tempos, não muito distantes, em que a caipirinha de saquê custava catorze reais e você acabava ganhando duas, pois eles davam um segundo copo quase cheio, que era o chorinho. Agora custa dezoito reais sem choro nem vela... Gosto de praia fora de temporada e de preferência em dias de semana. O que agora não é absolutamente o caso, pois trata-se de um fim de semana do mês de dezembro. Nem preciso dizer que no sábado e no domingo a praia foi invadida. Pior pra mim. Ou, como dizem os franceses, tant pis pour moi... E chega de tanta reflexão. Melhor, agora, fazer umas flexões. Para baixar a pança...

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

BARLAVENTO

Um dos lugares onde mais gosto de estar no mundo é o Pura Bar na praia do Camburizinho. Minha paixão é tamanha que ele já mereceu post especial aqui. É só digitar Pura Bar na pesquisa do blog que ele aparece. Agora ele trocou de nome e está funcionando sob nova direção. Chama-se Barlavento. A música continua de boa qualidade, desde que cheguei estão tocando antigos sambas de Cartola e de Noel na voz dos próprios mais Araci de Almeida. Suponho. Ontem houve uma grande tempestade de vento que levou embora os cardápios e o famoso guarda-sol que indicava ao público que o bar estava aberto. Portanto só eu desfruto hoje dessa beleza. Os novos proprietários são jovens e simpáticos. Encontrei-os lá embaixo na praia à procura do guarda-sol e me disseram que estava aberto. Me contaram também que faz mais ou menos um mês que teve início a sua gestão. Fiquei me perguntando o porquê da finitude das coisas. Da sua transitoriedade. Adoraria que tudo estivesse como era antes, o antigo proprietário, Marcelo, tocando seus discos de vinil, jazz, bossa, MPB. Como quando vou a Paris, mesmo ficando mais de dez anos sem ir, e encontro meus velhos bares todos lá, recebendo boêmios e flaneurs em busca de sabe lá que tipo de lenitivo para suas dores ou de que prazeres para suas alegrias. Imediatamente após esse lampejo de apego ao que já se foi me dou conta de que a fila anda e o importante nessa vida é a gente treinar o desapego em todas as áreas. Até mesmo nos lugares que nos recebem para beber. Os antigos sambas de Cartola e de Noel daram lugar a Daftpunk. E quer saber? Achei bem bão. Faço então um brinde ao novo estabelecimento: Longa vida ao Barlavento!

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

SAUDADE DE MIM

Eu andava sentindo saudades. Saudades de mim. Da minha companhia. De estar a sós comigo. De prestar atenção em mim. De saber como estou me sentindo de fato. Como estou por dentro. Sem as constantes influências e estímulos exteriores. Quando é mesmo que a gente consegue fazer isso? Quase nunca, atribulados que estamos pelo dia a dia que nos impomos. E que nos absorve. Alguns talvez jamais o tenham feito. E portanto nem saibam do que estou tentando falar. Tenho pena de quem se isola de si. Dos que não privam da própria companhia. É uma das melhores coisas da vida. Em alguns momentos chega mesmo a ser a melhor. Não sei por onde eu andava que há tanto tempo não me via. Não me encontrava. De repente me vi sozinho. Sem ninguém. Sem nada. Mas ainda assim insistia em permanecer acompanhado. De coisas e pessoas que sequer estavam comigo. Parei. Respirei. Me dei conta de que não precisava pensar em mais nada. Em ninguém. Coisa alguma. A moça que ficou refém dos assaltantes. O corpo do homem que foi encontrado nos escombros do prédio que desabou. Os pedófilos que foram presos. Na-da. O dia era meu. A noite que viria mais tarde também seria só minha. E os próximos dias também. Uau. Que sensação. Demora, a gente se apega às pessoas e aos fatos. Mas quem falou que a gente é obrigado? Me vi completamente sozinho e de frente pro mar. Sempre ele, o mar. A me confrontar. Me jogar na cara o que sou. Quem eu sou. E a me fazer querer sempre mudar. Viu? É por isso que ele sempre acaba me chamando pra si. Aqui estou. De frente para o mar de Camburi. Agora me resta lidar com isto! Ainda bem que na cabeceira tenho Clarice Lispector...