domingo, 31 de dezembro de 2017

FIM DE ANO

Mais um ano se passou. Que bom, né? Nada como a passagem do tempo para curar males e trazer renovação e experiência. Adorei ter voltado aos palcos em 2017, depois de um jejum de quase dois anos. Retomei o humor da Terça Insana e também tive o privilégio de participar de Caio Entre Nós, homenagem ao querido e saudoso escritor Caio Fernando Abreu. Essa minha participação foi o start para um projeto solo que estou desenvolvendo e pretendo estrear no ano que se inicia. Foi também a retomada da parceria artística com meu mestre e amigo querido Luís Arthur Nunes... E nada melhor para encerrar o ano do que um filme novo de Woody Allen. E esse é dos bons: Roda Gigante. Com Kate Winslet dando um show de interpretação. Tenho a impressão de que Woody Allen se aproxima cada vez mais de Tennessee Williams. Já foi assim com Blue Jasmin, uma espécie de releitura de Um Bonde Chamado Desejo. Agora, em Roda Gigante, a gente tem a impressão de que assiste a uma peça de Tennessee. Não a uma em específico, mas ao universo do dramaturgo, suas personagens cujas vidas se perderam por um mau passo que deram no passado e que agora se entregam ao álcool, aos remédios, às frustrações e vivem à beira de um colapso... Um prato cheio para Kate Winslet presentear os espectadores com seu enorme talento. A personagem tem enxaqueca e a atriz chega a ter cara de enxaqueca de tão perfeita que é a composição. Um Woody Allen mais sério, com menos piadas, mas ainda assim muito bem vindo... Quero aproveitar para agradecer a todos que me seguem, me leem, me comentam e, de alguma forma, me admiram. E aproveito para confessar que sou carente, sim. Adoro me sentir querido e amado por todos. Não que almeje aqueles milhões de seguidores dos youtubers. Mas que as minhas centenas sejam sempre significantes... E agora deixa eu voltar para as minhas panelas, a lentilha já está cozinhando e o lombinho já está assando... Feliz Ano Novo a todos e todas!!!
Nas fotos, eu em cena de Caio Entre Nós, dirigido por Luís Arthur e fotografado por Flavio Wild, e Kate Winslet quebrando tudo em Roda Gigante.

sábado, 23 de dezembro de 2017

VAI, MALANDRA!

Eu sinto muito que, junto com o fim do ano, estejamos vivendo também o fim da elegância. Isso sem falar do triste fim das noções mais básicas de civilidade, convivência e ética. Mas aí já seriam assuntos demais para um simples post. Vou tentar focar na elegância. Ou no fim dela, mais especificamente. E nada como um pouco de futilidade para refrescar os ânimos nesse início de verão que já pega fogo... Anitta lançou clipe novo e, para variar, causa polêmica nas redes anti-sociais. Eu não sei como as pessoas tem paciência para polemizar tanto sobre tantos assuntos. Os argumentos vão desde feminismo e machismo até racismo e classismo. Eu digo: Muito barulho por nada, para citar Shakespeare. É óbvio que Anitta deixou a celulite à mostra porque está de olho na concorrência das gordinhas sertanejas... Já a música é o mesmo lixo de sempre. E a elegância, ali, passa lonje... Para continuar na música, só que boa, outro dia, assistindo ao programa do Ronnie Von na tevê, vi um músico talentosíssimo que ficava o tempo todo com a perna direita cruzada sobre a esquerda segurando com a mão esquerda o pé direito pela sola do tênis. Essa mesma mão que manipulava frenética a sola suja vez por outra coçava a orelha ou o nariz, quando não marcava os acordes no braço do violão. Fiquei me perguntando se esse rapaz não tinha uma mãe, uma esposa, uma namorada ou mesmo um amigo que lhe dissesse que a gente não fica manipulando a sola do sapato em rede nacional. Não diante de um príncipe como Ronnie Von, a própria personificação da elegância... E agora da música para as ruas: Eu ando muito de transporte público. E assisto diariamente a cenas de deselegância nivel top (expressão que considero extremamente deselegante). Algumas pessoas falam tão alto no ônibus, expondo para todos os passageiros desconhecidos as suas constrangedoras intimidades, que dá vontade de saltar no primeiro ponto. Isso sem falar que escutam em alto e bom som mensagens de áudio do whatsap, respondem a essas mensagens e, como se fosse pouco, assistem a videos e ouvem músicas também em volume máximo. É a própria descida aos infernos, sem ter o poeta por companhia... Para continuar no âmbito do transporte coletivo, olhando pela janela a deselegância abunda desfilando pelas calçadas. É um tal de homens usando terno com tênis de academia pra cá, mulheres usando vestidos com tênis pra lá, ou, ainda pior, tailleurs com improváveis tênis. Eu compreendo que os tênis são muito mais confortáveis do que os incômodos sapatos sociais que as pessoas precisam usar no trabalho. Mas se vestir pela metade levando os sapatos na bolsa ou deixando-os no trabalho para calçá-los ao chegar já é demais. E o trajeto? Vale desfilar a própria deselegância Avenida Paulista afora em nome do conforto? Será que essas pessoas pensam que vão invisíveis até o trabalho? Eu sei que tudo isso é nada diante de todas as nossas deficiências, nossas carências, ignorâncias e pobrezas, as de espírito principalmente. Só que umas são desgraçadamente reflexo das outras. Somos o que somos e temos o que merecemos ter... Bora jogar na Mega-Sena acumulada pra ver se a gente fica rica igual à Clara da novela e sai dando lição nos juízes e delegados por aí? Não seria má ideia... Futilidades e deselegâncias à parte, Feliz Natal e Ano Novo para todos! Acho que ainda nos falamos por aqui antes da virada. À bientôt...
Na foto, eu, desfilando minha própria deselegância na Rua 25 de Março.

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

BODAS DE PAPOULA

Hoje meu blog está de aniversário, fazendo oito anos. São as nossas Bodas de Papoula. Adorei saber que bodas de oito anos são de papoula. Desde pequeno gostava dessa flor de cor intensa, potente e ao mesmo tempo frágil. Potente porque dela se extrai o ópio, origem de diversos narcóticos, e frágil porque pode se despetalar toda se for tocada bruscamente. Minha mãe tinha algumas no quintal de casa. Depois, quando fui morar em Paris nos anos noventa, eu as encontrei plenas, fortes e coloridas no Jardin des Plantes. Lá venho eu de novo com Paris. Tudo sempre acaba me levando para lá. Principalmente nessas fases de abstinência, como a que me encontro agora, depois de dois anos e meio sem visitá-la... Mas, voltemos ao blog. Ao aniversário do blog, mais especificamente. Todo ano eu meio que repito a mesma ladainha - la même rengaine, como dizem os franceses. (Olha eles aí novamente). Mas, enfim: O blog me conecta. Com o mundo, comigo mesmo e, principalmente, com as pessoas. Ainda que poucas, para esses tempos de milhares de seguidores a definir o que é ou não é um sucesso. Confesso que ando um tanto preguiçoso e postando bem menos do que outrora. Mas são ciclos, como aliás tudo na vida. O importante é que quando eu ando perdido por aí, como se estivesse doidão de alguma substância extraída da papoula, meu blog me traz de volta. Ele representa uma espécie de compromisso que me vejo obrigado a honrar. E acaba sendo sempre um grande prazer jogar algumas ideias aqui para que germinem e, quem sabe, venham a dar frutos... Falei acima que da papoula se extrai o ópio, origem de diversos narcóticos. Mas não apenas narcóticos, também analgésicos e hipnóticos. E drogas como a morfina e a heroína. Fico imaginando Toulouse-Lautrec mascando ópio - ou seria fumando? - no salão vermelho de algum cabaret de Montmartre acompanhado de uma corista ou prostituta amiga que lhe serve o absinto em taças de cristal Baccarat... Paro por aqui. Como podem ver, todos os caminhos me levam a Paris. Ainda que atualmente só na imaginação... Parabéns para o blog e, modestamente, para mim! Afinal de contas, eu sou ele e ele é eu... Muitas papoulas bem coloridas para nós!
E para todos os leitores, évidemment... Santé!

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

SAMPA STORIES

Entrei no vagão do metrô na estação da Sé e alguém que acabara de sair pelo lado oposto perdeu uma carteira que pousava diante da porta. Me abaixei para pegá-la, a campainha tocou, a porta fechou e o trem partiu deixando para trás a pessoa a quem a carteira pertencia. Abri. Era uma daquelas carteirinhas cheias de envelopes plásticos, um porta documentos, na verdade. E eles estavam todos ali. Pertenciam a uma moça, uma bombeira, como pude ver pela sua credencial. Além dos vários documentos, carteira de identidade inclusive, havia diversos cartões. Puxa, que maçada. Já pensou o trabalho que ela teria para refazer todos os documentos e bloquear todos os cartões? O que pude fazer foi deixar a carteira no guichê da estação em que desci, com a promessa do funcionário de que iria lançar nos achados e perdidos. Fiquei imaginando o trabalho que a moça teria e me lembrando de uma vez em que esqueci uma pequena valise no metro daqui de São Paulo. Eu estava morando no Rio e vim passar um fim de semana na Pauliceia chez minha amiga Lucia Serpa, quando, ao trocar de trem na mesma estação da Sé, deixei minha pequena mala num cantinho do vagão. Como não sabia dessa história de achados e perdidos, segui até a casa da minha amiga completamente arrasado por haver perdido cadernos de notas, fotos, máquina fotográfica, passaporte e, pasmem, dólares. Saí para curtir a noite paulistana e, ao chegar em casa, minha amiga me avisa que haviam ligado para mim do metrô dizendo que minha mala tinha sido encontrada. Quando o trem chegou ao fim da linha o condutor revisou todos os vagões e encontrou minha valise. No guichê eles a arrombaram e encontraram meu telefone do Rio. Ligaram e a menina que dividia apartamento comigo deu o telefone da minha amiga de São Paulo. Inacreditável. Parece que a cena se passou na Europa ou nos Estados Unidos, não? Pois foi aqui mesmo, na velha e boa Sampa. E a valise estava intacta, com tudo dentro. Dólares inclusive. E mais, o metrô não aceitava recompensa. Apenas me pediram para redigir uma carta relatando o ocorrido, o que de pronto atendi. Juro: Se na carteira que encontrei hoje tivesse um número de telefone, eu teria ligado na hora para poupar à brava bombeira o trabalho que ela certamente terá. Sem falar que eu me sentiria finalmente quite com a incrível equipe do metrô de São Paulo. É por essas e outras que amo essa cidade...
Pois nessa mesma São Paulo da garoa, descia eu dia desses a rua Augusta quando quase esbarrei em um menino que, ao passar roçando por mim, sussurrou: Tiozinho gato. Ao ouvir essas palavras virei na direção dele sorrindo agradecido pelo elogio e, ao virar a esquina, fiquei frente à frente com uma vitrine que me refletiu muito velho. Então entendi toda a carga de crítica que o elogio continha: Ele me achou gato, porém tiozinho. Eu sou um velho até que bonitinho. Ele mordeu e assoprou em seguida. Que crueldade. Eu jamais faria um elogio desse tipo. A gente precisa tomar decisões na vida: Ou elogia ou critica! Os dois, de uma vez, assim de soco, não é qualquer um que está preparado para receber. Ainda mais nessa São Paulo que tanto amo...
Na foto, o bilhete da primeira viagem de metrô que fiz em São Paulo, aos onze anos, quando vim com meus avós passar férias na casa do meu tio.

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

ADORABLE KIKI

Deus do céu, não quero que pensem que transformei meu blog em um obituário! Mas Fazer o quê se esse dezembro resolveu levar tanta gente bacana? E como não falar de Eva Todor, minha eterna Kiki Blanche? Eu era um adolescente tímido do interior quando ela surgiu na telinha da tevê como a esfuziante ex-vedete dona de salão de beleza na novela Locomotivas. Minha paixão/identificação foi imediata e definitiva. O mundo glamuroso e cheio de brilhos de Kiki me abria horizontes na limitada e limitante cidade pequena. Tanto que um ano depois, quando mudei para a capital, Porto Alegre, uma das primeiras peças a que assisti, no extinto Teatro Presidente, foi Quarta-feira Sem Falta Lá em Casa, que Eva protagonizava ao lado da mitológica Henriette Morineau. Esperei-a na saída dos artistas, pedi seu autógrafo e a fotografei. Enquanto a lenda do teatro, Mme. Morineau, aguardava ao lado... Não dá para esquecer seu timing único de comédia, aqueles sustinhos que ela levava bem no meio das frases que, após uma rápida interrompida, retomava como se nada tivesse acontecido... Era sempre com muito prazer que eu acompanhava suas aparições na televisão. E no cinema, sua antológica participação em Meu Nome Não É Johnny, como a velhinha traficante de "ambrosia", é apenas definitiva... Que bom que ela viveu muitos anos, quase cem, sempre trabalhando e fazendo um sucesso mais do que merecido. Vai em paz, maravilhosa Eva Todor. Eu aqui tratarei sempre lembrá-la com carinho...
Nas fotos, Eva autografando, o autógrafo em si e posando toda glamurosa coberta de peles no saguão do Presidente.

sábado, 9 de dezembro de 2017

AU REVOIR, OCIMAR

Já está ficando chato essa coisa de pessoas queridas partirem cedo demais. Agora foi a vez do Ocimar Versolato. Que ele era um gênio da alta costura todo mundo sabe. Por isso mesmo nem pretendo ficar chovendo no molhado nesse post. Prefiro falar da sua alegria e do prazer que sempre foi estar na sua companhia. Conheci o Oci através de outro querido, meu grande amigo Edson Cordeiro, conterrâneo dele do ABC Paulista. Estávamos no começo dos anos 2000 e Edinho sempre levava o Oci para assistir à Terça Insana nos primórdios do Next Cabaré, no centro da cidade. E ele foi um dos grandes incentivadores do sucesso do nosso projeto que engatinhava: Passou a levar suas amigas socialytes para nos assistir, formando filas de carrões com motoristas na frente do pequenino Next... Oci sempre me recebeu muito bem na sua casa do Jardim América, fazendo questão de me por logo à vontade sabendo bem da minha timidez. E o champanhe rolava. Invariavelmente acabávamos no seu quarto assistindo com ele ao Programa do Ratinho, sua atração de tevê favorita à época. Até hoje assisto ao Ratinho por influência dele... Oci sempre levava o Ney Matogrosso, seu grande amigo e meu ídolo, para nos assistir no Avenida Clube. E sempre me levava nos shows do Ney com direito à ida no camarim depois da apresentação. As festas na sua casa da Rua México eram memoráveis. E, baladeiro que só, acabou me arrastando várias vezes para a Loka e para a The Week, logo eu, que sempre fui velho e que à meia-noite já estava bocejando... Eu adorava quando ele me mostrava pérolas da MPB, para testar meus conhecimentos, e eu sabia quem era que estava cantando. Ou quando eu não conseguia adivinhar quem era, como na vez em que me mostrou Gal cantando Love, Try and Die, do álbum Le-Gal... Que tristeza ele partir assim, tão precocemente. Dias atrás eu comentei numa foto dele do instagram: Tá em SP? E ele respondeu: Sim, Robertinho. Em seguida respondi: Vancivê? Rsrsrs... E ele nem chegou a responder. Vou guardar só coisas boas e alegres, momentos inesquecíveis que ele me proporcionou. Como ir com ele ao show da Rita Lee no extinto Olímpia e tirar foto com ela no camarim. E muitos mais. Sempre rindo muito. And drinking champagne... Bon voyage, Ocimar! E au revoir...
A foto foi feita numa das idas do Oci ao Avenida Clube.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

MUSIC AND ME

No início dos anos noventa, quando ainda morava em Porto Alegre, participei de um programa de rádio da jornalista Ivete Brandalise chamado As Músicas Que Fizeram Sua Cabeça. Em uma hora de programa, Ivete percorria a vida do entrevistado pautando suas diversas fases através de dez músicas previamente selecionadas por ele. Foi um dos programas de entrevista que mais gostei de ter participado até hoje. Ainda tenho guardada uma fita K7 com o registro do programa, embora hoje em dia eu nem tenha mais onde reproduzi-la. Quem me conhece ou segue o blog sabe que minha vida sempre teve trilha sonora. Minha ligação com a música vem desde a mais tenra idade. Nem me refiro aqui aos meus estudos de piano e teoria musical, que começaram aos nove aninhos, mas à influência que minha mãe teve sobre mim com seu gosto musical. E, voltando ao programa de Ivete, a primeira música que citei e ela tocou no programa foi Camisa Listada, sucesso de Carmen Miranda, que vem a ser o primeiro registro que tenho na memória de uma música que tenha feito minha cabeça. Pois essa música minha mãe cantava para mim desde pequeno e eu amava, vai saber porquê... Ou melhor, sei bem porquê: "Se fantasia de Antonieta e vai dançar no Bola Preta até o sol raiar"... Depois eu seguia escolhendo uma música que representasse cada fase da minha vida até o momento presente e Ivete ia questionando tudo o que achasse curioso ou interessante. Mas eu tinha apenas vinte e poucos aninhos... Hoje seria bem mais difícil para mim escolher apenas dez músicas. Camisa Listada continuaria sendo, sem dúvida, a primeira. Mas o restante, ai! Eu penaria para resumir em apenas nove. Benjamin Clementine estaria com certeza na lista. E Antony Hegarty. E Jimmy Scott. E Ella Fitzgerald. E Colle Porter. E Billie. E Nina Simone. Afff! Paro por aqui, senão o post vai ficar enorme. Boas músicas a todos...
Nas fotos, little Jimmy Scott e Benjamin Clementine.

terça-feira, 28 de novembro de 2017

NOTAS DE NOVEMBRO

O mês de novembro se aproxima do final me lembrando que mais um ano também se aproxima do final. E que a vida não para. Que bom. Tomara não pare nunca... Se vivo ainda fosse, meu amado e saudoso amigo Marcelo Pezzi teria completado ontem sessenta anos de idade. Ele já nos deixou há vinte e três anos! Olha ela de novo aí, a vida que não para... Na mesma data, 27 de novembro, minha também amada e saudosa amiga Claudia Wonder partiu há já voados oito anos. Como cantava Nelson Ned, e tudo passa, tudo passará. E nada fica, nada ficará... Mas vamos falar de coisa boa? O final de semana foi pródigo em teatro e reencontros com amigos. No sábado assisti ao espetáculo Fulaninha e Dona Coisa. O texto, de autoria de Noemi Marinho, já é um clássico da nossa dramaturgia e, por incrível que pareça, eu ainda não conhecia. Nunca havia lido ou assistido às montagens anteriores. Com o perdão da palavra e com todo o respeito e admiração que tenho por ela, Noemi é phoda. Assim mesmo, com ph. Para não ficar muito chulo. Além de excelente atriz e diretora ela escreve muito bem. Ou seja, ela é muito boa em tudo o que faz. E a montagem não deixa a desejar, com jovens e bons atores em mais uma bela iniciativa do produtor Eduardo Barata... No domingo fui conferir Se Existe Eu Ainda Não Encontrei, belo texto do jovem autor inglês Nick Payne, em delicada e emocionante montagem de Daniel Alvim com o excelente Leopoldo Pacheco à frente de um afinado elenco. Longo para os padrões apressados de hoje em dia, mas gratificante para quem como eu gosta de teatro. E de textos de teatro... A primavera paulistana segue inconstante, bipolar, instável, sujeita a chuvas e trovoadas. Em uma dessas tardes chuvosas nada melhor do que assistir, pelo Netflix, a um clássico do cinema. Foi o que fiz: Me deleitei com Funny Girl, musical americano com Barbra Streisand na flor da idade interpretando a cantora e comediante Fanny Brice. De encher os olhos, ouvidos, a alma e o coração. Como estou ficando piegas... Paro por aqui. Esperando por dezembro e pelo próximo ano... Ah! Por último mas não menos importante: Nos reencontros com amigos a que me referi, esteve presente Antonio Carlos Falcão, ator gaúcho em visita à Pauliceia que me presenteou com seu trabalho musical em CD. Louco pra ouvir...
Nas fotos, a mitológica Barbra Streisand em cena de Funny Girl, Nathalia Dill e Vilma Melo em Fulaninha e Dona Coisa e Leopoldo Pacheco com Lyv Zieze, Luciano Gatti e Helena Ranaldi em Se Existe Eu Ainda Não Encontrei.

domingo, 26 de novembro de 2017

ENFIM ASDRÚBAL

Não tive a sorte de assistir aos memoráveis espetáculos do lendário grupo de teatro Asdrúbal Trouxe o Trombone. À época, a censura era muito rigorosa e eu só fui completar dezoito anos em 1981. Mesmo assim, como sempre fui muito pequeno, continuava parecendo uma criança de doze. Enfim, perdi. Mas ainda assim fui fortemente influenciado pelo "feeling" e pela estética do Asdrúbal. E passei a seguir e a admirar todos os seus ex-integrantes, sobretudo Regina Casé e Luiz Fernando Guimarães. Cheguei a assistir, no começo dos anos noventa, ao solo de Regina, a brilhante Nardja Zulperio, com texto e direção do também asdrubalino Hamilton Vaz Pereira. Agora, passado tanto tempo, o Canal Viva está exibindo uma série documental com toda a história do grupo. Tenho me deleitado. E percebido com maior clareza a importância que essa troupe teve na minha vida. Em Porto Alegre, onde eu vivia minha juventude, eles deixaram frutos como o grupo Vende-se Sonhos, que, no começo dos oitenta, desbundou minha cabecinha com o espetáculo School's Out, do qual faziam parte artistas que se tornaram meus grandes amigos como Shala Felippi e Angel Palomero. Recentemente tive o prazer de contracenar com Regina Casé na pequena porém significativa participação que fiz no filme Que Horas Ela Volta, de Anna Muylaert. Muitas lembranças me invadem enquanto escrevo. Como os solos de Patrícia Travassos e Luiz Fernando, a que assisti no Rio de Janeiro. O Grupo mudou conceitos. Era um teatro que surgia dando voz a uma geração. A gente se via em cena e pensava: Olha, não estou sozinho. Muito bom... Percebo também, assistindo a essa série, o quanto todos nós que criamos a Terça Insana trouxemos deles para as nossas cenas. O Asdrúbal está vivo. São pessoas que cantam, são pessoas que dançam, são pessoas que cantam e dançam. Ainda bem!
Na foto, os hilariantes Regina e Luiz Fernando em cena de Trate-me Leão.

sábado, 18 de novembro de 2017

GLÓRIA VERSUS HORROR

Me lanço à página em branco do blog movido não pela inspiração, mas por uma necessidade de escrever sobre o novo livro de Fernanda Torres, A Glória e Seu Cortejo de Horrores, segundo romance da autora, cuja leitura concluí na tarde de hoje. Bastante tocado, diga-se de passagem. O livro narra a história de um ator, sua ascensão e queda na carreira do teatro, cinema e televisão. Imagino que para quem, como eu, dedica a vida a esse controverso métier, a leitura seja bem mais saborosa. Ainda que por vezes de sabor amargo... Como todos parecem saber, a vida de artista no Brasil é feita de altos e baixos. Muitas vezes, mais de baixos do que de altos. Vacas magras que se alternam às gordas entremeadas por fases de transição em que nada acontece. Não é fácil e em nada se parece com o ilusório glamour que envolve o ofício. O que me intriga sobremaneira é a precisão cirúrgica com que Fernandinha disseca os altos e baixos da carreira. Pois, pelo que me consta, a carreira dela é feita de altos. E agora, com a literatura, de mais altos ainda. Pois aí é que se revela o seu grande talento: O de observadora da alma humana, principal qualidade dos grandes romancistas, na minha singela opinião. E nisso ela, como atriz, é bastante treinada. Sem falar que além de culta, criativa e talentosa, Fernanda é dotada de uma inteligência bem acima da média. Isso já se evidenciava em Fim, seu romance de estreia. Tudo acompanhado de fina ironia & humor cáustico... Posso estar dizendo sandices, besteiras, não sei. O que me move, como já expus, é uma necessidade, uma urgência. O surpreendente final da história me deixou engasgado. Mario Cardoso, o personagem central, pode ser a própria Fernanda, pode ser eu, você ou qualquer outro. Ou, como disse o ator Dionísio Neto, com quem comentei no instagram que estava devorando o livro: Somos todos Mario Cardoso. Me lembro bem de um galã verdadeiro, da Globo inclusive, que tinha esse nome. Pois o Mario Cardoso de A Glória e Seu Cortejo de Horrores tem sua vida desestruturada quando resolve montar justamente o Rei Lear, de Shakespeare, que vem a ser a peça de estreia de Fernanda no teatro, a que tive o prazer de assistir no Rio de Janeiro nos anos oitenta. Protagonizada por Sergio Britto, a montagem tinha grandes nomes do teatro nacional como Yara Amaral, Ariclê Perez, Paulo Goulart, Ary Fontoura - magistral no papel do bobo - e muitos mais que não lembro agora. Ah! Ney Latorraca e José Mayer estavam também. Com direção de Celso Nunes. Enfim, terminei a leitura dessa obra inesquecível e, graças aos deuses do teatro, começou logo na sequência a exibição no Canal Viva do especial sobre o grupo de teatro Asdrúbal Trouxe o Trombone, que me situou e me colocou novamente nos eixos... É isso: A profissão de ator é uma entrega. Uma entrega sem fim. Desistir não faz parte do trajeto. Que bom que uma atriz tem essa voz maravilhosa que se sobrepõe à mediocridade que grassa em todos os meios. No artístico, inclusive.
Nas fotos, a capa do livro e Fernanda no Rei Lear, com Sergio Britto e Paulo Goulart.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

TREM DAS CORES

Quem por ventura leu o post anterior e me achou desanimado já pode relaxar. Acontece que os cinquenta tons de cinza do último sábado deram lugar a um domingo escandalosamente ensolarado, de temperatura amena e o céu de um azul celeste celestial. E o domingo agradabilíssimo foi coroado pelo show impecável de Caetano Veloso e seus três filhos: Moreno, Zeca e Tom. Caetano apresenta os rebentos dando a cada um deles a oportunidade de mostrar composições próprias e interpretar canções do pai. Mas a cereja do bolo é o próprio pai, retomando antigos sucessos de sua carreira, grande parte deles de enorme significado para toda a minha juventude. Fui da satisfação às lágrimas em diversos momentos do show. Alguém cantando é bom de se ouvir. O talento do pai foi generosamente distribuído entre os filhos. Moreno, o mais velho, já é um nome conhecido na música popular brasileira. Já Zeca e Tom são as agradáveis surpresas. Zeca tem um timbre de agudos que enche o teatro de doçura e poesia. Sua canção Todo Homem já nasce um hit. Já Tom, o caçula, encanta por sua beleza e juventude, a distribuir sorrisos junto com o não menos encantador talento. O cenário de Hélio Eichbauer pinta uma aquarela de cores intensas, o próprio trem das cores que dá nome ao post e à canção do álbum Cores Nomes. Caetano homenageia as mães de seus filhos, Dedé e Paula, e a própria, a saudosa Dona Canô, cantando canções que compôs para elas. Nada irá nesse mundo apagar o desenho que temos aqui... Um show imperdível, poético, inspirador, necessário no momento que vivemos. E o melhor de tudo: Em um teatro. Sentado. Vendo de perto. Nada daquelas aglomerações em estádios com gente em pé assistindo a tudo por um telão. Que bom que todo o dia o sol levanta e a gente canta ao sol de todo dia...
Na foto, feita por moi même, Zeca, Caetano, Moreno e Tom recebem os entusiasmados aplausos da plateia.

sábado, 11 de novembro de 2017

SAMEDI GRIS

Sábado cinza, temperado por uma chuvinha fina que traz de volta o frio em pleno mês de novembro. Me faz lembrar Jacques Tati. Sábado para ficar em casa, remexer guardados, separar roupas e objetos para doação. A televisão ligada sem que nada esteja sendo propriamente assistido. Uma sucessão de programas culinários que vão do mais puro vegano ao mais junk dos carnívoros. Paro em frente ao computador. Projetos e projetos repousam em HD. Não seria a hora de retomar este ou aquele? Que dia. Parece que a vida resolveu dar um tempo. Tudo o que não interessa prolifera. Grandes lançamentos se sucedem em escala industrial. Isolado no meu retiro doméstico, me sinto como uma espécie de Monsieur Hulot: Incapaz de se adaptar à vida em sociedade, eternamente atrapalhado, gauche, ultrapassado pelos acontecimentos. Um sujeito simples, que cresceu fazendo tudo de maneira analógica e, com uma certa resistência inicial, se adaptou ao mundo digital. Com dores nas costas. Pertenço a uma geração que já começa a ir embora. Ontem se foi, precocemente, a comediante Márcia Cabrita. Aos poucos, tudo o que se vê não será mais do jeito que já foi um dia, para citar Lulu. Fica a pergunta: O que virá? Quem ficará? Os youtubers? Os evangélicos? As extremas direita e esquerda? Os aplicativos de encontros? A rede de hotéis Trivago? Sigo buscando luz no passado mais ou menos recente de Caio Fernando Abreu nas revistas AZ e Around. De lambuja, reencontro Bivar, Mario Mendes, Logullo, Vania Toledo e a própria Joyce. E as adoráveis Nadja de Lemos, Terezinha O'Connor, Aurore Jordan e Sra. Lisandro Depré. Enquanto isso, aqui no presente sem cor, estreias, reestreias, renovações de temporadas. Mais e mais do mesmo. Você não pode perder. Modernidades retrô. Ressignificações. Questão de gênero. Questão de ordem. Questões...
Na foto, still do filme Mon Oncle, de Jacques Tati, com o personagem Hulot.

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

LIVROS

Andando pela casa a cumprir tarefas domésticas com a tevê ligada, ouço o âncora de um telejornal anunciar que no próximo domingo, dia 29 de outubro, comemora-se o Dia do Livro. Minutos antes de escutar essa notícia eu acabara de ler um livro interessantíssimo, para dizer o mínimo. Trata-se de Neve na Manhã de São Paulo, de autoria de José Roberto Walker. A obra, um romance histórico, trata da conturbada relação de Oswald de Andrade e Daisy, a Miss Cyclone, na São Paulo do começo do século passado, nos anos que antecederam a famosa Semana de Arte Moderna. Na verdade o livro é bem mais abrangente e pinta um interessante painel da transformação da cidade em metrópole, da greve que parou a capital, do frio e da neve que a congelaram em 1918, do surto de gripe que matou milhares de paulistanos no ano seguinte e, sobretudo, da garçonière que Oswald mantinha no centro da cidade, na rua Líbero Badaró. Mais conhecida como "covil", a garçonière era o ponto de encontro da turma de jovens intelectuais liderados por Oswaldinho e da qual faziam parte Guilherme de Almeida, Menotti del Picchia, Ferrignac e Monteiro Lobato, entre outros. Pois, terminada a leitura da obra e ouvida a notícia do Dia do Livro que se aproxima, fiquei lembrando do primeiro livro que li: O Saci, de autoria justamente de um dos integrantes da turma: Monteiro Lobato. Eu devia ter oito para nove anos de idade quando ganhei esse livro de presente do meu tio Cantídio. E desde então, eles, os livros, tem sido meus companheiros inseparáveis. Mesmo hoje, com tantas possibilidades de se ler virtualmente, prefiro - como já cantou Caetano - amá-los do amor táctil que votamos aos maços de cigarro. Domá-los, cultivá-los em aquários, em estantes... Quando ainda vivia em Soledade, eram eles que para longe me levavam. A transpor limites e fronteiras, a quebrar regras e a questionar o estabelecido. A imaginar como seria o mundo, para além dos limites da pequena cidade do interior... Que bom que eles existem e me fazem companhia. Que bom que viajam comigo e me fazem viajar sem sair de casa. Que bom que no próximo domingo serão comemorados. Serei eternamente grato ao tio Cantídio por ter despertado em mim o gosto pela leitura e o amor pelos livros. Quem não os ama, não desfruta das suas enriquecedoras companhias, não sabe o que está perdendo...
Nas fotos, as capas do primeiro e do último livro que li.

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

ESCAPADA

Para quem vive numa cidade como São Paulo, dois ou três dias em contato com a natureza - de preferência de frente pro mar - fazem toda a diferença. Abrir a janela e ver o horizonte, ao invés de prédios, é uma benção. Respirar fundo o ar puro da Mata Atlântica, sentir a maresia, ouvir os pássaros cantar. Dois ou três dias assim valem por toda uma terapia. Ou fisioterapia. Ou qualquer outra forma de auto-cuidado a que se possa recorrer para aguentar o dia a dia puxado da grande metrópole. E o melhor, pertinho de casa, no litoral norte, a duas ou três horas da capital. Em Ilhabela que, a meu ver, deveria chamar-se Ilhabelíssima... Dois ou três dias sem 3g ou wi-fi - só que não - rsrsrs. Dois ou três dias sem saber da votação da acusação do Temer, da questão da independência da Cataluña ou mesmo da Bibi e do Rubinho... Dois ou três dias de muita música boa. De belas fotografias, de entardeceres inesquecíveis e amanheceres de tirar o fôlego. De drinks durante a semana sim pois, em dias como estes, dane-se a dieta. De casas de portas abertas com famílias na sala assistindo televisão. Noites de incontáveis estrelas e boêmia lua minguante. De incandescentes vagalumes a piscar na escuridão. E uma primavera que explode em buganvílias de cores insuspeitadas. Tão intensas que faltam nomes na cartela para definir. Quando a gente vê, tudo isso já passou e estamos nos preparando para voltar para casa. Mas foi tão incrivelmente lindo, que sempre valerá a pena voltar...
Na foto, detalhe da Praia do Julião na belíssima Ilhabela.

domingo, 8 de outubro de 2017

ALAIR

Não consigo lembrar quando foi que conheci o trabalho do fotógrafo Alair Gomes. O que lembro bem é que assim que coloquei os olhos em suas fotografias de rapazes na praia de Ipanema me tornei seu fã. Lembro também que na sala da casa da minha saudosa amiga Lidoka, na mesma Ipanema, havia algumas fotos de seu marido, o mitológico surfista Petit, imortalizado por Caetano Veloso na canção Menino do Rio, que tinham sido feitas por Alair. Pois agora Alair Gomes foi transformado em peça de teatro, protagonizada pelo sempre brilhante ator Edwin Luisi. O texto, escrito por Gustavo Pinheiro a partir dos diários de Alair, dá uma boa ideia não só da abrangência da obra do artista, mas também da sua humanidade. A solidão e a insaciável busca pela beleza. As viagens e suas descobertas. Seu olhar sobre o mundo e seus habitantes. A peça é muito bem vinda, nesse momento em que se atenta contra as liberdades estéticas e de expressão. Edwin, além de talento, é puro carisma sur la scène. Agora, com barba e cabelos grisalhos, faz lembrar uma outra figura icônica das artes, o pintor Darcy Penteado. E os atores que representam os modelos do fotógrafo, com suas belas figuras, são um deleite à parte. Isso sem falar que a trilha sonora traz à tona uma outra pérola: O álbum Transa, de Caetano Veloso - olha ele aí de novo - com trechos da canção Mora na Filosofia, que muito embalou minha adolescência... No começo dos anos noventa, logo que voltava de uma temporada de um ano em Paris, tive o privilégio de trabalhar com Edwin em uma montagem de A Caravana da Ilusão, de Alcione Araujo, na qual ele era o protagonista e eu, o assistente de direção de Luís Arthur Nunes. Até hoje não sei porque ele abandonou a montagem a poucos dias da estreia. Uma pena, pois estava deslumbrante no papel do velho Bufo, líder de uma trupe de comediantes... Mas agora o negócio é o seguinte: O espetáculo vai cumprir uma temporada curta no Teatro Nair Bello, somente até o dia 5 de novembro, e é necessário, indispensável que seja assistido. Fica a dica.
Nas fotos, os atores Edwin Luisi e André Rosa em cena do espetáculo e o eterno menino do Rio - Petit - clicado por Alair.

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

OUTUBRO À FLOR DA PELE

O mês de outubro chegou repleto de estreias teatrais. Logo nos dias 2, 3 e 4, fui a três delas assim, de carreirinha: O Som e a Sílaba, de Miguel Falabella, com Alessandra Maestrini e Mirna Rubim dando um show de canto e de interpretação, Tour du Monde, o novo espetáculo do Paris 6 Burlesque com coreografias do Weidy, e À Flor da Pele, novo show da cantora Zizi Possi, respectivamente. Me senti uma Tuna Duek... Mas é na estreia de Zizi que vou me deter aqui. Há muito tempo eu não via Zizi Possi cantar. Até que ontem à noite fui à estreia de seu novo show À Flor da Pele, a convite do querido José Possi Neto, que vem a ser o diretor do espetáculo, além de irmão da cantora. Não dá para chamar de show, "espetáculo" é bem mais apropriado para definir esse tour de force de Zizi. Intensa e profunda, ela mergulha nos mais escuros cantos de si própria para encontrar a essência de seu canto. Transforma a dor de uma experiência difícil em pura arte. Numa espécie de stand up comedy musical - ou seria stand up drama? - ela costura canções com textos próprios, do irmão José e do meu querido amigo Edu Ruiz, relatando a complexa vivência de uma depressão. O resultado, além de belo, é instigante. Faz pensar, acende fagulhas, desperta medos adormecidos, sacode poeiras da alma, espanta fantasmas e faz, até mesmo, rir. Refeita da dor que viveu, Zizi consegue rir de si própria e cantar ainda mais plena. Um ato de coragem, se desvendar assim, sem filtros, diante do público. Fiquei com aquela vontade de ver mais e de ouvi-la cantar antigos sucessos dos anos oitenta como Meu Amigo, Meu Herói. Mas ela vem e surpreende trazendo pérolas como Mon Cœur S'Ouvre à ta Voix, da ópera Sansão e Dalila, de Camille Saint-Saëns, e O Que Será (À Flor da Pele), de Chico Buarque, que dá nome ao espetáculo. Aliás, nome mais apropriado impossível. É assim mesmo que Zizi se entrega para a plateia: À Flor da Pele. E que pele! Ela está linda. O tempo tem sido generoso com ela. Ainda bem. Ela merece! Imperdível...
Nas fotos, as cantrizes de O Som e a Sílaba, cena de Tour du Monde e Zizi em si.

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

LIGADO NA TOMADA

Engraçado como fatos corriqueiros do dia a dia, não mais que de repente, nos conectam com o passado e com as lembranças que estavam guardadas em algum recôndito cantinho da memória. Ao chegar em casa pela manhã, percebi que o celular não estava conectando à minha rede wi-fi. Em seguida, constatei que o modem estava desligado. E, seguindo o fio, descubro o problema: A tomada à qual o equipamento estava ligado, que por sinal havia sido instalada por mim, estava com um dos fios soltos. Desliguei a força da casa inteira, desencapei a ponta dos fios, religuei-os à tomada et voilá, tudo voltou a funcionar como de costume. Imediatamente fiquei lembrando do meu pai, já há vinte anos falecido. De como ele me fazia acompanhar cada passo do processo de consertos domésticos em geral. De como eu me revoltava com isso, interessado que estava em continuar brincando ou não fazendo nada. E do quanto hoje sou grato a ele por tudo o que me ensinou. Ou me obrigou a aprender. Durante as demonstrações ele sempre me perguntava como eu faria para resolver aquele problema. Eu, quase sempre interessado em dar fim à indesejada atividade, apontava a solução mais rápida. E ele dizia: Essa é a solução mais fácil, não a melhor. É a solução de quem tem preguiça, não a de quem pensa... Que bom que, mesmo contra a minha vontade na ocasião, esses ensinamentos todos tenham ficado comigo. Graças a eles e a muitos outros, tudo o que tenho na minha casa foi instalado por mim mesmo. Desde lustres e luminárias até tomadas e instalações elétricas em geral. Sem falar em todos os pneus que ele me fez observá-lo trocar e que até hoje me lembro exatamente como se faz. Falando nisso, logo que vim para São Paulo tive de ir com meu amigo Fariello até um bairro distante, se não me engano Mutinga, para burocracias referentes ao nosso contrato de trabalho com o Sesi, onde iríamos apresentar um espetáculo. No meio do caminho, em plena estrada, fura um pneu do carro e meu amigo começa a se descabelar. Quando se deu conta, eu já estava de mangas arregaçadas trocando o pneu diante de seus incrédulos olhos. Rimos muito e mais uma vez lembrei de meu velho pai... É isso. Constatações de uma manhã corriqueira e banal na casa e na vida de uma pessoa nem tão banal ou corriqueira.
Na foto, Robertinho ligadinho na tomada da infância em Soledade.

sábado, 23 de setembro de 2017

PRIMAVERÃO

A primavera veio quente como o mais tórrido dos verões logo nos primeiros dias da sua chegada. Aqui na Pauliceia, o ar quente, seco & poluído rasga gargantas sensíveis como a minha, entope narizes e faz tossir pulmões. E nada de chuva... A chegada da nova estação me pegou totalmente mergulhado no universo de Caio Fernando Abreu. Não nas suas obras literárias, mas nos textos que escrevia para as revistas AZ e Around, nos anos oitenta. Cida Moreira me disponibilizou sua coleção gentilmente. Tenho me divertido muito. O Caio dessas revistas é muito parecido com o que convivia com os amigos: Engraçado, leve, debochado, irônico, crítico dos hábitos e costumes da sociedade. Para mim é sempre um enorme prazer trazer à tona esse lado menos conhecido do escritor denso e profundo revelado pelos livros. Vez por outra, nessas publicações, Caio assina com o pseudônimo de Terezinha O'Connor. Segundo ele, prima de Sinead e discípula de Nadja de Lemos. Sob tal alcunha, ele deita e rola... O start desta pesquisa foi dado no lançamento do Festival Caio Entre Nós, que ocorreu no dia sete de setembro próximo passado, em Porto Alegre, e no qual apresentei Bolero, um dos textos de Caio para a Revista AZ. Espero conseguir reunir uma quantidade razoável de artigos "dizíveis" destas publicações para transformar em um solo. Um pocket espetáculo que seja. Então voltarei a dar notícias por aqui. Bom primaverão a todos!
Na foto, a jovem Malu Mader ilustra a capa de uma das edições da saudosa AZ.

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

PAIXÃO JUVENIL

Escrevi esse conto (?) em 1985, aos vinte e um anos de idade, visivelmente influenciado por Caio Fernando Abreu e Clarice Lispector. Começa assim mesmo, com reticências:
... quando chega aqui em casa vai logo se jogando no sofá, tirando o tênis, as meias, e de cara pedindo pra ouvir aquele Frank Zappa que ele adora. No Bar do Parque vendem cigarro avulso e ele me trouxe dois enrolados num papel de carta onde tinha escrito uma poesia. Mas não era poesia dele, era uma letra de música. Comprei numa banca do centro um magazine dos anos cinquenta, com fotografias de artistas de cinema e, imagine só, embalei em papel de seda lilás e lhe dei de presente. Quando, nas primeiras noites do verão, anda pela rua sem ter propriamente onde ir, colhe um jasmim perfumado e traz pra casa pra eu por no vaso. No meu quarto. Ele me trouxe a Maçã no Escuro e eu lhe falei da Paixão Segundo GH. Me conta histórias da sua vida que sempre acabo achando infantis. Mas é tão lindo, tão leve, tão assim nem sei dizer como, que me apaixona. O Cine Bristol deveria incluir na sua programação um ciclo dos filmes de Darlene Glória. A divina prostituta, a grande atriz do cinema brasileiro que hoje é religiosa. A gente vai, eu e ele, assistir a tudo que é filme que passam aqui. Até porque queremos fazer cinema. Escrever, dirigir, atuar. Não há mais quem aguente esse bairro boêmio onde moro nos fins de semana. Acabo tendo que vir pra casa, os bares estão lotados. Além disso não me interessam, são feios e mal frequentados. Escrevo no ritmo do jazz de Louis Armstrong. Literalmente, pois vou marcando o r-i-t-m-o a cada nota do jazz nas teclas dessa Remington. Quando fala de suas ex-namoradas fica tão dengoso e choramingas como criança mimada, como gatinho rosnador, que quer ser afagado. Mas não quer ao menos dormir comigo. Só dormir, eu falei. No máximo se tocar, assim tipo fazer carinho. Não, não tenho essa tua vontade, ele disse. Então assim: Ele chega, tira o tênis, as meias, a gente conversa, bebe gim, eu acabo me cansando, mas é com incontida ansiedade que o espero voltar.
Na foto, a capa do LP de Frank Zappa referido no texto.

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

BOLERO

O ano era 1989 e eu ainda morava em Porto Alegre. Em uma das minhas idas a São Paulo para visitar amigos e conferir espetáculos de teatro, comprei uma edição da Revista AZ, de Joyce Pascowich, que trazia a cantora Rosemary na capa. Dentro, o editorial abolerado e o texto de Caio Fernando Abreu que passou a me inspirar em quase tudo o que fazia: Bolero. Partindo de uma comparação entre a "roupa" e a "música" bolero, Caio embarca em lembranças da infância que terminam por definir o "feeling" bolero, por assim dizer. Mais ainda: O universo bolero. Minha identificação com o conteúdo daquele texto foi tamanha que cheguei a escrever e dirigir uma peça de teatro que chamei de A Mulher Só - Uma Comédia Bolero. Lembro de uma vez em que estava dando uma entrevista na TVE de Porto Alegre sobre a peça e disse que gostava de ficar em casa aos sábados à noite ouvindo Dalva de Oliveira e Dolores Duran. Quando voltei à sala de maquiagem para pegar meus pertences o maquiador, bem mais velho do que eu, me disse: Você é jovem demais pra ficar ouvindo essas coisas, falando dessas coisas. E eu nem tinha trinta anos... Quando recebi o convite de Luís Arthur Nunes para participar da noite de lançamento do festival Caio Entre Nós, no Teatro São Pedro de Porto Alegre, que aconteceu na semana passada, não tive dúvida: Chegara a hora de interpretar o texto de Caio que guardei por tantos anos. Até o momento de entrar em cena eu estava um feixe de nervos. O coração parecia querer saltar pela boca. Todo o ar que me fosse possível respirar era insuficiente. Mas quando o foco no centro do palco se acendeu e fui entrando nele ao som do piano de Arthur de Faria que tocava os acordes iniciais de Sabor a Mí, tudo fluiu como devem fluir os boleros... E que eles nunca nos faltem! Essa imagem ficará na minha memória para sempre. Arquivada, arquetípica. (Para citar Caio Fernando Abreu). Uma pena Tânia Carvalho não estar presente. Eu teria dedicado minha cena a ela, que foi quem me apresentou ao universo dos boleros de Eydie Gormé e Trio Los Panchos quando eu ainda era praticamente menino... Volto para São Paulo me coçando de vontade de transformar esse bolero em um solo. Que os deuses do teatro me iluminem...
A foto que ilustra o post é de Flavio Wild, outro agradável reencontro que Caio Entre Nós me proporcionou.

sábado, 9 de setembro de 2017

CAIO ENTRE NÓS

De volta à cidade da minha juventude para homenagear o escritor da minha juventude... Estou em Porto Alegre para ensaios e apresentação de Caio Entre Nós, a noite de lançamento de um festival em homenagem a Caio Fernando Abreu. Entre reuniões e ensaios, um rápido giro pelo centro da cidade para visitar a exposição Queermuseu, no Santander Cultural. A mostra traz um vasto e interessante painel da diversidade na arte brasileira. De Alair Gomes a Volpi, passando por Cândido Portinari e Flavio de Carvalho, até Leonilson e Lygia Clark. Particularmente fiquei muito feliz de ver e rever os trabalhos de alguns artistas gaúchos de quem sou fã como Fernando Baril, Gilberto Perin, Mário Rönelt, Milton Kurtz, Rogério Nazari e Telmo Lanes. Os óleos sobre tela de Baril impressionam tanto pelo surrealismo que representam quanto pelas dimensões. Sua obra O Alterofilista, exposta ao lado do Retrato de Rodolfo Jozetti, de Cândido Portinari, propõe um rico contraste ao mesmo tempo em que revela a proximidade através das diferenças. Ideia que meio que perpassa toda a exposição. Saindo de lá, ainda deu tempo de subir até o rooftop da loja popular de departamentos Lebes, e tomar um café na La Basque com vista para o Rio Guaíba. Apesar da chuva que já iniciava, deu tempo de fazer algumas fotos bem bonitas. Fiquei imaginando o quão lindo deve ser a vista no entardecer de um dia ensolarado... Após intervalo de alguns dias, volto a escrever esse post. A noite de homenagem a Caio foi um grande sucesso. Graças à colaboração de amigos queridos e artistas talentosíssimos, foi possível levantar um espetáculo de duas horas com textos, músicas, leituras de cartas, depoimentos e performances inesquecíveis. À altura do homenageado. Viva Caio Fernando Abreu... Já tive também oportunidade de assistir, na Casa de Cultura Mario Quintana, ao ensaio de um espetáculo que está sendo montado por um grupo de amigos muito queridos, com os quais já trabalhei em diversas montagens teatrais realizadas no meu período porto-alegrense. É muito reconfortante saber que artistas seguem criando, imaginando, tornando sonhos realidade malgré todas as adversidades que enfrentamos. Evoé... No mais, sigo revendo lugares, amigos e familiares, descobrindo e redescobrindo a velha Porto Alegre da minha mocidade. Encerro com um verso de Mario Quintana que li na Casa de Cultura: "O que faz as coisas pararem no tempo é a saudade"... Bom setembro a todos!
Nas fotos, Marcos Breda e Julia Lemertz, os mestres de cerimônia da noite Caio Entre Nós, brincam no fosso do elevador antes de subir para o palco do Teatro São Pedro.

domingo, 27 de agosto de 2017

ORAÇÃO AO TEMPO

Outro dia fui assistir ao espetáculo de uma amiga e, depois de encerrada a função, ficamos conversando no saguão enquanto os demais integrantes iam saindo do teatro e ela me apresentava aos que eu ainda não conhecia. Lá pelas tantas chegou um jovem técnico de luz ou de som que integrava a montagem e, ao saber que eu fizera parte do elenco da Terça Insana, exclamou: Cara, eu ri muito com você quando era moleque! Puxa, pensei, mas foi ontem... Então me dei conta de que a gente vai vivendo a vida, um dia depois do outro, fazendo coisas diferentes aqui e ali, ora feliz, ora triste, alternando momentos de euforia e melancolia, e nem percebe que o tempo está passando, implacável. Até que, numa ocasião como essa, somos atropelados pela sua inexorável passagem. E súbito entendi: Uma coisa que para mim acontecera recentemente, já havia se transformado numa espécie de Sítio do Pica-pau Amarelo para a geração dele. Um Castelo Rá-tim-bum. Uma Vila Sésamo... A noite seguiu, dali fomos para um restaurante e os papos versaram sobre os mais diferentes assuntos. Mas aquilo ficou na minha cabeça, martelando. Até que, lá pelo fim da noitada, já quase chegando em casa, tomei fôlego e fiz uma oração ao tempo: "Agora que já passei dos cinquenta anos, tempo amigo, será que você poderia fazer a gentileza de passar um pouco mais devagar? Quando eu era jovem lembro de lhe pedir tanto para que você passasse depressa! Conceda-me agora o prazer de poder fruir a sua passagem num ritmo mais adequado ao pouco que me resta de você... Obrigado. De nada. Amém. E que assim seja". Adormeci ao som de Caetano Veloso: És um senhor tão bonito quanto a cara do meu filho. Tempo, tempo, tempo, tempo...
Na foto, o gigantesco relógio do Musée d'Orsay, em Paris, marca a passagem do tempo através dos séculos.

sábado, 26 de agosto de 2017

POEMA ENCENADO

Primeiramente pensei dar a esse post o título de POEMA DANÇADO. Mas em seguida achei que seria redutor. Cão Sem Plumas, a mais recente criação da Companhia de Dança Deborah Colker, não é apenas dança. É teatro. Assim como Deborah não é apenas coreógrafa. É encenadora. Isso sem falar que, de lambuja, ainda nos traz um belíssimo filme de Claudio Assis. O resultado é espetacular. No sentido de espetáculo mesmo. Enche os olhos. Poesia pura sobre a cena. Teatro de imagens. A sensação que se tem é de que a plateia nem respira enquanto assiste à impressionante sucessão de imagens, ora duras e secas, ora belas de tirar o fôlego. Engraçado como a beleza pode surgir de onde menos se espera. Como o lírio que brota no lodo. Como o lodo que seca no corpo dos bailarinos e explode em pó sob a precisa e preciosa iluminação. Aliás, eles também não são apenas bailarinos. São atores, intérpretes sensíveis e plasmáveis que se transformam ora em grotescos caranguejos, ora em esguias garças. A bela e impactante trilha sonora conduz o espectador nessa interessante fusão de imagens projetadas com dança ao vivo. Como se os bailarinos entrassem nas imagens da tela para delas sair em seguida. O poema de João Cabral de Melo Neto, que inspirou a criação, está todo lá. Sem plumas, é certo. Mas carregado de emoção, plasticidade, lirismo e poesia. Fico até meio sem palavras para descrever o impacto visual e emocional que o espetáculo provoca. É ver para crer. Imperdível.

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

RETRÔ

Dia desses estava ouvindo um disco de Elis Regina dos anos sessenta e chegou um amigo bem mais jovem, de vinte e poucos anos. Ao perceber a música que embalava o ambiente, o juvenil mancebo perguntou: É o novo CD da Maria Rita? Não, respondi. Não é novo e não é da Maria Rita. E fiquei pensando... Porque tudo o que foi feito nos anos sessenta parece extremamente moderno aos olhos e ouvidos atuais? Vide Os Mutantes, Brigitte Bardot, Serge Gainsbourg. Dá a impressão que a estética evolui em ciclos que, de tempos em tempos, se repetem. O que bombou artística ou esteticamente em uma década volta a acontecer algumas décadas depois. Só pode ser isso, refleti com meus botões enquanto passava um café para o jeune garçon visitante. Depois, dando uma olhada geral na casa, percebi que a minha estética é ligeiramente voltada para o passado. E que eu, por conseguinte, sou uma pessoa retrô. Livros, discos, vídeos. Quadros, retratos, eletrodomésticos. Móveis, objetos, utensílios. Um museu de grandes novidades, para citar Cazuza. O anti-aplicativo... A essa altura a TV já estava ligada no cômodo ao lado e Karol Conka cantava: Multitelar, multitelei... Fiquei lembrando dos meus amigos Les Étoilles, que abalaram Paris nos setenta, dos Dzi Croquettes, dos Secos & Molhados, da Rita Lee, de Bowie, do Asdrúbal Trouxe o Trombone, de Ciranda Cirandinha... Quando dei por mim já estava folheando um dos quinze volumes da coleção O Mundo da Criança, o Google da minha infância. E, antes que eu procurasse caneta e papel para escrever uma carta (antigo meio de comunicação pré-internet), decidi pegar o iPad e digitar esse post...
Na foto, eu em momento retrô inspirado pelo post.

domingo, 20 de agosto de 2017

PLENO AGOSTO

Tanto se fala do mês de agosto! Mal, em geral. Eu não tenho nada contra esse que, para mim, é um mês igual a todos os outros. E o agosto desse ano de 2017 está sendo especialmente bacana. Primeiro porque retomei minhas apresentações na Terça Insana. Estou, portanto, de volta à estrada. O que reúne duas das coisas que mais gosto de fazer na vida: Viajar e fazer teatro. E, como agora o ritmo de viagens é bem menos intenso do que nos áureos tempos, sobra espaço para todas as outras atividades... Segundo porque retomei também a minha rotina diária de exercícios físicos, agora praticados não mais no chiquérrimo Renaissance Spa & Fitness, mas na simpática & popular Smart Fit da Rua Augusta. Entrei o mês de agosto firmemente empenhado em recuperar a forma perdida e, além do treino diário, estou cuidando da alimentação e bebendo beeem menos do que andava bebendo nos últimos tempos. Drinks agora só no fim de semana. E moderadamente... Tenho também assistido a muitas coisas legais. Uma delas foi a estreia da peça A Visita da Velha Senhora, de Friederich Dürrenmatt, no Teatro Popular do Sesi, protagonizada por Denise Fraga em atuação notável e digna de prêmio. A competente direção é assinada por Luiz Villaça, marido da atriz. E o grande elenco que a acompanha faz jus a essa montagem inspirada e inspiradora, para dizer o mínimo... Teve também O Filme da Minha Vida, de Selton Mello, que mereceu post especial aqui no blog. E uma grata surpresa: O filme Corpo Elétrico, de Marcelo Caetano, que aborda o dia a dia de pessoas comuns que, entre outras coisas, são gays ou não. Trabalho, sexo, relações afetivas e de amizade são mostrados como são. E não da maneira geralmente edulcorada pelas produções cinematográficas. O protagonista Elias é vivido pelo jovem ator Kelner Macedo, outra grata surpresa revelada pela película. Sua interpretação carismática e natural conduz o espectador com interesse e curiosidade durante todo o filme... Ah! Já ia esquecendo: Vi também a peça Whisky e Hambúrguer, escrita e dirigida por Mario Bortolotto, que divide a cena com Patrícia Vilela. O texto é bom, Patrícia é excelente atriz e mais não digo... Para finalizar, hoje, nesse domingo frio & chuvoso, assisti em casa mesmo, em DVD, ao interessantíssimo documentário Gatos, que acompanha a fascinante vida dos gatos de rua da cidade de Stambul. Qualquer pessoa apaixonada por gatos como eu fica enlouquecida assistindo. Mas desconfio que mesmo os que não gostam desses adoráveis animais serão facilmente fisgados... E vamos em frente, que ainda tem muito agosto para ser vivido!
Nas fotos, Denise Fraga e Tuca Andrada em cena de A Visita da Velha Senhora, Kelner Macedo em Corpo Elétrico e Patrícia e Mario em Whisky & Hambúrguer.

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

A VIDA QUE SE LEVA


Se é verdade o que dizem, que o que se leva dessa vida é a vida que se leva, humildemente confesso que vou, sim, levar muita coisa. Eu não sou propriamente o que se pode chamar de uma pessoa empreendedora, que constrói muitas coisas em termos de projetos profissionais. Mas, em matéria de viver a vida, modéstia à parte, sou expert. E não é querer me exibir: Eu vivo bem a vida, mas é nas coisas mais simples. Um mero domingo de sol, em casa mesmo, consigo do nada transformar em um momento inesquecível. Principalmente se o céu está azul, o sol se reflete multiplicado por vários na água da piscina e eu observo da sacada enquanto sorvo goles de vinho branco ouvindo Serge Gainsbourg. Como está sendo agora... Eis o que importa: A vida ser inesquecível e, consequentemente, a gente ser inesquecível também. Por isso é que acho que mesmo não deixando grandes obras, realizações concretas, vou levar muita coisa dessa vida. E, por tabela, deixar. Deixar principalmente a lembrança de alguém que soube viver bem... Dia desses me foi solicitado escrever um parágrafo sobre mim mesmo, para a divulgação de um trabalho do qual iria fazer parte. Fiquei matutando sozinho: O que dizer, em apenas um parágrafo, que me descrevesse e desse uma visão geral da minha trajetória profissional? Me lancei nessa tarefa hercúlea e, após selecionar o que me pareceu mais digno de constar nesse parágrafo revelador, fiquei achando que não havia feito nada de importante na vida. Então era essa a minha trajetória? Com mais de cinquenta anos de idade e mais de trinta de profissão era isso o que eu tinha para apresentar? Isso era tudo? Sim, era tudo. E sabe o que mais? Era extremamente importante. Para mim. Tudo foi feito com amor. Por inteiro. De coração aberto. E com a consciência tranquila. Quer legado mais importante do que esse? E, para terminar citando Gonzaguinha, começaria tudo outra vez...

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

POESIA BEM VINDA

Ah, como tudo anda sem graça ultimamente. Ah, como a vida tá difícil pra todo mundo. Ah, como o Brasil está em crise. Ah, como está seco e poluído o ar de São Paulo neste mês de agosto... Pois uma lufada de ar fresco acaba de ser lançada: O Filme da Minha Vida, de Selton Mello. Dizem que rir é o melhor remédio em tempos difíceis e eu, como comediante, não posso deixar de concordar. Mas se rir é o melhor remédio, a poesia é a salvação. O terceiro longa de Selton Mello é poesia pura. Há algo de Fellini que permeia o filme do início ao fim. Altas doses de lirismo que tiram a gente da vidinha mais ou menos que andamos levando. O filme foi rodado no sul do país, mas poderia ter sido em qualquer lugar do mundo. Não há fronteiras quando se trata da imaginação. O colorido meio sépia da fotografia remete à memória de tempos passados. As descobertas do amor e da sexualidade. O cinema como possibilidade de expansão do reduzido universo da cidade pequena. A trilha sonora maravilhosa, que embala grande parte das cenas. A paisagem de encher os olhos. A participação de Rolando Boldrin. A comovente interpretação do protagonista Johnny Massaro... Há muito a ser visto e apreciado nessa obra de rara beleza do cinema nacional. Inspirado é o mínimo que se pode dizer desse momento da carreira de Selton Mello. Pode não ser o filme da minha vida ou da sua. Mas que vale a pena, ah como vale! Saí do cinema e o entardecer na Avenida Paulista tinha tons que eu ainda não havia percebido...
Na foto Tony, o personagem de Johnny Massaro, na deslumbrante paisagem sulista.

domingo, 30 de julho de 2017

DILEMAS DE UM PALHAÇO

Eu amo teatro. E quando digo que amo, não me refiro apenas ao fazer teatral. Amo assistir teatro, também. E quando se trata de bom teatro, amo ainda mais. Ontem tive a oportunidade de conferir o espetáculo Pontos de Vista de um Palhaço, solo do ator Daniel Warren, que só contribuiu com o meu amor pela arte da representação. Abandonado pela mulher que ama, o personagem de Daniel expõe diferentes pontos de vista: O próprio e o do palhaço que ele representa; o da mulher e o dos líderes religiosos que ela segue. Em uma sessão de terapia coletiva na qual os outros participantes são o próprio público. E Daniel o faz com maestria. O espetáculo é uma pequena joia. Prende a atenção do início ao fim sem nunca deixar a peteca cair. A interpretação de Daniel consegue ser surpreendente durante todo o tempo que dura a peça. E a gente sai da sala com a alma lavada... Nunca gostei muito de palhaços. Tampouco dos chamados "clowns", que são uma espécie de sofisticação dos mesmos. Outro dia, perdido que estou de saudades da capital francesa, fui ao cinema assistir ao filme Perdidos em Paris e sem saber me deparei com eles, os clowns. Aquelas repetições sem fim e uma lógica sem lógica me irritam em vez de me divertir... Não é o caso desse Pontos de Vista. Daniel Warren é um excelente ator. Não se limita a ser clown sobre a cena. Ele constrói seu personagem em diversas camadas de interpretação, colorindo-o com as técnicas de palhaço que inteligentemente estudou para enriquecer ainda mais o seu brilhante trabalho. E o resultado é apaixonante. Sem falar que ele é puro carisma... Fiquei bastante tocado pela força que tem esse espetáculo, que é todo trabalhado na elegância e sensibilidade. Deus queira que um dia eu consiga fazer algo parecido! E todos os aplausos para esse pequeno grande ator...
A direção e a dramaturgia são de Maristela Chelala, que divide com Daniel a concepção artística. O espetáculo está em cartaz na Oficina Cultural Oswald de Andrade. Imperdível...
Na foto, o protagonista Daniel Warren brilha sem o menor esforço sobre a cena.

sábado, 29 de julho de 2017

MAISON CLOSE

Pense numa pessoa que viveu em Paris no começo dos anos noventa, se apaixonou pela cidade, ficou dezesseis anos sem ir visitá-la e, de 2007 pra cá, estava indo regularmente uma vez por ano ou a cada dois anos no máximo. Essa pessoa sou eu. E o intervalo de dois anos sem ir a Paris já venceu em maio desse ano... Pense na síndrome de abstinência que essa pessoa, no caso eu, está vivendo. E imagine a pessoa, sozinha, em uma sala do MASP visitando a exposição Toulouse-Lautrec em Vermelho. Foi o que aconteceu comigo ontem à tarde... E foi maravilhoso. Toulouse-Lautrec simboliza a mítica Paris boêmia dos artistas, dos cabarés, das prostitutas, dos espetáculos de variedades, da vida noturna, do bas-fond, do cancan, e, claro, de Montmartre, o bairro sede de todo esse movimento. Fui transportado para os salões da maison La Fleur Blanche, para o lendário Moulin de la Galette, encontrei com a dançarina Jane Avril e com o cabaretier Aristide Bruant... Revi as bailarinas de cancan e suas saias, tal qual havia assistido ao vivo no próprio Moulin Rouge... As pinceladas nervosas do artista fazem os óleos sobre tela ou sobre cartão parecerem desenhos de lápis pastel. E os gigantescos cartazes em litografia que anunciavam as atrações dos cabarés dão a medida da importância de Lautrec para a arte da virada do século dezenove para o vinte. Gostei especialmente de uma parede inteira dedicada a retratos de atores e atrizes. Entre eles, évidemment, a grande Sarah Bernhardt... A mostra traz setenta e cinco obras e cinquenta documentos como cartas, bilhetes, telegramas e fotografias, abrangendo toda a produção do artista, desde os primeiros anos até a sua precoce morte aos trinta e seis anos em decorrência do abuso de álcool e da sífilis contraída na vida libertina que levava. Como disse anteriormente, mítico. Icônico. Arquetípico... Quando saí das dependências do museu fiquei parado na Avenida Paulista como quem espera ser resgatado por um carro mágico. Igual àquele que transportava o personagem do filme Meia Noite em Paris, de Woody Allen, para a Paris boêmia da Belle Époque. Mas tudo o que passou foram ônibus, taxis, úbers (ou seriam úberes?), carros e mais nada. E eu fiquei ali, sonhando com o dia em que verei Paris outra vez... Delírios à parte, a exposição é maravilhosa e pode ser visitada até o dia primeiro de outubro. Sendo que às terças-feiras a entrada é gratuita. Para quem está na Pauliceia, o MASP fica na mais paulista das avenidas...
Nas fotos, Toulouse-Lautrec em si, A Roda - a bailarina Loïs Fuller vista dos Bastidores e La Femme au Boi Noir, duas das obras que mais gostei. Ah! O título do post se refere às "casas fechadas" que o artista costumava frequentar com suas amigas.

sexta-feira, 28 de julho de 2017

O LUGAR DA LÍNGUA

Muito já falei aqui no blog sobre o mau uso que se faz da nossa inculta e bela Língua Portuguesa. Sei que poderia até soar pernóstico pretender que se fale e escreva corretamente o idioma em um país que tem tantos problemas sociais e políticos, vive uma crise sem precedentes e tem uma desigualdade social inaceitável. Mas certas coisas, que nem seriam propriamente erros, mas vícios de linguagem, tiram muito da pouca paciência que tenho... Ultimamente, o uso da palavra "lugar" para designar coisas que não são lugares tem me irritado sobremaneira. Por exemplo: "Esse espetáculo é um lugar de reflexão". Espetáculo não é lugar. O teatro seria... "Eu estou num lugar de auto-conhecimento". Momento seria mais adequado... Mas acho que só eu me importo com esses detalhes. E por falar em lugar, outra coisa que me incomoda bastante é o uso de "onde" e "aonde" se referindo a coisas que também não são lugares. "É um filme aonde eu contraceno com fulano". Um filme no qual contraceno seria bem mais agradável aos ouvidos. Pelo menos aos meus ouvidos... "É uma medida onde o supremo revê a sua postura". Que saco! Medida não é lugar... Eu gostaria muito de saber quem começa a usar esses termos dessa maneira e porque todos passam a fazer o mesmo achando que está super correto. Vai saber! Outra modinha chata é o tal de "sobre". Esta, imagino que venha de tradução literal do inglês, como about last night. E é um tal de "sobre ontem à noite", "sobre dar e receber" e "sobre estar em boa companhia"... Haja! Tem até uma música chata, interminável e com mensagem de auto-ajuda que diz: Não é sobre ter todas as pessoas do mundo pra si, é sobre cantar e poder escutar mais do que a própria voz... Sem falar no hábito de terminar as frases com: ...que você respeita. Por exemplo: A melhor banda de rock que você respeita. Ãh? E as palavras da moda, que de repente as pessoas não conseguem dizer uma só frase sem utilizá-las pelo menos duas vezes? Do tipo superação, empoderamento, protagonismo... Ai que preguiça! Tem também os que reforçam o sujeito da frase colocando o pronome logo após: "A lei, ela é para todos". "Meus amigos, eles são poucos". Enfim, vou parar por aqui porque eu mesmo já estou me tornando irritante... E, para terminar citando Olavo Bilac: Amo-te, ó rude e doloroso idioma. És, a um tempo, esplendor e sepultura...
Na foto, a biblioteca Mario de Andrade. Um bom lugar para se estar em contato com a nossa língua. E é lugar mesmo! Rsrsrs...
PS: Acabei de lembrar de outra! Arquitetos e decoradores tem usado muito o verbo conversar para dizer que determinados móveis ou objetos combinam com a decoração. Assim: Esse abajur conversa com a cortina. Pano rápido.

quarta-feira, 26 de julho de 2017

IMOBILIDADE ILUSÓRIA

Passei o último fim de semana fazendo um workshop de modelo vivo. Um ator precisa estar sempre em movimento, em busca de desafios, a superar limites. Eu já havia tido uma pequena experiência como modelo vivo na época da faculdade de teatro em Porto Alegre, posando para aulas de desenho do Instituto de Artes. Anos depois, já morando em São Paulo, tive a experiência de posar para uma aula de escultura de um grupo de mulheres. Agora, me sentindo velho e cheio de limitações corporais, resolvi voltar a exercitar essa possibilidade. Foram dois dias de estudos, conversas e trocas de experiências que resultaram em uma sessão de poses para a artista Sandra Lagua que nos desenhou em diversas poses e propostas. Para alguém que estava se sentindo tão enferrujado como eu foi no mínimo libertador. Não tenho a menor ideia se pretendo fazer disso um ganha pão, mas a simples possibilidade de me testar já foi bastante desafiadora. É um mercado restrito, poucas pessoas se aventuram de maneira consciente nesse métier, a maioria "topa tirar a roupa pra ganhar um troco". Homens, então, são uma minoria. Fiquei lembrando de quando cheguei em São Paulo, vinte anos atrás, e fiquei hospedado chez minha amiga Nora Prado. Nora era modelo vivo e foi uma das precursoras dessa atitude do modelo consciente, ativo e propositor que o curso nos estimulou a ser. Ela chegou a fazer uma peça, um solo chamado A Modelo, no qual contava suas experiências posando para vários artistas, entre eles, seu pai Vasco Prado. O workshop foi ministrado por Juliano Hollivier, que além de excelente modelo vivo com muitos anos de experiência no mercado, também é ator. Consegui vencer várias barreiras: Tirar a roupa diante de outras pessoas, por exemplo, foi uma delas. Expor minha barriga e todos os meus outros "defeitos " também. Fiquei bastante satisfeito com o resultado. E recomendo para quem tiver vontade de se testar na profissão. Vai ter uma nova edição em agosto. É só acessar o site julianohollivier.com E ficar por dentro de tudo.
Nas fotos, desenhos de Jacques-Louis David e Michelangelo feitos a partir da observação de modelos vivos.

quinta-feira, 20 de julho de 2017

FEUD

O que é uma vida de artista no mercado comum da vida humana? Cantava Gal Costa no álbum Água Viva, de 1978. O que os versos de Suely Costa talvez não trouxessem era a resposta para tão complexa questão... Acabo de assistir aos oito episódios da série Feud, sobre a lendária rivalidade entre as grandes damas do cinema americano Bette Davis e Joan Crawford. E confesso que me bateu forte. Para além do deleite estético e do prazer de acompanhar as peripécias das divas. Após assistir aos episódios finais, o que ficou fortemente impregnado em mim foi a constatação da instabilidade das carreiras artísticas. Mais do que as disputas de egos exaltados ou a fogueira das vaidades, o que me impressiona é esse fino fio tenso por onde se equilibra a inconstante disputa pela construção e manutenção de um sonho. Se há alguma constância na carreira de um artista, é justamente a inconstância... Digo que me bateu forte porque venho de voltar aos palcos depois de uma ausência de quase dois anos. Um projeto de sonho inocente, segue a canção de Gal. Não se esqueça de mim essa semana... Susan Sarandon e Jessica Lange representam, respectivamente, Miss Davis e Miss Crawford. Ah sim, estou falando de Feud, já havia viajado completamente no tema. E a grande luta que travam, maior do que a rivalidade que dá título à série, é a luta pela manutenção de suas carreiras em um mercado que se transforma e que as deixa de lado. Cruel. Arrasador. Grandes talentos se afogando em álcool e decepções. Muita coisa mudou de lá para cá. Mas creio que a essência permanece. Essa necessidade constante do aplauso, dos holofotes, de ser o centro de, pelo menos, algumas atenções. Essa ilusão que encerra a realidade do ganha pão. Essa quimera. Os egos inflados, as disputas, as vaidades. Do que era mesmo que eu falava? De Feud, a série americana. Você não pode deixar de assistir. Mas antes, prepare os drinks e aperte o cinto. Vem turbulência por aí. Pescador quando tece sua rede, jogador quando joga sua sorte: Cada um que conhece sua sede é artista da vida ou da morte... Pois a série termina com a morte das protagonistas, o que deixa a triste sensação de que não haverá continuidade. E agora? Como viver sem essas adoráveis lutadoras? E as fofocas de Hedda Hopper? Como ficar sem Mamacita? O que terá acontecido a Baby Jane? Quem descerrar a cortina há de ver cheio de horror...