segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

SAMPA STORIES

Entrei no vagão do metrô na estação da Sé e alguém que acabara de sair pelo lado oposto perdeu uma carteira que pousava diante da porta. Me abaixei para pegá-la, a campainha tocou, a porta fechou e o trem partiu deixando para trás a pessoa a quem a carteira pertencia. Abri. Era uma daquelas carteirinhas cheias de envelopes plásticos, um porta documentos, na verdade. E eles estavam todos ali. Pertenciam a uma moça, uma bombeira, como pude ver pela sua credencial. Além dos vários documentos, carteira de identidade inclusive, havia diversos cartões. Puxa, que maçada. Já pensou o trabalho que ela teria para refazer todos os documentos e bloquear todos os cartões? O que pude fazer foi deixar a carteira no guichê da estação em que desci, com a promessa do funcionário de que iria lançar nos achados e perdidos. Fiquei imaginando o trabalho que a moça teria e me lembrando de uma vez em que esqueci uma pequena valise no metro daqui de São Paulo. Eu estava morando no Rio e vim passar um fim de semana na Pauliceia chez minha amiga Lucia Serpa, quando, ao trocar de trem na mesma estação da Sé, deixei minha pequena mala num cantinho do vagão. Como não sabia dessa história de achados e perdidos, segui até a casa da minha amiga completamente arrasado por haver perdido cadernos de notas, fotos, máquina fotográfica, passaporte e, pasmem, dólares. Saí para curtir a noite paulistana e, ao chegar em casa, minha amiga me avisa que haviam ligado para mim do metrô dizendo que minha mala tinha sido encontrada. Quando o trem chegou ao fim da linha o condutor revisou todos os vagões e encontrou minha valise. No guichê eles a arrombaram e encontraram meu telefone do Rio. Ligaram e a menina que dividia apartamento comigo deu o telefone da minha amiga de São Paulo. Inacreditável. Parece que a cena se passou na Europa ou nos Estados Unidos, não? Pois foi aqui mesmo, na velha e boa Sampa. E a valise estava intacta, com tudo dentro. Dólares inclusive. E mais, o metrô não aceitava recompensa. Apenas me pediram para redigir uma carta relatando o ocorrido, o que de pronto atendi. Juro: Se na carteira que encontrei hoje tivesse um número de telefone, eu teria ligado na hora para poupar à brava bombeira o trabalho que ela certamente terá. Sem falar que eu me sentiria finalmente quite com a incrível equipe do metrô de São Paulo. É por essas e outras que amo essa cidade...
Pois nessa mesma São Paulo da garoa, descia eu dia desses a rua Augusta quando quase esbarrei em um menino que, ao passar roçando por mim, sussurrou: Tiozinho gato. Ao ouvir essas palavras virei na direção dele sorrindo agradecido pelo elogio e, ao virar a esquina, fiquei frente à frente com uma vitrine que me refletiu muito velho. Então entendi toda a carga de crítica que o elogio continha: Ele me achou gato, porém tiozinho. Eu sou um velho até que bonitinho. Ele mordeu e assoprou em seguida. Que crueldade. Eu jamais faria um elogio desse tipo. A gente precisa tomar decisões na vida: Ou elogia ou critica! Os dois, de uma vez, assim de soco, não é qualquer um que está preparado para receber. Ainda mais nessa São Paulo que tanto amo...
Na foto, o bilhete da primeira viagem de metrô que fiz em São Paulo, aos onze anos, quando vim com meus avós passar férias na casa do meu tio.

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