domingo, 22 de novembro de 2020

LÁ VOU EU

Ando sem texto. Descontextualizado. Mudo. Tartamudo. Isso é péssimo para quem, como eu, tem um blog de escrita. Num apartamento, perdido na cidade, tentando acreditar que as coisas vão melhorar. Tenho a sensação de que nada acontece misturada com a sensação de que só acontecem coisas horríveis. Mas, como cantava o Premê, é sempre lindo andar na cidade de São Paulo... O mês de novembro, penúltimo do ano, se aproxima do fim. O ano se aproxima do fim. Luto para evitar a sensação de que todos nós, o país, o mundo, também nos aproximamos do fim... Na medida do impossível tá dando pra se viver. Ando paranóico, com medo de sair de casa. Receio voltar a frequentar os lugares e ser contaminado pela falta de noção das pessoas. Pela primeira vez na vida não fui votar. Para evitar aglomerações. Sinto falta do balcão do Ritz, dos teatros, dos restaurantes. Quero minha vida de volta... Busco no fundo de mim a pessoa otimista que sempre fui. Minha alegria quarentenada. Minha felicidade espontânea em isolamento. Por sorte encontro resquícios de ilusão e até uma certa ingenuidade esquecida num canto da alma. E logo sou atraído pela beleza de um ipê ou jacarandá florido. O ronronar manhoso da minha gatinha Lina. Um canteiro de flores em meio às pedras, um dia de sol, um grafite que desponta no mar de concreto e fel. Como cantou Criolo, aqui ninguém vai pro céu. Mas sigo na crença de que existe sim amor em SP. Ou, como escreveu Caio: Não deu pra Sampa. Ainda. Vou ficando por aqui. E que Oxalá e Tupã me alumiem... Na foto, Sampa sob o Minhocão.

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

SEGREDOS

Felizmente o mês de novembro chegou trazendo alguma flexibilização para a minha já interminável quarentena. Eu, que não aguentava mais ficar sem frequentar ambientes culturais, fui presenteado com mais uma exposição d'Osgemeos, esses artistas mundialmente famosos de cujo trabalho sou fã há muito tempo. Essa já é a terceira exposição da dupla que visito. A primeira foi na Faap. Depois teve a Ópera da Lua e agora esses Segredos muito bem guardados na Pinacoteca. Há quanto tempo eu não entrava em um museu, não visitava uma sala de exposições! Cheguei a ficar emocionado lembrando do quão rica era a minha vida cultural antes dessa pandemia. Será que um dia tudo voltará ao normal? Já começo a duvidar... A visitação é super concorrida, já tinha comprado os ingressos há mais de um mês. Dá uma pequena felicidade, mas ainda não consigo relaxar completamente para apreciar as obras. Fico preocupado que as pessoas cheguem muito perto, não toco em nada, limpo as mãos o tempo todo, aquela paranoia já devidamente instalada no cérebro que me impedade de ser completamente eu... Mas já é um respiro e tanto! A obra desses meninos é plena de lirismo e poesia. São pequenos universos mágicos, sonoros, cinéticos, luminosos e brilhantes que são capazes de abrir brechas no cotidiano nos transportando para outras dimensões. Ou mega esculturas infláveis que brincam com a noção de proporção ocupando o vão de dois andares da Pinacoteca. E os personagens urbanos, sempre nos trazendo a dura realidade dos trens de subúrbio, das favelas, do trânsito, do caos. Como na obra Jabaquara, em que dois desses personagens são separados do público que os observa por uma tela de arame que envolve todo o quadro. Para além das pinturas e esculturas, a exposição traz desenhos, esboços, anotações, pequenos cadernos de notas e rabiscos, fotografias, roupas e objetos pessoais dos artistas. São várias salas numa sequência lúdica que conduz o visitante através do curioso universo desses geniais criadores. Riquezas de detalhes como as estampas das roupas dos personagens são por vezes enaltecidas com lantejoulas que acrescentam mais encanto às obras, molduras de led ou neon e até mesmo bordados feitos em parceria com a mãe deles. Dá vontade de ficar muito tempo viajando nas sutilezas dessa encantadora exposição. O quadro que mais amo, A Ópera da Lua, está presente. Nele um pequeno homenzinho amarelo dorme sobre o topo de um farol em pleno mar que reflete a lua. Como eu dizia, puro lirismo e poesia. O catálogo, à venda na saída, é um belo cofee table book com muitas imagens da exposiçã e da obra em geral e uma entrevista com Osgemeos em português e em inglês. Vale os setenta e cinco reais. Ah! A exposição fica na Pinacoteca até o dia 22 de fevereiro de 2021. Se você estiver em São Paulo ou passar por aqui, não deixe de visitar. Ingressos somente com antecedência pelo site da Pinacoteca. Nas fotos, a entrada de Segredos e os gêmeos em si autorretratados no catálogo.