quarta-feira, 27 de abril de 2022

DIÁRIO DA PRAIA

Vim passar meu aniversário de cinquenta e nove anos junto ao mar. Em Camburi, no litoral norte de São Paulo, para onde tenho vindo desde que não pude mais passá-lo em Paris… Saí cedo de São Paulo, no primeiro ônibus. Mas, por uma série de contratempos, ele atrasou e acabei chegando quase ao meio-dia. Larguei tudo no flat, vesti uma sunga e fui correndo para a praia. Pedi licença a Iemanjá, a Netuno e a todas as outras entidades desse elemento que me fascina e me joguei no mar. Sem medo. E foi libertador… Os dias por aqui tem sido belos e ensolarados. Assim como as noites, belas e estreladíssimas, como as da minha infância em Soledade… Recebi uma infinidade de mensagens e carinhos de amigos, familiares, fãs e admiradores em geral. Paulo Vicente, como sempre, me fez chorar. De emoção e de rir... João Faria me mandou a foto de um terreno baldio coberto de flores pela chegada da primavera na pequena cidade litorânea do sul da França, onde mora. Como ele mesmo disse, a primavera é mágica... Ouço a trilha sonora do seriado Bridgerton. Divertidas e inspiradoras versões de sucessos da pop music com arranjos de orquestra e cordas, como se fossem músicas de época. Minha preferida é Material Girl, de Maddona. Tenho escutado à la mort... Hoje pela manhã uma moça esperava pela onda sentada sobre a prancha, de frente para o horizonte e de costas para a praia. Usava uma blusa de lycra preta de mangas compridas para se proteger do sol. E mais nada. Como assim? Mais nada? Juro, estava nua da cintura para baixo, com os glúteos sinalizando como faróis sob o sol da manhã. Observando melhor, me dei conta de que ela usava essa instituição brasileira, o fio dental, que na parte de trás não tem nada, apenas um breve cordão que some entre as nádegas, e que é socialmente aceito até mesmo pelos mais tradicionais e conservadores representantes da família brasileira. Moças de família e mesmo jovens senhoras recatadas e do lar podem desfilar seu bumbum, a “preferência nacional”, sem nenhum constrangimento para os demais. Experimenta um homem vir à praia de bunda de fora para ver a polêmica que vai suscitar. Ou, a mesma moça, experimentar fazer um topless… A moral e os bons costumes são coisas que desde a mais tenra idade me intrigaram. Nunca entendi direito o que podia e o que não podia ser feito. E, sobretudo, o porquê... Mas, vamos em frente que nessa vida a gente pode tudo, menos desistir de tentar. Afinal de contas, como cantavam os velhos Novos Baianos, não foi em vão que Einstein disse que o saber vem do infinito... Na foto, a pequena amostra da primavera francesa que meu amigo João me enviou.

sábado, 23 de abril de 2022

RANZINZICES

Rita Lee se curou de um câncer de pulmão. Só isso já seria a prova da existência divina. Mas é, também, a prova da evolução da medicina e da ciência como um todo. Há vinte e cinco anos meu pai morria da mesma doença cujo diagnóstico, na ocasião, lhe foi impingido como uma sentença de morte. Estamos saindo (?) de uma pandemia que se prolonga por já inacreditáveis dois anos. Mas, ao menos, já temos vacinas que nos impedem de morrer da doença. A prova é a queda dos números de contágio e de mortes. Quarenta anos atrás uma outra epidemia, a da Aids, ceifou vidas e até hoje não foi descoberta a cura. Nem sequer uma vacina. E assim, entre boas e más notícias, vamos levando a vida... Estou me aproximando da terceira idade. Em abril do ano que vem já passarei a ser considerado idoso. Sei que isso me trará vantagens. Poucas. Vou pagar meia entrada em todos os shows, espetáculos e filmes a que for assistir. Poderei estacionar o carro nas vagas mais próximas aos elevadores nos shopping centers. Isso, para mim, nem chega a ser vantagem, posto que não gosto de frequentar shopping centers. Felizmente tenho físico e disposição de alguém de bem menos idade... Me inquieta o fato de as pessoas se deixarem levar por modismos e tendências do momento. Me incomoda a linguagem, os gostos pessoais, a roupa, a malfadada polarização. As redes sociais, os grupos em aplicativos de mensagens, o vocabulário. Os cancelamentos, a lacração, tudo isso me isola. Me sinto um extraterrestre. Nada nem ninguém me representa. A solidão em que essa condição me coloca é por vezes desesperadora... Estou participando de uma série de televisão - uma participação muito pequena, diga-se de passagem - e, dia desses, durante as incontáveis horas de espera para gravar, escutei um ator dando uma entrevista e fiquei chocado com a quantidade de vezes que ele pronunciou a palavra lugar. "É um lugar de investigação, o diretor te leva para um lugar de pesquisa, você sai daquele lugar de conforto", foi tanto que precisei sair do recinto e ir para "um lugar" aberto para tomar ar. Esse sim era um lugar de verdade. Ao contrário de todos os outros a que o ator se referiu. Esses eram estados, atmosferas, situações... Sei que estou ficando velho e chato. Melhor, uma vieille tante, como diriam os franceses. Gosto de silêncio e de tranquilidade. De vinho e de boa música. De livros e filmes e séries. De gatos. De boa comida. De praia. De sexo, também, se possível... Me desculpem os mais espiritualmente evoluídos e desapegados. Mas, como já cantou Maddona lá nos oitenta, vivemos em mundo materialista e eu sou uma garota materialista. E já nem sei mais do que se tratava esse post. Ou, para encerrar com mais um detestável jargão do momento: É sobre isso. Rsrsrs... Na foto, a Material Girl sendo a própria.

segunda-feira, 4 de abril de 2022

DRÔLE D'AVRIL

Eis que chega o mês tão ansiosamente esperado por mim: Abril. O mês do meu aniversário. Que traz consigo minha estação do ano preferida: O outono. No dia vinte e cinco próximo irei completar cinquenta e nove anos de idade. Cinquenta e nove outonos, como gosto de dizer. Quem me conhece ou me segue aqui sabe que adoro comemorar o dia dos meus anos. Ainda não me animei a voltar a receber amigos em casa. Mas, se Deus quiser, irei passar o meu aniversário junto ao mar, outra coisa que adoro fazer nessa data. O bom da passagem dos anos é que a gente vai se conhecendo cada vez melhor. Quase mais nada é totalmente inédito para nós. Já temos vivência suficiente para não cair em certas armadilhas que a vida nos apresenta. E, principalmente, não cair em certas conversas de quem tenta nos convencer a fazer o que não queremos... Quem me lê assim, pensa que sou muito maduro, bem resolvido e seguro de mim. Mas, cá entre nós, sou quase o oposto disso. Rsrsrs... Sofro com incertezas e inseguranças como um adolescente. Às vezes minha fobia social é tamanha que me refugio no meu mundo interior, cercado de música, literatura e Netflix. E por falar em Netflix, ando completamente apaixonado pela série francesa Drôle - Faz-me Rir, no título em português - que conta as aventuras de quatro amigos que fazem stand up comedy em Paris. Já assisti aos seis episódios, primeiro com legendas em português. Agora estou revendo tudo com legendas em francês. É que os personagens são jovens, falam rápido e usam muitas gírias, o que me faz perder grande parte do texto original. Não deixa de ser uma maneira de praticar o francês e, por que não dizer, aprender um pouco mais. Isso é outra coisa que me veio com a idade: Quanto mais sei, sinto que menos sei. Sobre o que quer que seja. O francês, inclusive. Estou especialmente apaixonado por dois dos personagens dessa série: Aïssatou e Nezir. Ambos se iniciam na trajetória artística e veem suas carreiras deslancharem rumo ao sucesso. Maior identificação, impossível. Postei uma foto dos atores que os representam - Mariama Gueye e Younès Boucif, respectivamente – nos meus stories do Instagram e, vejam só, fui repostado por Mariama! Que ainda me agradeceu pelo retorno. O que me deixou extremamente feliz. Das pequenas alegrias da vida moderna... Diria um presentinho antecipado de aniversário, para não fugir do tema. Mas é isso, abril chegou drôle e outonal, me trazendo a consciência da passagem de mais um ano de vida. Se continuar assim como está, já terá sido uma bela vida. Se melhorar, então, nem se fala... Bom mês de abril a todos! Na foto, meu story repostado pela atriz Mariama Gueye. Ah! Eles estão comendo o famoso falafel da Rue des Rosiers, juste à côtté de chez moi. (Bem ao lado da minha casa). Quando eu morava lá, bien sûr.