quinta-feira, 25 de abril de 2013

UM ANJO CHAMADO LEILA

Ontem à noite saí para procurar, no centro de Florianópolis, um café/bistrô que havia visitado uma vez com o Cabral, quando estávamos apresentando a Terça Insana aqui na capital catarinense. Saí a pé, estava uma noite agradabilíssima de lua cheia. Consegui encontrar o local, mas o bar em questão não existia mais. Apenas a construção, já em adiantado estado de deteriorização. Resolvi andar até a Beira Mar Norte para procurar um restaurante que avistara à tarde quando voltava da praia. Fiquei um pouco perdido, sem saber qual direção seguir, quando uma moça aparentando quarenta e poucos anos se aproximou, saindo de uma padaria, e perguntei a ela de que lado ficava a Beira Mar. Ela respondeu: Estou indo para lá, se você quiser te levo. Não bastasse a gentileza de ter parado para responder a minha pergunta, ela ainda me convidava para entrar no seu carro e ir com ela? Quase não acreditei no que ouvi. E, ainda surpreso, emendei: Em São Paulo ninguém convidaria um desconhecido para entrar no próprio carro! Ao que ela, sempre simpaticíssima, respondeu: Você tem cara de gente boa. E não é que ela tinha razão? Sou gente boníssima mesmo. Tanto que tenho a graça, a benção, a sorte de encontrar pessoas como ela... Ela se chama Leila. Contei que estava em Florianópolis sozinho comemorando meu aniversário de cinquenta anos e ela achou ótimo. Me disse que adora ficar sozinha. Aliás, vive sozinha, nunca se casou, me disse. É funcionária pública, trabalha da uma às sete, gaúcha de Canoas morando há dezesseis anos em Floripa. Quando falei do restaurante que estava procurando, se prontificou a me deixar lá. Quando perguntei sobre Santo Antonio de Lisboa, onde estou agora bebendo chardonnay e comendo ostras frescas de frente para o mar, me disse que se não tivesse compromisso me levaria na hora. Lembrei de uma outra vez que estive em Floripa, nos anos oitenta,e ia encontrar amigos de Soledade que estavam hospedados na casa de uma amiga em comum. Cheguei tarde da noite na cidade, não consegui encontrar a casa, na época não havia internet, celular, nada. Fiquei perambulando pelas ruas do centro até que vi uma Kombi com um cara colando cartazes, aqueles lambe-lambes que anunciam shows, e ele me disse: Vem comigo, dorme na minha casa e amanhã você procura a casa dos seus amigos durante o dia. Fui morrendo de medo. Cheguei na sua humilde residência, em um morro de Florianópolis, a mulher do cara nos recebeu e disse: Amanhã tu tomas café da manhã e vai procurar teus amigos, daí. Leila me fez lembrar também dos solitários personagens de Haruki Murakami, que não me canso de citar aqui no blog. Estranha visão de uma cidade que só conseguia imaginar compartilhada, social... Talvez os nossos caminhos nunca mais voltem a se cruzar. Talvez Leila nunca venha a ler essas linhas. Mas é tão confortador saber que ela existe! Saber que existem pessoas como ela, como o cara da Kombi, nesse mundo em que todos estão cada vez mais voltados para o próprio umbigo. Sua maneira aberta de ser e, principalmente, sua disposição para ajudar o próximo sem nenhum interesse, apenas por altruísmo, me emocionaram demais. Nos despedimos com um abraço e dois beijos, ela me desejando muitas felicidades nos meus cinquenta anos. Eu disse que ela era um anjo que veio para me ajudar na minha chegada aos cinquenta. Ela me disse que já tem cinquenta e três. E eu que lhe dava apenas quarenta e poucos... Na foto, as ostras, o vinho e o cachorro dormindo em Santo Antonio de Lisboa.

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