sábado, 22 de maio de 2010


O TEMPO NÃO PARA


Ao passar por lugares que eram as minhas referências à época em que morava aqui em Paris, o bar, o banco, a padaria, o supermercado, a estação de metro, e ver que continuam todos lá, como eram há vinte anos atrás, sou tomado por uma emoção estranha, quase indefinível, não é ruim, mas também não é de todo boa. Talvez porque esteja acostumado a ver, no Brasil, tudo mudando o tempo todo, a constatação dessa permanência das coisas me faz perceber, de forma indisfarçável, que pra mim o tempo passou...Que nesses vinte anos eu mudei, envelheci, a minha juventude acabou, não está mais aqui, comigo. Felizmente consegui realizar a maior parte das coisas que sonhava fazer naquela época, o que já é um grande consolo. Imagino que para os que tiveram seus sonhos frustrados, essa constatação deva ser bem mais difícil de assimilar. Em seguida entro em uma pequena rua que ainda não conhecia e uma torrente de novidades me traz de volta a satisfação da maturidade. Percebo, então, que a (temida) passagem do tempo, no meu caso, não fez mais que aprimorar o que já era bom, modestie à part. E me dedico a fazer coisas que, à época, não podia e que adoro: Sentar, por exemplo, no terraço de um restaurante para tomar champanhe no meio da tarde. Acho chique. Ir à Comedie Française assistir à montagem de um clássico da dramaturgia francesa ou universal. Acho digno. Aliás, acho incrível um teatro nacional que mantém um repertório em cartaz apresentando, alternadamente, várias peças ao mesmo tempo. Sento para jantar enquanto ainda está claro lá fora e isso me lembra minha juventude em Soledade...Meu pai acordava muito cedo para ir pro campo trabalhar, por isso dormia cedo e, consequentemente, jantava cedo também: às sete. O máximo de atraso que aceitava era sete e meia. Por isso, no verão, ainda era dia enquanto jantávamos. Eu achava ótimo, pois combinava de encontrar meus amigos na praça às oito e meia e, como tomava vinho com meu pai no jantar, já subia no clima. Subir, em Soledade, significa ir para o centro da cidade. Olha o tempo passando de novo, só que agora para trás... Lembro também que, quando morava aqui, amigos em comum marcaram um encontro para que eu conhecesse a atriz Tonia Carrero, que estava de férias em Paris. No caminho para o tal encontro, achamos um colchão na rua em ótimo estado e resolvemos levá-lo para casa, pois estávamos precisando de um. Aqui em Paris se faz isso, viu? Só que o colchão era muito pesado, não foi fácil transportá-lo, me atrasei, e quando cheguei ao local marcado, Tonia já havia partido...Porém, deixara um bilhete para mim com os seguintes dizeres: “Bob, teria sido lindo ter te conhecido em Paris, um abraço, Tonia Carrero”. Guardo o bilhete comigo até hoje e prometo que quando voltar ao Brasil vou fotografá-lo para postar aqui no blog. Olha o tempo de novo...Cazuza tinha mesmo razão: ele não para!

5 comentários:

  1. ah!.. eu aqui no Arouche...

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  2. O melhro do tempo nao parar e ter do que lembrar e ter vivenciado, nossas vidas nao andam para traz, mas buscar na nossa memoria oque fizemos la atraz e ver que oque fizemos ou vivemeos valeu a pena e tudo de bom! Aproveite, Sente-se no meio tarde e brinde com champanhe todas a suas conquistas, que nao sao poucas e que so vc sabe oquanto foi dificl chegar ai! Beijos, LU

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  3. fez bem.... melhor passar a noite com um bom colchão do que com a tônia carrero!

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  4. O problema é que um colchão não dura para sempre, já a Tônia Carrero...

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