quarta-feira, 19 de maio de 2010


LE DUPLEX

Quando morei aqui em Paris no começo dos anos noventa, sempre ia a um bar chamado Duplex. Ele fica no Marais, atrás do Beaubourg, na rue Michel Le Comte. Quando digo que sempre ia, quero dizer todos os dias. Ou melhor, todas as noites. E ficava até fechar, às duas horas da manhã. Conhecia todo mundo: os frequentadores, os garçons, o barman. Aliás, o barman, na ocasião, era um brasileiro: Carlos, hoje já falecido. Além de barman, Carlos era excelente DJ, animando nossas noites com música da melhor qualidade. Brasileira, inclusive. Lembro que fui conhecer o Duplex, por indicação de um amigo, numa noite de carnaval. Eu disse pra minha amiga Pati: hoje é carnaval no Brasil e felizmente estamos em Paris!! Não quero saber de carnaval. Chegando no Duplex, surpresa: estavam tocando velhas marchinhas de carnaval! De Carmen Miranda a Emilinha e Marlene. E ali começou nossa amizade com Carlos. Quando voltei para o Brasil, um ano depois, fui ao Duplex me despedir e carlos gravou uma fita K7 pra mim, com músicas maravilhosas, que guardo até hoje. O Duplex continua funcionando, firme e forte, e a seleção musical continua ótima, mesmo sem o Carlos. O funcionário mais antigo, atualmente, creio que é o Alex. Com suas variações de humor que vão da simpatia mais explícita, com direito a bonsoir, ça va bien e selinho, até a mais completa antipatia, sem direito a nem mesmo um olhar. Mas tudo bem, faz parte do folclore do bar. Apresentei o Duplex ao meu amigo João na época em que morava aqui e ele também se tornou habitué. Só que o João continua indo ao Duplex até hoje. Há vinte anos... Conhece todos os frequentadores e conversa com todos. Exceto nas noites de sábado, quando o bar é tomado por visitantes ocasionais, como acontece em quase todos os bares do mundo. Quando morava em Paris recebi a visita do escritor Caio Fernando Abreu, que voltava de uma temporada em Londres e me procurou através de um amigo em comum, Luiz Arthur Nunes. Levei o Caio no Duplex e ele também adorou. O legal do Duplex é que ele não é um daqueles bares gay de caçação explícita e sim um lugar para se conhecer pessoas e conversar. É claro que, dependendo do intuito de cada um, tudo pode rolar. Mas, provavelmente, começará por um bom papo. Ocasião irrecusável para se praticar o idioma francês...

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