quarta-feira, 28 de julho de 2010



JIMMY SCOTT

Eu estou apaixonado por Jimmy Scoth. Melhor dizendo: pela sua voz. E, sobretudo, pela sua interpretação. Que transforma as canções de modo a apropriar-se delas. Quem me apresentou à música de Jimmy Scott foi meu amigo João Faria quando estive, mais uma vez, hospedado em seu apartamento em Paris. Quem acompanha esse blog sabe da minha ligação com a música, da minha enorme admiração por pianistas, compositores, cantoras e cantores. Vem desde criança. Sabe, também, que comecei a estudar piano aos nove anos motivado pela imagem de Elton John todo emplumado e com óculos purpurinados tocando um enorme piano branco que vi ta TV. Até hoje não sei se a motivação principal foi a música em si ou o look estravagante do pop star. De qualquer maneira, foi um bom meio que justificou um bom fim. Só teria sido melhor se eu tivesse concluído os meus estudos de piano, teoria e solfejo – que interrompi aos quinze anos de idade – e me tornado um músico profissional. Mas isso já é uma outra história. Está no campo das frustrações, aliás, excelente tema para um post futuro. Mas, voltando a Jimmy Scott, um dos maiores expoentes do jazz vocal do século vinte. Ele já estava bem velhinho, com mais de setenta anos, quando Lou Reed – sempre ele – o redescobriu e produziu um álbum incrível onde Jimmy interpreta standards do pop com roupagem jazzistica. Acompanhado, evidentemente, dos melhores músicos de jazz. É indescritível. Só ouvindo. E, por favor, ouçam. Sua voz soa como um lamento. Aguda, mas forte. Andrógina e intensa. Lembra Nina Simone. Suas interpretações para Jealous Guy, de John Lennon, e Nothing Compares 2 U, de Prince, já gravada por Senéad O'Connor, são, como diria Cida Moreira, canções para cortar os pulsos. Daquelas que a gente precisa reservar um tempo dentro da agenda especialmente para escutá-las. Preparar a luz – que deve ser baixa, indireta – servir um drinque e se entregar. Desligue tudo, computador, celular, qualquer possível interferência. Desligue-se também, se for possível. E dedique-se a um dos maiores prazeres que os nossos sentidos podem nos proporcionar. Pode parecer exagero, coisa de quem não tem o que fazer e até é. Mas é bom demais. Se lágrimas brotarem, por favor, não as reprimam. Deixem-nas correr soltas. Vocês vão ver, faz um bem danado à alma. Depois passa, é só trocar o CD. Colocar, sei lá, uma marchinha de carnaval, da sua coleção de MPB. ( Confesso que meu impulso inicial foi sugerir Banda Eva ou Claudia Leite, mas é óbvio que quem, como eu, curte Jimmy Scott ou Ella ou Billie ou Nina, não teria em casa um CD desses artistas ).
No mais, só me resta dizer: aprecie com moderação. E não esqueçam: Eu avisei que era de cortar os pulsos...

2 comentários:

  1. Roberto,
    Eu também adoro o Jimmy Scott. Não sei se você sabe, mas ele tem uma doença rara chamada Mal de Kallmann que o acometeu quando criança e bloqueou seu desenvolvimento. Por isso ele é tão pequeno e sua voz é tão especial. Apesar da idade, a voz parou de desenvolver na pré-puberdade e às vezes lembra um timbre feminino, outras vezes soa mesmo quase infantil. Eu me emociono quando ouço.
    Abraço,
    Luciano.
    Muque de Peão

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  2. Luciano,
    Adorei seu cometário. Não sabia desse detalhe que, no meu ver, o torna um artista ainda mais especial. Obrigado pela informação.

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