sexta-feira, 16 de julho de 2010


O ASSUNTO DO MOMENTO

Quem me conhece sabe que não gosto de dirigir e que não tenho carro. Sou, portanto, um pedestre e um usuário do transporte público. E como tal, ando muito à pé, de ônibus e de metro. A consequência disso é que ouço muitas conversas e acabo sabendo sobre o que o povo anda falando. E não dá outra: o tema das conversas é sempre o “assunto do momento”, ou seja, o que está sendo veiculado pela mídia. E invariavelmente oscila entre Big Brother, carnaval, copa, eleições e algum crime que tenha chocado a opinião pública como, por exemplo, o da família Richtofen, dos Nardoni e, mais recentemente, o do goleiro Bruno, do Flamengo. Grupos mais seletos discutem temas como a aprovação da união civil entre pessoas do mesmo sexo na Argentina ou a proibição do uso da burca em território francês. É claro que se o assunto for, por exemplo, Copa do Mundo, as conversas não se restringem a futebol, seleções e técnicos, mas se estendem a toda uma gama de micro-assuntos paralelos ao assunto principal, tais como: vuvuzelas, casaco do Dunga, jabulani, e, evidentemente, o polvo vidente. Me lembro que no mes de janeiro eu estava em Salvador e Morro de São Paulo e o assunto lá era um só: Big Brother Brasil. “A Maroca não é a cara da Ivete? É, mas a voz dela é insuportável. Aquela Lia é do mal, ela tem que ser eliminada!”. E não nos enganemos: o papo é o mesmo em qualquer roda. Dos camelôs e cobradores de ônibus aos frequentadores do Spot. E os assuntos do momento são sempre comentados com expressões estrangeiras usadas pelos personagens étnicos da novela do momento. E dá-lhe hare baba e inchalá! Sem falar no insupotável rebolation...
Parafraseando minha amiga Agnes Zuliani eu pergunto: É relevante? Ao mesmo tempo, não aguento mais aquele velho e desgastado discurso de que somos manipulados pela Rede Globo. Até fomos. E durante um bom tempo. Mas não acredito que ainda sejamos. Não hoje. Não depois do avanço tecnológico representado pela criação do controle remoto. Sem falar na TV a cabo que, sei, não é para todos. Apesar de as antenas parabólicas pipocarem nas favelas.
Acho tão bom ter os meus próprios assuntos, falar dos meus interesses e divulgá-los aos meus amigos. É sério, tenho amigos que adoram, por exemplo, encontrar comigo para saber o que ando ouvindo, quais são os cantores e cantoras que descobri, quais os livros que estou lendo. Seria tão bom se todos procurassem os seus próprios valores e referências ao invés de somente repetir o que ouvem há séculos...Quando entra a igreja no meio, então, a coisa piora significativamente. Tem gente que paga para seguir valores obsoletos. Mesmo com líderes religiosos presos por desvio de dinheiro e formação de quadrilha! Mesmo com todos os escândalos de pedofilia na igreja...Às vezes fico com a impressão de que somos um imenso rebanho de ovelhas, guiadas por um pastor que determina tudo o que devemos fazer e, sobretudo, pensar. Ou melhor, NÃO pensar. Seremos??

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