segunda-feira, 5 de setembro de 2016

RUA DOS CATAVENTOS

Que falta faz Mario Quintana. Descobri isso hoje pela manhã enquanto aguardava para ser atendido por minha dentista. Na verdade, minha amiga Anne que, por coincidência, é também quem cuida dos meus dentes há mais de trinta anos... Pois na sala de espera do consultório da minha amiga/dentista, ao invés de Caras ou Super Interessante, o cliente espera lendo Clarice Lispector ou Mario Quintana. Um luxo. De um requinte surpreendente nessa era de banalidades e superficialidades que vivemos. Me dei conta de que não lia Mario há muito tempo. Apesar de ter quase tudo dele em casa. É sempre bom folhear seus livros e, totalmente ao acaso, encontrar as coisas mais inacreditavelmente apropriadas. Como aconteceu comigo nessa manhã de inverno em Porto Alegre, quando folheava A Rua dos Cataventos e me deparei com os versos que transcrevo a seguir:
"Eu nada entendo da questão social. Eu faço parte dela, simplesmente... E sei apenas do meu próprio mal, que não é bem o mal de toda a gente.
Nem é deste planeta... Por sinal, que o mundo se lhe mostra indiferente! E o meu Anjo da Guarda, ele somente, é quem lê os meus versos afinal"...
Me deu uma enorme saudade de quando eu era jovem e vivia aqui na capital gaúcha. Não raro eu encontrava com o poeta pelas ruas do centro da cidade. Ou quando ia buscar minha irmã, que era jornalista e trabalhava no Correio do Povo, e o via pelas dependências do jornal. Ou na Feira do Livro, na Praça da Alfândega. Naquela época a gente não fotografava tudo obstinadamente como se faz hoje em dia, por isso não tenho foto com ele. Mas tenho seu autógrafo e dedicatória em livros e num caderno meu no qual ele me chama de colega, pois eu me dizia poeta na ocasião... Bons tempos! Fiquei lembrando do meu livro de leitura do curso primário, que trazia em uma das páginas o seu poema Dorme Ruazinha... É tudo escuro!... Não consigo imaginar sua delicadeza em meio à descortesia reinante nos dias atuais. E, para encerrar citando o próprio, "eles passarão; eu, passarinho"...
Na foto, Quintana em seu habitat natural: As ruas do centro de Porto Alegre.

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