segunda-feira, 14 de abril de 2025

ÚLTIMO SONHO

Fim de domingo com Almodóvar… Não me refiro a seus filmes, mas à leitura da obra O Último Sonho, uma coletânea de doze contos do cineasta espanhol. Sou fã de Pedro Almodóvar num grau meio difícil de mensurar, algo que beira a mais louca obsessão. Referindo-se a esse livro, ele diz ser o mais próximo que já chegou de uma autobiografia. Não há como não concordar, Almodóvar é quase sempre muito autobiográfico no que quer que faça. Mesmo quando não fala necessariamente de si mesmo: Pode ser da mãe, da Espanha, de uma cantora de boleros, de um livro que leu ou de algum filme a que assistiu. E eu, pela total identificação, quase sempre acabo acreditando que fala de mim. Como no conto Romance Ruim, no qual discorre sobre a vontade que tem de escrever um romance, ainda que não seja o romance ideal. Fala também da necessidade que sente de estar com pessoas e conhece-las, o que também me reflete bastante. Eu tenho essa necessidade e espero nunca vir a perde-la. Assim como a vontade de sair, de ver coisas, viver coisas, descobrir coisas novas e me conhecer melhor através delas. Ou pelo menos, como cantou Rita Lee, saber que “enquanto estou vivo e cheio de graça, talvez ainda faça um monte de gente feliz”… No fim de semana que hoje se encerra estive com amigos queridos, assisti a espetáculos de teatro, comemorei com minha amiga Pilly Calvin, que há anos não encontrava, o seu aniversário. Saí da minha rotina de novo idoso, me sacudi, me testei, descobri limites e restrições. Nada que me impeça de ir em frente. Gosto muito da vida, de estar nela. Dia desses, visitando minha amiga e "ídola" Cida Moreira, que se recupera de uma lesão no braço, enquanto conversávamos cheguei à conclusão de que tenho (temos) uma conexão com a vida. Com o estar vivo. Acordar pela manhã e ser grato por estar ali. Pelo dia que começa. Pela luz do sol de outono que invade a janela. Isso. E muito, muito mais… Meu aniversário se aproxima e eu, taurino que só, me ponho a contar os dias e a comemorar antecipadamente. Que a nova idade que chega me dê mais vontade de estar vivo. Apesar de. Além de. Através de. E sobretudo…. Quando digo que não me refiro aos filmes, mas à leitura do livro, minto. Na semana que passou revi O Quarto ao Lado, que agora está disponível na Netflix. Mesmo sem o impacto da grande tela do cinema o filme mantém sua força. E muito do que escrevo agora também é fruto de te-lo revisto. Como podem perceber, Pedro Almodóvar me influencia sempre e de todas as maneiras… Bon avril à tous! Na foto, a capa de O Último Sonho.

quarta-feira, 9 de abril de 2025

MACÁRIO

Volto aos posts relativos às minhas direções em teatro. Achei que já tinha escrito aqui sobre todas elas, mas me dei conta de que faltaram algumas… Meu trabalho de conclusão do curso de direção na faculdade de Artes Cênicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul foi uma adaptação do Macário, de Álvares de Azevedo, no segundo semestre de 1989. Eu já tinha feito muito sucesso com meu trabalho anterior, a Lisístrata de Aristófanes, que me rendeu os prêmios Açorianos e Sated de melhor diretor e o troféu Scalp de teatro. Decidi então fazer algo mais cult, low profile, para poucos mesmo. Apenas três apresentações, à meia-noite, no teatrinho do Dad, do qual retirei algumas poltronas para limitar ainda mais o número de espectadores. Para o papel título escalei o então iniciante Fernando Washburger, que despontava como promessa de jovem ator. No papel de Satã, o antagonista, a talentosíssima Lucia Serpa e, se desdobrando em todos os personagens femininos, a não menos talentosa Ciça Reckziegel. Explorando todo o espaço cênico e a plateia, minha encenação tinha marcações nada realistas. O que conferiu um certo ar expressionista/pós-moderno ao espetáculo. (Eu estava numa fase Gerald Thomas/Bob Wilson, buscando o teatro de imagens, mais experimental e menos popular, digamos assim). Muito dessa atmosfera devo creditar à incrível iluminação concebida pelo saudoso Hermes Mancilha. Com pouquíssimos refletores e uma criatividade sem limites, ele transformou em sonho tudo o que tocou. E em realidade tudo o que sonhei... A peça teve a participação de Guto Vilaverde, nu, em uma inusitada Pietá nos braços de Ciça Reckziegel. Marlene Goidanich se encarregou da preparação vocal e da belíssima sonoplastia. Meu professor orientador foi o querido Beto Ruas, de quem guardo lembranças de muita identificação e afeto. Minhas colegas Nora, Ilana e Lucia me ajudaram na produção e Nora se encarregou dos figurinos. Infelizmente não tenho nenhum registro do espetáculo. Quem viu, viu. Antonio Holfeldt fez uma inspirada crítica no jornal Correio do Povo, falando de Macário e da importância do DAD/UFRGS. Claudio Hemmann assistiu, assim como várias celebridades locais. A diretora Bia Lessa, que estava em cartaz na cidade, foi assistir e, depois da peça, disse que tinha achado o diretor “um gatinho”, o que me deixou lisonjeado rsrsrs… Gosto muito deste meu trabalho, como diretor é um dos meus preferidos. Uma pena que não tenha sido gravado nem fotografado. Mas, como tudo na vida é transitório, a própria vida inclusive, registro aqui como tentativa de preservar a memória dos meus espetáculos. Nas fotos, o programa do espetáculo; feito artesanalmente como quase tudo o que fazíamos à época; nosso teatro, inclusive.

segunda-feira, 31 de março de 2025

TEATRO DOS BONS

Ontem fui assistir pela segunda vez a O Antipássaro, espetáculo solo do ator Nilton Bicudo, com textos da poeta Orides Fontela e direção de Elias Andreato. Nesta nova temporada no Teatro Ágora há uma pianista executando ao vivo a belíssima trilha sonora. O que já era bom ficou ainda melhor. Niltinho exala talento pelos poros. Sua entrega ao texto e ao teatro em si é extremamente tocante. Nunca fui muito fã de poesia, ainda mais no teatro. Mas ele se apropria com tamanha força das palavras de Orides que elas nem soam como poemas, mas como grandes verdades que tocam a plateia e calam fundo nos que se permitem aprecia-las. Além de dizer os poemas, Nilton também dá voz à própria Orides com falas extraídas de entrevistas que ela deu para a televisão em programas como o de Jô Soares, por exemplo. É quando o ator acrescenta delicadas doses de humor ao lirismo do espetáculo. Nisso, diga-se, ele é mestre. Vide a sua inesquecível performance em Myrna Sou Eu, outro solo em que dava vida ao pseudônimo feminino de Nelson Rodrigues. Esse Antipássaro é uma pequena joia ornada das mais belas filigranas. A noite de domingo e o mês de março foram encerrados de maneira brilhante... Na quinta-feira fui assistir a Não Me Entrego, Não, espetáculo do ator Othon Bastos, que impressiona pela vitalidade e lucidez aos noventa e um anos de idade. Desde que entra em cena e é imediatamente aplaudido até o final de quase duas horas de peça, ele dá um show de carisma e talento puro. Com roteiro e direção de Flávio Marinho, o espetáculo revisita a longa e profícua carreira deste grande ator dos palcos, da televisão e do cinema. Uma aula de cultura brasileira. E a agradável sensação de que a passagem do tempo a tudo melhora... Tão bom quanto fazer teatro é assistir a teatro dos bons, como esses dois inesquecíveis espetáculos que tive o prazer de ter ido essa semana. Longa vida a O Antipássaro e a Não Me Entrego, Não! Nas fotos, Niltinho e Othon bastos recebem os merecidíssimos aplausos.

domingo, 16 de março de 2025

ELIS 80

Hoje é domingo e eu estou bebendo vinho branco e ouvindo Elis. Até aí, nada de novo. Quem me conhece sabe que beber vinho branco e ouvir Elis são duas das coisas que mais faço na vida. O que há de especial é que, se ainda estivesse viva, Elis completaria oitenta anos amanhã. Como eu normalmente não bebo às segundas-feiras, adiantei a comemoração para hoje… O engraçado é que tudo hoje é diferente. Ouvir Elis, comemorar seu aniversário e, até mesmo, beber vinho branco. Costumava comemorar essa efeméride com minha amiga Anne, no apartamento dela, na época em que éramos vizinhos na rua Garibaldi, em Porto Alegre, na década de oitenta do século passado. Hoje estou comemorando sozinho no meu apartamento da Alameda Franca, em São Paulo, onde já moro há 29 anos; e onde, diga-se de passagem, seria vizinho de Elis, que morava há poucas quadras daqui, na rua Doutor Mello Alves... Hoje ouço Elis com muito mais prazer. O prazer de fruir das sutilezas e nuances da sua interpretação, dos arranjos, das letras das canções. Aliás, isso seria um post à parte, a qualidade e beleza das letras das canções que se perderam com o tempo por aqui. Ela teria um trabalho pesado para garimpar algo que prestasse para gravar hoje em dia. Pérolas como os versos de João Bosco e Aldir Blanc na canção Cabaret: “No drama sufocado em cada rosto, a lama de não ser o que se quis” ela não encontraria por mais fundo que mergulhasse… Beber vinho branco também é uma outra experiência hoje em dia. A começar pela qualidade do vinho que bebíamos na época e a do que bebo hoje em dia. Junte-se a isso os anos vividos, as experiências adquiridas, as viagens, as memórias, misture bem, deixe descansar e aprecie com moderação (Não muita)… Depois de ter ouvido vários de seus álbuns, ter se emocionado, se divertido e ter tido mais uma vez renovada a certeza de que Elis era a maior cantora do Brasil, feche os olhos e grite bem alto (nem que seja para dentro ou contra uma almofada): Viva Elis Reginaaaaa!!!! Nas fotos, Elis fotografada por mim no show Saudade do Brasil, no Canecão, e pela lente da genial fotógrafa Vânia Toledo que, infelizmente, também já nos deixou, para a capa do novo disco que não chegou a lançar.

segunda-feira, 10 de março de 2025

ADELAIDE BACALHAU

Domingo pela manhã, enquanto preparava o almoço, me deparei com uma postagem no Instagram que trazia uma sugestão para você criar o seu nome de drag. Bastaria juntar o nome da sua avó com a última coisa que você comeu. Minha avó materna, a única que conheci, se chamava Adelaide. Eu estava preparando um bacalhau e, como tinha provado diversos bocados dele enquanto cozinhava, não deu outra: Meu nome drag virou Adelaide Bacalhau. Gostei tanto que fiquei rindo sozinho diante do fogão. Achei meio parecido com nome de chacrete (millennials, dêem um Google) ou de vedete do teatro rebolado (idem, idem)… Depois fiquei pensando em como seria a minha drag queen, como se definiria a sua personalidade. Acho que ela não seria muito dada nem muito simpática. Seria bem exigente, um pouco chata, mesmo. Metida. Blasé. Não toleraria erros de português. Escritos ou falados. Não teria muita paciência para as trends e memes da internet. Já estaria de saco cheio de todos esses jargões relacionados a Fernanda Torres: nós vamos sorrir, sorriam, totalmente não sei o quê, a vida presta (esse, aliás, até a própria já não deve aguentar mais)… Em peças de teatro e em filmes que considerasse chatos, Adelaide Bacalhau certamente se levantaria e sairia na metade. Ou antes, até... Se ela fosse visitar essa exposição em homenagem a Ney Matogrosso que o MIS está exibindo, sairia desencantada com a pobreza e a feiúra. Imagina, um artista do quilate de Ney receber essa homenagem chinfrim! Parece que a gente está no backstage de um estúdio de televisão, tudo colado em tapadeiras, um monte de panos transparentes atrapalhando a visão! Mas, deixa quieto... Dedé Baca (vamos ser íntimos) também não aceitaria esse remake da novela Vale Tudo que a Globo está a requentar. Principalmente Humberto Carrão, com aquela cara de militante, fazendo o papel do milionário Afonso Roitman… Adelaide Bacalhau seria também muito rica. Econômica e culturalmente. Dedicaria boa parte do seu tempo à leitura de clássicos da literatura brasileira e universal. O que lhe renderia vasto vocabulário, que ela usaria só para humilhar as incultas e iletradas. Cinéfila que só, assistiria a muitos, muitos filmes e também a séries de streaming. Vestiria Courrèges da cabeça aos pés. De vez em quando Paco Rabane ou Pucci. Ah! Só frequentaria eventos sociais como convidada, jamais se submeteria a fazer recepção ou animação de festas! Coisa mais cafona... Pensando bem, Adelaide Bacalhau, minha persona drag, seria muito parecida comigo. Na verdade, eu mesmo. Só que com peruca, cílios postiços, salto alto e língua afiada… Nas fotos, a eterna chacrete Rita Cadillac e o modelito Courrèges vintage preferido de Adelaide.

terça-feira, 4 de março de 2025

MARÇO SOLAR

Abre a porta e a janela e vem ver o sol nascer! O mês de março entrou solar e superaquecido, desmentindo a canção de Tom Jobim que fala das águas de março fechando o verão. Entrou, também, supercarnavalizado. Eu, que já tinha jurado nunca mais participar da folia, no domingo pela manhã acabei me jogando no vintage e singelo bloco Somos Todos Carmen, do meu amigo Rafael Leidens, que presta homenagem à eterna Carmen Miranda, símbolo do sucesso do Brasil no exterior. Fazer o quê? Minha carne é de carnaval, meu coração é igual e tudo e talz. Fui fantasiado de Gal Tropical, homenageando nossa outra diva, Gal Costa, provando que, como diz o nome do bloco, Somos Todos Carmen mesmo. Me diverti horrores, revi amigos queridos, dancei pencas, só não fiquei mais tempo porque o salto da sandália quase me matou. Da próxima vez vou inventar uma fantasia com tênis... E nem tudo é folia no carnaval de São Paulo. No sábado à tarde fomos assistir ao impressionante espetáculo Sagração, da Cia. Deborah Colker, acompanhada pela OSESP, que executou ao vivo a trilha sonora na não menos impressionante Sala São Paulo. Inspirado em A Sagração da Primavera, de Stravinsky, o espetáculo mescla trechos da composição original com sonoridades e cânticos indígenas brasileiros. Emocinante, para dizer o mínimo. Deborah segue se reinventando e se superando sempre. À noite ainda fomos no esquenta pré-desfile chez mon ami Edson Cordeiro, para ver o mago dos pincéis Cabral realizar a maquiagem do anfitrão, que desfilou ao lado do marido Oliver na Estrela do Terceiro Milênio, escola de samba paulistana cujo enredo prestou homenagem à comunidade LGBTQIAP+ (me perdoem se faltou alguma letra na sigla)... E no domingo também teve filme brasileiro premiado com o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro! Merecidíssimo reconhecimento da academia de cinema a Ainda Estou Aqui, obra irretocável de Walter Salles. Já estou louco de vontade de ir ao cinema rever... Para fechar a folia momesca com chave de ouro, hoje, terça-feira gorda (vamos dizer mardi gras, para não ferir suscetibilidades) tivemos almoço mexicano chez mon ami Tude Bastos. Tude e seu marido Peter receberam os amigos com animados drinks e tacos e guacamoles regados a muita música e boas conversas até o entardecer do último dia de carnaval. Voltei para casa cheio de esperanças e ilusões, mas certo de que todo carnaval tem seu fim... Para encerrar, uma daquelas coisas que chegam pra gente na internet e que não tem como não compartilhar: Perguntada se tamanho para ela é documento e se prefere um pequeno brincalhão ou um grandão bobão, uma travesti responde: Prefiro um que pague! Pagou já me ganhou, eu me entrego, eu me dedico, eu dou a vida! Rsrsrs... É a mais pura verdade, queridos leitores. Sabedoria popular, muito melhor do que auto-ajuda. Na vida a gente precisa se entregar, se dedicar, dar a própria vida. É claro que a recompensa nunca será a mesma para todos, por maior que seja o esforço. Tem gente que persegue um sonho a vida inteira e não consegue realizá-lo. Outros, por muito menos, conseguem tudo. Mas, como dizia Nelson Rodrigues, sem paixão não dá nem para chupar um picolé, não é verdade? Vamos seguir tentando. A gente não precisa mirar no Oscar, evidentemente. Mas há tantas outras coisas legais para conquistar! Fica a dica para esse ano que finalmente começa por aqui. Bom mês de março a todos! Na foto, eu encarnando Gal no bloco Somos Todos Carmen.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

FRAGMENTOS

No bloco de notas do meu celular tenho uma pasta chamada: Fragmentos para o blog. Lá coloco frases, ideias, trechos para serem desenvolvidos em futuros posts. Percebi que alguns deles já estavam lá há tempos e ainda não tinham sido desenvolvidos. Transcrevo-os aqui, como fragmentos mesmo, para dar uma ideia de como um post às vezes começa... -Paris é uma cidade muito linda. Quem não a conhece ou, pelo menos, não a conhece muito bem, talvez não saiba como ela se desenha. É mais ou menos assim: Existe a Paris entre muros, que é a cidade preservada tal como era no seu auge, e a Paris moderna dos bairros que a cercam, os banlieus. O que tenho a dizer em sua defesa é que a cidade é sempre linda. Mesmo quando mais ao sul, Paris se parece com São Paulo. É o caso de Vanves. Se você sai no terraço de um prédio nesse bairo da capital francesa você jura que está em São Paulo. Já fui muito mal interpretado quando disse isso a um francês morador do bairro. Mas, como eu amo Paris e amo São Paulo, acho as duas cidades lindas. E compará-las, para mim, sempre será um elogio... -Muito difícil falar de O Quarto ao Lado, o novo filme de Almodóvar, sem dar spoiler. Bem, é muito difícil falar dele. Não o digeri ainda, estou sob o impacto do filme. Qualquer pessoa que tenha mais de quarenta anos já viveu um grande amor, já teve desilusões e, certamente, já perdeu pessoas amadas. É também nessa fase, digamos “o outono da vida”, que a gente se conscientiza mais da inevitabilidade da morte; e tem a percepção de que ela está cada vez mais próxima. Ainda assim, parece que nunca estaremos preparados para lidar com ela. Decidir, então, sobre ela, menos ainda. Ousar programá-la, escolher dia, hora e local nem pensar. Envolve crenças religiosas, leis, tabus, preconceitos e uma série de impedimentos. Levanto aqui tudo isso porque também me incluo no rol das pessoas que tem dificuldade de lidar com a morte. Sofri muito com todas as pessoas amadas que já perdi e sofro só de pensar que uma hora qualquer irei me perder também. Pois é disso que o filme trata. A personagem de Tilda Swinton está com câncer terminal e, exausta de sofrer com o tratamento, decide morrer. Ao contrário da Suíça, que permite a eutanásia assistida, nos Estados Unidos, onde se passa a história, ela é considerada crime. A personagem convida uma amiga que não via há anos para ser sua acompanhante nos dias finais da sua existência. Ah, e consegue a pílula letal na deep web, de maneira totalmente ilícita. Juro que eu não queria ser a pobre dessa amiga... -Nesse momento, em que tanto se discute a inteligência artificial, resolvi falar do seu oposto: A burrice natural. Diferente do seu antônimo, ela não precisa ser criada ou recriada por programas de computador; nasce com a pessoa e, através dela, se espalha contagiando toda a manada. Digo, a galera. E, dessa forma, sempre que algo aponta para o desenvolvimento, para a expansão, para a evolução ou para a transcendência, a burrice natural naturalmente (com o perdão da redundância) se expressa de maneira opositora... -Bateu legal? Bateu gostoso? Perguntou o senhor idoso ao seu amigo, idoso também como todos os ocupantes da mesa do bar. Ele se referia a um shot de cachaça que o outro acabara de sorver. Sim, respondeu o amigo. Ainda bem, porque na nossa idade o prazer é esse: A cachaça, a comida, os amigos. E prosseguiu: Quando meu pai perdeu o meu irmão ele ficou muito triste. Quando perdeu a minha irmã, ele desacreditou completamente de Deus. Quando a gente perguntava pra ele de Deus, ele respondia: Se Deus existe, se existe algum deus, ele coloca a gente aqui no mundo e diz: Se vira! Posso te fazer uma pergunta? Os seus filhos são exatamente o que você queria que eles fossem? Nessa hora o meu drink bateu e perdi a continuação da conversa... -O ônibus demorou horrores para passar. Fiquei fritando no sol escaldante de fim de verão. Ainda bem que pelo menos meu rostinho e minha calva estavam protegidos pelos óculos escuros, o chapéu e o protetor solar. É claro que quando ele finalmente chegou retirei o chapéu para que os demais percebessem minha idade avançada - evidenciada pela brancura dos poucos cabelos - e me deixassem passar na frente... Por hoje é só! Acho que faz juz ao título, não? Nas fotos, anoitecer em Paris e as divas de Alomdóvar em O Quarto ao Lado.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

1978

No poster fixado na parede branca do apartamento, Mafalda - a personagem de Quino - aponta para o cacetete de um policial e diz: Esta é a borracha de apagar ideologias; à direita do poster, completando a composição, uma samambaia de metro pende do teto até quase ao chão, no qual repousam almofadões sobre o carpete que reveste a sala do apartamento. No toca-discos, um LP de Chico Buarque gira cantando “meu caro amigo eu não pretendo provocar nem atiçar suas saudades, mas acontece que não posso me furtar a lhe contar as novidades” antecedendo um de Milton Nascimento que aguarda na pilha de discos para ser rodado... O colégio novo da capital me assusta. Ando cabisbaixo pelos corredores, tentando não chamar atenção. Os meninos do segundo e do terceiro ano são cruéis, terríveis, não poupam ninguém. Alguns da minha sala também são. Morro de medo de ser obrigado a jogar futebol nas aulas de educação física. Felizmente estão oferecendo judô como opção. Assim me inscrevo e chego até a faixa amarela. Ano que vem não sei mais... Faço teste e sou aprovado para participar do grupo de teatro do colégio, cujos ensaios são à noite. Eu morava no Bom Fim e o colégio era no centro. Eu ia e voltava a pé para os ensaios, sozinho, tarde da noite, com apenas quinze anos de idade. Sendo que aparentava muito menos, quase uma criança de doze. Por incrível que pareça aos olhos de hoje em dia, a noite me acolhia. Entre os esquisitos, malucos e desviados do teatro eu era apenas mais um. O problema era o dia, cheio da crueldade dos intolerantes e preconceituosos que me rotulavam (para dizer o mínimo)… O bom eram os amigos, a convivência com minhas irmãs, nossos pais que vinham do interior nos visitar seguidamente, os feriados que eu ia passar com eles em Soledade, as férias de julho e as de verão. Os shows no teatro Leopoldina, as peças de teatro (poucas, quase todas eram proibidas para menores de dezoito anos), meu professor de literatura que nos levava para assistir aos espetáculos e depois bater um papo com os artistas. Foi assim que tive a oportunidade de ver Bibi Ferreira em Gota d’Água, Fernanda Montenegro em É e Lilian Lemmertz em Patética, entre outras… Meu primeiro porre em uma festinha de amigos em Soledade. A bebida se chamava Fogo Paulista (algo profético, não?) e depois de encher a cara e passar mal me levaram pra casa e me entregaram para os meus pais. Lembro que caí de joelhos no tapete da sala, minha mãe me ergueu e não lembro mais nada… “Você sonhava que ia ser melhor depois. Você queria ser o grande herói das estradas. Tudo o que você queria ser. Sem medo”! Minha primeira paixão por um amigo. Até então só me apaixonara por meninas. E agora, como é que faz? Pode isso? Meu Deus do céu, me ajuda. Acho que prefiro morrer… Meu pai me levou no alfaiate para encomendar meu primeiro terno, para eu usar na formatura da minha irmã. Completo: calça, paletó e colete. Como o evento seria no verão, escolhi um linho beje, para usar com camisa branca. Ninguém, nem mesmo meu pai, conseguiu me convencer a usar gravata. Deixei a gola da camisa aberta, bem ao estilo de John Travolta no filme Embalos de Sábado à Noite… À tarde, as aulas de piano eram na Rua da Praia, também no centro da cidade. Sempre dava para aproveitar e comer um cachorro-quente molho e mostarda na Confeitaria Princesa ou uma bomba royal na Banca 40 do Mercado Público. (E de vez em quando comprar um bombom de cereja com licor na Kopenhagen)… O filme Chica da Silva, de Cacá Diegues, tinha mexido muito comigo um ano antes, quando ainda morava no interior. Vi que estava em cartaz no cinema de um centro comercial (o equivalente aos shoppings de hoje). Fui até lá e roubei o cartaz, que estava colado apenas com fita adesiva, em uma das vitrines do local. Mandei fazer um pôster que ficou por anos no meu quarto de Porto Alegre e depois transferi para o quarto de Soledade. Zezé Motta foi por anos meu “crush”… Eu já sabia que não cabia mais na pequena cidade do interior. Mas Porto Alegre ainda era grande demais para mim. Mais do que grande, era assustadora. Nada que o tempo, senhor de toda sabedoria, não se encarregasse de transformar: em poucos anos a Porto Alegre da minha juventude também ficaria pequena para mim e eu iria me lançar em voos ainda mais altos pelo Brasil e o mundo. Gabeira ainda nem tinha voltado do exílio com a tanga de crochê, o que iria ajudar muito nas mudanças que se seguiriam… Parece que foi ontem. Mas já faz quase cinquenta anos… Na foto, a família toda embecada para a festa de formatura da Raquél.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

FEVEREIRO CHOO CHOO

O mês de fevereiro entrou com tudo, depois de extenso janeiro quente & chuvoso, mais a cara de São Paulo impossível... O choo choo do título refere-se à expressão cantada por Caetano Veloso na canção Língua (Do álbum Velô, de 1984) e exalta a exímia e rapidíssima dicção de Carmen Miranda, nosso símbolo oficial do sucesso brasileiro no exterior na primeira metade do século passado. Atropelado por uma intoxicação alimentar que me prostrou por quase uma semana, acabei sendo impedido de comparecer à estreia da peça Gertrude, Alice e Picasso, na qual minha amiga Patricia Vilela dá vida a Alice B. Toklas, a famosa companheira da não menos famosa escritora Gertrude Stein. Falta que tratarei de reparar já no próximo fim de semana... Felizmente me recuperei a tempo de conferir o impecável show de Edson Cordeiro fazendo homenagem à nossa bombshell-mor Carmen Miranda. O repertório de Carmen caiu como uma luva na voz e na performance de Edson e ele pôs a plateia da Casa de Francisa lotada pra pular da primeira à última canção desse já histórico e inesquecível show que precisa ser urgentemente reprisado nas melhores casas do ramo. Edinho cantou acompanhado dos virtuosos e talentosíssimos integrantes do Trio Gato com Fome, que caiu como a outra mão da luva. Ah, e vestido pelo Crochê do Japa, do meu amado Weidysan, que criou um bolero preto ornado de bananas amarelas que deixou tudo ainda mais lúdico e divertido. Há tempos não me divertia tanto em um show (mesmo sem poder beber uma gota de álcool)... Ainda na velô choo choo, tenho lido muito nesse verão. Graças ao já citado aqui Biblion, a biblioteca virtual do Estado de São Paulo. Se eu já era um leitor contumaz, agora leio o tempo todo, até mesmo na bicicleta ergométrica enquanto pratico meu cárdio na academia. Gosto muito da ideia de ser fisgado por um aplicativo. Logo eu, o último dos analógicos que nem banco virtual ou aplicativo de táxi tem. O bom é que essa modernidade tem me apresentado a antiguidades que eu ainda desconhecia, como o romance brasileiro Bom Crioulo, do naturalista Adolfo Caminha. Apesar de ter sido lançado ainda no século dezenove (1895), a obra é impressionantemente moderna, tratando da homossexualidade de maneira explícita ao retratar o romance do ex-escravo Amaro com o jovem e belo grumete Aleixo. Perto de Adolfo Caminha escritores como Tennessee Williams e André Gide (que são bem posteriores, já século vinte) parecem tias velhas enrustidas... E por falar em símbolo oficial do sucesso brasileiro no exterior, Fernana Torres atualiza essa ideia no melhor estilo, não só encantando a todos com sua belíssima performance no filme Ainda Estou Aqui, mas também arrancando risadas dos entrevistadores e do público em todos os talk shows estrangeiros por onde passa. Vi na internet alguém comentar que é muito difícil ser engraçado em outro idioma. Ora, é muito difícil ser engraçado, ponto. Quem é engraçado consegue sê-lo em qualquer idioma, vide Patrícia Wood et moi, quando morávamos em Paris, e enchíamos de sorrisos a Rue des Écouffes - onde morávamos no Marais - com nosso humor brasileiro totalmente adpté au français. Engraçado também tem sido ver as pessoas na internet tentando desesperadamente pegar carona no sucesso de Fernanda. Seja postando fotos com ela de trabalhos que fizeram juntos, tietando simplesmente a atriz ou simulando uma intimidade que a gente sabe que não existe... E como fevereiro é um mês mais curto do que os outros, preciso correr para não perder mais nada além do que já perdi na minha convalescença gastro-intestinal (nunca pensei que escreveria essa palavra). Hoje pela manhã me senti indescritivelmente feliz ao tomar meu prosaico café com leite acompanhado de pão com manteiga e frios, como faço sempre e estive privado durante uma semana: Para terminar citando nosso novo sucesso internacional, tive a certeza de que "a vida presta"... Bom fevereiro a todos! Nas fotos, Edson Cordeiro canta Carmen Miranda vestido pelo Crochê do Japa, Patrícia Vilela em versão lesbian chic de Alice B. Toklas, Fernanda Torres mostra as pernas para o mundo e Carmen em si, a precursora da coisa toda.

sábado, 25 de janeiro de 2025

CASO SÉRIO

Meu caso de amor com São Paulo não é mais caso. Já virou casamento mesmo. Desde que cheguei aqui de mala e cuia em 1996 a coisa foi ficando cada vez mais séria. Como em qualquer casamento, nem tudo são flores. Às vezes brigamos, ficamos sem falar um com o outro mas, felizmente, a poeira acaba baixando e voltamos às boas... Hoje estou muito feliz comemorando com Sampa seus 471 anos. E posso dizer: Ela está uma gata! O mais impressionante é que não há rotina no nosso relacionamento: O tédio, por exemplo, é algo que passa longe. E ela segue me surpreendendo... Minha mais recente paixão é o aplicativo biblion, uma biblioteca virtual que o governo do estado oferece gratuitamente a todos os cidadãos paulistas. Logo que baixei o app me lancei na leitura (ou melhor, releitura) de Vagas Notícias de Melinha Marchiotti, do escritor paulista João Silverio Trevisan, de quem sou fã desde os remotos anos oitenta do século passado. Aliás, o romance é a mais perfeita tradução dos anos oitenta em São Paulo. Me traz muitas lembranças de quando estive aqui com meu grupo de teatro de Porto Alegre (O Tear, de Maria Helena Lopes) em 1987 e me encantei com a noite paulistana. Há filmes que retratam bem essa atmosfera, como Anjos da Noite, de Wilson Barros. E livros, como os de Glauco Mattoso... O verão de São Paulo segue inconstante & bipolar, com insanas tempestades que, do nada, a tudo devastam e alagam (ontem teve enxurrada dentro de uma estação do metrô!) para logo depois voltar tudo ao normal, como se nada tivesse acontecido. Amo-te, Sampa, volúvel e ao mesmo tempo fiel... Ontem também teve a estreia dos paulistas Ary França, Cassio Gabus Mendes e Zezé Barbosa no espetáculo Uma Ideia Genial, com direção do também paulista Alexandre Reinecke. Noite linda de comemoração entre amigos e colegas de profissão... Tem me incomodado nos programas esportivos (mais do que ver técnicos serem chamados de professores) ver times serem chamados de elenco. Poxa! Elenco sempre foi o coletivo de atores. O de jogadores sempre foi time. Náo basta o futebol ficar com o público, os patrocinadores e todo o espaço na mídia? Precisa roubar o nosso coletivo? Fica a reflexão... Termino citando Caio Fernando Abreu, gaúcho morador de São Paulo como eu: "Pode ser lugar comum, mas Sampa é definitivamente um caso de amor mal resolvido: Ela já deu na tua cara, você já deu na cara dela, você já bateu forte a porta de casa jurando vingança e nunca mais voltar! Mas voltou sempre"... Afinal de contas, como já cantou o Premê, é sempre lindo andar na cidade de São Paulo... Feliz aniverário, Sampa! Na foto, SP no traço do artista Gregório Gruber.

domingo, 19 de janeiro de 2025

BABY

Eu não dava nada pelo filme Baby, em cartaz nos cinemas. Só a sinopse tinha tudo para me fazer passar longe: Garoto sai de um centro de detenção juvenil e se vê sem rumo nas ruas de São Paulo, sem contato com seus pais e sem recursos para reconstruir sua vida. Durante a visita a um cinema pornô ele encontra Ronaldo, um homem mais velho, que ensina ao rapaz novas formas de sobrevivência. Ui! Que medo... Mas sabe aquela metáfora manjada do lírio que nasce no lodo? É exatamente isso: Baby é uma linda história de amor, amizade e empatia em meio ao mais infecto bas-fond. De onde a gente só espera violência e crime é que brotam esses sentimentos, tão raros hoje em dia. Que o centro de São Paulo é dominado pelo tráfico de drogas e pela prostituição a gente já sabe. Comigo está tudo azul, contigo está tudo em paz: Vivemos na melhor cidade da América do Sul. A novidade é o zoom que o filme faz na vida dos integrantes desses grupos. A humanidade que pulsa de maneira comovente e nada piegas ou apelativa. Os protagonistas tem muito carisma, a gente torce por Baby e Ronaldo. Queremos que as coisas deem certo para eles. Baby é jovem, frágil, abandonado, mas se vira. Ronaldo é rodado, tem casca grossa, mas é puro afeto, generosidade e ternura. Aposto que é isso que tem encantado as plateias estrangeiras por onde o filme tem sido exibido com sucesso. O mundo está frio, briguento, adorando odiar... Eu já tinha gostado de Corpo Elétrico, o filme anterior desse realizador, Marcelo Caetano. Mas Baby me surpreendeu. O filme encerra ao som da belíssima Valse, de Tom Jobim, que se não me engano foi letrada por Ronaldo Bastos e gravada por Milton Nascimento no álbum Clube da Esquina 2 com o título de Olho d'Água. Nesse verão agradável de São Paulo, com a lua minguante e nubladinha, é um bom programa para os que, como eu, ainda acreditam no cinema nacional e nas relações humanas. Pois, como canta Alcione na trilha sonora, a volta do mundo é que dói lá no fundo, a volta do mundo é questão de segundos. Enquanto isso, no bailão, Dalida canta "Laisse moi dancer" e o globo de espelhos gira... Na foto, o belo cartaz do filme.

domingo, 12 de janeiro de 2025

MANIAS DE JANEIRO

Este ano o verão está tão agradável aqui em São Paulo! Temperaturas amenas, as chuvas de sempre no meio da tarde, noites estreladas. Até parece que o aquecimento global resolveu dar um tempo por aqui (enquanto destrói a Califórnia)… Fui até a esquina comprar um ingrediente que faltou numa receita que estava preparando e vi dois caras bebendo cerveja em pé na porta do Oxxo. Na chuva. Fiquei pensando se poderia haver programa mais deprimente (Para não usar aquela expressão relativa a programa ruim, que hoje soaria politicamente incorreta). Concluí que se um amigo me convidasse para fazer isso eu terminaria a amizade no ato… Num dia acordo pela manhã com a notícia da vitória de Fernanda Torres como melhor atriz no Golden Globe e me encho de esperança. No dia seguinte, descubro que a livraria Cultura do Conjunto Nacional virou uma filial da Magalu e a vontade de morrer voltou toda… Palavras que não aguento mais ouvir nem ler: o verbo “entregar” e o advérbio “literalmente”. E também os adjetivos “lugar” e “gatilho”. Se bem que lugar já está saindo um pouco da moda, embora atores e atrizes continuem usando muito em entrevistas a cada vez que lhes faltam palavras. O que não deixa de ser paradoxal, posto que sendo atores e atrizes deveriam ler muito e ter vasto vocabulário… Para mim o pior da cantora Anitta não é nem ela mexer a raba, sentar onde quer que seja ou proferir palavrões sobre uma batida eletrônica repetitiva; e sim ela ter assassinado Mania de Você, uma das mais belas canções de Rita Lee. Aliás, uma das mais belas canções de amor da música popular brasileira… (Ainda assim não consigo deixar de dar uma espiada de vez em quando na novela Mania de Você, da Globo, só para curtir a interpretação bipolar de Chay Suede como o delcioso vilão Mavi. Só dá ele. Até Carminha é mera escada. Uma das minhas manias desse verão)... Estou me divertindo muito com a leitura de Vermelho, Branco e Sangue Azul, da americana Casey McQuiston, presente do querido Luis Artur Nunes. O livro narra o romance adolescente tórrido entre o filho da presidente dos Estados Unidos e o príncipe herdeiro da Inglaterra. Acho que nem preciso dizer que é pura ficção, né? Mas é daquelas em que a gente viaja como se fosse realidade. Os diálogos são super espirituosos e muito inteligentes. Bem bacana para um senhor como eu ter uma ideia de como andam pensando (e agindo) os jovens de hoje em dia… No mais, voltei a ir ao cinema, hábito que tinha abandonado desde a pandemia. Tenho achado bem agradável esse programa, digamos, um tanto retrô. Em tempos de streaming, internet, redes sociais, vida acelerada, nada melhor do que se permitir ficar duas horas numa sala assistindo a um bom filme… Fica a dica! Bom janeiro a todos... P.S. Tenho usado bastante os parênteses nos meus textos, notaram? Quem sabe não entra na moda? Rsrsrs… Nas fotos, a capa do álbum de Rita Lee de 1979 e Chay Suedade enquanto Mavi.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

OLHA O PASSARINHO!

Ontem foi o dia do fotógrafo. Fiquei sabendo quase no fim do dia, então deixei para hoje a minha homenagem a esses profissionais que tanto admiro... Sempre gostei de fotografia, desde a mais tenra idade. Na minha infância em Soledade, seu Zarpelon era o responsável pelos registros da vida na cidade. Ainda criança eu já comecei a ter as minhas próprias máquinas fotográficas. Comecei com uma cujo nome me foge agora, mas era menor do que uma Xereta. Só um pequeno cubo com lente e disparador que a gente acoplava o filme atrás, por fora mesmo. A maioria das fotos não prestava, ficava borrada, sem foco... Depois ganhei uma Olympus Trip 35 da minha irmã Raquél e passei a me sentir fotógrafo profissional. Registrava todas as festas da famíia e dos amigos. Assim como todos os shows de música a que assistia. Mais tarde passei a admirar o trabalho de profissionais da área. Um dos primeiros que me encantou foi o britânico David Hamilton, com seus nus femininos em luz diáfana, que me foram apresentados por minha amiga Nora Prado, à época minha namorada... Quando já morava em Paris descobri Robert Mapplethorpe e me apaixonei. Assim como foi com Alair Gomes e seus rapazes na praia de Ipanema. A partir daí fui pesquisando, buscando, descobrindo mais e mais expoentes desta arte: David LaChapelle, Man Ray, Pierre et Gilles (dos quais sou fã!!), Mario Testino, Miro, Guerreiro e muitos outros que não me vem à mente agora... Sempre vi a fotografia muito mais como arte do que como mero registro. E essa transformação do registro em arte é feita pelo "olhar" do fotógrafo. Seu olhar é sua ferramenta, o pincel com o qual ele pinta sua arte. Por ser ator, tive a felicidade de ser fotografado por vários dos melhores. Aqui em São Paulo fui clicado por Lenise Pinheiro, Ronaldo Aguiar, Priscila Prade, Leekyung Kim, Rafa Marques e Andy Santana, entre outros. Ainda não tive o privilégio de ser fotografado por Gal Oppido, outro dos que admiro, mas isso ainda vai acontecer, se Deus quiser! No Rio, já posei para Flavio Kolker. Por último, mas não menos importante, vem os meus favoritos de Porto Alegre: Guto de Castro, Gilberto Perin e Irene Santos. Perin e Irene me fotografaram nu, o que ainda não fiz com Guto. Mas tenho com ele uma, digamos, parceria. Nos juntamos em torno de uma ideia, viajamos muito nela e, do nada, surgem universos. Do brega ao chique, do banal ao surreal. Bem no estilo uma ideia na cabeça e uma câmera na mão... Uma curiosidade: Guardo todas as máquinas fotográficas que já tive. Desde as analógicas até as digitais, incluindo uma polaróide. Enquanto escrevo essas linhas foi me dando uma vontade da fazer um novo ensaio! Quem aí se habilita a me dizer olha o passarinho? Contatos via direct rsrsrs. Termino desejando a todos os profissionais da área um Feliz Dia do Fotógrafo! Nas fotos, eu em cores por Guto de Castro e em P&B por Gilberto Perin.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

OURO MERECIDO

Que coisa boa acordar numa manhã de verão em São Paulo, quando a cidade ainda está tranquila e quase vazia devido aos festejos de fim de ano, e ter a notícia da vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro! E como melhor atriz de drama! Digna, talentozérrima e super merecedora. Com mais essa conquista ela prova que todo bom comediante é capaz de fazer drama e até tragédia. O contrário nem sempre acontece... Acompanho a trajetória dessa atriz desde o começo; eu a vi em Rei Lear, quando ela era pouco mais do que uma menina e já estava perfeita no papel de Cordélia. Depois, me encantei com sua atuação no filme Eu Sei Que Vou Te Amar, de Jabor, que lhe rendeu outra premiação internacional, a Palma de Ouro em Cannes. Isso quando ainda tinha apenas vinte aninhos. Mais tarde, ela se revelou como escritora e seu livro Fim me arrebatou da primeira à última página. O que dizer então de sua impecável interpretação em A Casa dos Budas Ditosos? Sozinha em cena, em grandes salas de espetáculo geralmente destinadas a shows de música, ela trazia a plateia na palma da mão. Uma aula. Fora todos esses trabalhos de inegável relevância e contundência, ela ainda nos fez morrer de rir com suas personagens cômicas na televisão. Como a impagável Fátima, do seriado Tapas e Beijos. Agora ela surpreende o Brasil e o mundo com atuação irretocável no filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, feito a partir da obra homônima de Marcelo Rubens Paiva. É no olhar e no corpo inteiro da atriz que vemos toda a dor e a esperança de Eunice Paiva. Diga-se de passagem, o filme também merecia o prêmio. Eu estava assistindo à cerimônia e, quando vi que o prêmio de melhor filme estrangeiro não foi para Ainda Estou Aqui, dei uma desanimada. Morto de sono, desisti e me joguei nos braços de Morfeu. Eis que agora acordo com essa notícia maravilhosa. Dá vontade de encher o peito e, ufanisticamente, bradar a plenos pulmões: O ouro é nosso! Mas não, não é nosso. Sejamos justos, o ouro é de Fernanda Torres. E muito, muito merecido. Palmas para ela! Na foto, Fernanda com seu Golden Globe.