sábado, 7 de junho de 2025
HUMOR PROIBIDO
Quando eu estava na Terça Insana as pessoas viviam me perguntando qual era o limite do humor. Até hoje, toda vez que dou uma entrevista, me fazem essa pergunta e eu invariavelmente respondo: A elegância. Humor tem que ser engraçado (obviamente), inteligente (é o mínimo que se espera dele) e, claro, elegante. É claro que estou me referindo a um humor de bom gosto, refinado. Como era, por exemplo, o de Caio Fernando Abreu e o de Antonio Bivar (sim, eles também faziam humor). E como é, modestamente, o meu. Pelo menos é o tipo de humor que gosto de fazer e de consumir. Mas sei que a maioria dos humoristas e comediantes passam longe dessa minha idealizada elegância. Até porque, vamos combinar, por aqui elegância não vende. Não dá dinheiro. Ou, para ser ainda mais popular, não paga boleto. De uns tempos para cá todo mundo reclama que está tudo muito chato, que não se pode falar mais nada, que tem muito mimimi. A verdade é que nunca pode. Mas, como não havia limite - olha ele aí- todo mundo falava o que quisesse e quem se sentisse ofendido que desligasse a tevê ou simplesmente não fosse ao teatro. Só que o mundo evoluiu (pouco pro meu gosto) e as pessoas passaram a ocupar seus espaços na sociedade sendo quem são. E não querem mais, obviamente, ser alvo de chacota. Todo o humor que cresci assistindo era preconceituoso e discriminatório. Doía demais ver Jorge Dória dizer, referindo-se ao filho gay, “onde foi que eu errei” e todos a minha volta acharem aquilo engraçado. Quando a Terça Insana surgiu representou uma espécie de respiro. O humor que praticávamos dava voz aos discriminados, ao invés de deprecia-los. Vinha como uma renovação daquele velho humor que a televisão repetia há décadas: Da mulher gostosa e burra e da bicha estereotipada, por exemplo. Acho muito feio o que a maioria dos comediantes de stand up brasileiros faz, mas me limito a não consumi-los. Seria muita pretensão da minha parte querer que se calassem (Também acho feio o que a maioria dos fanqueiros e fanqueiras cantam). O humor sempre pôs o dedo nas feridas. Os bobos da corte eram pagos pelos reis para fazerem piadas justamente sobre eles, os reis. Acho um exagero, por exemplo, um humorista ser condenado à prisão por ter feito piadas preconceituosas no seu show. É claro que racismo, homofobia, misoginia e anti-semitismo são crimes. Que o processem, que lhe apliquem multas por danos morais, que tirem seu show da internet. Mas condenar à prisão acho desmedido. Lembra muito aqueles episódios ocorridos durante a ditadura militar, em que soldados invadiam teatros, batiam nos atores e os levavam presos apenas por discordarem do regime. Como aconteceu com o elenco de Roda Viva, que tinha no elenco artistas do calibre de Marília Pera e Zezé Motta, para citar apenas duas. Me pergunto o que seria de Dercy Gonçalves hoje em dia. Ou de Chico Anisio que, no auge do governo Figueiredo (o do prendo e arrebento) se dirigia diretamente a ele dizendo: Alô, João Batista? Salomé de Passo Fundo. E em seguida mandava ver nas críticas… Não quero de forma alguma comparar esses grandes artistas do passado com essa “galera do stand up” de hoje. Não há termos de comparação. O que me entristece é que, na minha humilde opinião, o humor perdeu a graça. Perdeu o requinte e a inteligência. Sutileza, então, nem se fala. Mas aí já seria querer demais. Dizem que rir é o melhor remédio e eu concordo. Acredito que realmente é. Mas que tal rirmos de nós mesmos ao invés de depreciar o próximo? Fica a dica... Na foto, a impagável Dercy torcendo a cara para o mau humor.
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