quarta-feira, 1 de abril de 2015

UN APRÈS-MIDI AVEC CAIO

A primeira vez que vi Caio Fernando Abreu pessoalmente ficou registrada em minha memória como uma imagem raríssima e ao mesmo tempo banal: Fui encontrá-lo na casa de seu amigo Carlinhos, onde ele estava hospedado, em Paris, no ano de 1991. O dia, primeiro de abril. Quando o dono da casa abriu a porta para me receber, dali mesmo avistei Caio sentado à mesa da cozinha amassando uns grãos de feijão em uma caneca "para engrossar o caldo", como ele mesmo me diria instantes depois. Coisa que desde então venho fazendo sempre que cozinho feijão. Menos de uma hora depois da minha chegada já caminhávamos agradavelmente por Paris, eu e ele, conversando, nos conhecendo, a descobrir afinidades e a contar histórias um para o outro. Carlinhos morava no dix-huitième arrondissement, perto da estação Marcadet-Poissonniers do metro, e foi pelas imediações que nos mantivemos. Depois de caminharmos um tempo, nos sentamos no banco de um jardim. Lá ficamos um bom par de horas até que ele me convidou para bebermos algo em um café que costumava frequentar. Acho que bebemos conhaque. Ou cerveja de pressão. O fato é que eu estava encantado com tudo o que escutava o meu escritor preferido dizer. Não acreditava muito que aquilo tudo estivesse de fato acontecendo. Imagine, um jovem de vinte e poucos anos que já estava deslumbrado por estar morando em Paris, de repente se ver assim, frente a frente com alguém que até então só pertencia às suas fantasias mais improváveis... Caio era não apenas adorável e interessante, mas também demonstrava estar interessado no que eu tinha a dizer. Falamos de tudo, mas eu, sempre que possível, puxava o assunto para os seus livros, que tanto haviam marcado minha juventude. Foi uma tarde inesquecível. Na semana seguinte tornamos a nos encontrar. Dessa vez ele foi à minha casa, jantamos e depois saímos para beber. Levei-o ao bar que eu costumava frequentar e que frequento até hoje quando estou em Paris: O Duplex. Como ficou tarde para ele voltar, acabou dormindo chez moi. Depois disso ele voltou para o Brasil e só nos reencontramos em 1992, quando fui para o Rio de Janeiro trabalhar como assistente de direção de Luiz Arthur Nunes, nosso amigo em comum que foi o responsável pela nossa aproximação. Não tenho nenhuma foto desses encontros! Pode parecer estranho aos olhos da nossa atualidade "selfie", quando absolutamente tudo é fotografado o tempo todo. Mas, à época, estávamos bem mais interessados em viver o momento do que em registrá-lo. Serei eternamente grato ao Luiz Arthur por esse inesquecível presente. E a história, apesar de ter se passado em um primeiro de abril, é absolutamente real...
Na foto, a estação Marcadet-Poissonniers do metro.

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