sexta-feira, 29 de agosto de 2014

MELANCOLIA

Não é ao filme de Lars von Trier que me refiro, mas à melancolia em si, propriamente dita. Uma espécie de irmã da tristeza. Prima-irmã da depressão. Essa, por sua vez, mais química, física, médica. Diagnosticada. Me agarro à primeira como uma alternativa à prima pois ela, a melancolia, flerta com a poesia. E, dessa forma, me concede a tão falada licença poética. Que, no caso, seria uma forma de permissão para habitar o lirismo, permanecer num quase estado de devaneio, contemplativo e solitário. Não desconectado do real, mas como se pairasse acima dele. Ou na sua via paralela. O estado de melancolia não é ermo como a alguns pode parecer. É bastante habitado. Por música, poesia, cinema, literatura. Arte, numa palavra. Sim, ela inspira os artistas. Vinícius já cantou que todo o grande amor só é bem grande se for triste e o poeta só é grande se sofrer. Portanto, tire o seu sorriso do caminho que eu quero passar com a minha dor! Quando se está em estado de melancolia frases edificantes e discursos otimistas soam tão ridículos quanto livros de auto-ajuda. Coisas do tipo siga em frente, não desista nunca do seu sonho e etc. provocam no máximo um risinho de canto de boca. Chega-se a bloquear amigos que postam esse tipo de mensagens nas redes sociais... E o mais difícil: Sair da cama pela manhã. É mesmo necessário? Não posso continuar dormindo até meio-dia? Não há nada que eu possa fazer para mudar as coisas e essa cama está tão quentinha... Melancolia não tem cor, é toda trabalhada no preto e branco. Sim, normalmente a melancolia está relacionada ao frio. À chuva. Ao céu plúmbeo coberto de nuvens carregadas. À falta de horizontes. De perspectivas. De esperança. De sonhos. De ilusão. É quando a auto-estima anda tão baixa que a gente pisa nela ao se deslocar. E não há nada que se possa fazer. A não ser esperar que ela passe. Tomando drinques, bien sûr.
Na foto juventude, uísque & melancolia aos dezoito anos em Soledade.

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