quarta-feira, 20 de agosto de 2014

ALAMEDAS

As ruas do bairro onde moro em São Paulo, embora não sejam plantadas de álamos, recebem o nome de alamedas. Meu apartamento fica na Alameda Franca que, por uma questão de cedilha, não é França, lugar onde adoraria viver. Franca é uma cidade do interior do estado, assim como o são Lorena, Itu, Campinas e outras tantas alamedas do Jardim Paulista. Lembro que quando ainda não morava em São Paulo e vinha aqui passear, essas alamedas costumavam me impressionar. Eu via vasos de flores ao longo das calçadas, pequenas boutiques e bistros que me encantavam. Tinha um quê de europeu que eu já intuía que iria gostar. E pensava: Quero, um dia, morar aqui... Por uma grande coincidência, um dos lugares que mais me atraía, o Ritz, fica na mesma Alameda Franca, onde moro há dezoito anos. E que continuo frequentando com o mesmo entusiasmo de há quase trinta anos, quando o conheci. Quando eu ainda frequentava a noite, quase tudo de mais legal rolava por aqui. Na Alameda Itu ficava o Massivo. Na Bela Cintra, a Rave. Na própria Franca resiste, até hoje, o impávido Gourmet. Mas a Rua da Consolação reunia todo o fervo, de alto a baixo, da Alameda Santos até a Oscar Freire. Tinha o Pitomba, o Allegro, o The Cube, a Espanhola, o Ultralounge nos dois lados da rua e o saudoso Bar Supremo, que tinha no subsolo o Supremo Musical, onde assisti a shows memoráveis. As drag queens, no auge do hype, desciam a Consolação no capô dos carros. Inesquecível a Alma Smith com seus bordões: "Quem for gay que me olhe!" Ou então: "Quantos?"... Sem falar na minha amiga Léia Bastos, também conhecida como Alexandre, que vinha me visitar montada e o porteiro anunciava: É o Seu Léia! Até hoje perambulo por essas alamedas todas. Às vezes feliz, às vezes triste. Outras só perambulando, mesmo. Quando virem um senhor grisalho, baixinho, flanando no quadrilátero entre a Estados Unidos, a Paulista, a Rebouças e a Nove de Julho, podem chamar, serei eu. E sentaremos à mesa de um café para conversar. Tomando drinques, bien sûr!
Na foto, a fachada do Ritz, um clássico na Alameda Franca desde 1981.

Um comentário:

  1. Roberto é um desbravador das alamedas, vou tentar ser assim no meu bairro aqui em Salvador.

    ResponderExcluir